Tertúlia Na Lua viaja no tempo e espaço em "O Eu Além de Mim"

 Tertúlia Na Lua viaja no tempo e espaço em "O Eu Além de Mim"

Hoje vamos em direção ao centro oeste do país para conhecer o som de um grupo que flerta com as ondas psicodélicas, se deixa levar pelo som do mangue beat, bebe da fonte do tropicalismo, alcança a potência do stoner rock  e faz reverência a música brega. Tudo isso em uma good trip sem começo, meio e fim para se atirar de cabeça.
Mas antes disso tenha a certeza que está de cabeça aberta para essa viagem transcendental em busca do auto-conhecimento. Com vocês direto de Gama – DF, Tertúlia Na Lua.

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Tertúlia Na Lua trás camadas vibrantes em seu som viajante.

Mas antes disso vamos conhecer um pouco mais sobre a história do grupo da cidade satélite. Aliás satélite seria uma boa metáfora para catalizar todas as influências que abrangem o macroambiente da Tertúlia Na Lua.
O power trio rockeiro surgiu no Gama em meados de 2014 e é formado por Christian Caffi (Guitarra e Vocais), e os irmãos Thierry Sacramento (Baixo) e Jones Sacramento (Bateria). Após excursionarem pela região e com quilometragem para que sentissem confiança de lançar seu primeio EP, nascia no mês de agosto: Eu Além de Mim.
Mas antes de dissecar o EP, vamos – tentar – desmitificar o significado de Tertúlia Na Lua.

“Tertúlia” segundo o dicionário Aurélio:
1 Reunião familiar.
2 Assembleia literária.
3 Agrupamento de amigos.
4 Embriaguez.

Se pensarmos que a banda é composta por dois irmãos e um amigo, faz todo o sentido. Se pensarmos que a embriaguez das camadas sonoras os leva em direção ao cosmos da Lua: faz mais sentido ainda. Brincadeiras a parte a simbologia do nome é bastante interessante e mostra como a união faz realmente a força.
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O EP que ganhou a luz da gravidade terrestre no dia 02.08 foi produzido, captado, mixado e masterizado por Gustavo Halfeld e foi gravado na Sala Fumarte. O Eu Além de Mim saiu pelo selo Martelo, este que iremos conhecer mais durante o bate-papo que o Hits Perdidos fez com a banda. Antes de ouvir pare, dê o play e se afaste da frente de seu computador (ou largue o celular – afinal estamos na era do mobile).
Te garanto que vai usufruir mais da audição. Uma vez me falaram para fazer algo semelhante com o Dark Side Of The Moon do Pink Floyd para entender melhor qual era a genialidade do disco. Foi sem volta, o mesmo fiz com o Rx Bandits, Stone House On Fire e toda banda que demande esse tipo de plasticidade.
Para aquecer o motor da epifania psicodélica, quem chega sem pedir passagem é “Vale do Sacramento”. Seria uma homenagem ao sobrenome dos irmãos (Thierry e Jones)? Pouco importa na realidade, o que importa é adentrar a brisa e se jogar na estrada.
O Vale poderia ser um deserto, uma miragem ou luz no fim do túnel que também cairia bem como título. O rock psicodélico se funde com o progressivo e ganha camadas que soam como flautas orientais, o fuzz tem momentos onde tudo parece se derreter e a conexão tribal é estabelecida. O portal é aberto e as nuvens deixam de ser limites no horizonte.
Lembram do significado de Tertúlia? Pois bem, a faixa instrumental ganha o elemento de frases inaudíveis de amigos que colaboraram cedendo seus diálogos durante seus “reuniões”, nada é por acaso no som da banda.

“Passo a Passo” talvez seja o Hit Perdido do EP pois tudo se encaixa e dá a luz um novo universo. Até imagino essa canção entrando na trilha de Stranger Things, Netflix abre o olho. As guitarras ganham protagonismo em solos meticulosos e o baixo acompanha marcando o passo. Se você está desconectado das preocupações mundanas quando percebe os 8 minutos e 30 segundos da canção passam rápido.
A primeira faixa com letra descreve a atmosfera disruptiva da Tertúlia Da Lua e de certa forma mostra a influência tanto da psicodelia como das letras do nosso querido brega. O tom tribal do mangue beat também ganha espaço através das leves batidas da bateria que se somam a epopeia opera rock “Led Zeppeliana” da faixa.
A densidade e a riqueza dos detalhes mostra como a composição é forte, em certa parte me lembrou um pouco até a guitarrada do Joy Division em “Disorder” mas que ao mesmo tempo flerta com o psych. O que só mostra a riqueza de uma jam que trabalha com todos os sentidos da psique. Enjoy The Ride!
Para fechar o disquinho mais uma trip alucinógena com “Dentro do Possível” que diretamente me remeteu ao Lonerism (2012) do Tame Impala indo de encontro com influência da psicodelia brasileira sessentista. A progressão dos acordes dá toda a dinâmica que a viagem pede. A partir do terceiro minuto a guitarra chia solos cheios de detalhes de ambientação, o baixo vem na contramão segurando o beat efervescente. E nessa calmaria o disco se encerra.
O Eu Além de Mim (agosto/2016) traz várias gamas e te leva para se aventurar em universos paralelos onde o espírito de libertação ganha asas e a alma transcende para outros níveis. Esse exercício de desprendimento para buscar auto conhecimento muitas vezes serve como terapia para a alma. O EP mostra várias facetas do grupo que se inspira nas décadas mais frutíferas do rock (60’/70′) ao mesmo tempo que adiciona elementos de outros estilos. Talvez seja por essa razão que você deva dar uma chance para o som da Tertúlia.

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Tertúlia Na Lua tem excursionado bastante divulgando o EP. Quem comparece aos shows também pode conferir sons inéditos.

Para entender melhor sobre o som da Tertúlia Na Lua, influências, cena local de Gama, coletivo Martelo entre outras coisas, conversei com eles.
[Hits Perdidos] Como surgiu a banda e porque “Tertúlia na Lua”?

Tertúlia Na Lua: “Achamos legal o significado da palavra “tertúlia”, só que pesquisando achamos muitas coisas com o nome, então tivemos a ideia de colocar um nome composto e como a banda tem uma ideia viajada, nada mais legal do que Tertúlia Na Lua.”

[Hits Perdidos] Vocês se denominam como rock psicodélico experimental, com influências que vão do tropicalismo ao mangue beat mas passando pelo campo da música brega e stoner rock. Como sentem que cada estilo agrega no trabalho?

Tertúlia Na Lua: “Escutamos muitas coisas, e tentamos sempre fazer com que as composições surjam da forma mais orgânica possível, tem época que um integrante da banda está ouvindo mais stoner rock e o outro está ouvindo mais rap. Logo o que estamos ouvindo no momento vira referência mesmo sendo inconsciente.”

[Hits Perdidos] Vocês fazem parte do selo Martelo de Brasília. Nos contem um pouco mais sobre como tem sido fazer parte do selo e como sentem que isso ajuda? Quais outros artistas e projetos lançados pelo selo?

Tertúlia Na Lua: “O convite do selo Martelo deu pra gente um gás a mais, é muito bom somar contatos, hoje é muito importante pro artista independente fortalecer parcerias e está ligado a cena local.  O Martelo é um selo novo que vem fazendo um ótimo trabalho em Brasília. Hoje fazem parte do selo as bandas Almirante Shiva, Vintage Vantage, Judas.”

[Hits Perdidos] Vocês são de Gama/DF, como é o cenário de música local e quais as maiores dificuldades?

Jones Sacramento: “O Gama tem um cenário bom de música, tem uma cena forte de hard core, e várias organizações culturais. Rola uma interação boa, o pessoal que faz teatro de bonecos, com o pessoal do grafite e etc.
Sempre está rolando movimentação de coletivos, um deles é o Rapa do Tacho, pessoal está com um nível bom de produção, fazendo eventos legais com bandas de outros estados. O problema é a falta de espaços físicos e a valorização do artista independente, mais acredito que esse seja o problema de muitos lugares.”

[Hits Perdidos] As camadas sonoras são bem trabalhadas. Com a soma de vários estilos que agregam no resultado final. Onde foi gravado e quem está envolvido na parte de mixagem/masterização?

Tertúlia Na Lua: A Gravação foi toda ao vivo, somente voz separada, depois trabalhamos nos overdubs, a receita desse EP e da banda são as camadas de delays e reverbs. A gente gosta de trabalhar com muito reverb nas guitarras, no mais tudo muito simples, com um trabalho cooperativo, muita gente deu ideia e muita coisa foi acrescentada nos dias das gravações, a mixagem/masterização é do nosso amigo Gustavo Halfeld.

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Tertúlia Na Lua integra o casting do selo Martelo de Brasília.

[Hits Perdidos] “Passo a Passo” é uma viagem intergalática disruptiva e espacial. Como surgiu a composição e quais influências citariam para alcançar essa atmosfera?

Tertúlia Na Lua: “Acredito que “Passo a Passo” foi a composição que deu sentido ao que queríamos fazer como banda, ela foi uma das primeiras. E a ideia é justamente essa, fazer uma música que a pessoa possa fechar os olhos e imaginar lugares e circunstâncias.”

[Hits Perdidos] Temos sons de dialogos e risadas em “Vale do Sacramento” que nos dão a sensação do efeito de drogas lisérgicas. Ilustrar a good trip era um dos objetivos da faixa?

Tertúlia Na Lua: “A ideia é essa mesmo, as vozes mostram um pouco do clima das gravações, estávamos com nossos amigos e familiares, todo mundo falou o que estava na cabeça no momento, como uma confraternização uma mesa de bar… algo do tipo.”

[Hits Perdidos] Quais influências inusitadas poderiam citar?

Jones Sacramento: “Cara o mais inusitado, acredito que seja o fato do nosso baixista ter vindo do mundo pesado do metal, antes da tertulia ele tocava numa banda de DeathCore.”

[Hits Perdidos] Quais discos preferidos de cada integrante?


Christian Caffi (Guitarra e Voz): Pink floydDark Side Of The Moon (1973), The Beatles – Abbey Road (1969), Clube da EsquinaClube da Esquina (1972), Gilberto GilRefavela (1977).

Thierry Sacramento (Baixo e Voz): NirvanaIn Utero (1993) , Radiohead –  In Rainbows (2007) e Caetano VelosoTransa (1972).

Jones Sacramento (Bateria):  PortisheadDummy (1994), MombojoHomem Espuma (2006), Devendra BanhartNiño Rojo (2004).
[Hits Perdidos] Quais artistas e bandas recomendariam para os leitores do Hits Perdidos?

Tertúlia Na Lua: “Pra indicar tem as bandas da cena aqui de Brasília que está muito legal tem a Supervibe, Lista de Lily, Almirante Shiva, Lastro, Os Gatunos, Vintage Vantage, Joe Silhueta. Muita coisa boa e bandas que com certeza a galera vai ouvir muito por aí.

 
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Tertúlia Na Lua
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