Jenni Sex faz trilha sonora para embalar inferninhos em “Healing Kiss”
“Healing Kiss” é o terceiro disco do Jenni Sex
Nos últimos anos o revival do post-punk tem sido um grande acontecimento na música pop mundial. Não que o estilo oitentista tenha saído de cenário em algum momento, visto que até o Primavera Sound São Paulo de 2023 convocou o The Cure para ser seu principal headliner.
Aqui no Brasil casas noturnas como o Madame Satã e o Radar Tantã, em São Paulo, foram importantes para a popularização do gênero ainda nos anos 80. Das bandas mais populares na época do rock brasileiro, Legião Urbana e Plebe Rude foram as primeiras a abraçar a onda no mainstream, outras vieram depois. Nomes como Akira S & As Garotas que Erraram, Fellini, Voluntários da Pátria, Vzyadoq Moe, Sexo Explícito, Gang 90, Patife Band, Mercenárias, Smack, Cabine C, Metrô, Musak, Nau, Beijo AA Força, De Falla, Varsóvia, Black Future, Picassos Falsos, são reverenciados até os dias de hoje. Selos como Baratos e Afins, Nada Nada Discos e Dama da Noite são alguns interessantes de fuçar os catálogos.
Uma playlist legal de acompanhar para encontrar bandas de diversos períodos do post-punk brasileiro é a The Sound of Post-Punk Brasileiro. Do cenário atual por aqui já citamos bandas como Rakta, In Venus, Sky Down, Herzegovina, WRY, Inês é Morta, Cadáver em Transe, Plastique Noir, Gattopardo e The Lautremonts, só para destacar algumas mais recentes.
Jenni Sex
Com o primeiro trabalho lançado em 2013, o Jenni Sex lançou em abril de 2023 seu terceiro disco, Healing Kiss (Wave Records). Antes o trio da capital paulista havia lançado Songs Through Your Tongue (Baratos e Afins, 2018) e She’s Gone (Independente, 2013). Lembro que pude ouvir falar da banda pela primeira vez na época do show dos bielorrussos do Molchat Doma no qual realizaram a abertura. Mais recentemente eles abriram para os espanhóis da Belgrado.
Em sua linha de frente eles contam com Oliveira Helders (vocal, guitarra, teclados), Danilo Lima (baixo, efeitos) e Maurício Pasqualle (bateria). Eles comentam que em suas letras procuram elucidar sentimentos e desejos de maneira surrealista e absurdista. Entre as referências estão bandas como Stagnant Pools, The Sound, Sisters Of Mercy, Bauhaus, New Zero Gods, A Place To Bury Strangers e Joy Division.
Em seu terceiro álbum eles vão do dark, passando pelo post-punk e também trazem elementos do gothic rock. O tom fúnebre e frio transparece ao longo das nove faixas do registro que carrega um ar de mistério, sombras e linhas marcantes de baixo com guitarras que vão em direção do rock de outros tempos. Feito para inferninhos como eles mesmos frisam de forma indireta.
De maneira até de certa forma cômica eles entram no personagem rock’n’roll e ao se auto recomendar eles brincam com o universo entre o céu e o inferno da sua sonoridade.
“Jenni Sex é um power trio que quer chafurdar a essência de sua alma nas ondas sonoras reverberantes da maravilha infestada de demônios. É um risco maravilhosamente equilibrado e recomendado.“, dizem os paulista em seu release
Healing Kiss
Healing Kiss foi produzido pela própria banda em parceria com Marcio Menechini na engenharia de som. A capa do disco é assinada por Giuseppe Cristiano (Framing Films). O lançamento é capitaneado pela Wave Records e o disco tem pouco mais de 32 minutos de duração.
A faixa de abertura “Welcome Drink” chega cheia de mistério como se fosse parte da trilha de algum filme para ambientar o clima gélido que as canções que virão depois entregarão. Daquelas boas para abertura de shows onde os vocais são poucos. Algo que caras como Dave Vanian (The Damned), ícone do rock gótico, curtiriam ouvir.
“On The Hilltop” tem aquele ar de desespero do Joy Division e surrealismo que deixam toda a experiência mais catatônica. A música cita Glasglow, terra do Cocteau Twins, The Pastels, Skids e The Jesus and Mary Chain.
Com bateria seca e distorção, uma faixa que cresceu a cada ouvida por aqui foi “Resistance” e muito por seu trabalho. Sua natureza dark ao mesmo tempo que o trabalho de sintetizadores cria toda uma atmosfera assim como Echo & The Bunnymen consegue emular. As guitarras também se destacam por sua aura estridente de fim de mundo.
Na semana passada o videoclipe para a canção foi disponibilizado. A produção audiovisual tem direção, edição e animação de Dee Olher e a filmagem de Alexandre Wittboldt.
Bats Out
“Birds” desce uns degraus na escala underground para deixar a sensação de enclausuramento ainda mais intensa. “Sin Chimes” se opõe por trazer o violão, brincando com o unppluged que A Flock of Seagulls e o próprio Echo faziam para se introduzir nas paradas.
“Treasures” aposta na tensão e na selvageria para criar ambiências, “You Never Should” me levou direto para discos como Phantasmagoria (1985) que grupos icônicas como os californianos do The Gun Club também foram buscar para fomentar seu som.
“Some Winter Days” como o próprio nome diz carrega toda a neve de um inverno rigoroso e em sua estranha calmaria traz um ar de suspense, apreensão e linhas melódicas interessantes. Talvez ter citado Gun Club na faixa anterior tenha sido uma boa lembrança.
O disco se encerra com “Always” e mostra também o lado inventivo do estilo que não se acomoda a buscar elementos fora da curva para agregar ao seu som. Muitas vezes eles não vindo propriamente do rock, como é o caso dos catalães da Belgrado que procura elementos na música do oriente para incorporar a sua sonoridade. As guitarras criam tensão, o vocal é fantasmagórico, a vibração e os últimos átomos equalizam e criam uma atmosfera propícia para um inferninho com direito luzes vermelhas piscando em meio a escuridão.
Próximos Shows
17 setembro – Porão da Cerveja – SP (festa Nuit Noir)