Falando sobre o potencial da humanidade para a beleza e destruição, Noga Erez traz ao mundo “KIDS”, seu segundo álbum
Noga Erez traz ao mundo KIDS seu segundo álbum
Você já parou pra pensar em como a música é algo universal?
Pra ela não existe idioma certo, gênero certo ou algo do tipo. Você só escuta, sente a conexão e simplesmente gosta. É algo muito transcendental, se a gente for parar pra pensar, não é mesmo? Pode até soar meio clichê, mas como diria Nietzsche: “Sem música, a vida seria um erro.”
E a gente a usa pra tudo: pra se sentir melhor, pra ajudar a afundar ainda mais quando não se está tão bem, pra falar dos problemas e colocar pra fora o que se sente, mas nem sempre as palavras conseguem dar conta disso. E é nesse caminho que Noga Erez, usa sua música como ferramenta: para expor os problemas da nossa sociedade e mergulhar um pouco mais nos pensamentos humanos.
Com um álbum lançado, a israelita lança nesta sexta seu segundo álbum, Kids. Se no primeiro, temos a presença do pop e rap muito presentes, neste novo trabalho, podemos esperar algo mais leve. Porém, a cantora já adianta que as partes mais obscuras deste disco são bem mais pesadas do que em Off the Radar.
Noga Erez Kids (2021)
Noga define este novo disco como: “Essas são músicas sobre o que herdamos das gerações anteriores, como passamos as coisas adiante. Como esse jogo de evolução da nossa cultura e da humanidade está muito em nossas mãos. Todos nós éramos uma página em branco em algum momento. KIDS fala sobre o potencial da humanidade para beleza e destruição.”
A cantora sempre traz clipes muito criativos para suas produções. Para este novo disco, “End Off The Road” e “Views” foram as faixas escolhidas até o momento para ganharem vídeos. Em “Views”, vemos a cantora em um cenário contínuo de escadas, nos trazendo uma visão sobre como pode ser o mercado musical muitas vezes, combinando principalmente com a letra, que faz nos questionarmos se o que vemos é real ou algo falso.
É bem comum vermos campanhas entre fãs para streams em vídeos de artistas no YouTube, por exemplo, apenas para subir o número de visualizações e não só pela música em si.
Perguntada se a letra da música teria alguma relação com isso, ela responde: “Eu não sabia que os fãs fazem isso pelos artistas que gostam! Isso é realmente muito fofo, na minha opinião.” E complementa: “O que eu falo em VIEWS é mais como é realmente difícil saber o que é verdadeiro e o que é falso. Não apenas nas redes sociais, mas em tudo. Esta é a era pós-verdade, somos inundados com informações e isso torna mais fácil nos enganar. Acho que o mundo sempre teve amantes da música, e pessoas que, para eles, a música é apenas uma parte da vida, algo que você coloca em segundo plano sem prestar muita atenção. Isso sempre vai ser o caso, mas nós só estamos vendo agora, que está na frente de nossos olhos.”
“A mídia social é uma ferramenta incrível que vem com consequências pesadas. O que mais me preocupa é como os jovens veem a vida de outras pessoas e pensam que a vida deles não é tão boa. Mas acho que você realmente não pode lutar contra isso, é apenas mais um desafio que vem junto com a tecnologia.”
A Música Pop pode ser Política
Às vezes, quando falamos de música pop, lembramos muito das grandes divas, o que muitas vezes acaba rotulando o gênero. Quanto a isso, Noga opina que: “A música pop pode ser política, sobre consciência social ou sobre relacionamentos românticos. Desde que a música seja boa, eu topo! Relacionamentos românticos nunca deixarão de ser interessantes para nós, humanos, e se os compositores procurarem novas maneiras originais de falar sobre isso, é ótimo. Para mim, vindo de um lugar altamente conflituoso, é mais interessante no momento fazer música sobre a realidade social e política. Mas não posso prometer que não vou tentar escrever uma canção de amor muito boa também!”, diz Noga Erez
Noga é nascida em Tel-Aviv e serviu ao exército israelita por 2 anos, tempo de serviço obrigatório para as mulheres nas forças armadas do país. E esta experiência, é claro, a influenciou musicalmente, já que costumava servir na banda militar. “ A principal influência que teve sobre mim foi minha habilidade de tocar para qualquer público. Passei por algumas das experiências de show mais terríveis quando servi o exército. Nada pode me assustar agora.”
Se já se sentiu censurada alguma vez por abordar temas mais políticos e sociais, ela diz que nunca se sentiu assim e sempre teve permissão para falar o que quisesse. E se algum dia se sentisse assim, pegaria sua chance de dar o fora do lugar, independente de onde estivesse.
Antes de experimentar o hip hop e o pop, a cantora também escreveu um álbum inteiro de jazz, mas acabou o descartando. Ainda assim, ela diz que o gênero sempre terá um pedacinho em sua música, mesmo que escondido. “Eu aprendi a compor mais com a base do jazz. Está no meu DNA. Eu não acho que vou fazer um álbum completo nesse estilo, mas definitivamente posso me inclinar mais para esse tipo de som em projetos futuros.”
Com a pandemia do coronavírus, Noga se viu obrigada a pausar os shows presenciais, como todos os artistas ao redor do mundo. Mas ela garante que foi um ano interessante para si: “Como muitos artistas, as turnês de um ano foram canceladas, o que foi difícil para mim e para minha equipe. Não tenho ideia de onde estaria se tudo corresse como planejado. Mas, honestamente, foi um ano incrível para mim criativamente. Consegui levar meu álbum KIDS a um outro nível junto com meu parceiro Ori Rousso porque tivemos muito mais tempo e sinto que esse é provavelmente um dos maiores presentes que eu poderia ter ganhado.”
Conexão Israel – Brasil
Apesar de não ter ideia de onde estaria se a pandemia não tivesse ocorrido, no passado, Noga Erez já realizou algumas turnês pelo Brasil. Em 2016, foi convidada para fazer algumas apresentações nas exibições dos jogos olímpicos no Rio de Janeiro. Para ela, foi uma experiência incrível e amou conhecer o público brasileiro, mas lamenta não ter conhecido muito do país. Sobre um artista brasileiro que gosta, ela declara: “Eu realmente amo MC Bin Laden! Ele faz uma música quente! Não tenho ideia do que ele está cantando, mas deve ser algo muito engraçado!”
Depois de contar sobre essa experiência em solo brasileiro, perguntamos a Noga se a música poderia ser considerada uma linguagem universal. A resposta, é claro, não poderia ser mais certeira: “Absolutamente! Música é algo que qualquer pessoa pode entender, por isso acredito que é uma forma de comunicação mais precisa do que as palavras jamais poderiam ser.”