Lívia Mattos é destaque na editoria Nova MPB - Foto Por: Tiago Lima
A Nova MPB trará conteúdos em micro-resenhas do que de melhor tem acontecido na música brasileira. Singles, discos e novidades com o radar antenado do Hits Perdidos ganham o palco em um post informativo que acompanha sempre uma playlist!
A música brasileira em permanente reinvenção.
“Nova MPB” olha para artistas que transformam a tradição em novidade, misturando gêneros, territórios e experiências pessoais em obras que falam diretamente ao nosso tempo. Aqui cabe desde o samba torto até o folk psicodélico, passando por eletrônica, afrobeats, indie ou funk. Porque MPB é muito mais do que um estilo – e não parou na década de 70.
Ainda estamos em agosto, mas já dá para cravar que o terceiro álbum de estúdio de Alberto Continentino, Cabeça a mil e o corpo lento (RISCO), é um dos grandes discos brasileiros do ano. Baixista de artistas como Adriana Calcanhotto, Caetano Veloso, Ana Frango Elétrico, Milton Nascimento, Baco Exu do Blues e Bala Desejo.
O repertório do terceiro disco do compositor e instrumentista chegou recheado de parcerias, entre elas: Quito Ribeiro, Ana Frango Elétrico, Domenico Lancellotti, Tomás Cunha Ferreira, Cabelo, Kassin, Gabriela Riley, Silvia Machete, Jonas Sá, Nina Becker, Laura Eber e Negro Leo.
Como curiosidade, o disco partiu dos versos, com as melodias sendo escritas depois por Alberto — um procedimento que ele experimentou (e gostou) nas parcerias com Silvia Machete que entraram no disco dela de 2020, Rhonda.
“A escolha dos parceiros foi a primeira composição do disco. Escolhi pessoas que escrevem de uma forma bem livre. Elas podiam mandar a letra em qualquer língua, em qualquer formato. Queria essa inspiração, para fazer algo também fora dos formalismos da canção, do que eu estava acostumado a fazer. E foi isso que aconteceu. As letras trazem paisagens, não necessariamente têm um sentido objetivo. Era o que eu queria.”, revela o músico
Ana Frango Elétrico, Gabriela Riley, Silvia Machete e Nina Becker dividem os vocais com Alberto nas músicas, o disco ainda tem colaborações com Dora Morelenbaum, Leticia Pedrosa e Nina Miranda. Apesar de não ter sido algo pensado previamente, ele afirma que adora a combinação de vocais masculinos com femininos.
Alberto marcou uma data em outubro de 2020 no estúdio Rocinante, em Araras (região de Petrópolis, na Serra Fluminense), com o baterista Thomas Harres, o guitarrista Guilherme Lirio e o engenheiro de som (e responsável pelo estúdio) Pepê Monnerat. Encomendou as letras e fez as melodias conforme elas iam chegando.
“Entramos no estúdio com as músicas mais formatadas do que eu imaginava que ia ser quando tive a ideia lá atrás. Acabou que o disco não ficou tão experimental quanto eu imaginava. Eu não sou cantor, mas eu tenho minha maneira de cantar. Usei recurso de dobras e coros, coloquei a voz como mais um instrumento, uma camada entre coisas outras que estão acontecendo.”, revela Alberto sobre o processo de produção
Depois das sessões no estúdio Rocinante, Alberto gravou em São Paulo, no estúdio Buena Familia, do engenheiro de som Duda Lima. Ali, teve a companhia do baterista Vitor Cabral e do guitarrista Guilherme Monteiro. Apenas uma das faixas, “Uma verdade bem contada”, foi gravada no Estúdio Marini, de Kassin, com Caio Oica na bateria, Danilo Andrade no Rhodes e nos synths, além do próprio Kassin na guitarra.
Após isso foram convocados os sopros (Joana Queiroz, Marlon Sette, Diogo Gomes, Jorge Continentino), a percussão de Orlando Costa e os synths de Rodrigo Tavares. Além do baixo, no disco Alberto toca piano, teclados, synths, Rhodes, clavinete, Wurlitzer, percussão eletrônica e violão. Kassin assina a mixagem sozinho de oito faixas.
O resultado é um disco que experimenta frequências em meio a um emaranhado de referências e narrativa única: onde o som conduz o resto. Jazz, funk, música brasileira estão entre as que sintoniza, mas não se restringindo apenas isso. O brilho vem justamente da riqueza dos detalhes que a obra permeia. Ele até revela que o disco “não ficou tão experimental quanto eu imaginava”, o que nos mostra como a arte destes encontros ajudou a moldar ainda mais o que estava por vir. E talvez essa seja a grande beleza da humanidade imaterial na música. Cada um deixando um pouco de si.
Ludom, novo nome artístico de Luciane Dom, optou por anunciar seu novo álbum com o single “Toda Intensa”. Ela revela que a canção explora o dilema entre vulnerabilidade e força ao falar sobre os riscos de amar.
A faixa parece uma DR consigo mesma, expondo as vulnerabilidades em meio a um emaranhado de memórias… daquelas marcantes. Referências de afrobeats aparecem ao longo de seu instrumental e a guitarra marcada faz dela um pop romântico daqueles que encaixam com facilidade na programação de rádios com abertura para a nova música brasileira.
O novo disco sairá ainda neste ano pelo selo Toca Discos (braço fonográfico do estúdio Toca do Bandido), com distribuição da Universal Music, produção de Felipe Rodarte, Davidson Ilarindo, Theo Zagrae, Simbo e pela própria Ludom.
A artista revela que o material dará luz a temas como os colapsos emocionais e a rebeldia poética em sonoridades afro-diaspóricas, mas profundamente marcadas também por uma linguagem pop romântica, em temas que mergulham em questões existenciais.
A acordeonista, cantora e compositora baiana, Lívia Mattos, lançou seu segundo single de seu terceiro álbum, Verve. “Ndoukahakro” é fruto de uma parceria com a senegalesa Senny Camara. Além de tocar acordeon e fazer a voz, a artista teve a companhia de Jefferson Babu (SP) na tuba e Rafael dos Santos (DF) na bateria, além das improvisações vocálicas de Senny. Entre as referências está a musicalidade afro-baiana e o chabbi argelino.
“Fui tomada por uma emoção daquelas que você não sabe de onde vem e que transborda. Chorei muito, sem entender bem por quê. Ao mesmo tempo, em que sentia familiaridade com muitos lugares da Bahia, havia também uma distância – pela complexidade política, étnica, religiosa e linguística.”, comenta a artista que conta que a canção nasceu de uma experiência em uma aldeia que dá nome a faixa localizada na Costa do Marfim, onde tinha ido fazer um show.
A respeito da parceria, a soteropolitana revela: “Essa estreia marca o início da relação entre duas mulheres instrumentistas e cantautoras – uma da orla de Salvador, outra da orla de Tataguine (Senegal) – que se encontram para falar dessa sensação paradoxal de familiaridade e distanciamento em relação aos lugares por onde passam. Com Senny, desde o primeiro encontro, senti uma total sensação de irmandade… bateu o santo mesmo, e sinto que ainda vamos criar muitas coisas juntas. “Ndoukahakro” é só o começo”.
A riqueza rítmica do encontro mostra como a linguagem da música é universal e os arranjos se complementam mesmo com a distância linguística – e vivências tão distintas.
Quem aparece com novidade é Chico Chico que apresenta “Tanto Pra Dizer”, primeiro single do novo álbum que sairá pela Deck. O clima de romance da música aparece até mesmo na capa do single, uma foto de Chico beijando sua namorada Luisa Arraes, para quem ele dedica a música.
Chico Chico além de cantar toca seu violão e tem a companhia de Guto Wirti (baixo), Kadu Motta (guitarra), Pedro Fonseca (rhodes) e Thiaguinho Silva (bateria). Pedro, que já havia produzido o disco anterior, “Estopim”, é o produtor dessa faixa e do novo álbum.
Usando a voz como instrumento em alguns momentos, ele tenta traduzir o balanço do mar como a força de uma paixão. A declaração de amor musicada traz consigo toda vulnerabilidade de se permitir viver isso.
Samba, salsa, rock e rap, tudo isso entra no balanço da parceria de Rodrigo Alarcon com Rashid em “Pegapacapá” que está sendo lançado pelo selo Taquetá Records. Alarcon revela que a música foi inspirada por uma época em que ouvia muito Antônio Carlos e Jocafi e por isso começou a compor buscando palavras percussivas.
“Essa música é sobre os dias ordinários, esses dias comuns em que o ritmo da cidade dita o passo seguinte enquanto seguimos na busca do nosso sonho e ganha pão. Tudo isso em um cenário caótico de aperto no transporte público ao redor de muita gente com os seus sorrisos de fotografia 3×4, tentando levar o dia a dia da maneira que podem.”, comenta Alarcon.
A respeito da letra que retrata o cotidiano de quem tenta vencer o dia em meio ao caos urbano, principalmente em cidades como São Paulo, onde qualquer imprevisto pode engolir a rotina, Rashid pode contribuir com a letra e flow.
“A minha viagem foi em volta da jornada, que às vezes é uma verdadeira odisseia, de cada trabalhador para chegar até o serviço. Nessa salada, falo das habilidades dos atletas nas olimpíadas, de uma saga épica ao nível de Lusíadas e coloco até a Paulicéia Desvairada de Mário de Andrade, para ilustrar o quão difícil é a luta pela sobrevivência no ambiente hostil de SP”, explica Rashid.
O swing reverbera nos versos, e de fato o encaixe das palavras auxiliam na percussão, mesmo sem perder sua funcionalidade semântica. E é justamente daí que vem a magia desse encontro. O dia a dia acaba conversando com a obra bastante mundana de quem versa, independentemente do estilo que escolheu para cantar, seja na MPB de Alarcon, como o rap repleto de brasilidade de Rashid.
A pernambucana Paulete Lindacelva dá o pontapé inicial do novo EP, Ácido Brasil, com o lançamento do single “Nena Ácida” pelo selo Perfecto Estado. Transbordando brasilidade, a faixa mistura ritmos como samba, baião, maculelê e coco, com elementos de acid house, o que deixa tudo muito moderno. O resultado é bastante envolvente e como a própria produtora mesmo revela, dá luz a mistura orgânica de pessoas que sintetiza a beleza inerente a este choque, em meio à diversidade, e a velocidade desenfreada, de uma megalópole.
“Navega numa espécie de ligação covalente da cidade de São Paulo, entendendo a vida na cidade e a relação das pessoas viventes nelas como algo a mais que um encontro átomo e acrimonioso”, revela a artista
A canção pode ser chamada de verdadeiro resgate de uma joia perdida. Fiquem ligados amigos do Caça Joias. Seu primeiro registro foi feito há mais de 20 anos, durante um ensaio, e quase entrou no álbum de estreia Nadadenovo (2004).
Agora vira o primeiro single a ser revelado após o álbum Carne de Caju (2024). Nela assume o violão de 7 cordas e voz, Rodrigo Samico, temos Katu Hai, na flauta e moog e percussão por Léo D. Sua batida, percussão e camadas crescem de forma que vemos a música se transformar e transitar por estilos com muita cadência e leveza de forma progressiva a cada arranjo de sua construção.
Marcelo Segreto, conhecido por seus trabalhos à frente da Filarmônica de Pasárgada, lançou nas últimas semanas o segundo single do seu primeiro álbum solo. “Oi e Tchau” é uma parceria com Tiê em uma canção bilíngue por natureza repleta de beleza nos detalhes, tanto no casamento das vozes como em seus arranjos espaciais.
Os arranjos para um quarteto de cordas revelam o ar íntimo que quer transparecer através da canção que cai muito bem para o público infantil justamente por ser bastante lúdica.
A produção musical é de Marcus Preto e Tó Brandileone, com arranjo de cordas assinado pelo próprio Marcelo. Já o lançamento é fruto de uma parceria da dobra discos com a Gravadora Experimental. O disco parte de uma inspiração cinematográfica: o filme homônimo de Terrence Malick, que explora o fluxo entre encontros e desencontros amorosos, de amor em amor, de canção em canção. O material alterna entre o português e o inglês e Tiê participa de 5 faixas.
Na segunda (18), o álbum de estreia foi lançado como uma provocação tanto por parte do que inspira o ato de fazer canções, como também sobre o exercício propriamente dito de compor. Em 2024 ele já havia disponibilizado EP Cinemúsicas, Vol. 1, com canções inspiradas em produções como “Encontros e Desencontros”, de Sofia Coppola, e “Me Chame pelo Seu Nome”, de Luca Guadagnino.
“Eu acho divertido fazer esse tipo de composição, porque o filme (ou qualquer outra obra) dá um norte para o processo. É possível ver quais são as questões que acontecem nessa obra e como você as passa para uma canção”, ele comenta.
“Quando eu estava compondo as músicas do disco, pensei em fazer uma relação metafórica entre a forma do álbum e essa oscilação entre conjunção e afastamento amoroso presente no filme. Então pensei nessa ideia de o idioma das faixas irem se transformando de modo sutil e gradual, como se as personagens ficassem mais distantes umas das outras, com a língua sugerindo esse afastamento inclusive espacial”, Segreto frisa.
É através dessa narrativa cinematográfica que tem o amor como ferramenta para untar tudo isso que a obra se desdobra. tanto nas métricas e melodias escolhidas, como pela escolha de tons vocálicos leves de fácil assimilação. Não é por acaso que muitas das faixas poderiam entrar em cenas reflexivas de personagens apaixonados representados nas telas de cinena. O lúdico se une ao imaterial com muita leveza, calmaria e easy-listening. Da mesma forma que o amor nos atravessa: sem pedir permissão.
O cantor, compositor, multi-instrumentista e integrante da banda Batuc Banzeiro, natural de Manaus, Nando Montenegro lançou o EP Rumo. Sua mistura passa desde sonoridades regionais adicionando também elementos do rock alternativo.
Segundo ele, o material faz uma viagem profunda em direção das memórias, afetos, raízes, sons e silêncios. O cotidiano, em si, sendo sua principal ferramenta de trabalho, onde questiona sobre existencialismo e o sensorial. Bastante imersivo, o resultado explora as ambiências, possibilidades através de arranjos minimalistas e a alma de um contador de histórias.
Natural do Rio de Janeiro, já viveu em Brasília e João Pessoa, atualmente está situada em Lisboa, onde finalizou sua formação musical. Taís Cardoso, finalizou a composição, produção, mixagem, masterização do seu álbum de estreia, Por Dentro Não É Distante. Ela revela ainda que produziu majoritariamente o disco em casa. O projeto acompanha um projeto audiovisual no YouTube com registro de imagens feitas nas cidades em que viveu e suas letras.
“Aqui em Portugal eu estudei pra ser técnica de som e por isso coloquei a mão em todo o processo de edição, gravação e finalização do disco. O projeto é experimental, partindo da composição voz e do violão e expandindo isso em diversas camadas atmosféricas e experimentos rítmicos passando perto do xote, reggae, rock, MPB, underground… O resultado é bem urbano, mas as letras são mais para a vibe nova MPB.”, revela ela ao apresentar o trabalho
A respeito das nuances que permeiam a obra ela revela: “O trabalho recente é uma elaboração da própria vida: são caixas de lembranças, associações conscientes e inconscientes, surpresas, emoção, saudade, apego, reinvenção.”
O resultado reflete mesmo toda a experimentação e as buscas por traduzir em linguagens diversas: colagens sonoras em fragmentos que expandem a sua narrativa. Com vivências individuais e coletivas, a estética mostra as possibilidades e soluções sonoras interessantes. O que mostra como esses processos de mudanças, e o processo de imersão cultural, apuraram seu olhar perante o mundo ao seu redor.
This post was published on 19 de agosto de 2025 8:50 am
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