Fin Del Mundo mergulha nas profundezas em “Hicimos crecer un bosque”
Que a cena de rock argentino é bastante prolífica não é nenhuma novidade. Após lançar Todo Va Hacia el Mar (2023), e de duas passagens por solo brasileiro (leia entrevista exclusiva), chegou a hora de conhecer Hicimos crecer un bosque. O material vem ao mundo através do selo espanhol Spinda Records.
Formada por Julieta Heredia (guitarra e backing vocal), Lucía Masnatta (vocal e guitarra), Julieta Limia (bateria)e Yanina Silva (baixo e backing vocal), a Fin Del Mundo ganhou destaque mundial após participar de uma live session na KEXP chegando a excursionar pela Europa e as Américas em festivais como Canela Party (Torremolinos, Málaga, na Espanha) e Nox Orae (Suíça), além do Lollapalooza Argentina desse ano.
O grupo teve origem no ano 2019 em Buenos Aires, mas de raízes no fim do mundo – Patagônia (por duas de suas integrantes), veio chamando a atenção da cena independente latino-americana de maneira completamente orgânica desde que lançaram o primeiro EP homônimo no meio da pandemia.
O novo álbum, amplifica a gama de gêneros e possibilidades, passeando pelo indie-rock ao post-rock, com o adendo de dream-pop, Midwest-emo e shoegaze.
Suas gravações aconteceram em maio por Estanislao López nos Estúdios Unísono em Buenos Aires. Já a mixagem foi realizada por Nicolás Aimo no Estudio Albatros e a masterização por Mr. A capa é obra de Francisco Picone, baseada em fotografias de Candela Pérez.
Além do lançamento em formato digital, ele também está sendo disponibilizado em CD, cassette e em edição tripla em vinil, limitada a 400 copias em cor lilás, 300 cópias em vermelho marmorizado e 300 em preto padrão.
Fin Del Mundo Hicimos crecer un bosque
Um pouco antes de disponibilizar nesta sexta (18) em Premiere no Hits Perdidos Hicimos crecer un bosque, o quarteto lançou o single “El día de las flores”, uma colaboração do vocalista da banda Eterna Inocencia, Guillermo Mármol. Que se juntam aos previamente lançados “Vivimos Lejos” e “Una Temporada en el Invierno”, estes tocados durante a segunda turnê brasileira.
“Esta música descreve uma paisagem nostálgica e reflexiva sobre o vínculo entre duas pessoas… O protagonista do álbum sente que não é correspondido emocionalmente da forma esperada e explora a angústia que surge disso: acreditar-se sozinho no meio do cidade, desejando aquele refúgio entre dois e sentindo que o que foi construído no passado permanece vivo na memória, numa sensação, no vento.
Para essa música, com um marcado toque dream pop e letras muito extensas, convidamos Guillermo Mármol do Eterna Inocencia (tremenda influência para nós) para nos acompanhar nos vocais. O tratamento das guitarras é muito brilhante e a bateria extremamente precisa e milimétrica, embora o peso de toda a música seja carregado pelo baixo.”, conta Lucía Masnatta
A faixa é a sexta de um disco com oito canções, sendo 5 inéditas. “El día de las flores”, de fato, carrega uma melancolia, um ar gélido que contempla a natureza do disco, mas com curvas delicadas repletas de emoção. A junção dos vocais, feminino e masculino, dá ainda mais intensidade para a poesia que condensa o sentimento de saudade.
“Una temporada en el invierno”, lançada a pouco mais de 2 meses, como segundo single, é a responsável pela abertura do disco. Ruidosa e com referências do post-rock, a canção passa um pente fino nas memórias envoltas em uma maré de nostalgia, natureza atmosférica e com beleza pungente em suas melodias. A aproximação com o midwest-emo mora justamente tanto na progressão de acordes, como na parte lírica que fala abertamente sobre as dores do passado.
“Vivimos lejos”, lançado como lead single, já abraça o dream-pop e toda sua plástica, com direito a vocais em coro que nos remetem a bandas emo e outras que ganharam mais notabilidade na década de 10, como, por exemplo, o Title Fight. É daquelas para serem entoadas pelos fãs durante as apresentações do quarteto. Reverenciando os amigos, ela soa como um abraço de quem sente falta da rotina compartilhada de outros tempos.
A densidade do fim do mundo
“Cuando todo termine” é daquelas que vai criando imagens no horizonte, entre auroras, árvores e montanhas, para trazer consigo toda a intensidade para destilar um emaranhado de sentimentos. Os detalhes percussivos e o jeito que compõe seus arranjos faz parecer estarem se divertindo nas gravações. É a faixa em que entram nas profundezas, mata adentro, para se emancipar de qualquer resquício de memória negativa.
“Refugio” tem em suas curvas com referências de math-rock uma sensação de calmaria após a tormenta. Assim como Sigur Rós, elas conseguem equilibrar em um som que tem tudo para ser triste, em algo poético, leve e que te convida para um passeio para contemplar a paisagem e as pequenas alegrias da vida.
“Devenir Paisage” desde a primeira vez que ouvi me senti numa nostalgia que me leva mentalmente para uma playlist com grupos como Pixies, Superchunk, Yuck e American Football. O inverno e a neve servem de paisagem – e alegoria – para discorrer sobre distanciamento e quebra de vínculos.
“Microclima” navega por oceanos e se afunda na calmaria em uma faixa com referências de ambient em um lo-fi contemplativo. Quem encerra o disco é “Vendrá la calma” com uma atmosfera jovial e anseia pela reconstrução – e queda de muros.
Com referências do shoegaze e do dream pop, em sinergia, o baixo comanda a canção e as guitarras vão sendo calibradas ao longo do seu andamento para trazer toda a dramaticidade consigo. Sua linha melódica é daquelas que gruda em sua cabeça feito um chiclete.
O álbum encerra com o entoar da frase “Será que algo mejor nos va passar”, não resolvendo o conflito, mas com positividade suficiente para um novo recomeço.
Tracklist
1. Una temporada en el invierno
2. Vivimos lejos
3. Cuando todo termine
4. Refugio
5. Devenir paisaje
6. El día de las flores
7. Microclima
8. Vendrá la calma