“H2O fala sobre positividade, ter controle sobre a sua vida, ser saudável mentalmente, financeiramente e fisicamente e é isso que eu faço da minha vida”, diz Adam Blake
Em turnê comemorativa de 30 anos, O H2O retorna ao Brasil pela última vez. Ao menos é o que os próprios integrantes dizem em suas recentes entrevistas. A motivação da banda liderada por Toby Morse que já esteve no país em outras oportunidades, sendo a última em 2018, é justamente a vontade de desacelerar a extenuante rotina de turnês. O grupo que leva a bandeira de Nova Iorque por onde passa, seja na música que abre seus shows, como no discurso, fará dois shows nesta semana no Brasil. Sábado (19), no Fabrique Club, em São Paulo, e domingo (20), no Basement Cultural, em Curitiba, com produção da New Direction Productions.
A vinda conta também com uma série de novidades na formação, como a entrada de Matt Henderson, que já integrou o Madball e o Agnostic Front, na guitarra, e Max Morse na bateria, o filho de Toby.
Sem lançar nada há 9 anos, eles têm planos de programar um setlist que passa por canções dos seus seis discos, H2O (1996), Thicker Than Water (1997), F.T.T.W. (1999), Go (2001), Nothing to Prove (2008) e Use Your Voice (2015).
Tivemos a oportunidade de conversar com Adam Blake, que além de baixista do H2O desde a saída de Eric Rice, em 1996, é personal trainer e mentor de saúde. No papo ele comenta sobre a luta contra o alcoolismo e como a filosofia da banda está alinhada com tudo que aplica em sua vida nos dias de hoje.
A H2O já veio tocar várias vezes no Brasil ao longo dos 30 anos de história, mas faz um tempinho desde a última vez que vieram, em 2018. O que você está esperando dessa nova turnê?
Adam Blake: “Acho que vai ser muito divertido! O público da América do Sul, todo mundo já sabe né, são outro nível de diversão. As pessoas são apaixonadas, acolhedoras e muito divertidas. Estou esperando muito por essa turnê!”
Você conhece algo da música brasileira?
Adam Blake: “Sim, eu tenho alguns discos do Sepultura na minha coleção. Tenho também um disco do Ratos de Porão, que eu entendo que é uma banda lendária do punk brasileiro. Essas são bandas incríveis para se ter em um país.”
Nessa turnê vocês estão comemorando 30 anos da H2O. Como você acha que essas músicas evoluíram ao longo desse tempo todo?
Adam Blake: “É meio doido pensar que já faz 30 anos. É um tempo muito longo! Mais do que a metade da minha vida e o fato de ainda estarmos aqui nos apresentando para os fãs é espetacular.
Quanto às canções, como um músico que as tocou milhares de vezes, se você me colocar em um lugar onde elas estão tocando, não seria tão divertido. Mas quando subimos no palco e encontramos um público que ama essas músicas, em alguns casos há 30 anos também, elas parecem novas. Tudo parece a primeira vez de novo.
Acho que uma das coisas com a H2O, ou com qualquer banda com longevidade, é que não é mais só sobre a banda. A banda é só metade da história. O público é a outra metade. As pessoas que vão para os shows, sejam as pessoas que já viram 30 shows nossos ou quem vai pela primeira vez. De certa forma não importa. Aquele momento acontece apenas uma vez.
Claro que já tocamos em São Paulo antes, mas não aquela noite com aquele público. Isso sempre é muito especial, não importa há quanto tempo somos uma banda, não importa quantas vezes já tocamos nossas músicas. É essa junção de banda e público que dá a vida a tudo isso.”
Aqui no Brasil, especialmente nesse período pós-pandêmico, a procura por shows tem sido muito forte e a recepção do público sempre tem sido intensa, como você falou. Como tem sido esse retorno para vocês?
Adam Blake: “Você não sabe o quanto você ama uma coisa até que você perde ela, não é mesmo?
Óbvio que a pandemia foi muito dolorosa para todo mundo, mas de muitas formas ela nos fez apreciar mais viver em comunidade. Em 2020 nós já éramos uma banda há 26 anos e naquele momento tocar era uma coisa que eu amava, mas era meu trabalho, era uma coisa que eu tinha que fazer e achava que nunca iria acabar.
Mas passados dois anos sem tocar, eu comecei a olhar pra trás e sentir muita falta. Foi um momento que me fez apreciar muito mais o que eu faço. Tudo que acabei de falar sobre a banda e o público é verdade. Mas talvez se você tivesse me perguntado sobre isso antes da pandemia, eu responderia mais no automático: “ah, é legal, mas estamos tocando as mesmas músicas por anos…”. Qualquer coisa que eu tivesse respondido, eu provavelmente não estaria me sentindo tão firme quanto hoje. A pandemia foi péssima e trágica para todo mundo. Mas se teve uma consequência positiva é que eu aprecio tudo isso muito mais.”
E o hardcore sempre foi uma coisa de comunidade, não é? Mais até do que o hardcore, diria que a comunidade da música underground, incluindo aí o hip hop, o metal, o emo, diversas comunidades que conviveram juntas.
Adam Blake: “Exatamente! É o que eu gosto de chamar de “música das ruas”. A música feita por pessoas em quartos pequenos, sem muito dinheiro, que começa com uma pequena quantidade de pessoas que são obcecadas por aquele tipo de arte e, com sorte, vai crescendo e atingindo mais gente.
Isso em contraste a outros tipos de música que são feitas em salas de conferência, com gravadoras e executivos e coisas assim. Música construída para vender muitos discos. A música das ruas é a música das ruas, seja hardcore, hip-hop, reggae. O espírito é o mesmo e nós estávamos sentindo falta disso!”
Vocês surgiram nesse ambiente de shows underground com artistas dos mais diversos gêneros tocando juntos em Nova Iorque. Qual a importância dessa diversidade na música das ruas?
Adam Blake: “Nós somos uma banda de Nova Iorque. Foi onde nós começamos. Esses shows do começo, com uma grande diversidade no line up, é assim que as ruas de Nova Iorque são. Quando você anda pelas ruas lá, especialmente nos anos 90, você via muitas culturas vivendo juntas, compartilhando ideias.
Dessa forma, se você é uma banda que vem de baixo e vive essa realidade, tocar em shows assim é o que parece mais adequado, o que nos sentimos mais confortáveis fazendo. Claro, talvez o som seja diferente, mas o espírito é o mesmo.”
Ainda nesse tema da música das ruas versus a música dos conglomerados musicais, a H2O lançou em 2008 a música “What Happened?”, hoje um clássico da banda, que fala muito sobre como vocês viam a indústria musical naquela época. Sobre sentir falta da paixão e da emoção na música que estava sendo feita. Você acha que nesses 16 anos desde então algo mudou?
Adam Blake: “Acho que de muitas maneiras tem melhorado, já que o poder está de volta na mão dos artistas, como sempre deveria ter sido. Quando nós estávamos gravando discos no fim dos anos 90 e começo dos anos 2000, você precisava alugar um estúdio. Era muito caro e você precisava de alguém que te desse dinheiro para isso. Você precisava de um selo para lançar a sua música, precisava de ajuda para colocar a sua música na frente das pessoas.
Hoje ainda competimos por isso, mas você consegue fazer um disco que soa profissional usando apenas um laptop. E você consegue lançar no mundo de graça, ou como quiser fazer, diretamente do seu quarto. Eu ainda acredito na maneira antiga de fazer as coisas, como fazer shows para que o público conheça você, mas você hoje não precisa disso se não quiser.
Você pode botar sua música no YouTube, nas redes sociais. Essas ferramentas dão ao artista a possibilidade de levar essa jornada da forma que quiserem, sem ter que depender dessa indústria musical antiquada e ultrapassada.
Essa indústria nunca foi sobre apoiar o artista, sempre foi sobre dar lucro para executivos em cima dos talentos dessas pessoas. Eu honestamente acho que isso tudo tem mudado para melhor. É um mundo bem melhor para músicos do que era antigamente.
Eu queria falar um pouco sobre você também. Sei que para além da música você tem outra ocupação.
Adam Blake: “Sim, eu sou fitness trainer e mentor de saúde, que é algo que eu comecei a fazer quando ainda morava em Nova Iorque. Lá, por ser uma cidade muito cara, todo mundo acaba fazendo várias coisas para sobreviver. Daí eu me mudei para a Califórnia e fiquei sóbrio, pois eu tinha um problema muito pesado com bebida. Eu me livrei disso e comecei a levar a minha saúde muito a sério. Isso foi em 2010.
Desde então tenho feito isso em tempo integral entre as turnês. De muitas formas é algo que combina muito com a H2O, que é uma banda que fala muito sobre positividade, sobre ter controle sobre a sua vida, sobre ser saudável mentalmente, financeiramente e fisicamente e é isso que eu faço da minha vida. Se você me vê enquanto estou treinando meus alunos ou quando estou no palco, eu estou vestindo as mesmas roupas. Eu também gosto de ouvir hardcore enquanto estou trabalhando. Acho que são duas carreiras que vão muito bem juntas. São como duas partes da mesma coisa.”
Você também é straight-edge, assim como o Toby (Morse, vocalista da H20)?
Adam Blake: “Não, não sou straight-edge. Na verdade, eu não bebo, pois sou alcoólatra. Da maneira como eu vejo, o estilo de vida straight-edge é uma escolha, mas quando você está sóbrio você não tem escolha. Ou você se mantém sóbrio ou sua vida vai acabar.”
Para encerrar, a H20 é uma banda que não teve muitas trocas na formação. Tem pelo menos três membros que estão na banda desde os primórdios. Qual é o segredo para essa longevidade?
Adam Blake: “Sim, eu, Toby Morse e Rusty Pistachio estamos na banda desde o início. E vale lembrar que Todd Friend, o nosso baterista, desenvolveu um problema físico no pescoço e por isso não consegue mais tocar bateria, então não é como se ele tivesse saído por uma briga ou algo assim. Nós ainda o consideramos parte da banda. Ele cuida das nossas páginas em redes sociais até hoje.
Já o Todd Morse entrou para o The Offspring, então meio que não podemos competir com isso. Afinal é o Offspring, sem ressentimentos. Acho que o segredo da nossa longevidade é que somos pessoas muito tolerantes. É como se fosse um casamento mesmo, às vezes nós estamos com raiva uns dos outros, mas nos perdoamos, afinal somos família. Acho que o que construímos juntos é tão profundo que eu não consigo imaginar não ter esses caras na minha vida. Nós somos uma unidade nessa jornada.
E agora estamos em um momento especial com o Max Morse, filho do Toby, entrando na banda como baterista, ele é incrível. Eu o conheço desde antes de ele nascer. E o Matt Henderson, nosso guitarrista, era membro de bandas irmãs nossas como Madball e Agnostic Front, então ele sempre esteve por perto. É algo certo, sabe. É muito bom seguir tocando.”
Serviço
H2O em São Paulo
Abertura: Pense e Treva
Data: 19 de outubro de 2024 (sábado)
Horário: 16h
Local: Fabrique Club
Endereço: Rua Barra Funda, 1071 – São Paulo
Para ingressos clique aqui
H2O em Curitiba
Abertura: Gritando HC, Norte Cartel e Mustaphorius
Data: 20 de outubro de 2024 (domingo)
Horário: 16h
Local: Basement Cultural
Endereço: Rua Desembargador Benvindo Valente, 260 – São Francisco – Curitiba
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