O Campo busca a espontaneidade da música no EP “Tatarô”; lançamento chega acompanhado de clipe
Natural de Taubaté (SP) os paulistas da banda O Campo apresentam hoje em Premiere no Hits Perdidos seu primeiro EP de estúdio, e segundo trabalho na carreira, Tatarô. Com uma pluralidade ritmica o material que conta com 4 faixas, sendo 3 inéditas, apresenta uma evolução sonora que passa pelo campo do adendo de novas referências no campo rítmico e percussivo, poesia e desenvolvimento artístico.
Eles ainda miram na psicodelia mas também abre portas para o post-rock, a música brasileira, o indie e o experimental. Entre as grandes novidades do novo registro está a experimentação de ritmos como bolero, afrobeat e baião, algo fruto dos processos de pesquisa do grupo interiorano.
Além disso, eles lançam junto ao EP o videoclipe para a faixa título, “Tatarô”. Na formação eles contam com Danilo Bonato (percussão e backing vocals), Leo Santi (guitarra e voz), Mário Gascó (bateria, sitar e samples), Michel Cruz (guitarra) e Murilo Marroco (baixo).
“Foi mais de um ano e meio para chegarmos até o momento de definir, de fato, o trabalho, num processo muito natural e espontâneo em que despendemos bastante tempo para explorar as canções e os arranjos antes de dar o rec inicial. Conservamos as músicas e deixamos que elas fossem se enriquecendo de forma espontânea”, comenta o Campo.
Como grande curiosidade vem a origem do termo que dá nome ao lançamento. Tatarô significa a espontaneidade da música que a banda produz e tudo que a acompanha. A palavra surgiu no momento em que o grupo estava imerso na criação das músicas, quando o baterista e backing vocal Mário Gascó cantarolou espontaneamente pelos corredores do Bangue Estúdio, reduto do grupo, os primeiros “tatarôooo” em coro.
Entrevista: O Campo sobre o EP “Tatarô”
Conversamos com a banda O Campo para saber mais detalhes sobre o novo EP Tatarô, confira.
Até antes da pandemia o som de vocês tinha uma característica mais simplista e psicodélica mas ao longo do tempo vocês foram incorporando mais elementos rítmicos, trazendo mais instrumentos e camadas experimentais para a sonoridade. Como foi esse processo para vocês e como enxergam a gama de possibilidades que isso trouxe para as novas composições?
O Campo: “Foi um processo espontâneo e natural, mas ao mesmo tempo pensado. Espontâneo e natural considerando num geral a fase dos membros da banda e o que acabamos ouvindo juntos durante esse processo todo.
Então algumas novas influências naturalmente entraram no subconsciente da turma na hora de compor, mas sem deixar também o psicodélico de origem da banda de lado, ainda presente na própria “Tatarô”, por exemplo. E pensado porque a gente de fato tentou se desprender um pouco do rock, do gênero rock em si, e tentar trazer uma brasilidade mais enraizada no som.
A gente de fato enxerga essas mudanças como uma abertura de possibilidades e isso foi intencional, essa busca por outros caminhos, visitar outras referências, buscar outros ouvintes e querer explorar mais a fundo a nossa música.”
Aliás a poesia é algo muito relevante dentro do campo das composições, tendo o pai do Léo como parceiro em algumas das faixas ao longo da discografia e até a participação recente da Flora Miguel declamando poema em uma das canções. Contém mais sobre essa veia do projeto e quais as inspirações, sejam elas obras, temáticas ou situações que motivaram a escrever ao longo do processo do EP.
O Campo: “Pra nós a relação da música com a palavra e o lugar da voz é sempre um desafio e uma inspiração. E também muito importante. E a nossa música tende a ter um clima espacial, no sentido de ter e abrir espaços para a palavra sem que ela seja necessariamente cantada e foi aí onde a gente começou a introduzir a poesia. E ter o pai do Leo como um parceiro só facilitou esse caminho, ele está até lançando um livro de poesias esse ano, o “Nômade”, então temos ali um leque de possibilidades. Mas a gente gosta de escrever as nossas e nesse EP, especificamente na “Sem Nunca Mais” praticamos isso, escrevemos a letra de forma bem coletiva.”
Bolero, afrobeat, psicodelia e experimentalismo, como foi para vocês misturar tantas culturas, ancestralidade, referências e referências dentro de um material? Aliás, onde foram buscar inspirações? Além do audiovisual para “Tararô”, isso se fará mais presente na concepção visual e nos shows do grupo?
O Campo: “Misturar tudo isso aconteceu do mesmo jeito que todo o conceito do EP, foi uma pesquisa intencional que aconteceu de uma forma muito natural. Veio da nossa vontade de mudar um pouco os ares do nosso som. O projeto da banda surgiu numa época em que a cena do psicodélico tava muito forte e de certa forma influenciou nosso começo.
A gente tenta não se prender a uma cena, ou uma única referência. E as referências como já comentamos foram mudando ao longo do tempo de acordo com o momento de cada um da banda. Referências como Tony Allen, os conterrâneos da Cometas Salutares, Colletivo Estoril, Camilo Frade e a cena toda de São Luiz do Paraitinga, os Parcels australianos, a Tropicália, a música latina, entre outros, foram sons que passaram pelas nossas conversas e ouvidos ao longo da produção. E a gente se preocupou e caminhou junto com o audiovisual desde sempre, talvez porque maior parte da banda trabalha com isso. E isso já está reverberando para os shows. Estamos com um material preparado para projeção que interage de acordo com o show, então dependendo da estrutura do palco é algo que já começamos a introduzir também.”
A capa também parece incorporar um pouco destes elementos, contém mais sobre a concepção e simbologia que quiseram trazer para o primeiro plano.
O Campo: “A capa surgiu mais tarde durante o processo todo, ela surgiu durante a produção do clipe somente quando a gente teve a imagem do “Tatarô” criada. Até tentamos criar algo separado a essa identidade criada pelo personagem, mas depois que decidimos que seria o nome do EP e que o Tatarô teria tanta importância na atmosfera toda do clipe e do EP, pensamos em desconstruí-lo e despersonificá-lo na capa.
Então, assim que encerramos as cenas do Danilo como Tatarô, já aproveitamos o figurino ali recém utilizado e montamos a composição que a Mô veio clicar ao fim da diária. Vale um destaque para o rosto do Tatarô, máscara produzida pelo artista plástico Davi Cananéia, de Paraty(RS), que se tornou o centro da capa e símbolo do EP.”
Contem mais sobre a concepção do videoclipe e como ele se relaciona com o conceito que queriam traduzir no EP? Qual sua história e o que queriam passar nas entrelinhas?
O Campo: “A música fala sobre o olho no olho, improviso, espontaneidade, milésimos de segundo em que olhos se cruzam e se entendem. Milésimos de segundo em que se surge uma ideia, ou milésimos de segundo em que uma ideia some.
O clipe surgiu no nosso imaginário durante a fase de composição do EP, lá em Natividade da Serra, onde o clipe foi gravado. Durante a imersão da banda enquanto trabalhávamos na canção e no EP, o roteiro surgiu no nosso imaginário coletivo quase que exatamente do jeito que acabou finalizado. Nós ainda não tínhamos a imagem e nem o termo Tatarô, mas o roteiro e a ideia do clipe eram as mesmas, a gente só foi preenchendo as lacunas de acordo com o tempo e com a evolução da música. Mas até o ator Pedro Ortiz também já havia sido escalado nesse imaginário.
E trabalhar com o Lucci, a Mô, o Kenia, o Gui e toda nossa equipe, é algo que já acontece tão naturalmente pra banda, que foi um processo de fato muito tatarístico.
Sua história é sobre a busca pela inspiração, pela criatividade, o termo Tatarô pra nós se resumiu a isso. É algo que está dentro de nós e que estamos sempre buscando, mas não sabemos muito bem como é e como expressar isso. Pra nós isso acontece através da música, ela é nossa ferramenta de contato com essa espontaneidade que estamos buscando. E o Tatarô é o nosso resultado disso.”