Encontro das Tribos reúne Sticky Fingers, Racionais MC’s, Planet Hemp e Criolo em noite inflamada pelas Eleições

 Encontro das Tribos reúne Sticky Fingers, Racionais MC’s, Planet Hemp e Criolo em noite inflamada pelas Eleições

Sticky Fingers, da Austrália, fecha turnê sul americana com show no Encontro das Tribos – Foto: Divulgação/Encontro das Tribos

Para celebrar seus 20 anos o Encontro das Tribos realizou edição especial diretamente do Pavilhão do Anhembi, em São Paulo. Com mais de 17 horas quase ininterruptas de música, o festival reuniu nomes internacionais e nacionais do reggae, rap, trap e rock em evento para mais de 25 mil pessoas.

Realizado nas véspera das eleições o tom político e as mensagens foram fortes, ainda mais em um line up com nomes que sempre se colocavam na linha de frente como a presença de Racionais MC’s, Planet Hemp e Criolo, engrossando o meio da tarde e noite, com manifestações bastante claras em relação ao Brasil que desejam. Mano Brown, por exemplo, aproveitou para dar uma cutucada em Neymar Jr. sobre sua postura manifestando apoio a Bolsonaro publicamente e esquecendo suas raízes com uma frase que ecoou na internet.

“No Brasil, o preto rico fica branco e ataca os outros pretos. Ele vota contra os outros pretos, e ele não é mais preto. Essa é a regra básica da sobrevivência do preto no Brasil: ganhar dinheiro e ficar branco. Infelizmente é a verdade, ou me provem o contrário”, disse o vocalista do Racionais MC’s durante apresentação no Encontro das Tribos

No show realizado durante o começo da madrugada, o grupo de rap mais popular do Brasil em uma das suas entradas aproveitou para provocar as “motociatas” do político de extrema direita com direito a adentrar ao palco na garupa como publicado em reels.


https://www.instagram.com/reel/CjOOPd2D6Lk/


A importância do Voto no Palco do Encontro das Tribos

Criolo chegou no show trajado de urna eletrônica em decalque em sua camiseta para lembrar da importância do voto. O rapper que tem estilo versátil que passa pelo rap, pela mpb e pelas frequências do reggae aproveitou para protestar por uma das bandeiras do evento.

O músico reforçou sobre a importância de festivais com essência reggae como uma espécie de contracultura da música hegemônica presente nas FM’s. Vale lembrar que o Encontro das Tribos nasceu como um programa de rádio focado no nicho.

“Espero que essa juventude maravilhosa já tenha feito o corre do título de eleitor! Se vocês querem o fim do fascismo, se vocês querem o fim do racismo, se querem nossos povos originários vivos, digam não ao Bolsonaro”, disse Criolo durante a apresentação


Encontro das Tribos - Criolo
Criolo veio trajado de urna eletrônica em show no Encontro das Tribos realizado na véspera do primeiro turno das eleições – Foto: Divulgação/Encontro das Tribos

Planet Hemp

O Planet Hemp como não era de se esperar menos, chegou com a formação atual que não conta com Black Alien, aliás, o artista se fez presente no line up do festival porém teve problemas de saúde e não pode se apresentar integralmente, abandonando a apresentação alegrando “falta de voz”.

Com clássicos e canções presentes em Usuário cantadas pela multidão “Mantenha o Respeito”, “Dig Dig Dig”, “Legalize Já”, “Queimando Tudo”, “Ex-quadrilha da Fumaça” se fizeram presentes no set. A grande novidade para o público foi justamente a presença de “Distopia“, primeiro single do grupo em 20 anos se executado pela primeira vez ao vivo em São Paulo. Com críticas ácidas ao governo federal e sua fábrica de fake news, a canção com baixo no talo e atmosfera de um blues pulsante, acabou gerando uma recepção positiva às vésperas do pleito.

A identidade de transitar entre o hardcore, dos Bad Brains, entre o hip hop, o rock e a música brasileira se fazem presentes ao longo de apresentação explosiva. O show também teve espaço para uma breve comemoração já que Formigão era o grande aniversariante do dia.

“Vote pelo preto, vote pelas mulheres, pelos gays. Não vamos desistir! Quanto mais fascistas eles são, mais somos resistência”, disse D2 durante a apresentação


Planet Hemp - Encontro das Tribos 2022
Planet Hemp no Encontro Das Tribos tocou sua primeira música inédita em 20 anos, “Distopia”. – Foto Por: Victoria Giaffone

Além dos citados o line up completo contou com as atrações internacionais: Cypress Hill (EUA), Sticky Fingers (Austrália), SOJA (EUA), Mike Love (EUA). Também se fizeram presentes o trapper Matuê feat. Teto, o grupo de reggae MANEVA, o rapper Djonga, Costa Gold que substituiu Lil Pump (EUA), Lagum, BaianaSystem, Conecrew Diretoria, Cidade Verde, Cynthia Luz e Mato Seco.

“O cantor já confirmou presença na edição 2023, em São Paulo”, reportou o Encontro das Tribos em publicação no Facebook, o músico não pode estar presente devido a um furacão na Flórida

Lagum

Os mineiros da Lagum, inclusive, mudaram o tom alegre e esperançoso de costume das suas apresentações para discorrer da importância do voto, protestar contra o presidente Jair Bolsonaro e ainda trouxe de surpresa uma das canções mais inflamadas politicamente do Charlie Brown Jr. em seu set, “Hoje Eu Acordei Feliz”, presente originalmente no álbum Transpiração Contínua Prolongada (2017) do grupo santistas.

Mike Love

Entre os shows internacionais, Mike Love tocou cedo, no meio da tarde e acompanhando de seu violão fez um show trazendo toda a energia leve de sua cidade natal Oahu, no Hawaii. Com discos como Jah Will Never Leave I Alone (2014), Love Will Find A Way (2015), e o EP the Love Overflowing (2015), o músico se apresentou de forma solo e sem sua banda base. O que não foi problema para o músico que teve tempo até mesmo para fazer uma versão good vibes mas com mensagem ativista executando de maneira lenta e despojada “Another Brick In The Wall” do Pink Floyd, emanando a energia política do fim de semana.

SOJA

Aclamados e com o público na mão o SOJA fez um show com público entregue e com várias declarações de amor ao Brasil. A felicidade era tanta que entre interações com direito a rap em português em uma das músicas, ainda arranjaram espaço para transformar sua banda em uma pequena bateria de Carnaval em “Samba”. Nada mais justo visto que à poucos metros dali a festa do Carnaval Paulista das escolas de samba ganha forma. Eles retornam ao festival depois de 2019 quando tocaram ao lado do Maneva que também se apresentou na edição de 2022 do Encontro das Tribos. “True Love”, Everything Changes”, “Morning” e “I Don’t Wanna Wait” integraram o set que contou com 11 músicas e uma incrível sintonia com os presentes.


SOJA - Encontro das Tribos 2022 - por Victoria Giaffone
SOJA durante apresentação no Encontro das Tribos. – Foto Por: Victoria Giaffone

Os Acertos e Erros do Encontro das Tribos

Algo a salientar foi a pontualidade dos palcos do festival. Divididos em dois, com direito a uma arte de um polvo gigante abraçando, poucos shows tiveram certo atraso, e quanto teve foi algo tolerável. Um dos pontos de críticas nas redes sociais foram justamente a distância da pista comum para o palco e a pouca organização, opções de comidas e filas grandes para quem quisesse consumir bebidas e comidas durante o festival.

O alto valor dos ingressos também foi momento de crítica por parte do público que gostaria de comparecer, mas esse movimento também tem acontecido em outros festivais no pós-pandemia por diversos fatores, tanto no Brasil como no exterior.

Conecrew Diretoria

O Conecrew Diretoria não fez um show politizado mas por diversos momentos trouxe temáticas presentes no som do grupo carioca que gosta de misturar estilos e trás isso à tona durante suas apresentações. Destaque fica para a faixa “Bonde da Madrugada”, “Chefe de Quadrilha”, além de cantarem uma versão para “Zóio de Lula”, do Charlie Brown Jr..

O festival ainda reuniu destaques do rap como Djonga que no domingo foi votar com a camiseta escrita “Fogo Nos Racistas” e o fenômeno do trap Matuê em show com participação de Teto.

“Muita consciência com o que vão fazer amanhã (domingo), hein? Não adianta vir aqui gritar ‘fogo nos racistas’ e amanhã apertar 22”, manifestou Djonga durante show no Encontro das Tribos


Encontro das Tribos - Sticky Fingers
Sticky Fingers fecha turnê brasileira com show no Encontro das Tribos. – Foto: Divulgação/Encontro das Tribos

Sticky Fingers

A banda australiana Sticky Fingers (leia entrevista exclusiva) escolheu o Encontro das Tribos para encerrar sua turnê pela América do Sul, esta que contou com shows em Curitiba, Porto Alegre, Rio de Janeiro, além do festival Planeta Brasil, em Belo Horizonte, e uma apresentação solo em Santiago, no Chile. De Sydney, uma das maiores cidades da Austrália, o grupo o grupo liderado por Dylan Frost que tem membros que se conhecem desde crianças – e que está junto há 12 anos – veio para promover seu sexto álbum de estúdio, Lekkerboy. O disco, foi lançado no dia 20 de abril.

O repertório, inclusive, durante toda a turnê foi focada nas canções com mais reggae da discografia da banda que flutua entre o ritmo jamaicano como influência mas transita entre o rock e o indie rock ao longo da sua discografia. Estivemos presentes em duas apresentações da turnê, na de Curitiba, o set foi mais longo, com 17 canções, enquanto a apresentação no Encontro das Tribos foi resumida à cerca de 50 minutos.

O que não mudou muito foi a prevalência das canções do novo disco, durante a turnê brasileira canções como “Lupo The Wolf”, My Rush”, “Smoke Rings”, “We Can Make the World Glow”, estiveram presentes na maioria dos shows, no mais longo no Paraná, do disco, entraram ainda o combo de singles que antecedeu o disco, “Multiple Facets of the Same Diamond” e “Napalm”; ambas ficaram de fora do curto set paulista.


Sticky Fingers - Encontro das Tribos 2022 - Foto Por: Victoria Giaffone
Sticky Fingers fez set focado em seu novo disco, “Lekkerboy” – Foto Por: Victoria Giaffone

Quem costumou abrir as apresentações foi “Land of Pleasure”que junto de “Rum Rage”, são os grandes destaques do disco de nome igual a primeira citada. Longe de ser um dos discos mais populares da discografia dos australianos, Westway (The Glitter and the Slums), de 2016, acabou emplacando “Outcast at Last” e “Sad Songs”, surpresa mesmo foi “Cyclone” se fazer presente.

Claro que os hits “Australia Street” e “How to Fly”, canções mais populares do Sticky Fingers, acabaram no bloco final de cada apresentação. Do disco Yours To Keep (2019), a faixa título, ficou de fora mas “Cool & Calm” acabou entrando em ambas apresentações.

Momentos carismáticos, como bolas sendo chutadas do palco pelo baterista Eric “Beaker Best” da Silva Gruener que fez questão de falar em português notoriamente feliz em São Paulo e de dancinhas do tecladista que costuma se apresentar de cuecas boxes, marcam também a apresentação da banda que em determinados momentos se sente em cada a cada verso ecoado na platéia com direito a casa cheia.

Mesmo com um cartaz esticado na beira do palco, “Leekerboy”, primeiro single revelado do álbum acabou não estando presente em nenhuma data da turnê. Aliás, tendo visto duas apresentações do grupo no país, é notório o cansaço do primeiro show, no sul, em comparação com o final em São Paulo. A vida em turnê não é fácil, entre jet lags, noites mal dormidas e festas, o show precisa continuar.


Encontro das Tribos - Sticky Fingers (Austrália) 2022
Sticky Fingers, da Austrália, fecha turnê sul americana com show no Encontro das TribosFoto: Divulgação/Encontro das Tribos

Sticky Fingers vocalista e baixista - Encontro das Tribos 2022
Dylan Frost (vocalista e guitarrista) e Paddy Cornwall (baixista), do Sticky Fingers, no close. – Foto Por: Victoria Giaffone

Sticky Fingers vocalista no close - Encontro das Tribos 2022
Carismático, o vocalista Dylan Frost, se sentiu bastante a vontade durante a apresentação. – Foto Por: Victoria Giaffone
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