Revirando o lixo do “Ink Trash”: artista cria capas de jogos e músicas com estética trash
Visitar o perfil do Ultimate Ink Trash no Instagram dá uma certa sensação de nostalgia. É como ir a uma loja de jogos eletrônicos nos anos 80/90, só que com jogos atuais nas prateleiras. Isso porque os posts exibem capas de jogos como Fall Guys, Among Us, Dark Souls, Hades, Minecraft e outros, mas com estilo visual trash peculiar da época.
Em entrevista ao Hits Perdidos, Matheus Peixoto, ilustrador por trás do Ultimate Ink Trash, conta que inspira suas mais variadas capas especificamente neste aspecto artístico, mas também porque quando começou a publicar na plataforma, só fazia muitos rabiscos e ficava com preguiça de terminar. “Era uma arte de lixo.”
Matheus buscava um estilo específico para sua arte desde 2019. Foi quando um amigo da mesma profissão, Lizard Soup, lhe disse que seus traços lembravam capas antigas de jogos. “Daí comecei a fazer um ensaio de capas antigas para jogos atuais, porque esse estilo de capa não existe mais. Seria como se os jogos de hoje fossem lançados naquela época, e isso atraiu muita atenção”, conta.
Do lixo ao luxo
O Ink Trash passou a ser a principal ocupação de Matheus recentemente, em abril deste ano. “Saí do meu emprego e comecei a me dedicar exclusivamente ao Ink Trash, mas durante um bom tempo fiquei empregado como designer gráfico frustrado, que queria desenhar uns negócios aí, mas não podia”, revela.
Ela atua bastante com commissions (trabalhos encomendados), cujas oportunidades costumam vir direto das empresas — a maioria são desenvolvedoras de jogos independentes. “Uma das primeiras (commissions) que fiz foi com a Asantee Games, uma empresa daqui de São Paulo, para o jogo Magic Rampage. Foi uma das melhores capas que já fiz”, exemplifica.
A encomenda mais recente do Ink Trash foi para Fashion Police Squad, jogo da finlandesa Mopeful Games. “Fiz uma arte para uma espécie de prêmio para quem financiava o jogo, tipo green light”, detalha. Mas o artista também já fez commissions para produtos triple A do segmento, como uma série de capas para Far Cry, da Ubisoft. Apesar dos desafios, ele considera uma das melhores obras que já entregou.
“Tive um mês para fazer seis artes, e isso quando o Ink Trash não era minha principal ocupação. Foi pesado. Mas é uma coleção que tem um aspecto de unidade, algo que sempre busco fazer no meu trabalho”, analisa.
Capas para músicas e série da Netflix do Ink Trash
Além de recriar capas para jogos eletrônicos, o Ink Trash produz peças ilustrativas para produtos de outros segmentos. “O trabalho mais recente foi uma capa para Ninja Baseball Spirits, série de quadrinhos de Dave Cook baseada em um jogo de fliperama”, conta.
Antes mesmo de criar o Ink Trash, Matheus revela que fez a capa para o single Free Art, da banda de thrash metal brasileira Metalizer, de São Paulo. No ano passado, fez a capa do álbum Lake Effect, da dupla de rap Antwon Levee & Dust (Nova Iorque, EUA). “E agora fiz a segunda capa para eles, para o segundo álbum que devem lançar em breve. Vai ser bem legal; queria fazer mais trabalhos musicais”, relata.
O artista também foi procurado pela Netflix, ocasião em que produziu capas para a série Round 6, por meio da Geeked Week, ação que lista histórias da plataforma em gêneros de ficção científica, fantasia, animes e outros. As peças do Ink Trash foram utilizadas para divulgações em redes sociais da Netflix.
Inspirações do thrash metal à fantasia sombria
As capas do Ink Trash são feitas diretamente no computador, onde o Matheus desenha à mão por meio de um tablet dedicado, começando com rabiscos “bem porcos”, segundo o próprio. Depois disso, Matheus aplica cores, texturas, correções, balanços, experimentos e realiza uma série de processos que nem sempre seguem uma ordem certa. Somado a este esforço, há também o peso da referência a linguagens autorais da ilustração.
A principal inspiração de Matheus é Ed Repka, desenhista famoso por criar capas de discos de muitas bandas de thrash metal, como a maioria dos álbuns clássicos do Megadeth. “Ele tem um estilo bem sci-fi dos anos 50; de horror, além de capas que vão para o lado cômico e satírico. E o trabalho dele tem visual de fanzine, bem underground”, explica.
Entre outras influências, o Ink Trash traz os quadrinistas Kentaro Miura e Stefano Tamburini como principais referências. O primeiro marcou o mundo dos mangás com a série de fantasia sombria Berserk, enquanto o segundo é famoso pelo personagem RanXerox, uma obra italiana com elementos futuristas e provocativos, conforme descreve Matheus.
Por fim, o artista se espelha com os trabalhos de Drew Struzan, ilustrador responsável pela capa do álbum Sabbath Bloody Sabbath, do Black Sabbath, além ter feito cartazes para filmes variados, como Blade Runner, Indiana Jones, De Volta para o Futuro, Star Wars e mais.
O Ink Trash comercializa camisetas por meio da estamparia Orangotee e planeja lançar outros tipos de produtos por meio de uma futura parceria com a Colab55. Além disso, também é possível encontrar pôsteres de suas obras na InPrint, plataforma estrangeira que opera em dólar. Mais detalhes do trabalho do artista estão disponíveis em seu site oficial.