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Festival Forró da Lua Cheia 2022 promove grandes encontros, sustentabilidade e ativismo

Festival Forró da Lua Cheia 2022 reúne cerca de 10 mil pessoas em Altinópolis (SP) no feriado de Corpus Christi

Na última semana, dos dias 16 a 19 de junho, aconteceu 30ª edição do Festival Forró da Lua Cheia. Realizado em Altinópolis, a 380 quilômetros de São Paulo, o evento focado na integração, experiência em comunidade, arte ativismo, gastronomia, música e estilo de vida reuniu em a área aberta em mais de 550.000 metros quadrados mais de 100 atrações musicais, cerca de 300 oficinas multiculturais e intervenções artísticas que iam da fanfarra ao circo, seja ao longo do dia como também dentro das apresentações. Algo que fez com que a experiência de cada um que adentrasse no Hotel Fazenda Vale Das Grutas fosse única.

A estrutura montada para receber cerca de 10.000 pessoas ainda contava com chalés, áreas de camping, estacionamento, restaurantes, piscinas, vestiários, sendo mais de 1.100.000 m² de área externa, convidava juntamente o visitante a viver intensamente as quase 96 horas de evento.

Entre as atrações musicais quem esteve presente pôde conferir shows d’O Grande Encontro (Alceu Valença e Geraldo Azevedo), que teve às vésperas a confirmação do caso de COVID-19 de Elba Ramalho fez com que cancelasse sua participação, fato que foi exaltado durante a apresentação, BaianaSystem, Racionais MC’s, Falamansa, Liniker, Francisco, el Hombre, Mariana Aydar, além de Luísa e os Alquimistas, Rapadura, Čao Laru, Bia Ferreira, Ana Cañas cantando Belchior, Cordel do Fogo Encantado, Tribo de Jah, Congadar, Furmiga Dub, El Efecto, Elisa Sena entre outros.

Foi também a primeira edição a ser realizada desde 2019, e por isso, quem tinha adquirido os ingressos para a edição que aconteceria no período da pandemia, pôde utilizar suas entradas. Com tradição, quem fosse também poderia ficar nas cidades próximas do evento, como Batatais, Serrana e Ribeirão Preto, no qual transfers se deslocavam diariamente para atender a demanda.


Festival Forró da Lua Cheia 2022Foto Por: Rafael Chioccarello (Hits Perdidos)

A Estrutura do Forró Da Lua Cheia 2022

Por volta das 20h chegamos ao festival e logo nos deparamos com sua estrutura que surpreendia justamente pelo clima de grande festa junina, interação, muitas luzes, fogueiras, barracas e palcos dos mais diversos tamanhos. Sendo o imponente Palco do Vale o principal; e o Palco Mirante, tendo como característica trazer nomes em ascensão da música brasileira. Já o Palco Dharma tendo uma estrutura de pequena lona de circo se dividindo entre apresentações de DJs e oficinas que iam de yoga a musicoterapia. Uma espécie de tenda eletrônica que sintetiza bastante o estilo de vida inerente pelo Forró da Lua Cheia.

Além destes, o Palco Incrível, trazia apresentações que celebravam a cultura sertaneja, o samba, o ativismo e outros ritmos brasileiros com uma estrutura que também contava com um foodtruck da marca servindo comidas para quem é adepto do vegetarianismo e veganismo.

Aliás a natureza, senso de comunidade e a sustentabilidade como um todo estão no DNA do festival que faz integração com toda a comunidade da região, inclusive com os indígenas que puderam além de mostrar mais sobre sua cultura nos espaço…puderam adentra o palco principal durante a apresentação da Francisco, El Hombre para protestar por melhores condições de vida em um dos momentos mais marcantes – e emocionantes – do terceiro dia. O Arte Ativismo ainda teve um espaço incrível chamado Bambule Artes onde a cultura africana era exaltada em oficinas bastante interativas.


Francisco, el Hombre durante o Festival Forró da Lua CheiaFoto Por: Rafael Chioccarello (Hits Perdidos)

O Palco Forró, localizado ao lado da principal praça de alimentação, era definitivamente um dos mais animados do recinto. Por lá, independente da hora do dia, a programação ia de DJ’s a apresentações de forró. Com cobertura, iluminação e decoração propícia, o local era um convite para que velhos e novos casais se animassem para dançar um para cá e dois para lá. Lá perto também tinha uma tenda de festa junina (confira nosso guia com as Festas Juninas de São Paulo) com Quentão, Vinho Quente e outras delícias de uma das festas mais celebradas da cultura brasileira.

Já o Palco Piscina era um dos mais diferentes do Forró justamente por ter uma estrutura clássica de chácara. Com direito a mesas de bilhar, bar, palco pequeno na casa menor e uma piscina. Se você já assistiu ao clipe de “História de Verão“, do Forfun, talvez entenda um pouco do espírito deste palco. Por lá shows covers aconteciam e o espírito era animado. Em certo momento era possível ver o vocalista de uma das bandas saindo do palco em trenzinho acompanhado pelo público, e mesmo no frio dos 13 graus que fazia na noite de sábado (18), aproveitou a energia emanada para pular na piscina feito um gran finale para a apresentação.


Mapa do Festival Forró da Lua Cheia em 2022.

As Intervenções e Oficinas

Ao longo do dia era algo comum, mas sempre inusitado, se deparar com intervenções artísticas dos mais diversos tipos, o que certamente enriquecia a experiência e imersão cultural propostas pelo Forró da Lua Cheia 2022. Em certo momento andando entre os palcos uma fanfarra chamava a atenção, com direito a metais, tambores e energia contagiante clássicos do BaianaSystem como “Lucro: Descomprimido”, “Asa Branca”, de Luis Gonzaga e até mesmo Mamonas Assassinas faziam parte do repertório. O que fazia com que o público ensaiasse fazer trenzinhos e cantasse as músicas para acompanhar como corpo coletivo da apresentação.

Aliás, em diversos momentos a arte circense ganhava corpo e presença ao longo da extensão do hotel fazenda. Malabarismo com fogo, acrobacias, bambolês e palhaços faziam parte da nova rotina que o festival apresenta para os curiosos. Com direito a pirâmide com arcos de fogo – entre outras parafernalhas – ao longo das trilhas rumo aos palcos como também no meio das apresentações era possível observar círculos que se abriam na multidão para números como “cospe-fogo” ou de bambolês iluminados coreografados…como aconteceu durante a apresentação da banda cigana, teatral e multicultural Čao Laru.

Na galeria de fotos logo abaixo você confere as oficinas de Pipa e de música que aconteceram durante ao longo do feriado de Corpus Christi.


Show da Čao Laru teve intervenção artística de bambolês durante Festival Forró Da Lua Cheia Foto Por: Rafael Chioccarello (Hits Perdidos)

Oficina de como fazer Pipa dentro do festival - Foto Por: Rafael Chioccarello (Hits Perdidos)
Ao todo foram mais de 300 oficinas realizadas ao longo dos quatro dias no Festival Forró da Lua Cheia. - Foto Por: Rafael Chioccarello (Hits Perdidos)

Os Shows do 1º dia do Festival Forró da Lua Cheia 2022

No primeiro dia chegamos um pouco mais tarde o que fez com que não pudéssemos comparecer as apresentações que abriram os palcos autorais, sendo assim se apresentaram mais cedo Capa e Seus Grilos e a cantora Liniker (leia resenha no Mita Festival).

Conseguimos ver um trecho do show do Cabelo, nome artístico de Rodrigo de Azevedo Saad, músico capixaba radicado no Rio de Janeiro, que mistura música e exposições com direito a mistura entre ritmos como rap samba, pop e o funk carioca, além de poemas de Baudelaire ou Geraldo Mello Mourão. Seu disco, inclusive, tem a assinatura de dois produtores musicais de renome, Kassin e Nave.

Em uma de suas instalações, por exemplo, ele tem a” Caixa Preta”, com Paulo Vivacqua, em que mistura funks “proibidões” com as vozes de Glauber Rocha e Hélio Oiticica, uma experiência que ele fez questão de levar para o Palco Mirante de maneira bastante interessante. Para quem ainda não conhece, o multiartista também atua como compositor tendo músicas gravadas por artistas como Ney Matogrosso, Pedro Luis e a Parede, Cidade Negra e Monobloco.

O show acaba por ser bastante diverso no campo da expressividade, o que faz com que o artista provoque e chame o público ao longo da apresentação para chegar mais perto da experiência imersiva.


Cabelo no Festival Forró da Lua CheiaFoto Por: Rafael Chioccarello (Hits Perdidos)

O Grande Encontro

Com repertório reunindo grandes sucessos da carreira de Alceu Valença, Elba Ramalho e Geraldo Azevedo, O Grande Encontro estava marcado para ser um dos grandes acontecimentos do Forró da Lua Cheia 2022. Inclusive, Alceu em certo momento do show lembrou que esta era sua quarta passagem pelo festival de Altinópolis (SP) e como ele gostava de estar ali presente.

Na véspera foi anunciado que a paraibana Elba Ramalho foi diagnosticada com COVID-19 e teve que cancelar sua participação ao lado dos ícones da música pernambucana. Fato que ganhou destaque durante a apresentação de “Anunciação” e acabou sendo um dos grandes momentos de ativismo dentro do festival com direito a agradecimento pela existência da vacina em um ato político de deixar claro que estavam do lado da ciência.



Com show dividido em atos para cada um dos três ter seu momento de celebração junto ao público, Geraldo e Alceu até admitiram que a apresentação não teve sequer um ensaio para sua execução. O que não necessariamente foi um problema como frisou Valença, visto que o entrosamento de mais de 50 anos de parceria entre os dois fez com que tudo parecesse natural. As músicas que seriam feitas em dueto com Elba Ramanho, como por exemplo “Bicho de 7 Cabeças” foram apresentadas solo por Geraldo Azevedo que assim como seu parceiro, não perde o prumo a cada clássico que vai sendo tocado.

Alceu Valença emociona ao apresentar “La Belle de Jour” (confira um trecho).



O repertório da apresentação reflete no conteúdo do DVD celebrando a parceria d grande encontro e claro que canções como “Sabiá”, “Chão de Giz”, “Chorando e Cantando”, “Ai Que Saudade D’Ocê”, “Tropicana”, “Frevo Mulher” e “Ciranda da Rosa Vermelha” não iam ficar de fora.


Alceu Valença e Geraldo Azevedo no Festival Forró da Lua CheiaFoto Por: Rafael Chioccarello (Hits Perdidos)

Luísa e os Alquimistas

Para entenderem um pouco da dinâmica do Festival Forró da Lua 2022, enquanto tínhamos shows no Palco Mirante, não haviam shows no Palco do Vale acontecendo e vice-versa. Até por isso alguns shows sofriam alteração de horários e isso fazia com que assistíssemos muitas vezes apenas alguns trechos das apresentações como foi o show da banda potiguar Luísa e os Alquimistas.

A apresentação que ainda demorou um pouco mais para começar devido a problemas técnicos, fez com que por uns 10 minutos o microfone e o retorno da vocalista não funcionasse, algo que foi contornado pela técnica que teve que ainda durante a execução corrigir alguns problemas. O que não influenciou na qualidade do show apresentado. Com figurino e banda afiada, Luísa e a banda trataram de trazer o ritmo contagiante do bregafunk cheio de referências do pop contemporâneo para o palco do festival.

Misturando canções do caliente Jaguatirica Print (leia entrevista), lançado em 2019, e do EP mais recente Gang Da Leoa Vol. 1, repleto de participações especiais de nomes como Jup do Bairro, MC Tchelinho, Keila, Francisco, El Hombre, PamkaPauli e Potyguara Bardo.

Com disco no forno, em 2022 já foram lançados dois feats, “MamaGanja” com DuSouto e “El Mistério Ya Está Aqui” com a carioca Letrux. Animado e energético, o show coloca todo mundo para dançar já entrando madrugada adentro entre um copo de quentão e outro que o público presente já empunhava. Combinação mais do que apropriada para uma noite gelada mas com latinidades à flor da pele.


Luísa e os Alquimistas no Festival da Lua Cheia Foto Por: Rafael Chioccarello (Hits Perdidos)

Falamansa

Um dos momentos mais aguardados do festival foi a participação dos paulistanos do Falamansa. Fundada em 2008 para um festival de bandas da faculdade (Mackenzie), o grupo acumula quase 25 anos de atividade e inúmeros hits radiofônicos que consagraram eles como os reis do “forró universitário”.

Tato, inclusive, antes de se aventurar na banda era DJ em festas de forró o que serviu de bagagem para os primeiros dias do grupo que tem hits emblemáticos como “Xote dos Milagres” e “Xote da Alegria”, dobradinha que abriu a apresentação de forma encorpada misturando ritmos e arranjos diferenciados durante a sua execução. Por mais que muitos lembrem de “Rindo À Toa”, ao longo do show é possível relembrar outros radiofônicos como “Cem Anos” e “Colo de Menina” dos também paulistas do Rastapé.

O carisma, serenindade e boa energia do vocalista ao comanda da noite deixa o show com uma atmosfera digno do espírito das festas juninas. O show do Festival Forró da Lua Cheia 2022 também é um reencontro deles com o festival desta vez sob circunstâncias propícias para embalar a noite adentro.

Visto que eles no show anterior anos antes sofreram com problemas técnicos devido a chuva, o que acabou prejudicando a apresentação durante a edição que estiveram. A entrega, claro, não poderia deixar de ser melhor, com o espírito animado, cativante e festeiro do grupo.


Falamansa no Festival Forró da Lua CheiaFoto Por: Rafael Chioccarello (Hits Perdidos)

Para deixar o encontro forrozeiro ainda mais imerso no festival eles prepararam uma sequência matadora ainda antes da metade da apresentação com “Asa Branca” e “Pagode Russo”, de Luiz Gonzaga, “Morena Tropicana”, esta que antes de tocar Tato frisa que está emocionado por dividir a noite, e o palco, com Alceu Valença e por isso separou para o set se isso fosse permitido. “Esperando na Janela” de Gilberto Gil também entra no repertório.

A sequência final ainda tem “Banho de Cheiro” de Elba Ramalho, que não pode estar presente no show de mais cedo, “Festa do Interior” da baiana Gal Costa e “Falamansa Song” do disco Deixa Entrar de 2000.



Os Shows do 2º dia do Festival Forró da Lua Cheia 2022

O segundo dia pode ser considerado o dia mais politizado dentro das apresentações e o miolo do dia deixa isso mais que claro com Bia Ferreira, Racionais MCs e Rapadura trazendo a expressividade do Brasil que muitas vezes é silenciado para o centro das atenções.

Os primeiros a se apresentar empunhando tambores e trazendo para o Palco Mirante os sons originais de Minas Gerais foram os integrantes da Congadar que em certo momento do show chamam para o palco a conterrânea Elisa de Sena. O som deles mistura folk, congado, blues e o rock…algo bem diferente por assim dizer.

O grupo de Sete Lagoas (MG) formado em 2013 é o resultado da mistura de dois grupos e aos poucos vai chamando a atenção de quem ainda não os conhece e estava passando entre uma instalação e outra. Sim, este palco por estar no meio de diferentes ativações e perto da área de alimentação por muitas vezes acabava sendo ponto de passagem para quem estava transitando entre as atividades. A experimentação também é uma marca do som do grupo que não se fecha em estilos ou propostas musicais e desta forma acaba reverenciando o rico cenário cultural das “geraes” de nomes como Milton Nascimento e Lô Borges.


Congadar mistura frequências no Palco Mirante. – Foto Por: Rafael Chioccarello (Hits Perdidos)

Já a Tribo de Jah fez um show reverenciando seus 35 anos de história e dedicação ao reggae. Embora com fãs fiéis que pulavam, era notório ao longo do show o esvaziamento da plateia que contou com a participação especial do filho de 17 anos do vocalista do grupo e diversas versões de clássicos do estilo de origem jamaicana.

Bia Ferreira

De Carangola (MG), Bia Ferreira é uma das maiores revelações nacionais dos últimos anos, a cantora, compositora, multi-instrumentista e ativista trata de em sua apresentação, que foi a última do disco Igreja Lesbiteriana (2019), levantar as bandeiras do feminismo, a luta antirrascista e protestar contra a LGBTfobia como um todo.

Para entrar no espírito do disco, ela que foi criada em família evangélica transforma o palco em uma igreja e traz discurso afiado em temas ainda sensíveis de serem discutidos em nossa sociedade. Seu som também é plural e não se restringe ao rap, ao reggae, ao samba, a MPB, a poesia e outros ritmos, e sim, coloca tudo no liquidificador.

Em um ano de eleições os dizeres se tornam ainda mais urgentes. Deixar claro o lado da história que está e as lutas coletivas é ainda mais urgente. A apresentação, inclusive, coincidiu bem com o final de semana da Parada Gay de São Paulo.


Bia Ferreira no Festival Forró da Lua Cheia – Foto Por: Rafael Chioccarello (Hits Perdidos)

Racionais MCs

Donos de um dos discos mais icônicos da música brasileira, Sobrevivendo ao Inferno (1997), o grupo composto por Mano Brown, Ice Blue, Edi Rock e KL Jay é daqueles que certamente você precisa assistir ao menos uma vez na vida. Desde 1988 na estrada e de uma carreira sendo construída com muito suor, é sempre interessante ler as entrevistas em que eles refletem sobre os primeiros dias e aprendizados sobre instrumentos, equipamentos e showbizz.

Assim como o ímpeto em querer ficar perto dos seus e manter a postura firme em temas sensíveis a sociedade como educação, cultura e política. Postura essa que faz deles há quase 35 anos o grupo de rap brasileiro mais emblemático – e ainda extremamente necessário.


Mano Brown (Racionais MCs) durante apresentação no Festival Forró da Lua CheiaFoto Por: Rafael Chioccarello (Hits Perdidos)

Lembro como se fosse ontem de uma em que contavam que foram para os Estados Unidos e compraram alguns dos primeiros equipamentos que os fariam evoluir como MCs e tentando aprender como funcionava passando horas no telefone de fio tentando decifrar o que os botões faziam e o que poderiam criar a partir disso. Com humildade, eles entram no palco e não deixam de presentear os presentes com hits como “Nego Drama”, “Jesus Chorou”, “Tô ouvindo alguém me chamar”, “Capítulo 4, Versículo 3”, “Diário de um Detento”, “Pânico na Zona Sul”, “Tempos Difíceis”, “Voz Ativa” e “Expresso da Meia-Noite”. A nostalgia é um ponto que até mesmo eles admitem que o show transmite.



“Para mim sem modéstia, Racionais por si só já é pesado. Esse show não é apenas um show, é um espetáculo único” explicou Edi Rock, um dos fundadores do grupo antes da apresentação no palco do Festival Forró da Lua Cheia.

O show ainda traz Lino com sua voz que se destaca principalmente nas canções em que Mano Brown traz para o show de Boogie Naipe (2016), o que faz com que o show tenha seu lado de realidade social mas também mostra um lado mais romântico do músico que já declarou que é uma faceta que ele tem gostado cada vez mais de compôr.


Racionais MCs no Festival Forró da Lua CheiaFoto Por: Rafael Chioccarello (Hits Perdidos)

Rapadura

De Fortaleza (CE), Rapadura Xique-Chico é um projeto que se destacou nas vésperas do apocalipse pandêmico com o disco Universo do Canto Falado (2020). Gravado de forma 100% independente e com a ajuda dos amigos, o MC que faz uma mistura bastante única de rap, repente e o acompanhamento de percussão, foi indicado ao Grammy Latino naquele ano. Fato este exaltado pelo artista durante a apresentação.

Ele inclusive exalta carisma e não se permite parar nem sequer por um minuto da apresentação, só abre a excessão para o DJ ter seu momento de glória. Vestido com seu chapéu de palha ele salta e clama para que a roda se abra no meio da multidão em certo momento.

Francisco Igor Almeida do Santos, o Xique-Chico, não se acanha e permite com que seu som tenha um mix que vai da embolada, repente, coco, maracatu, capoeira, cantigas de roda, baião e forró; além de ritmos urbanos como jazz, soul, funk e samba-rock, o que nos transporta para um nordeste futurista, polirrítmico e alinhado com a urbanização e conexão digital  dos nossos tempos.


RapaduraFoto Por: Rafael Chioccarello (Hits Perdidos)

Os Shows do 3º dia do Festival Forró da Lua Cheia 2022

O terceiro dia de festival ficou marcado pela pluralidade de estilos e maior presença do samba no line up. Um exemplo disso foi a abertura dos shows do Palco Mirante que trouxe do Rio de Janeiro o El Efecto com sua mistura encorpada que transita entre o samba passando pelo blues, groove ao metal com tremenda facilidade.

Com quase 20 anos de estrada eles misturam o ativismo com a música brasileira e com elementos que vão da guitarra swingada aos acordes rápidos do crossover, algo como colocar no mesmo barco Tom Jobim e Gangrena Gasosa mas de maneira versátil e equilibrada.

O show tem espaço para metais, vocais femininos, percussão que não se limita a bateria, o próprio vocalista e percussionista, Tomás Rosati, trás o pandeiro e outros instrumento percussivos, como o chocalho, para dar caldo para a mistura. Memórias de Fogo (2018) acaba sendo um dos discos mais marcantes dentro do set e mostra uma banda madura e pronta para explorar ainda mais facetas.

No palco quem ainda não conhecia se surpreende pelo poder de fúria e ativismo social de uma banda que critica o capitalismo com a mesma intensidade de grupos como Dead Fish e Ratos de Porão mas sem perder a compostura feito Gil ou Juçara Marçal. Seria, inclusive, interessante quem sabe assistir um feat entre eles e o Metá Metá, quem sabe um dia isso sai do papel para se materializar.


Tomás Rosati, vocalista e percussionista da El Efecto, durante a apresentação do grupo carioca no Festival Forró da Lua CheiaFoto Por: Rafael Chioccarello

Mart’Nália

Martinália Mendonça Ferreira, conhecida como Mart’nália é uma versátil em tudo que faz. Ela acumula as funções de atriz, cantora, compositora, percussionista e instrumentista. O que naturalmente se reflete nos palcos com seu carisma natura e habilidade performática de subverter com seu jeito de fazer samba. Ao todo a apresentação contou com 19 canções tendo como abertura a versão da artista com Arthur Maia para “Don’t Worry, Be Happy”, originalmente interpretada pelo norte-americano Bobby McFerrin.


Mart’Nália no Festival Forró da Lua CheiaFoto Por: Rafael Chioccarello (Hits Perdidos)

O repertório, inclusive tem canções de Paulinho Moska, Caetano Veloso, Vinícius de Moraes e Toquinho, Baden Powell e Martinho da Vila revisitando o melhor do samba e da MPB brasileira de uma forma tão dela. Um momento bastante interessante foi quando ela depois de se jogar cantando “Namora Comigo”, e flertar com o público, emendar em “Eita Menina”, canção feita durante a pandemia ao lado dos mineiros da Lagum.



O show ainda continua com uma versão para “Cabide” da Ana Carolina até para a sequência de Martinho da Vila com “Ex Amor”, “Disritmia” (assista ao vídeo) e “Mulheres”. O mesmo ocorre com Dona Ivone Laura  com “Mas quem disse”, “Acreditar” e “Sorriso Negro”. A apresentação  se encerra com a sequência de “Entretanto”, “Tava Por Aí”, “Chega” e “Água de Chuva de Mar”.



Mariana Aydar

Após lançar Veia Nordestina (Natura Musical), em 2019, com dois pés no forró Mariana Aydar quis levar para o palco do Festival Forró da Lua Cheia 2022 uma apresentação com as canções presentes no projeto, além de clássicos do estilo. Foi essa toada que guiou a apresentação da artista que cativou o público e encorajou com que os presentes puxassem seus parceiros para o rastapé.

Čao Laru

Já a Čao Laru trouxe toda sua teatralidade, ciganice e escola circense para o Palco Mirante do Forró. Com Libre (2020) e Fronteiras (2019) como carros chefes, o grupo que tem integrantes em vários países e já realizou turnês à bordo de uma combi, trouxe duetos de vozes, apresentação com direito a bambolês, violão e muita alegria para o pequeno palco. O timing do show foi ótimo já que eles aproveitaram para fazer uma versão de “Triste, Louca ou Má”, da Francisco, El Hombre, minutos antes da versão ser executada no palco ao lado


Čao Laru no Festival Forró da Lua CheiaFoto Por: Rafael Chioccarello (Hits Perdidos)

BaianaSystem

Assistir ao BaianaSystem ao vivo é saber que se deparará com uma catarse coletiva e um espírito digno de Navio Pirata como eles mesmo exaltam em suas incríveis apresentações de carnaval seja em Salvador como em São Paulo. Politizados, versáteis e multi-ritmados, eles se tornaram cada vez mais um símbolo da música brasileira que não se acanha em realizar uma pesquisa densa de referências e parcerias que não se limitam apenas o nosso continente.

Do tipo de show que já nas primeiras duas músicas o juiz já pode apontar um vencedor sem muita dificuldade e assim como recente apresentação no Circo Voador, no Rio de Janeiro, eles optaram por abrir com “Reza Forte” que prontamente fez os presentes abrirem as primeiras rodas.

Não demorou muito para “Capim Guiné”, outra com essa capacidade de incendiar qualquer apresentação do grupo emendar uma sequência que também traz “Sulamericano”. O show não dá muito intervalo de tempo para o público respirar e o caldeirão ferve ainda mais com a sequência com “Lucro: Descomprimindo / Miçanga”, “Duas cidades” e “Navio pirata”.



“Saci” e “Playsom”, são outras que também se destacam dentro do set que ainda tem “Arapuca” e Dia da Caça” como canções fazem um mini-carnaval fora de época em pleno festival com característica de Festa Junina…mas no Brasil toda mistura – e festa – é bem-vinda. Russo Passapusso se sente bastante confortável e já no fim do show aproveita para sentar no palco enquanto finaliza a apresentação em clima de baile.


BaianaSystem no Festival Forró da Lua CheiaFoto Por: Rafael Chioccarello (Hits Perdidos)

Francisco, el Hombre

O show da Francisco, el Hombre é sempre um bom motivo para celebrar a vida por conta da sua energia inflamável…mas também sempre reserva espaço para o ativismo, a conexão com nossas raízes sul-americanas e a oportunidade de repensar o destino do nosso planeta. Tendo Soltasbruxa (2016) seu maior cartão de visita, eles lançaram ao longo do tempo Rasgacabeza (2019) e Casa Francisco ainda no ano passado. Em paralelo eles têm dedicado também a projetos paralelos.

A comunhão em criticar o momento grave social e político que nosso país vive, onde o preconceito é exalado e as minorias perdem muitas vezes o direito de permanecerem vivas, aparece ao longo do show com direito a indignação pelas mortes de Dom Phillips e Bruno Pereira, recentemente encontrados na Amazônia.


Francisco, el Hombre no Festival Forró da Lua CheiaFoto Por: Rafael Chioccarello (Hits Perdidos)

Se estendendo a causa indígena que teve até mesmo a entrada de índios moradores da região ao palco para pedir consciência eleitoral a todos os presentes na eleição que se aproxima, como também nos discursos dos integrantes ao longo a apresentação.

O público abraça o clima festivo entre um salto de Sebastián Piracés-Ugarte e um discurso mais sério de Juliana Strassacapa. Hits e o calor da rua integram naturalmente o show que a cada transpirar mostra como a estrada ajudou a afiar o espírito aguerrido do grupo paulista.



Eles que não dispensam ligar o amplificador no último volume e em cada vez mais se conectar com suas raízes latinas – até por isso lançaram recentemente um disco apenas com versões em espanhol. O que se estende certamente para a sonoridade, seja trazendo elementos do ska, da bachata ou de outros ritmos de veias abertas por uma América Latina Livre de amarras, mordaças e fronteiras.


Indígenas no palco durante a apresentação da Francisco, el Hombre no Festival Forró da Lua CheiaFoto Por: Rafael Chioccarello (Hits Perdidos)

O festival ainda contou com o show de Ana Cañas canta Belchior na tarde de domingo encerrando a programação dos principais shows escalados para o evento. O saldo final que fica é a celebração das artes, de um estilo de vida sustentável, da vida em comunidade e de trazer diferentes pontos de vista para construir uma sociedade menos desigual. Algo que se reflete no line up de shows mas também nas oficinas, ativações e no encorajamento em praticar hábitos mais sustentáveis para o meio-ambiente.

O Festival Forró da Lua Cheia está confirmado para 2023!

Eles aproveitam para anunciar nas redes sociais que a edição de 2023 está confirmada!
O Festival Forró da Lua Cheia 2023 acontecerá no mesmo local entre os dias 8 e 11 de junho.


This post was published on 21 de junho de 2022 3:55 am

Rafael Chioccarello

Editor-Chefe e Fundador do Hits Perdidos.

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