MITA Festival: Gorillaz faz show apoteótico, Two Door Cinema Club se supera e Marcelo D2 , Letrux e Heavy Baile conectam RJ a SP no segundo dia
Com proposta de apresentar novos nomes da música brasileira e ainda trazer grandes artistas da música internacional, o MITA Festival realizou sua primeira edição neste fim de semana em São Paulo. O evento para cerca de 20.000 pessoas por dia aconteceu na Spark Arena, localizada nas proximidades do metrô Jaguaré, na zona oeste da capital paulista.
No domingo, segundo dia do festival, o evento reuniu Jean Tassy, Coruja BC1 e Larissa Luz, Letrux, Heavy Baile, Liniker, Marcelo D2, Two Door Cinema Club, Matuê e Gorillaz. Tendo seu início no Palco Deezer, ao meio-dia, com Tassy e encerramento com o Gorillaz por volta das 22:45h.
“Nossa ideia com o MITA foi mostrar como a música é realmente uma linguagem universal, atingindo diferentes públicos e estimulando uma união entre gerações e grupos. Temos nomes muito consagrados com artistas jovens, que despontaram durante a pandemia.
Aliás – esse próprio período em que ficamos sem nos encontrar presencialmente mostrou que a música vai sempre encontrar seu caminho para atingir as pessoas. Muitos dos nomes que estarão nos palcos do MITA formaram suas audiências nas plataformas de streaming e tornaram a interação possível nas redes sociais.
Quisemos também ter essa mistura de ritmos – porque a música é plural e o mundo é diverso.”, frisa Luiz Guilherme Niemeyer, sócio da Bonus Track sobre a curadoria
Com proposta de ser um festival que acontece ao longo do dia, para facilitar na volta para a casa e melhorar a experiência para o público, o MITA Festival contou com uma série de acertos por parte da organização. Os shows todos foram bastante pontuais, os banheiros possuíam sabão, torneiras e pia (de verdade), os dois palcos principais eram relativamente perto e a experiência de conseguir assistir tranquilamente a todos os show é um grande gol de placa dos organizadores.
O acesso ao evento é relativamente fácil pelo metrô ou ônibus embora a falta de sinalização na saída do metrô tenha atrapalhado um pouco os que não conheciam a nova arena. Entre os erros, o festival contou com preços elevados para comidas e bebidas, o que para quem precisa almoçar e jantar para acompanhar os shows deixava a experiência bastante salgada.
No segundo dia tivemos um buraco dentro da programação, após o show do Matuê que durou 45 minutos, tivemos meia-hora sem apresentações, e fica o questionamento se os shows de Jean Tassy ou Coruja BC1 poderiam ter começado um pouco mais tarde para contar com público maior. Independente disso o saldo é bastante positivo com grandes shows, ativismo, boa experiência e poucos problemas técnicos. Confira a resenha completa!
Coruja BC1 convida Larissa Luz
Após apresentação de Jean Tassy, que tocou no horário ingrato do meio-dia para poucos, Coruja BC1 contou com o desafio de cantar próximo das 13h em um domingo de sol aberto na zona oeste de São Paulo.
Gustavo Vinicius Gomes de Sousa, natural de Osasco (SP), é dono de um dos discos mais emblemáticos do rap nacional dos últimos anos, Brasil Futurista entrou nas principais listas de Melhores Discos de 2021, com rimas precisas e denunciando a realidade social das periferias brasileiras.
O show percorreu esse caminho ativista do começo ao fim, muitas vezes cantando para um público durante o festival que pode não compreender as vivências em sua totalidade mas que tem interesse em ouvir e passar a mensagem em frente. Com preços elevados, é uma realidade constante em shows de rap, seja no Lollapalooza, no Rock In Rio ou em novos festivais como o MITA Festival. Aliás um taco de carne no evento se aproximava dos 45 reais e uma cerveja da Heineken não saia por menos de 15 reais. Um simples pastel também saia pelo mesmo valor, o que elitiza um evento em que um ingresso com taxas chegava aos seus R$505 reais.
Fato é que ele não se acanhou e fez um show com muita autonomia e responsabilidade. Procurando interagir com o público do começo ao fim com direito a sequências como “Fogo”, “Hardcore Tupiniquim”, mandando um salve para a Nação Zumbi que encerrou suas atividades recentemente após mais de 30 anos de serviços prestados, e “Apócrifo”, em um bloco mais politizado; “Tarot”, a ótima “Éramos Tipo Funk” e “Baby Girl”, em um bloco mais romântico compõe o setlist.
Ao todo Coruja BC1 dividiu a apresentação sabiamente em 4 blocos, mostrando sua versatilidade como compositor e inteligência em administrar as sensações e emoções que quer passar, da indignação, passando pelas críticas ao dia a dia, o amor, o orgulho das origens e o ativismo social.
A participação da cantora baiana Larissa Luz deixa a apresentação ainda mais celestial já na parte final com “Lágrimas de Odé”, “Oh Mary”, “Dendê”, “Nibiru”. Ele fechou a apresentação com “Bolhas” (feat com Salgadinho) e “Modo F. 2.0” do EP Antes do Álbum de 2020.
Letrux
Lançado no dia 13/03 o álbum Letrux Aos Prantos foi um dos marcos dos dias que antecederam o início da pandemia em 2020, e a artista carioca até discorreu na época o drama dos cancelamento dos shows de lançamentos planejados a meses.
Agora com a retomada dos shows e festivais ela finalmente pode mostrar as canções ao vivo. Com show marcado para o começo da tarde do sábado (15), a cantora até brincou durante a apresentação que tinha feito um ritual para que ela não se concretizasse – e de fato os pingos só viriam timidamente durante a apresentação do Gorillaz no fim do dia.
Com a maior parte da banda com mulheres na linha de frente e figurino impecável, Letícia Novaes, a Letrux, abriu sua participação no festival com “Déjà-vu Frenesi” e logo na segunda música, “Abalos Sísmicos”, estirou um leque com os dizeres Lula 2022, prontamente posando com ele enquanto sauda o público presente. O show performático ainda conta trocas de figurino, colocando luvas, envolve tirar fios vermelhos da garganta e a constante interação com os integrantes da banda.
De Letrux em Noite de Climão (2017), estreia pós-Letuce, entram no setlist “Flerte Revival” e “Que Estrago”, essa uma das mais dançantes e performáticas da artista que por várias vezes sinaliza o símbolo com as mãos representando o ato do sexo oral. A artista sabe utilizar bem o palco e desce para o encontro da plateia para retribuir o afeto; aproveitando para voltar ao palco engatinhando enquanto sobe as escadas de acesso.
Em muitas horas o show se transforma em uma pista de disco music e convida o público a dançar. Ela encerra a apresentação com “Vai Brotar”, e no bis, executa “Cuidado Paixão”.
Heavy Baile
O Heavy Baile é um daqueles grupos que você precisa assistir ao menos uma vez na vida. Além das canções do álbum Carne de Pescoço (2018), eles tem como proposta trazer para um público que não conhece um pouco da história do funk carioca e seu lado antropofágico de misturar ritmos e alternar BPM. Isso se concretiza ainda mais nos feats e conexões entre a música periférica brasileira como por exemplo, “Raposa Love”, parceria com os baianos da ÀTTØØXXÁ.
O show também como elemento que deixa a experiência ainda mais imersiva e intensa sequências de passinhos, rebolado e coreografias que dão asas ao baile, tudo isso acompanhado de um MC que se faz presente do começo ao fim e agilidade nas transições de mashups e beats.
As quebras por sua vez permitem até mesmo entradas de samples de “Get Right”, de Jennifer Lopez, “Vamos Pra Gaiola” de Kevin O Cris e FP do Trem Bala, “I Don’t Wanna Know” de Mario Winans, “Olho de Tigre” de Djonga, “Cerol na Mão”, hit icônico do Bonde do Tigrão, “Atoladinha”, do Bola de Fogo, “Glamurosa”, do Mc Marcinho e “Vem Todo Mundo”, do finado Mr. Catra.
Feats com Gloria Groove (“Fogo no Barraco” com Mc Tchelinho), Tropkillaz e Mc Carol (“Toca na Pista”), Luísa Sonza (“Cavalgada”), Mc Carol, Lia Clark e Tati Quebra Barraco (“Berro”) e Mc Baby Perigosa (“Grelinho de Diamante”) ajudam a dar corpo ao baile e transformar por alguns minutos o Palco Deezer em uma noite carioca.
Liniker
A cantora Liniker subiu no palco pouco antes das 15h para uma apresentação bastante emotiva em diversos contextos. Ela se emocionou ao lembrar do reencontro com os festivais, vale lembrar que foi uma das artistas que mais adiou o reencontro. Discorreu em suas falas sobre a saudade e lamentou todas as perdas oriundas da pandemia de forma bastante empática e carinhosa. Ela lembrou ainda sobre o drama dos profissionais da música que viram a renda do seu sustento sumir da noite poro dia, celebrando a garra das equipes técnicas de todos os artistas do país.
No set temos duas canções dos tempos de Liniker e Os Caramelows, “Intimidade”, do Goela Abaixo (2019), e “Zero”, single de 2015. O resto da apresentação conta com faixas do celebrado álbum de estreia solo, Indigo Borboleta Azul. Os pontos altos estão desde a abertura com “Clau”, passando por “Psiu”, a icônica “Baby 95” e a imponente “Vitoriosa”.
A apresentação conta com uma banda afiada e um tom intimista que definitivamente funciona mais em casas de shows menores, embora a entrega de Liniker seja bastante intensa e emocional. Talvez pelo horário e por boa parte do público presente ainda não conhecer seu trabalho, o show esteve longe de ser um dos mais cheios do dia.
Marcelo D2
Marcelo Maldonado Peixoto, mais conhecido como Marcelo D2, é uma das figuras mais emblemáticas e rock’n’roll da música brasileira. Icônico membro do Planet Hemp, D2 soube construir uma carreira solo coesa e com uma constância de bons discos, hits e ativismo político e social, sendo um twitteiro ativo nas críticas ao governo Bolsonaro e a ascensão do conservadorismo em todas as esferas.
O experimental e pandêmico Assim Tocam os MEUS TAMBORES (2020) acaba embalando o começo do show com “Tambor, o Senhor da Alegria”, “Bem-Vindo Meus Cria”, “Rompeu o Couro”, “Quarta às 20h”, “A Verdade Não Rima” e “MalungoForte”, são as 6 primeiras faixas de um longo set com 22 músicas.
Durante a primeira música da apresentação houveram problemas técnicos do som não estar saindo durante o primeiro minuto, o carismático rapper brincou com a situação para quebrar o gelo e logo em seguida o show começou com direito a participações de seu filho Sain (Stephan Peixoto) e sua esposa, a produtora Luiza Machado.
“Febre do Rato”, “1967”, “Resistência Cultural”, “Vai Vendo”, “A Maldição do Samba” e “A Procura da Batida Perfeita…” fazem com que o show flua de maneira consistente e mantenha o público vidrado na apresentação. Momentos com críticas ao presidente, de declarar o voto em Lula e de interação com o público também deixam o músico se sentindo em casa em um show que celebra suas raízes que vão do punk ao samba, do hip hop a mpb, tudo num flow mais Rio de Janeiro possível.
Two Door Cinema Club
No momento em que o Two Door Cinema Club anunciou em sua conta oficial no twitter a não vinda do seu vocalista e guitarrista Alex Trimble por motivos de doença, muitos fãs ficaram decepcionados. O grupo da Irlanda do Norte fez questão de manter os shows da turnê pela América do Sul e convocou o amigo de longa data David Clements o que gerou ainda mais questionamentos, entre fãs quererem o dinheiro de volta e alguns sugerirem a substituição pelo The Kooks que já viria para a edição carioca do festival.
Com quatro álbuns de estúdio e um disco de B-Sides no currículo, sendo o mais recente False Alarm (2019), o maior sucesso da banda continua sendo o segundo disco da banda, Tourist History (2013). Mesmo sendo headliner do festival ao lado do Gorillaz a apresentação estava programada para às 17:10h, quebrando a lógica das principais atrações se encavalarem no fim do dia; diferente do que aconteceu no sábado (14) quando Tom Misch e Rüfüs Du Sol fecharam o primeiro dia tocando na sequência.
Das 19 faixas que foram tocadas durante os 70 minutos de apresentação, 7 compõe Tourist History, o que definitivamente ajuda a carregar o show nas costas para quem tem entre 25 e 35 anos nas costas (confira o setlist). Outros hits como “Sun”, “Sleep Alone” além de “Next Year”, “Someday” e “Handshake”, do primeiro disco Beacon (2012), também se fazem presentes no show, o que garante que boa parte dos presentes dance e cante a maioria das músicas.
De novidade em terras brasileiras mesmo tivemos o single “Talk”, do álbum mais recente, False Alarm (2019). “Are We Ready? (Wreck)”, “Lavander” e “Bad Decisions”, entraram no set e fazem parte do disco Game Show (2016). Também há espaço para “Changing of the Seasons”, esta lançada apenas em EP.
Outro fator que fez a banda construir bastante público pelo país foram constantes vindas para o Brasil, nos últimos anos tendo vindo nas edições do Lollapalooza de 2013 e 2017.
David Clements entrou no palco um pouco nervoso mas isso apenas no começo do show. A partir do momento que cantou os primeiros versos de “I Can Talk” a sensação era a de que até mesmo o timbre de Trimble estava presente, claro que o carisma do ruivo, nem tanto mas ele foi se soltando e no hit seguinte “Undercover Martyn” já estava seguro e com o público na mão.
O lado interessante do timing de construção de carreira do Two Door Cinema Club casa também com a era de ouro do indie rock nas festas e baladas, o que fez com que hits improváveis como “Something Good Can Work” e “What You Know” fossem comuns nas noites de São Paulo. O efeito tocar na noite fez muitos irem atrás do tal álbum e assim outras como “Do You Want It All?” e “Cigarettes in the Theatre” acabavam entrando nas playlists.
Two Door Cinema Club (@TDCinemaClub) diretamente da edição de SP do Mita (@mitafestival)#HitsnoMita pic.twitter.com/f8N6OLXnlI
— Hits Perdidos (@HitsPerdidos) May 16, 2022
O show tem seus momentos de hits que colocam todos para dançar mas também tem um pouco de monotonia e frieza. Além do entrosamento sendo construído em plena estrada por conta da adversidade, a pouca interação com o público acaba deixando um pouco morna a apresentação nas faixas mais desconhecidas do público em geral. Mas isso talvez seja um pouco da personalidade da banda que no figurino não deixa a desejar. Do que poderia ser, o show teve uma ótima entrega e não deve decepcionar os fãs paulistas na quarta-feira (18) e os cariocas no fim de semana do MITA.
Gorillaz
A verdade é que Damon Albarn é um gênio e são os mínimos detalhes que fazem toda a diferença em seus projetos. O músico nascido em Whitechapel, no centro de Londres, poderia muito bem ter se acomodado e viver às custas do sucesso estrondoso do Blur ainda na década de 90.
Mas não, o músico ainda em 98 conseguiu um feito que poucos outros alcançaram ao longo da carreira: a relevância e inventividade dentro do mainstream ao longo de mais de duas décadas. Êxito esse que veio com a criação, desenvolvimento e constante manutenção do Gorillaz.
É bem verdade que o projeto também tem o envolvimento de outro nome importante, o cartunista Jamie Hewlett que desenvolveu junto de Albarn o conceito transmidiático da banda composta pelos membros animados 2-D, Murdoc, Noodle e Russel. Narrativa essa que vai da HQ, passando pelo show, videoclipes, mistério, jogos e storytelling. Sendo Damon o único membro permanente da banda, o que faz com que as possibilidades de line-up e formato das apresentações sejam infinitas.
Não bastasse isso ele ainda tem outro grupo além dos dois projetos de sucesso, o The Good, the Bad and the Queen. Este em que em sua formação reverencia ídolos da sua juventude, o ex-baixista do The Clash, Paul Simonon, o ex-membro do The Verve, e guitarrista do Blur e ex-Gorillaz, Simon Tong e o baterista da banda do músico nigeriano Fela Kuti, Tony Allen (1941-2020). Este último que ajudou a criar a batida que daria origem apenas ao afrobeat.
Mas porque esta introdução em uma resenha de um show?
Simples, pois cada detalhe enriquece a experiência de assistir o Gorillaz ao vivo.
O show de encerramento do MITA Festival
A formação que pisou na Spark Arena para a primeira edição do MITA Festival conta com Mike Smith, nos teclados, Karl Van Den Bossche, na bateria e percussão, Jeff Wootton, na guitarra solo e base, Jesse Hackett, nos teclados, Seye Adelekan, no baixo, Femi Koleoso, na bateria e Remi Kabaka Jr., na percussão. Além de um coral formado por três ótimas solistas, entre elas Michelle Ndegwa que em “Kids With Guns”, do álbum Demon Days (2005), teve seu momento de brilhar com direito a mostrar sua excelente extensão vocal.
Às 20 horas em ponto, no melhor estilo inglês, Damon Albarn e sua mega banda subiam no palco repleto de artifícios que enriquecem a experiência como refletores nas laterais além do neon, projeções em que seguem a narrativa dos clipes e cartoons desenvolvidos para a saga do Gorillaz, além da seleção sempre impecável de feats.
Felizmente pude estar na apresentação dos britânicos em 2018, que aconteceu no Jockey Clube de São Paulo, durante a turnê do quinto álbum de estúdio, HUMANZ, a primeira apresentação da história do grupo no Brasil (confira o setlist). Quem esteve presente pode assistir a um show de 1:41h recheado com 26 canções.
Idealizado para promover Song Machine, Season One: Strange Timez (2020), o show que até repete boa base do último mas nem por isso se faz previsível. Na última vinda quem foi pode conferir também dois feats inesquecíveis com Little Simz, sim, antes de estourar mundialmente, e com Pauline Black, da banda seminal de Ska britânico The Selector; além do De La Soul, e Bootie Brown, que repetem a dobradinha em 2022. Aliás esse é um ponto que vale destacar, Damon reverencia sim nomes do passado mas sempre está de olho no presente.
Se no disco temos veteranos como Elton John, Robert Smith, Beck, Peter Hook e Tony Allen, consolidados como St. Vincent e Unknown Mortal Orchestra e JPEGMAFIA, em contrapartida novos nomes em ascensão como o rapper slowthai, CHAI, Georgia também tem espaço. O lado pesquisador de Damon ainda aparece nos feats com Fatoumata Diawara, da Costa do Marfim e a latina Roxani Arias.
A timeline do show é pensada de forma para que a surpresa venha a todo momento. Após uma projeção brincando com o universo televisivo ao passar das décadas, do p&b ao colorido, Damon Albarn e o carismático baixista Seye Adelekan entram combinando com roupas rosas. Inclusive o baixo também é da mesma cor. Muito a vontade a primeira a tocar nos arredores do Jaguaré foi justamente “M1A1”, faixa de encerramento do primeiro álbum da banda. Na sequência aparece no telão a figura icônica do vocalista do The Cure, Robert Smith, era a vez da faixa título do disco da turnê “Strange Timez” ser executada.
Pairava a dúvida de como isso seria feito, visto que durante a pandemia o Gorillaz realizou uma live diferenciada onde todas as participações especiais foram feitas a distância. Esse dilema foi logo escancarado neste feat onde a voz isolada do disco compunha o espetáculo, algo que se repetiu durante todos os feats deste disco (slowthai, Slaves, Elton John). Algo a se ressaltar é a dinâmica do show em contemplar todos os discos da carreira, não necessariamente numa timeline, mas sem deixar os fãs mais específicos passando vontade.
Dentro do set, do Demon Days (“Last Living Souls”, “Every Planet We Reach Is Dead”, “El Mañana”, “Feel Good Inc.”, “O Green World”, “Dirty Harry”, “Cracker Island” e “Kids With Guns”), do Plastic Beach (“Rhinestone Eyes”, “Plastic Beach”, “Stylo”, “Superfast Jellyfish”, “Glitter Freeze”, “Pirate Jet” e “On a Melancholy Hill), do Humanz (“Saturnz Barz” e “Andromeda”) do The Now Now (“Tranz”), do Strange Timz (“Aries”, “Strange Timez”, “The Pink Phantom” e “Momentary Bliss”) e do autointitulado (“M1A1″, Tomorrow Comes Today”, “19-2000” e “Clint Eastwood”).
Os Highlights
O show tem seus pontos altos e também sabe administrar com as entradas e saídas estratégicas de Albarn, que sabiamente sabe deixar espaço para que os outros talentos do grupo apareçam. Ele exalta por exemplo Michelle Ndegawa após incrível solo, deixa o guitarrista fazer pose, dança com o baixista, sai de cena para a entrada do integrante do lendário grupo de rap nova iorquino De La Soul, que canta “Superfast Jellyfish”, em uma dobradinha em que volta para cantar junto um dos maiores hits da banda, “Feel Good Inc.”. De arrepiar até quem não conhece tanto assim a história do encontro.
Com vocês o MAIOR momento da primeira edição do Mita (@mitafestival):
Nada mais, nada menos que De La Soul (@WeAreDeLaSoul) e Gorillaz (@gorillaz) cantando juntos “Feel Good Inc”#HitsnoMita pic.twitter.com/WmxpAVkJsA
— Hits Perdidos (@HitsPerdidos) May 16, 2022
Booty Brown também chega com o sangue nos olhos em “Dirty Harry” (a famosa faixa com coral de crianças) e depois em “Stylo”; pedindo participação do público para exaltar aquele momento de euforia de uma arena naquela momento abarrotada de fãs. Antes de entrar no bis, o Gorillaz faz uma dobradinha difícil de ser esquecida.
“Cracker Island”, faixa instrumental, com Thundercat, que não esteve presente, quebra um pouco o ritmo do show e deixa clara a habilidade técnica dos integrantes.
O show tem seus momentos de proporcionar diferentes emoções. Das constantes idas ao público como em “19-2000” forçando o roadie a trabalhar bastante correndo com o fio para “dar conta”, fato que acaba sendo até um alívio cômico na apresentação que também contou com “One Melancholy Hill”; faixa executada com violão.
Quando Damon vai ao piano e abaixa o tom também é de se destacar. Além de mostrar seu talento com as teclas, ele balanceia o Yin-yang e parece nos lembrar que a vida tem sim momentos mais reflexivos além da rebeldia dos hits do grupo.
Em noite de eclipse um momento foi marcante: com a lua cheia e bastante vistosa, eles tocarem “Rhinestone Eyes” que em um dos seus versos tem o trecho “eah, clinging to the atoms of rock Seasons, the adjustments Times have changed”, o que deu um tempero diferenciado para a apresentação.
Tocam “Momentary Bliss”, faixa com feat virtual do Slaves e de slowthai, que tem momentos bem singulares dentro da música, da calmaria com seu vocal sussurrado, passando por o incremento de linhas mais pujantes do ska a fúria do punk rock acelerado, combinação esta que é um dos pontos mais hardcores do projeto.
Na sequência para abaixar a adrenalina entra em cena a melancólica “Plastic Beach” para lembrar que a saga da banda envolve uma história nos quadrinhos que nem sempre é feliz.
O Bis
Após saírem do palco por instantes o telão estampa o logo do festival mas sem os roadies iniciarem os serviços de desmontar o palco ficou a dúvida se teríamos bis…mas felizmente ele se concretizou.
Nele tivemos “The Pink Phantom”, feat com Sir Elton John no telão e Albarn no piano, enquanto animações compunham o momento; e a plateia se comovia pela grandiosidade do momento. Além de “Stylo”, onde Booty toma conta do palco.
Mas claro que a surpresa viria bem no final dentro de um clássico do Gorillaz. Talvez o maior hit da banda, “Clint Eastwood” ganhou uma versão estendida. Após a versão normal da canção, entra no palco Sweetie Irie para o remix da faixa bastante característico e com origens em ritmos como reggae e dub. Acelerada e com rimas rápidas, a participação faz com que todos se despeçam do MITA Festival com a sensação de alma lavada.
Já confirmado para 2023, agora é esperar para ver o que os organizadores irão preparar. Em geral a primeira edição do MITA festival, apesar dos aprendizados da primeira edição, conseguiu entregar bons shows, ótima experiência em uma nova arena de eventos em São Paulo.