DITZ apresenta post-punk torto (mas acessível); ouça o ótimo “The Great Regression”
Formado em 2015, o quinteto DITZ, de Brighton, na Inglaterra, é uma das nossas apostas para melhor disco de estreia de banda britânica em 2022. Os elementos para justificar a escolha não são poucos, o som consegue ser tenso e sombrio, ao mesmo tempo que caótico e calmo, com direito a distorções e quebras rítmicas que cravam um lugar especial para eles dentro da nova geração de bandas de post-punk inglesas.
A chancela fica ainda mais cravada no momento que lançaram os singles “Gayboy“, “Total 90” e um cover de Peaches “Fuck The Pain Away” em 2019, o que levou o Joe Talbot do IDLES a proclamar: “DITZ é a melhor banda de Brighton, se não do mundo”.
Foi entre os lockdowns corriqueiros da pandemia que eles utilizaram o tempo para aperfeiçoar o que viria a se tornar o disco, The Great Regression. Até por isso temas intrínsecos ao dia-a-dia do Inglaterra como a privação dos serviços públicos, a mídia conservadora, a xenofobia e o drama sem fim do Brexit acabam entrando como elementos diretos e indiretos dentro das composições.
DITZ The Great Regression
Além do post-punk, o som deles não se acanha e se estende na complexidade explorando elementos de noise rock, shoegaze e até mesmo do post-hardcore; de grupos como Refused. Para condensar todas essa referências eles chamaram para trabalhar junto em The Great Regression um time composto por veteranos do indie inglês.
A produção é assinada por Ben Hampson (Blood Red Shoes, Tigercub) e foi realizada no Agricultural Audio, já a masterização ficou por conta de Kate Tavini (And So I Watch You from Afar, We Are Scientists e Nadia Shah) no estúdio Weird Jungle.
A própria capa feita por Jay Bartlett, com assistência de arte de James Lofts e fotos de Keiran Kavanagh e Andreia Lemos, causam uma certa estranheza que nos remete tanto aos mascarados do Slipknot como ao lado dark dos The Eagulls, de Leeds.
“Fizemos todos os visuais para o álbum, vídeos, arte, layouts de gravação e assim por diante com um cara chamado Jay Bartlett. Nós trabalhamos com ele algumas vezes antes e percebemos que ele funciona melhor com um briefing solto e poucas dicas.
Ele teve a ideia das máscaras fictícias quando postei uma foto de uma delas no meu story do Instagram enquanto fazia um curso de primeiros socorros. Imediatamente comprou um monte deles e começou a cortá-los para que pudéssemos usá-los em nossos rostos. Ele pegou com a gente muito rapidamente e continuou correndo com ele. Filmamos os vídeos e a capa em uma manhã muito produtiva em uma antiga prisão nos arredores de Brighton.”, relembram os integrantes do DITZ
Lançado no dia 04/03, com 10 músicas em seu setlist, eles disponibilizaram uma série limitada de vinis que evaporou em menos de 24 horas após a abertura das vendas mostrando que vem fortes.
A gama de referências que o DITZ transita é tão vasto que a dobradinha que abre o disco (“Clocks” e “Ded Würst”) vai animar a fãs de Nine Inch Nails, Mars Volta, At the Drive-In ou até mesmo dos alemães do Atari Teenage Riot.
Segundo a própria banda o primeiro single a ser disponibilizado, “Ded Würst” é um mix de Gilla Band e FOALS questionando a moralidade da idade mínima para trabalhar. Sim, assim como as bandas contemporâneas da cena, o lado político, e doses cavalares de ironia, são latentes dentro da identidade. Ironicamente a música virou uma das queridinhas do Steve Lamacq da BBC Radio 6 Music.
“Trabalhos de merda, presos dentro de casa, sem esperança etc. Mas, na verdade, nós gostamos de música raivosa, então é isso que acabamos recriando. As pessoas esquecem que é muito divertido gritar bem alto.”, dizem os integrantes em entrevista para a Nevolume sobre o que inspirou a dobradinha que abre o disco
Temas como a masculinidade, também abordados pelos contemporâneos do IDLES, fazem parte de letras como “I Am Kate Moss”, que segundo o vocalista Cal Francis discorre sobre “a separação entre suas identidades visuais e pessoais, particularmente dentro do contexto de masculinidade e feminilidade”.
“The Warden”, por exemplo, uma faixa sobre ser intenso demais, ironicamente foi classificada por críticos como algo entre o som do Deftones e do Mogwai. “No Thanks, I’m Full”, que encerra o disco de estreia, é barulhenta e questiona a sobriedade ironicamente dizendo em seus trechos: “And I’l be dancing to sobriety and I’ll pretend that’s good for me”. Tudo isso com direito a acordes soltos e nos remetendo a essência anárquica do Gang Of Four.
“Instinct” traz para frente as guitarras pesadas do post-hardcore quase beirando o metal para mostrar o poder de fogo e o lado mais visceral característico do quinteto. Na seguinte, “hehe”, o minimalismo aparece e traz consigo a atmosfera irônica que projetos como Shame e Savages notoriamente exploram. O lado industrial e quebradiço dá as caras em “Teeth”.
Com cada canção com uma estrutura e compassos próprios, eles trazem na versatilidade sua maior virtude fazendo com que os 38 minutos de audição passem rápido. Entre ecos, chiados e ambientações, eles fazem um post-punk torto, embora acessível, que vale a pena ficar de olho nos próximos passos.