Antes de entrar na resenha do segundo dia do que melhor, e pior, aconteceu na edição de 2022 do Lollapalooza Brasil trazemos para vocês alguns dados da volta do festival. Ao todo estiveram presentes durante os três dias 302.235 pessoas. Sendo 100.980 pessoas, na sexta (25), 103.000 pessoas, no sábado (26); e 98.255, no domingo (27).
Marcado originalmente para o fatídico mês de março de 2020: o Lollapalooza Brasil trouxe consigo uma maré de esperança sendo o primeiro festival de grandes proporções a ser realizado após mais de 2 anos de sofrimento para o mercado da música ao vivo. Com line-up sofrendo bastantes alterações da edição de 2020 (para a de 2022), o festival chegou a ficar sob atenção devido aos números da COVID-19 no país. A poucos dias da sua realização o governo do estado de São Paulo liberou o uso de máscaras em locais abertos, o que deu ainda mais fôlego para que fosse possível viver a experiência como acontecia antes da pandemia.
No momento de pisamos no segundo dia de Lolla já sabíamos do cancelamento Foo Fighters, devido ao falecimento do Taylor Hawkins. O baterista sofreu uma overdose no quarto do hotel em Bogotá (Colômbia) a dois dias da apresentação no Brasil; por lá eles se apresentariam no Estéreo Picnic.
O que afetou o clima do festival e não era difícil ver os comentários de quem passava pelas curvas de Interlagos parecendo desacreditar do fato. Os dias seguintes foram marcados por homenagens dos mais diversos artistas ao músico que aos 50 anos de idade deixou 3 filhos e a esposa.
O Lolla preparou em pouco menos de 24 horas um mega show de rap com direito a Emicida, Planet Hemp, Bivolt, Rael, Mano Brown entre outros artistas em um final apoteótico para o terceiro dia. O anúncio aconteceu ainda durante o sábado gerando discussão nas redes sociais sobre a substituição de um show de rock por um encontro de estrelas do rap nacional.
Entre as atrações do segundo dia o Palco Budweiser, maior palco do festival, reuniu: Terno Rei, Silva, Two Feet, Emicida e Miley Cyrus. O Palco Ônix reuniu: Lamparina, Clarice Falcão, Jão, A Day To Remember e ASAP Rocky. O Palco Adidas em seu line-up contou com: Mc Tha, Jup do Bairro, Remi Wolf, Alessia Cara e Alexisonfire . Pautado pela música eletrônica o Palco Perry’s By Doritos trouxe para seu palco com direito a telão psicodélico: Fatnotronic, Ashibah, Victor Lou, Chemical Surf, DJ Marky, Bombox Cartel, WC no Beat, Deorro e Alok.
O dia foi marcado pelo maior volume de pessoas presentes na edição do festival. Desde cedo já era possível ver como Miley Cyrus, que chegou no Brasil após uma pouso de emergência (após um raio cair na aeronave em que ela estava à bordo), e com bronquite, é capaz de mobilizar uma multidão.
Com público em formação desde os tempos de Hannah Montana, da Disney, a artista trouxe um show repleto de cartas na manga como versões para “Where Is My Mind?”, dos Pixies, “Heart Of Glass”, eternizada pelo Blondie, “Bang Bang (My Baby Shot Me Down)”, da Cher, “Nothing Breaks Like a Heart”, do Mark Ronson, além de hits como “Wrecking Ball” e “Party in the U.S.A.”, dobradinha em que ela já estava visivelmente cansada após um show com 21 músicas e 1 hora e meia de duração; onde ela performa o tempo todo.
O show ainda foi marcado por três momentos emocionantes para os fãs. Um pedido de casamento entre antes de tocar “You” e “Angels Like You” dedicada a Taylor Hawkins, baterista do Foo Fighters que havia falecido na noite anterior. Além da participação especial da Anitta em “Boys Don’t Cry” – canção da brasileira com inspirações no rock.
Com show marcado para às 13:05 o Terno Rei estava pronto para toca talvez o show mais importante da carreira até aqui. Da confirmação antes da pandemia eles tinham a missão de estrear no Autódromo de Interlagos os discos Violeta e o recém-lançado Gêmeos (leia entrevista exclusiva).
Até por isso o set foi marcado por o Violeta ser tocado quase na íntegra (com excessão de “Amor-Perfeito” e “Roda-Gigante” – ironicamente do palco era possível ver a roda-gigante montada para o festival) e três canções de Gêmeos (“Difícil”, “Brutal” e “Esperando Você”).
Para nós estar presente em um momento tão emblemático para a banda depois de acompanhar shows deles nas mais diversas situações foi um tanto quanto emocionante. Durante a apresentação os clipes das faixas passavam atrás no telão e direto da grade era possível ver uma multidão cantar alto os hits de Violeta. Apesar do horário bastante ingrato, eles conseguiram mostrar seu som para um público que não os conhece ainda, um desafio sempre árduo ainda mais debaixo de sol no dia mais quente do Lollapalooza Brasil 2022.
Um dos momentos mais emblemáticos entre os shows estava prestes a acontecer no Palco Adidas. Do Capão Redondo e representando o grito e choro de milhares de pessoas sem voz no Brasil, Jup do Bairro subiu no palco do Lollapalooza com uma missão imensa de levar a música periférica paulistana para o festival. E não faltou emoção tanto antes quando durante a apresentação como deixou claro a artista em sua conta no twitter 11 dias antes do festival.
Jup fez o que prometeu, levou e soube ceder espaço feito uma mestra-de-cerimônias. Tanto é que Mulambo pôde apresentar música inédita para os presentes e Badsista também levou para a pista de Interlagos a quebrada high-tech da ZL presente em seu Gueto Elegance com direito a muito boom boom.
Talvez um dos momentos mais emocionantes da apresentação foi justamente quando tocou “Transgressão” e “Luta Por Mim”, canção que homenageia sua mãe e sua luta por sobrevivência em um estado excludente. Nessa hora Mulambo teve a sensibilidade de entender tudo e ajudou a cantar as partes de Jup.
O show também teve seus momentos de ativismo lembrando sobre a importância das vidas pretas e como a sociedade ignora a morte de muitos como apenas estatística. Teve frases marcantes, troca de visual e o bom humor da artista que sabe falar de temas sérios mas também se propõe a discorrer sobre o que é o amor – e o tanto que tem para te dar.
Assim como a maioria dos artistas que topou lançar discos em 2020, essa é uma das primeiras oportunidades que a artista tem de lançar o disco Corpo Sem Juízo e até troca de roupa teve espaço dentro do set. Colocando até mesmo uma camiseta estilizada escrito “Hannah Montana do Bairro” fazendo reverência a Miley Cyrus que se apresentaria horas depois a poucos metros dali. Em determinado momento do show, a equipe de produção de Jup do Bairro distribuiu notas de um dinheiro com o rosto estampado da artista, ítem único e especial que apenas alguns fãs sortudos na plateia terão.
Foi emocionante e um momento que entra para história do festival que cada vez mais abre espaço para artistas do pop e rap nacional. Embora Jup tenha um lado declaradamente roqueiro com direito a experimentalismo do metal subindo o tom do palco em certo momento do show – e de ser fã declarada de Pitty e Fresno. Aliás pouco antes do show no camarim Jup recebeu um áudio de Lucas Silveira no qual ela desabou a chorar.
Com a proximidade entre os palcos Adidas e Ônix foi possível assistir a um pedaço do show de Jão que no ano passado lançou Pirata. Aliás é impressionante a capacidade do artista em trazer junto para si uma multidão para assistí-lo.
Arrisco dizer que foi o terceiro show nacional com mais público dentro da edição, perdendo apenas para o show de Emicida e o show especial com all stars do rap (Planet Hemp, Emicida, Rael, Bivolt). Com cenografia impressionante, com um polvo abraçando a estrutura, mesa e diversos músicos de apoio fortalecendo o coro, a produção foi um destaque a parte.
Claro que “Coringa” e “Idiota” não iam faltar dentro do set mas também teve momentos onde rolaram covers para “O tempo não para”, do Cazuza, e “Say My Name”, do Destiny’s Child.
Com turnê calcada no show apresentado no Teatro Municipal, Emicida trouxe até mesmo nas projeções do telão os vitrais, algo que não trouxe a melhor experiência para o público. Para quem pode acompanhar de longe, em meio a multidão, não era possível enxergar por exemplo as participações especiais do show que contou com feats ao vivo com Rael (em “Levanta e Anda”), Majur, Rael e Drik Barbosa (“Em AmarElo”), Drik Barbosa (e Rael) em “Luz”, versão para faixa da artista; e Pastor Henrique Vieira (em “Principia”) por conta do artifício.
O show começou cadenciado e com a versatilidade que Emicida construiu ao longo de sua trajetória tendo espaço para a MPB, para o samba e o rap. Com discurso afiado e consciência social na ponta da língua ao longo do show faixas como “Pantera Negra”, “Eminência Parda” e “Libre” não poderiam ficar de fora. Um show conciso, competente e que poderia até ter tido mais tempo de duração para mais clássicos.
Tendo sido revelada no American Idol, de 2014, Remi Wolf, de apenas 26 anos, veio para São Paulo com a missão de apresentar as canções presentes no álbum Juno (2021). Vindo de uma rehab quando em 2020, a artista que vive em Los Angeles foi internada por problemas com álcool e desde então tem se mantido sóbria, ela tem um estilo pouco convencional de fazer música pop. Flertando com o hip hop, o indie rock, o up beat e até mesmo o hype do bedroom pop. Com produção rebuscada mas que estranhamente ao vivo dá certo, ela traz no telão atrás diversas artes e vídeos com a estética do TikTok.
Remi também mostra desde o primeiro momento a felicidade de estar ali tocando mesmo embaixo de um show do meio de tarde em São Paulo – onde uma garrafa de água era disputada a tapas a poucos metros dali. Inclusive, ela faz questão de deixar o palco e ir para a galera durante a apresentação.
Despojada, autêntica, divertida e aproveitando a vinda para a América do Sul, ela emenda no meio dos seus hits de internet, versões que segundo ela encaixam no seu show perfeitamente como “Hello, Hello, Hello”, “Electric Feel” (MGMT) e “Crazy” (Gnarls Barkley).
Destaques para “Sexy Villain” na qual era fala que é sobre ser “uma bad girl”, “Woo!” e a dobradinha com o hit viral “Photo ID” e “Street You Live On”. Uma das grandes apostas e surpresas do line-up do Lollapalooza Brasil 2022.
Depois de serem obrigados a adiar a apresentação que fariam dentro da programação do Lollapalooza em 2020 o A Day To Remember veio para duas apresentações dentro da programação. Uma Lolla Party dividindo a noite com o Alexisonfire e a apresentação no festival marcada para às 18 horas do sábado.
Misturando pop-punk e metalcore o setlist foi um tanto quanto seguro com direito a hits do seu principal disco de estúdio, Homesick, que dentro do setlist contou com hits como “If It Means a Lot to You” (dentro do encore), “The Downfall of Us All” (que abriu o show) e “I’m Made of Wax, Larry, What Are You Made Of?”.
Entre uma rodinha e outra que se formava nas proximidades do palco, e surfing crowds incentivados pelo próprio vocalista Jeremy, hits como “All I Want”, “2nd Sucks” e “Rescue Me” traziam o público para ainda mais perto.
Ao todo o set contou com 15 faixas fechando com a dobradinha “All Signs Pont to Lauderdale” e “The Plot to Bomb the Panhandle”.
Um dos shows mais aguardados foi o do Alexisonfire que tinha uma missão de entregar o primeiro show de Post-hardcore da história do Lollapalooza Brasil. Com George Pettit (vocal), Wade MacNeil (guitarra solo e vocal), Chris Steele (baixo), Jordan Hastings (bateria e percussão) e Dallas Green (vocal, guitarra e piano), eles tem uma carreira com discos emblemáticos como Watch Out (2004), Crisis (2006) e Old Crows/Young Cardinals (2009); e preparam para lançar seu novo disco em breve, Otherness que será lançado via Dine Alone no dia 24 de Junho. Deste novo álbum a nova faixa “Sweet Dreams of Otherness” esteve presente no set que contou com 12 faixas.
O setlist foi certamente um dos mais aclamados do festival com “Drunks, Lovers, Sinners and Saints”, “Boiled Frogs” e “Old Crows” abrindo já mostrando o poder de fogo dos canadenses. Aliás, Dallas Green estava visivelmente mais animado do que da última vinda para cá em 2013 (em show da turnê de despedida no Cine Joia). O entrosamento e a entrega dos integrantes fez toda a diferença para um show intenso e com sentimentos à flor da pele a cada ecoar, e berros, de Pettit.
O público não deixou uma música sem ter rodinha punk, com excessão da homenagem em “Happiness by the Kilowatt” em que contou com 40 segundos de homenagem em medley com “Best Of You” do Foo Fighters em emocionante homenagem a Taylor Hawkins.
O set ainda contou com “We Are The Sound” com direito a encore com o público sendo incentivado a cantar junto o refrão, “Aciddents”, “This Could Be Anywhere In The World” e “Young Cardinals”.
A perfeição da execução e a sensibilidade de uma banda com longa história fez desta apresentação o melhor show do dia.
This post was published on 30 de março de 2022 11:00 am
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