Em entrevista sobre seu novo álbum “Trava Línguas”, Linn da Quebrada fala sobre suas origens e as nuances da representatividade
Trava línguas, segundo álbum da carreira de Linn da Quebrada, trará o redescobrimento pessoal e reflexões da artista. Com lançamento previsto para julho, o novo álbum promete trazer novas sonoridades e experimentações, como visto em “I míssil”, seu último single. O projeto tem sua produção musical dividida em três mãos: as dela, da DJ e produtora BADSISTA e da percussionista Dominique Vieira.
Após o lançamento de grandes sucessos, como Enviadescer (2016), e de seu primeiro álbum, Pajubá (2017), que na época foram ovacionadas pela crítica e pelo público, Linn da Quebrada viveu grandes transformações em sua vida profissional e pessoal. Nascida na periferia de São Paulo, a artista ultrapassou barreiras com a sua música e relata como seus trabalhos anteriores a conduziram para o lançamento de Trava Línguas.
“Sobre Pajubá, não sei se alguma coisa permanece. O álbum foi um grande furacão na minha vida e abriu muitas portas. Aprendi a inventar forças e permitiu que eu atravessasse o oceano e conhecesse mais de 15 países. Fez com que eu acreditasse em mim”, relembra a cantora.
Linn da Quebrada & a Fama
Como cada escolha é uma renúncia, Linn também ressalta questões trazidas como consequência da fama. No momento desta matéria, a cantora possui mais de 300 mil seguidores no Instagram e conta que sua relação com a música em si também foi uma das grandes mudanças que levou ao conflito entre seu “eu artístico” Linn da Quebrada e Lina Pereira.
“Linn da Quebrada também tirou muito de mim. Sinto que ao passo que a arte pode salvar minha vida, a música enquanto mercado fez eu me afastar de mim mesma. Fiz Pajubá para que eu não me sentisse tão só e me conectei a uma rede de apoio. Com o tempo, percebi que estava cercada de uma multidão que olhava pra mim, mas não me via”, contrapõe.
A Indústria Fonográfica
A indústria possui um ritmo acelerado, no qual hits são lançados todas as semanas e, muitas vezes, esquecidos antes de completar um ano. Em era de stream, a música é puramente tratada apenas como produto, que apesar de ser, ainda pode surgir de forma orgânica e necessita de vivências e inspirações da artista.
A imagem do autora também é supervalorizada e, de alguma forma, rotulada, principalmente ao falar de músicos que se identificam como LGBTQIA+. Esses, muitas vezes, são reduzidos somente à sua representatividade, como conta Linn.
“O mercado foi automatizando as coisas e fazendo com que eu me afastasse do processo.
Transformam a gente num produto, cristalizam nossa imagem, se apropriam dos nossos discursos e tentam prever nossos movimentos.
Essa coisa de nos etiquetar como ‘música lgbt’ ou ‘música de resistência’, limita nossos movimentos“,explica.
“Eu entendo que alguns rótulos são importantes, mas a partir do momento que o público olha pra mim e vê essa etiqueta, o faz esperar aquilo que a etiqueta diz. A disputa entre Lina Pereira e Linn da Quebrada surge com o mercado. A Linn da Quebrada não é uma imagem formada e cristalizada, é aquilo que inventei pra que eu pudesse me salvar”, conclui.
Trava Línguas e o Redescobrimento
Linn se vê distante de seus processos e conta que seu novo álbum será uma forma de encontrar potência em suas novas fragilidades. Trava Línguas será um movimento de redescobrimento e de fazer as pazes consigo mesma.
“É uma descoberta pelo processo do que pelo produto final para me dar conta do porque eu faço música; do meu prazer em fazer canção; um momento de fazer as pazes comigo mesma”, diz Linn.
Em constante mudança, a cantora é multiartista, pois cantar não é a única arte que realiza. Também é atriz e compositora, e mesmo com tantas transformações, não abandona suas raízes. Questionada sobre a sonoridade do álbum, Linn surpreende ao revelar que ela se dá por uma dedicatória especial.
“Para descobrir quem sou eu, preciso saber de onde eu vim. O álbum tem muito uma sonoridade que se aproxima às nossas mães. Queria fazer uma música que minha mãe quisesse ouvir. Por mais diferente que seja, acredito que este seja um disco que aproxima”, conta a artista.
Além disso, Linn destaca a sua insegurança durante o processo de composição e o identifica como grande elemento para a produção do álbum.
“Tiveram momentos em que eu tinha medo de compor e isso fez eu adiar o momento de pegar a caneta.
Quando entendi que eu devia escrever mesmo com medo, me permiti ao fluxo de pensamentos e experimentação, e assim me apaixonei novamente pelo processo de criar.”, Justifica
Lançamento via Natura Musical
Trava Línguas foi selecionado pela plataforma Natura Musical, através do Edital Natura Musical 2020, ao lado de nomes como Bixarte, Bia Ferreira, Juçara Marçal, Kunumi MC, Rico Dalasam e outros. Ao longo de 16 anos, Natura Musical já ofereceu recursos para mais de 140 projetos no âmbito nacional, incluindo para Lia de Itamaracá, Mariana Aydar, Jards Macalé e Elza Soares, por exemplo.