No ano do “descarnaval”, Tuim e Sandyalê fazem suas preces em “Dia Santo”

 No ano do “descarnaval”, Tuim e Sandyalê fazem suas preces em “Dia Santo”

O fim do carnaval, materializado simbolicamente na quarta-feira de cinzas, reverbera em “Dia Santo” – composição do duo Tuim em parceria com Sandyalê em projeto realizado dentro das ativações do Aceleração Labsonica.

Composta através das possibilidades tecnológicas do momento, via zoom, a faixa traz como inspiração a obra de Chico Buarque.

“Escutamos ‘Partido Alto’ (Chico Buarque), escutamos depoimento inédito de Milton Nascimento sobre processo criativo. Fomos levados a uma situação inusitada pra dentro de nossas imaginações como estímulo criativo: os três, após curtirem um bloco na Vila Cosmos, se encontram dentro do apartamento de um para seguirem bebendo. Dali em diante, o resto seria fruto de nossas imaginações, sensações e experiências”, contam os músicos sobre a concepção de ‘Dia Santo’

A insanidade dos nossos tempos acaba entrando como tempero para a letra que discorre também sobre as dores e a impossibilidade de poder “viver” o carnaval de rua, algo que não foi possível em 2021.


Tuim & Sandyalê "Dia Santo" videoclipe Youtube


As Nuances da Parceria

Contra-cantos, coros, preces, batuques, risadas e falas acabam se somando a ruídos das ruas, energias e fé como elementos da obra. A banda que acompanha Tuim e é responsável pela construção dos arranjos (Victor Ribeiro, Marcelo Callado e Pablo Arruda) também contribuem com essa multiplicidade sonora.

“A poesia dessa canção fala dos tempos doidos e doídos em que vivemos atualmente, atravessada pela estética sonora e visual do carnaval de rua (e a impossibilidade de vivê-lo); metaforiza os cães, palhaços e tintas, ressignificando-os a um campo político e social; por fim, “dessantifica” a figura humana, tentando trazer o próprio ser humano para a humanidade (passível de falhas e de conquistas).

Não é de hoje que precisamos eleger vilões e heróis sociais, enquanto que, o que mais precisamos, talvez, seja olhar para toda e qualquer indivíduo, validar, e apreciar as diferenças e trata-lo como semelhante, de igual importância. Em tempos onde vivemos muitas guerras virtuais, com a impossibilidade de olhar nos olhos do outro, precisamos lembrar de escutar com o coração.”, conta Paula do duo Tuim

“A música fala sobre o Brasil Atual, sobre o que estamos passando. O enredo foi dado por Constança. É quarta-feira de cinzas, carnaval acabando, a gente se encontra na rua e esticamos para um apartamento de alguém, a festa continua, a gente pega um violão e começa a cantarolar coisas e assim sai a canção Dia Santo. A gente vai descrevendo o decorrer do dia/noite nesta canção. Uma canção política de carnaval.”, complementa Sandyalê 

Tuim & Sandyalê “Dia Santo”

O carnaval claro que não ia ficar de fora da produção audiovisual por mais que isso seja até que antagônico, de certa forma, já que neste ano ele só existiu dentro do nosso imaginário.

As cores das ruas ganham a tensão da escuridão, e mistério, de um cubo de madeira, pintados de tinta eles simbolicamente trazem para o primeiro plano a sensação do pássaro Tuim enjaulado; e consequentemente angustiado. Desta forma materializando as dores, receios e clamor pela liberdade de outrora.

O próprio cubo de madeira nos remete também a um confessionário de Igreja trazendo para si a religiosidade, e clima de reza, com a motivação de tempos melhores, e por consequência, mais reluzentes. A falta do carnaval, a intimidade, o isolamento e o enclausuramento acabam servindo como elementos da narrativa do vídeo.

O videoclipe foi gravado no Rio de Janeiro, contou com a direção e fotografia de André Hawk e a visagismo de Paula Sholl. A locação escolhida foi casa de arte Z42.



Sobre a parceria e processo de composição Sandyalê comenta:

“Tivemos um encontro on-line e 3h de atividade para compor algo. fizemos duas músicas, uma iniciada pelo Tuim e outra iniciada por mim. “Dia Santo” foi a primeira. Eu falei que tinha muito cachorro em casa, caso o barulho atrapalhasse e etc., logo em seguida o Felipe começou a cantar e tocar “esses cães que ladram como ladram…” e a Paula se juntou e foram compondo juntos e continuamente, achei aquilo lindo e incrível.

Fui me entrosando aos poucos, dando ideia de palavras, melodias, refrão… no final foi muito gostosa a experiência, troca, aprendizados, exercício com as palavras. Foi muito bom! E resultou nesta baela canção que fala sobre coisas necessárias e atuais, que estamos vivendo e vivenciando.”

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