Com música e videogame, Arquétipo Rafa lança single “Surfista de Boi”
Rafa é pernambucano, residente em São Paulo há 5 anos. Estreou com o seu projeto autoral, Arquétipo Rafa, em 2018, com o lançamento do álbum Ode ao Óbvio no qual circulou em algumas casas de shows de SP com seu show autoral tocando bateria, disparando samples e experimentando sonoridades.
O músico vem ao longo de sua carreira como instrumentista colaborando e marcando presença ao lado de diversos nomes da música brasileira, como Marcelo Jeneci, Lúcio Maia, Bia Ferreira, Di Melo, China e muitos outros.
Integrante do trio de surf-cumbia The Raulis desde 2017, tem se presentificado em festivais e eventos inovadores, onde a criatividade e a originalidade em criar novos caminhos para performance musical são sua marca registrada.
Arquétipo Rafa “Surfista de Boi”
“Surfista de Boi” é seu novo single e traz uma mistura sonora de elementos afro-brasileiros unindo o brega e psicodelia, projeto que tomou forma de jogo e conto.
“Perceber a arte por um olhar diferente do habitual.”
Com essa provocação que o artista pernambucano, Arquétipo Rafa, mistura arte e tecnologia e lança o single “Surfista de Boi”, faixa composta em 2019, que mistura plataformas de mídias tendo a música como ponto de partida e instigando interesse ao jogo autenticamente brasileiro e conto sertanejo contemporâneo. A faixa narra a jornada de uma heroína sertaneja à caminho do litoral e está disponível à partir de hoje nas plataformas digitais.
“Surfista de Boi” pode ter um sabor diferente, é que o público se depara com uma nova forma de interação com a música, através de um jogo exclusivo, desenvolvido em formato de aplicativo para celular, onde o usuário joga enquanto aprecia a canção.
“O game ultrapassa a barreira que existe entre artista e ouvinte, em um diálogo futurista onde todas as partes têm algo a dizer”, explicou Arquétipo Rafa.
A faixa tem produção musical assinada pelo grupo The Raulis, integrado por Arthur Dossa, Gabriel Izidoro e pelo próprio Rafa. Arthur também mixou a faixa e a masterização ficou por conta de Iran Ribas do estúdio Veredas.
ENREDO DO JOGO/ CONTO
Surfista de Boi é a história de uma jovem nascida no interior de Pernambuco em um passado não tão distante. A personagem cresceu em terras áridas, ouvindo notícias do litoral e dos surfistas que lá viviam.
A vida de novas aventuras, a heroína passou a surfar nas costas de um boi, navegando por terra com seu amigo bovino em direção ao oceano.
Em sua saga, a dupla passa por estágios fantásticos e inimigos desafiadores, como cactos e ouriços gigantes, até chegar ao seu destino final. Finalmente, a protagonista percebe que a beleza do litoral é equivalente ao seu estado caótico de insegurança urbana, poluição e aglomeração de pessoas, sentindo saudade de casa e vontade de voltar.
A Saga do Herói
O conto se aproxima da saga do herói, que está sempre enfrentando obstáculos para chegar até o seu destino final, vivendo grandes aventuras. Para acompanhar toda a dinâmica do jogo, a música foi toda desenvolvida de acordo com cada fase.
Trazendo a ideia de movimento, os movimentos da aventura vêm marcados por andamentos avançados com a guitarra e as percussões, se aproximando dos ritmos afro-brasileiros.
Já na fase de transição, onde a personagem está mais próxima do objetivo, o som é tomado por um ar mais psicodélico, com forte presença de synths e filtros. No momento final, ao chegar em um cenário urbano, é a vez do brega recifense entrar em jogo, com roupagem mais alternativa.
O jogo foi desenvolvido pela empresa pernambucana Perna Cabeluda Games, dos fundadores Miguel Diniz e Matheus Calafange e está disponível nas lojas Apple Store e Google Play.
Baixe o jogo aqui
Entrevista: Arquétipo Rafa
Produção de música durante a pandemia e o que mudou.
Arquétipo Rafa: “Tenho usado muitos recursos que surgiram e ficaram populares esse ano. Existe um programa da empresa Audiomovers que permite compartilhar as sessões de produção em tempo real com outras pessoas. Daí, a gente faz uma chamada de vídeo, eu compartilho minha tela com a galera e vamos ouvindo a sessão juntos enquanto todos vão opinando em tempo real. Isso salvou bastante.
O processo criativo também mudou. O sentimento de experimentalismo que a gente tinha pessoalmente deu lugar a um objetivismo maior. Uma forma de produzir com o intuito mais “certeiro”. Por um lado, os lançamentos se tornam mais velozes porque a comunicação é muito rápida pela internet. (É mais rápido fazer uma chamada do que pegar um uber e ir ao estúdio).
Por Outro Lado…
Por outro lado, eu sinto falta do calor humano e dos dias em que passávamos horas experimentando coisas novas, sem necessariamente se importar se ia dar certo ou não.
Essa virtualidade da música torna a arte mais impessoal. No caso de “Surfista de Boi”, a música foi produzida ano passado, pré pandemia. Por isso, tem essa sonoridade de banda que eu acho difícil conseguir a distância.
A ideia da criação do game “Surfista de Boi” como plataforma para sua música.
Arquétipo Rafa: “Eu queria encontrar uma forma de transformar a experiência de ouvir uma música num movimento mais interativo. Algo que fosse além de curtir, compartilhar e passar para a próxima faixa. E ai pensei em um jogo. Um jogo, na minha opinião, é uma das formas mais interativas de se consumir arte digital hoje em dia. Porque junta vários segmentos artísticos em um só lugar e faz a ponte com artefatos tecnológicos.
Além disso, ele tira a gente da nossa zona de espectador. Nós passamos a ser agentes. Juntar isso com uma canção pode ativar ainda mais o estado lúdico das pessoas. O processo se torna bem mais divertido. Nesse tempo de quarentena, temos que cuidar ainda mais da nossa saúde mental. Eu gosto da ideia de brincar e descontrair em alguns momentos e acho que esse jogo ajuda nesse aspecto. O lazer nos dá forças para seguir resistindo nesses meses tão difíceis.
Eu confesso que não sou uma pessoa que consome tanto jogos, atualmente. Eu jogava muito quando era mais novo. Tive um Nintendo quando era criança e fiz parte dessa geração que cresceu com os primeiros jogos de computador. Agora tem esse novo mercado onde podemos jogar na palma da mão e isso me deixou instigado para criar e fazer algo novo.”
Você acredita que durante a pandemia as pessoas estão mais conectadas a música produzida no país?
Arquétipo Rafa: “Isso tá sendo difícil de se medir, mas eu acho que não. Posso estar enganado, mas acho que as manifestações culturais presenciais eram muito importantes para manter essa conexão ativa.
O conteúdo digital é muito efêmero. Muito veloz e com uma descarga gigante de informações. A arte tem que competir com vários outros segmentos de comunicação.
Na rua, a gente vê shows, ouve música em festas e compartilha momentos em que a música está presente, muitas vezes indiretamente.
Agora, o único modo de conhecermos música nova é pelo mesmo local em que recebemos todas as outras notícias. Antes a gente podia conhecer um artista andando na rua, tomando uma cerveja no bar, conversando com os amigos em uma festinha legal. E isso é uma grande fonte de conteúdo artístico.
Não to dizendo que as pessoas estão ouvindo menos músicas. Mas acho que estamos menos conectados com as bandas novas, já que estamos refém dos algoritmos criados pelas redes sociais e a bolha digital em que a gente vive. O show presencial tem maior nível de conexão do que uma Live. O contato físico é mais energético e isso faz a diferença.”
Como foi o processo com os colaboradores pra criação do game e da faixa?
Arquétipo Rafa: “Foi um processo muito divertido e inovador. Assim que tive a ideia de fazer um jogo, entrei em contato com Matheus Calafange e Miguel Diniz, da Perna Cabeluda Games.
Já conhecia o trabalho deles pois morei um tempo com o irmão de Miguel, e ele me mostrava constantemente os jogos que eles faziam em Recife. Sempre achei muito divertido.
A empresa são só eles dois. Matheus é o Designer e Miguel, o Desenvolvedor, e isso faz com que o processo fosse ainda mais surpreendente. Eles têm uma dinâmica de trabalho muito bem estruturada e são geniais no que fazem. Em paralelo, dei início ao processo de produção musical com os meninos da minha banda, The Raulis (Arthur Dossa e Gabriel Izidoro). Com eles, eu estou em casa. Temos muita liberdade pra trabalhar e ja produzimos muita coisa juntos. Dossa também mixou a faixa.
Os Processos
Eu fiz questão de começar os dois processos simultaneamente, por volta de Novembro/Dezembro de 2019. A minha intenção era que o jogo e a música andassem juntos. Eu não queria que o som ficasse com cara de Sound Design e também não queria que a música ficasse desconectada do game.
A ideia é que fosse uma coisa só. Por isso, eu ia trocando figurinhas com os dois grupos e mandando arquivos de um grupo para o outro constantemente. Era um processo de intercâmbio de ideias, onde eu tentava integrar esses dois universos e isso deu muito certo.
As texturas do game dialogam muito bem com as da música, porque todo mundo tava se conhecendo constantemente. As primeiras pré produções musicais foram integradas com as primeiras versões do jogo, e foram crescendo juntas. No final, ficou com cara de uma peça só.
Todo mundo que trabalhou nesse projeto é muito experiente no que faz. Acho que isso fez toda a diferença pra que desse tudo certo. Estávamos em um território novo, mas dando passos com segurança.