Adorável Clichê reflete sobre batalhas internas em “Derrota”

Parece que foi ontem mas dois anos já se passaram desde o álbum de estreia da banda catarinense Adorável Clichê, O Que Existe Dentro de Mim (Nuzzy Records, 2018). Inclusive o álbum que acabou entrando na nossa lista de Melhores Álbuns Nacionais mergulha pelas ondas do dream pop e traz belas melodias com potencial de agradar fãs de My Bloody ValentineExplosions In The Sky e até mesmo de bandas de synthpop.

Nesse momento marcado pela instabilidade emocional, ansiedade e desconforto em relação ao futuro e o negacionismo do governo federal, em relação a falta de estabelecer medidas e políticas públicas para enfrentar a pandemia, fica até difícil manter o otimismo.

A música de certa forma tem servido como força nesses dias tão estranhos e sombrios. Tanto é que na quarentena nossos conflitos internos, expectativas e frustrações parecem ter ganho a cena.

A instabilidade emocional proveniente da consequências geradas pela pandemia como o desemprego, mudanças de temperamento e a perda de entes queridos acaba se tornando um entrave até para o mais otimista.


Adorável Clichê, de Blumenau (SC), lança o primeiro single após ótimo álbum debut. – Foto: Divulgação

Adorável Clichê “Derrota”

De certa forma esse sentimento equaliza na nova faixa da banda Adorável Clichê, “Derrota”. A canção fala sobre confrontar a si mesmo. Seja por problemas psicológicos como a ansiedade, o burnout, o excesso de confiança ou o medo. Esses que acabam se tornando grandes empecilhos ao longo da nossa jornada por este plano.

A consciência e as nossas vozes internas equalizam ao longo da faixa que ganha o maior protagonismo dos sintetizadores; o que deixa, por sua vez, ela ainda mais pop se comparado ao debut.

Embora a faixa discorra sobre as diversas tentativas para vencer os problemas, a mensagem da faixa vai no sentido de dar a volta por cima. O dream pop do primeiro disco ganha camadas de synthpop, de grupos como o The XX, mas sem perder a levada nas guitarras e a leveza dos vocais de Gabrielle.

Para criar essa sensação o sound design do synth usado foi feito com base em um wavetable, aplicando filtros, reverbs e modulações.



Já a capa do single é assinada por Nishe (@nisheink), e reflete o redemoinho de emoções e pensamentos conflituosos. Lembrando até mesmo a identidade visual do álbum Loveless (1991) do My Bloody Valentine.


Capa Por: Nishe (@nisheink)

Entrevista: Adorável Clichê

Já se passaram dois anos desde o último disco, o que vem que mudou para vocês nesse meio tempo? Como observam que a música que vocês tem produzido se conecta com o momento em que o mundo está atravessando?

Gabrielle: “Em geral as nossas produções sempre foram bem intimistas e pessoais e acredito que não vamos fugir disso ao longo da estrada. Parece que essa é a identidade da banda, afinal.

Partindo desse pensamento, acho que é perceptível um amadurecimento tanto da letra quanto da produção – estamos crescendo juntos. Acho que deve ser muito relativa a forma com que a música se conecta com o público. No final somos só mais algumas pessoas querendo fazer algumas coisas da vida nessa loucura toda (risos).”

Os conflitos internos, a dificuldade em lidar com as emoções, a ansiedade e os percalços acabam aparecendo na letra de “Derrota”.

Para vocês como tem sido lidar com esse mar de inseguranças em relação ao futuro? Tanto na esfera pessoal como também em relação às atividades presenciais da banda visto que agora tudo parece que migrou por um tempo para a internet, aliás, como tem sido planejar essa conexão e interação nas redes durante este período todo ímpar?

Gabrielle: “Tem sido difícil. Como todos devem imaginar, somos sensíveis, estamos no grupo de pessoas que perderam o sono, ficaram deprimidas, angustiadas e com medo de perder as perspectivas. Mas, assim como tentamos mostrar com “Derrota”, tem como se recuperar, se levantar – é possível.

Em relação às atividades da banda, é bem difícil também porque somos muito “táteis”, gostamos de estar juntos, falar besteira, estar presentes… como somos amigos, a nossa comunicação se desenvolveu assim, presencialmente. Agora estamos tendo que nos ver muito menos e temos que nos adaptar, “manter a chama acesa” e a vontade de pé muito mais individualmente.”

Quais referências vão trilhar os rumos do próximo trabalho? Como veem a maior experimentação de synths e o que acabou influenciando isso?

Gabrielle e Marlon: “Temos influências bem diferentes entre nós e acabamos sempre sendo “chamados” por algo que achamos que é a “entidade” Adorável Clichê. Pelo menos comigo é assim que funciona… desde quando tocávamos covers, nunca dava certo imitar ou tentar conscientemente soar como outro músico/banda. Então não tenho uma resposta certa pra quais serão as influências dos próximos trabalhos.

A vontade de utilizar synths na banda vem desde a sua criação, porém moramos em uma cidade relativamente pequena e é muito difícil achar alguém que tenha o equipamento necessário e vontade para desempenhar a função. Essa dificuldade foi eliminada com a entrada do Protski, que assumiu os teclados no meio do processo de produção do disco “O Que Existe Dentro de Mim”. Por isso esse álbum tem synths mais acanhados.

Adorável Clichê “Derrota”

Em “Derrota”, o sound design do synth saiu mais da experimentação com o wavetable do Ableton do que de alguma referência específica. A única coisa que tive em mente na hora de criar o timbre foi o de que ele deveria dar movimento e cor para o som. Por isso a combinação de diferentes ondas e automação de filtros e modulações.
Pretendemos explorar os synths ainda mais nos próximos projetos, mas sem esquecer dos elementos que sempre foram a base do nosso som (guitarra, baixo, bateria e voz).”

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Rafael Chioccarello

Editor-Chefe e Fundador do Hits Perdidos.

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