Pedro Pastoriz joga “Pingue-Pongue com o Abismo” em terceiro disco

O músico gaúcho Pedro Pastoriz lança oficialmente hoje seu terceiro disco em carreira solo, Pingue-Pongue com o Abismo (RISCO, 2020).

O registro que contou com o apoio dos fãs em um bem sucedida campanha de financiamento coletivo é o fruto da parceria com os produtores e músicos Arthur Decloedt (Música de Selvagem) e Charles Tixier (Luiza Lian). A gravação e engenharia de som (mixagem e masterização) foram executadas no Estúdio Canoa e ficaram sobre a responsabilidade de Gui Jesus Toledo.

No disco Pedro Pastoriz além de cantar ainda toca violão, guitarra e assina todas as composições com exceção de “Faroeste Dançante”, feita em parceria com Fausto Fawcett e “Lydia Réplica”, em parceria com Lydia Del Picchia.

Sua banda base conta com Charles Tixier (MPC, Sintetizadores, programações e percussões), Arthur Decloedt (Contrabaixo elétrico e acústico, sintetizadores e cordas midi); e ainda tem a participação do parceiro de Mustache e Os Apaches, Tomas Oliveira tocando taças em “Fricção”. Já a capa foi confeccionada pela designer Talita Hoffman que já assinou as artes de discos lançados por artistas como O Terno, Mustache e os Apaches, Sessa e Mari Romano. Alexandre Matias assina a direção artística.

O Nome do disco do Pedro Pastoriz

O nome niilista do disco, inclusive foi extraído do poema “Uivo” (1956) de Allen Ginsberg (1926-1997), no qual ele cita o termo em referência ao poeta Carl Solomon (1929-1993), muso inspirador de sua escrita.

O trecho e imagem grudou no inconsciente de Pastoriz desde que leu em sua adolescência (“Estou contigo em Rockland / Onde você grita numa camisa-de-força que está perdendo o jogo do verdadeiro pingue-pongue com o abismo”). Até por isso o disco mostra diferentes facetas e passagens ao longo da sua narrativa.

Assim como a série Too Old To Die Young (Amazon Prime) onde quem assiste é desafiado a assistir ela em qualquer ordem podendo assim escolher qual o seu final.

A ideia da série incomoda quem está acostumado com o tradicional começo meio e fim das coisas e até dizem que ela veio do futuro; e tem como inspirações a forma como consumimos o Youtube onde não necessariamente vemos um vídeo inteiro no mesmo dia.

O que deixa ambas as obras ainda mais interessantes sob o ponto de visto tanto artístico como do espectador. Fica a dica para você que estiver lendo assistir também.


Pedro PastorizFoto Por: Tuane Eggers

Os Cenários e as Fotografias do Disco

O disco apresenta colagens do dia-a-dia dentro de um imaginário poético onde relatos e vivências se transformam, feito arte em constante movimento. São 14 faixas mas nem por isso se arrasta, muito pelo contrário, suas texturas, reclames e baladas dão uma tônica toda diferente para o álbum que vai além da experiência convencional de ouvir um disco.

Se na quarentena nossa velocidade de consumo mudou, esse formato te encoraja a ouvir um pouco a cada vez e voltar. Seja para ouvir as composições mais íntimas como também para se divertir com as vinhetas e reclames. Entre a melancolia e o bom humos os altos e baixos tornam-se alicerces do disco.

O Play

A abertura do disco vem logo com dois singles lançados previamente “Dolores” e “Fricção”. Sintetizadores e bateria eletrônica abrem alas para o caminho traçado. São faixas que transitam por paisagens nostálgicas, seja da praia como de memórias de um romance.

Fricção” inclusive segundo Pedro Pastoriz: “A intenção é que ela tivesse essa coisa cool francesa, meio Françoise Hardy, um tanto Burt Bacharach. Um ponto alto  são as linhas vertiginosas de baixos, e a Harpa de Vidro Elétrica, instrumento criado e tocado pelo meu parceiro Tomas Oliveira”. Já “Dolores” nasceu de sua primeira visita a baixada santista.



As memórias, o clima de romance e os cenários de situações do imaginário acabam ganhando as telas na cinematográfica “Sessão das Sete”. Com direito a citações de atores, o cenário das ruas do Rio de Janeiro, tons pastéis e o ânimo de um coração feliz por estar podendo vier uma nova história (sem medo de errar). Inclusive é interessante como as canções acabam se interligando até esse momento.

Os sintetizadores ganham maior protagonismo na ensolarada, descritiva e viajada, “Chicletes Replay” que até me lembrou um pouco uma espécie de “Balada do Louco” versão 2.0. Uma faixa de transição é “Lydia Réplica” que se conecta pelo chiclete e por uma percussão tensa ao fundo da prosa.

Baladas de um Coração Partido e a Veia Cômica

Durante a produção do disco Pedro Pastoriz soube da morte da sua mãe o que fez ter que navegar por oceanos profundos e partiu para um misto de refúgio na espiritualidade, meditação, luto, misticismo e, claro, saudade.

Isso que acabou adentrando ao mundo do subconsciente dos nossos sonhos. Esse processo, claro, acabou ressignificando os caminhos do disco e mostrando seus altos e baixos no campo emocional.

“Eram sonhos loucos que ressignificavam todas as informações de um jeito improvável, absurdo, geralmente beirando a comédia”, lembra Pedro, citando como o texto de Freud “Recordar, Repetir, Elaborar”

Em homenagem a mãe ele escreveu “Alzira Ruth”, uma das mais belas e simbólicas do álbum. A força para continuar e a vontade pelo reencontro acabam se cruzando ao longo das emoções expressas na plasticidade da canção. O cenário de um campo aberto com pássaros e paz acaba aparecendo nos experimentos desta emocionante jornada.

A veia cômica – e canastrona – vem a seguir com a vinheta “Cachorro Replay” que te um tom jazzístico de bar com o deboche de um diálogo com pouco sentido que claramente poderia nos levar diretamente para um bar de jazz em Nova Iorque quem sabe da década de 40.

Pedro Pastoriz Pingue-Pongue com o Abismo

A segunda parte do disco se inicia com a calmaria de “Janela” que descreve as conexões com o outro plano, transcendendo a matéria física por meio da meditação e espiritualidade. Feito uma janela para um universo onde não temos controle sobre nossas ações, sentimentos e reações. A realidade e o inconsciente se confundem no horizonte e nas imagens que a canção materializa.

“Replay Esportes” brinca com as propagandas dos anos 80/90 onde o texto e o tom de rádio marcaram época. Num tom de zoação, parece até brincar com os comerciais que tinham muito foco no roteiro. Quem viveu esse tempo lembra das “brigas” nos reclames entre Visa e Mastercard.

“Teatro Replay” de certa forma entrega os recortes do álbum a cada frase. Feito um guia que explica cada uma das memórias dramáticas discorridas dentro da obra. Com direito a experimentação cósmica e muito bom humor. Entre vinhetas, trilhas para comercial e um pouco de humor nonsense.

A Confusão e o Caos

“Hostel Para Replay” brinca com o realismo fantástico que o disco acaba abraçando. Faroeste Dançante”, feita em parceria com Fausto Fawcett, novamente traz o tom da poesia de encontro com a música em mais uma das viagens cósmicas do disco com direito a colagens e diferentes frequências. Um pop estranho.

Feito a jornada do herói “Sol” discorre sobre a confusão e o caos e por mais viajada e espacial que ela seja, ela dialoga estranhamente com os dias em que estamos vivendo.

Depois de várias experimentações, brincadeiras e devaneios quem vem para fechar é justamente “Boogaloo” que já começa citando Maria Callas (Soprano), streaming, cinema, dança, literatura e história acabam se misturando no contexto.

Pedro Pastoriz acaba se divertindo com direito a sing-a-longs e linhas que envolvem o ouvinte da mesma forma que o disco se inicia. Fecha o disco com a mesma nostalgia que nos lembra a sensação de ver uma fita rebobinando (aliás, alguém ainda lembra disso?).

Ouça o disco em sua Plataforma Favorita


This post was published on 23 de julho de 2020 12:02 am

Rafael Chioccarello

Editor-Chefe e Fundador do Hits Perdidos.

View Comments

  • Um álbum tão teatral e cinematográfico nos leva para diferentes filmes mesmo. Muito bacana a análise.

    Abraços

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