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Paulo Gabardo supera seus conflitos em EP de estreia

Paulo Gabardo nasceu em Curitiba (PR), é radicado em São Paulo mas gravou seu EP de estreia em Brasília (DF). Inclusive a capital federal se reflete ao longo do andamento do registo, visto que marca o período de tempo e as transformações que viveu na cidade.

“A mensagem do EP tem muito a ver com todo esse contexto de negação, depressão e desorientação que me fizeram acordar para uma parte de mim que estava negligenciada. O EP é como um desfecho dessa fase. É como se finalmente tivesse chegado o momento em que posso me reconhecer por inteiro, superados os conflitos entre as dúvidas internas e rompida a repressão que impus a mim mesmo.

Creio que esse conflito existencial tem suas particularidades, mas se comunica com o homem universal. Afinal, ninguém sabe ao certo a que viemos e todos batalhamos para encontrar alguma resposta que nos traga equilíbrio e paz interior”, reflete Paulo Gabardo.

A nostalgia também é um elemento a parte já que as canções foram tomando forma na época que ainda tocava na banda David de Boa. Inclusive foi ao lado produtor musical e companheiro de banda, Janary Gentil, que “Inteiro” começou a ganhar forma.

“Depois de uma fase um tanto sombria da minha vida, que me fez rever prioridades, passei a enxergar os processos criativos não apenas como necessários, mas como minha vontade principal.

À medida que consolidei esse lado criativo como parte relevante da minha vida, sobreveio mais paciência e cuidado com o acabamento das criações. Isso me fez encarar o desafio de gravar um disco e o Janary era a pessoa perfeita para me ajudar”, relembra o músico sobre o novo passo


Paulo GabardoFoto Por: Ana Kawajiri

Paulo Gabardo Inteiro (2020)

O EP que conta com quatro faixas conta com a produção musical e arranjos de Janary Gentil. As gravações e mixagens foram realizadas no Mojo Pin Produções e 1234 Recording Studio. Já a masterização foi realizada por Alexandre Rabaço e capa é assinada por Ana Kawajiri.

Para as gravações Paulo Gabardo (voz) teve a companhia de Janary Gentil (violões, guitarras e instrumentos adicionais), Arthur Lobo (baixo) e Caio Fonseca (bateria). O EP teve ainda as participações especiais de Pedro Menezes (guitarra) e Pedro Paulo Lima (teclado) na faixa “Ao Ar”.

O lado acústico e o recorte de diferentes fases acabam transparecendo ao longo das faixas. Com um violão em mãos esse lado artesanal acaba aparecendo na estética limpa que bebe do folk e do rock’n’roll. Bastante reflexivo, sensível e introspectivo cada faixa permite uma distinta sensação.

“Ao Ar” por exemplo encoraja o ouvinte a superar os obstáculos e percalços da vida, com direito a teclados e uma alusão ao “astronauta de marte”, David Bowie. A solidão e apatia, por sua vez, se reflete nos versos de “Sem Rumo”.

“O violão foi meu primeiro instrumento. Comecei a tocar com 15 anos. Não estudei muito, mas o violão é um instrumento que aceita a criatividade até mesmo por quem é leigo. Se bem trabalhado e gravado, o som do violão é realmente emocionante.

Também tem a parte de que quero poder tocar minhas músicas numa boa em casa num instrumento que estou mais familiarizado. Há muito para explorar nas 6 ou 12 cordas afinadas no violão. Sempre me ocorre coisa nova”, comenta Gabardo.

Faixa a Faixa por Paulo Gabardo

O próprio músico elaborou um faixa a faixa com as suas próprias impressões das canções que criou, sendo assim uma ótima, e por sua vez, rara oportunidade de conferir mais detalhes sobre a obra sob o ponto de vista de seu criador.

Inteiro

“É como um prólogo da trajetória apresentada. Como os versos introdutórios de poemas épicos (tipo Os Lusíadas), “Inteiro” tem esse caráter de apresentar o EP.

A música é tocada na afinação aberta em Dó, que traz uma sonoridade muito potente e que permite
diversas variações com execução razoavelmente simples. O Led Zeppellin usa essa afinação em Bron-Yr-Aur e Friends. Brincando com ela, criei a base de Inteiro.

A música nasceu instrumental. Janary ao ouvir achou que cabia reformular a estrutura e fazer letra. Escolhidas as demais músicas que comporiam o EP, trabalhei a letra de Inteiro com aquela ideia de ser
uma introdução ao conceito que se desenhava para o conjunto. A parte instrumental foi composta em 2016, mas a versão com letra é de 2017.”



Ao Ar

“A música nasceu da vontade de fazer criar uma balada em um tempo não convencional. A maior parte é cinco por quatro, alternando com pequenos pedaços quatro por quatro.

A letra tem a ver com a vontade de tentar algo novo, de perseguir uma mudança, de ter coragem para se lançar ao encontro das vontades. É uma composição também de 2016. É a canção mais pop, na qual se nota influências de Van Morrison e David Bowie, especialmente primeiros álbuns.”

Realidade

“A letra é um questionamento sobre o que é vontade genuína em busca de felicidade e o que não passa de alimento para o ego. Por meio de uma temática que remete a redes sociais, pergunta-se qual é a realidade.

Será que queremos contato com outros ou queremos apenas reconhecimento próprio? Será que a vontade criativa é autêntica ou decorre de um desejo de aparecer por ter criado? A música é do começo de 2017. É a faixa mais pesada do álbum. A sonoridade inspirada em Jeff Buckley pode ser sentida nessa faixa.”

Sem Rumo

“A música foi composta há quase 20 anos. A letra também é praticamente a mesma. A canção responde a dúvida levantada em “Realidade”. A vontade de criação não atende a desejos de aparência.

Na aparência o homem sem rumo se desfaz. A música segue após superar o grito do homem sem rumo. Sem mais palavras, os instrumentos ascendem ao centro das atenções, convergindo com a primeira frase da letra de “Inteiro”, que abre o EP: “o silêncio me atrai”.

O homem incialmente sem rumo encontra-se agora inteiro, orientado pela transformação criativa da criação musical. Os minutos finais instrumentais representam essa sublimação. Quanto às influências, a partir de um início que mais uma vez evoca Led Zeppelin, a música avança para sonoridades inspiradas em Radiohead.”

Lives, Quarentena e o Momento

Quando o assunto é a recepção que espera no momento em relação ao trabalho o músico diz que pode aguçar a reflexão naqueles que tiverem a oportunidade de ouvir o seu EP.

“Talvez o momento atual, por implicar mais reflexão, ajude nessa conexão. Talvez o público preste atenção aos detalhes do meu trabalho. Tudo ali tem significado e foi aperfeiçoado. Espero que as pessoas apreciem e espero que isso as ajude a se desligarem um pouco do mundo”, espera Paulo Gabardo.

Paulo Gabardo Inteiro (2020)


This post was published on 7 de maio de 2020 11:29 am

Rafael Chioccarello

Editor-Chefe e Fundador do Hits Perdidos.

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