A Amphères é um trio formado em 2016 na cidade de Santos (SP) pelos músicos Jota Amaral (bateria e voz), Paula Martins (baixo e voz) e Thiago Santos (guitarra e voz). Eles já tocavam juntos desde 2012 em outros projetos. Logo em seu ano de estreia eles gravaram o EP Amphères e já caíram na estrada.
Em 2018 veio o segundo EP, Dança, no qual entrevistamos a banda e fizemos um faixa a faixa (Confira). Agora é a vez de dar um passo maior dentro da trajetória do power trio que em seu último lançamento trouxe elementos de rock alternativo e shoegaze.
O álbum de estreia da Amphères tem uma proposta ainda mais intimista e experimental do que os registros anteriores. Um conceito denso une as faixas feito a proa de uma nau. Aliás, é justamente a selvageria e intensidade do balanço do mar que se materializam as emoções ao longo das curvas etéreas do registro.
As guitarras ganham uma nova proposta em conduzir os delírios e aparições do mar. Feito um farol no meio de uma tempestade, a história narrada ganha novas tormentas que alternam com a calmaria da contemplação do silêncio. A tortura do balançar e a falta de controle, acabam movendo o disco rumo ao desconhecido.
O ponto de segurança justamente é o Porto que ancora as emoções, talvez até por isso seja esse o nome do álbum. A imprevisibilidade ao longo das faixas faz com que você mergulhe no registro que em sua maior parte é instrumental e permite, por sua vez, experimentar diversas sensações. O diálogo com a explosão de acontecimentos de um mundo doente soa apenas como reflexo da inquietude e problemática dos nossos tempos.
Entre névoas, âncoras, lemes, pequenos naufrágios e tempestades pelo caminho, o álbum tende a cumprir seu papel de abstração em tempos permeados por inseguranças e refúgios internos.
A ânsia por se libertar de uma realidade difícil de lidar acaba equalizando nos riffs mais rasgados presentes em faixas como “Densa”. Ao longo do registro ainda temos espaço para a citação de trechos de Ismália, poesia de Alphonsus Guimarães que inaugurou a fase do Simbolismo na literatura brasileira.
O debut foi gravado no Estúdio Aurora, em São Paulo, e no Estúdio Lobo, em Santos. Já a mixagem e a masterização foram realizadas no Estúdio Aurora por Aécio de Souza. Já a capa do álbum é uma criação do designer, e artista, Marcos Guinoza. As inspirações vem justamente do minimalismo e surrealismo, trabalhando temáticas como o sentimentalismo, a solidão, a melancolia e os distúrbios emocionais.
São 32 minutos de experimentações, entre pequenos maremotos e verdadeiros tsunamis de emoções. “Maré Baixa” serve como uma espécie de introdução ao universo que estamos adentrando, trazendo à bordo conflitos entre guitarras que flertam entre o post-rock e o dream pop. Tem espaço para chiados, do shoegaze, e para imaginar visualmente um portal se abrir.
“Porto dos Delírios” cadencia a onda e começa a contar a história de fato. Os conflitos começam a ser expostos de forma gradual, entre delírios, movimentos e tormentas emocionais. Os acordes inclusive progridem para solidificar o sentimento de maré se enchendo. Guitarras colidem enquanto a energia das correntes se dissipa. As lembranças se confundem e a pressão começa a cair; na medida em que os acordes e as perturbações surgem, e se colidem, no horizonte.
Já “Fosfenos” diminui o tom e traz consigo a ressaca. Mostrando que a enxaqueca e os conflitos. A mente já adentra para outro estágio, o do desequilíbrio emocional. Suas linhas circulares deixam a confusão ainda mais evidente. Entre as subidas e as decidas da maré, o choque térmico se faz inevitável.
“Densa” tem uma linha de baixo mais pulsante mas sem tirar o brilho das guitarras. Os vocais ganham de vez a presença no disco, entre distorções de pedais e ruídos. As camadas evidenciam o desequilíbrio e a vontade de procurar por respostas para os questionamentos. A influência dos anos 80, de Pixies ao experimental de grupos como Stone Temple Pilots acabam deixando a viagem com ainda mais elementos.
“Travessia” entra com tudo na escuridão, com uma levada meio Echo & The Bunnymen, de ir construindo sua introdução que se mantém até o final da faixa, feito um interlúdio que cria uma ponte imaginária que desembarca em “Noroeste”.
O post-punk aparece nas frequências ainda mais estridentes e densas; ao mesmo tempo que e o noise rock ganha peso dentro da narrativa conflituosa. Os vocais com a delicadeza do Vaselines e do Mazzy Star nos trazem de volta para a órbita em meio as digressões.
Então que a “Maré Cheia” aparece no horizonte mostrando como controlar as emoções se torna um verdadeiro desafio. Entre guitarras mais lentas e ruidosas, o horizonte parece começar a clarear aos poucos. Quem fecha por sua vez é “Farol”, faixa que aparenta encontrar um norte na bússola de emoções. Trazendo consigo uma chance para o recomeço após a ira da tempestade. Feito um respiro, o disco se encerra deixando no ouvinte a sensação de batalha vencida.
This post was published on 14 de abril de 2020 10:32 am
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