“No Brasil, a cultura nunca foi prioridade” conta o idealizador do Festival Bem Ali

 “No Brasil, a cultura nunca foi prioridade” conta o idealizador do Festival Bem Ali

Big Marias. – Foto: Divulgação

Organizar um show já é uma tarefa desgastante, então imagine realizar um festival independente em Palmas (TO)?

Este desafio Fabio da produtora Árvore Seca conhece bem. O festival chega a sua sexta edição neste sábado (19/10) e será realizado no Ahadu Eventos.

A festa da música reunirá 9 bandas e também contará com outras ativações; espaço para artes gráficas e circenses, gastronomia e comportamento (com direito a flash tattoos).


Festival Bem Ali


As Atrações do Festival

Roqueiro em sua essência, o line up reúne nomes de diferentes “micro-cenas” do rock nacional.

De bandas de rock psicodélico/folk, como Almirante Shiva, Joe Silhueta, Soprü passando pelo peso do stoner/metal, de Stolen Byrds, Desert Crows e Wizened Tree, Indxxr e do garage punk dos paraenses do Molho Negro e a Big Marias.


Fabio Festival Bem Ali
Fabio, idealizador do Festival Bem AliFoto: Divulgação

Entrevista

Conversamos com o Fabio para saber mais sobre as origens, curadoria e como analisa o momento da cultura no país. O papo sobre o festival rendeu boas análises, confira!

Conte para nós sobre a motivação e histórico que fez o festival ganhar vida e por que acredita que deve insistir em música indie, em um momento que se corta muita verba para cultura, existe instabilidade política e um medo de perseguição artística.

Então, analisando todo este contexto, como você incentiva o palco como local de fala.

Fábio: “Sou um rapaz novo, de 27 anos, estou envolvido com produção há 4 anos, mas antes disso era publico consumidor, ia nos eventos e conheci pessoas que faziam acontecer. Nunca foi fácil. Temos que resistir a cortes de verbas, está difícil e sempre foi difícil. No Brasil, a cultura nunca foi prioridade para os governantes.

Minha opinião é que, num momento quer fazer arte era menos ruim, já era necessário na vida da população e, agora, nesse momento de cortes, algo que beira o fascismo, o preconceito descarado, sem máscaras, que já saiu do armário, se não tivermos esse momento de lazer, esse contato com a arte ficaria pior. Temos que lutar por apoios e lutar por mais verbas, a população merece cultura.

Mas se não tiver, temos que fazer acontecer. Não é hora de parar, é hora de ir pra cima e vamos fazer acontecer, contra tudo e contra todos, seja no Norte ou no Sul. Temos que mostrar que merecemos isso e é o que nos motiva. Vamos enfrentar o sistema e mostrar que em qualquer lugar do Brasil existe uma sociedade que quer consumir arte.”

Como funciona o processo de curadoria. E o que prioriza numa banda?

Fábio: “A gente prioriza a banda ser autoral, o Bem Ali de forma alguma vai tocar uma banda cover. Tentar não repetir line up, neste ano por acaso será a primeira vez que repetiremos uma banda. No caso a Almirante Shiva (DF) que tocou na terceira edição. O resto foram 14 bandas de fora do estado e nenhuma repetida.

Priorizamos dar uma diversificada para não acabar virando um evento de nicho, sem desmerecer os eventos de nicho que a própria produtora realiza durante o ano, mas entendendo que o Bem Ali é um festival mais amplo e abrange um público maior.

Até por conta das atrações não musicais que também fazem parte do seu repertório. Então a gente busca bandas em ascensão e bandas que já estão com carreira consolidada e que possam agradar o público. Buscamos não fazer o evento só para gente e sim para o público. Acaba acontecendo também oportunidades de rotas e logísticas que acabam vindo a calhar de encontro com a curadoria.”

Como faz pro fest ser provedor, no sentido de trazer bandas relevantes em determinados segmentos e qual seria o legado do Bem Ali para as bandas locais?

Fábio: “Buscamos ficar atentos ao mercado como, por exemplo, trazer ao Bem Ali alguma banda gringa que está em turnê pelo Brasil, vide os alemães do Samsara Blues Experiment ano passado, ou mesmo alguma banda nacional de renome que está pela região.

A questão é estar atento às oportunidades e proporcionar ações para poder custear bandas. Sabemos da importância de ter uma banda grande e conhecida, isso gera um intercâmbio com as bandas locais e público.

É um networking que fazemos com o Brasil, contatos com bandas que podem gerar parcerias.

O legado: No momento, o cenário autoral é um tanto marginalizado. Então, uma banda local tocando em palco imponente, com backline de qualidade, dentro de um festival que vai agregar valor para essa banda, é um momento único para o artista local, fora o conhecimento com intercâmbio com banda de fora. O Bem Ali pode ser uma vitrine para as bandas locais, sim.”


Big Marias Festival
Big Marias. – Foto: Divulgação

Quais bandas locais você gostou tanto que decidiu incluir no line up?

Fábio: “Desde a 4 edição, adotamos uma seletiva para bandas locais antes do fest, e isso tem dado muito certo, chamando muito público. Já vai aquecendo desde então, apresentando bandas que nem sempre as pessoas conhecem. Serve pra ter o primeiro contato na seletiva, às vezes já sabendo que podem esperar e isso está sendo muito legal.

Esse ano o nível aumentou, tivemos bandas muito boas. Era pra ser uma curadoria do público e uma interna e, na hora, na interna, colocamos duas, de tão boas que eram a maioria.

Gostaria de indicar duas locais. O Wizend Tree, que está desde o começo com a gente e lançou esse ano um EP em conjunto da Abraxas e a Fuzzy Cracklins (Califórnia).

E a Big Marias, formada por ex-integrantes da Boddah Diciro que, imagino, foi uma das bandas que mais desbravou os festivais pelo Brasil enquanto uma banda de Palmas. É uma “bandaça” (sic), recomendo.

Como observa o cenário da música independente nos próximos anos?

Fábio: “A cena independente, na minha opinião, é cíclica. Ela sempre via existir. Bandas independentes também sempre vão existir, do zero e do zero virando algo.

O que muda são as bandas que passam por essa cena, as produtoras, algumas até saem do ambiente que caracteriza a música independente o que é bom. Afinal, músico quer viver de música.

Vejo que a cena passará por uma certa dificuldade nos próximos anos.

Pra quem tem apoio está difícil, será um período de resistência, mesmo. Mas o bom da cena independente é que ela já está acostumada com isso.

Aqui, no rolê do Cerrado, é aquele negócio da árvore que pega fogo e, na primeira chuva, floresce de novo, nascem novas ideias e uma nova árvore. Então a cena é isso: tentativas, acertos e erros; não deixar a peteca cair, mas torcemos para que um dia o independente seja apenas a atitude, mas com apoio.

SERVIÇO

6ª edição do Festival Bem Ali
Evento
Data: 19 de outubro de 2019
Horário: 18 horas (abertura da casa); 18h30 (início dos shows)
Local: Ahadu Eventos
Endereço: Quadra 110 Norte Alameda 5, 13 – Plano Diretor Norte, Palmas – TO
Classificação etária: 14 anos
Ingressos no Link
Valores: R$ 30 (lote promocional – apenas online); R$ 40 (primeiro lote); R$ 45 (segundo lote); R$ 50 (último lote)

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