Programas antigos de TV, sci-fi, surf, espaço sideral, alienígenas, lasers, sabres de luz e acordes cheios de efeitos. Tudo junto e misturado. A primeira vista não parece fazer lá muito sentido. Até que algum amigo te apresenta Man Or Astro-man? que funde o surf rock, new wave, o punk rock e todo esse universo radioativo.
É indescritível esse momento mas depois disso você nunca mais consegue enxergar a narrativa de uma banda de rock de maneira diferente. É tudo tão estranho, tão nerd, tão temático e nonsense que só faria mesmo sentido em uma banda instrumental.
Então quando vi tinha descoberto como apreciar (devidamente) o trabalho de uma banda instrumental e todo o seu poder de mesmo sem palavras conseguir criar no imaginário universos fantásticos tão interessantes quanto um livro de Neil Gaiman.
As possibilidades são inúmeras de viajar para a progressão de acordes, aliar a instrumentos inusitados como o teremim, trazer arcos para tocar a guitarra (à lá Sonic Youth e Ema Stoned), resgatar outros universos como o plot surtado dos filmes de Spaghetti western, surtar com o adendo de instrumentos de sopro e até mesmo tentar contar uma história com começo, meio e fim. É um peso diferente, uma responsabilidade enorme e não entediar durante as apresentações é uma missão a parte.
Uma boa maneira de quebrar toda essa pressão do entretenimento no palco é exatamente esta de trazer todo aquele universo que tenta emular para o visual da banda.
Exemplos não faltam para isso, os Apicultores Clandestinos, de Santa Catarina, impressionam por seu visual de Apicultor – e interação com o público pois distribuem mel e cachaça (com mel) durante as apresentações.
Já o Art Against Agony, da Alemanha, vem todo mascarado para o palco trajando máscaras do filme V de Vingança – e usa de toda a ironia teatral para criar terreno para seu som teatral e progressivo. Outros mascarados são os Los Straitjackets que trajam máscaras de luchador mexicano. Os catalães do Los Tiki Phantoms por sua vez abraçam a temática “de las calaveras“. O The Raulis de Pernambuco também conta com um baterista mascarado.
Claro que isso não se restringe apenas a música instrumental, o visual do DEVO é implacável e poucas bandas conseguem esse status de coolness neste aspecto como eles. Mas é legal observar como tudo isso de uma forma ou outra contribui para o approach da banda.
Esse mundo imaginário todo pitoresco por si só é também a aura do projeto de uma figura bastante conhecida do cenário carioca, o meio norueguês-meio brasileiro Bjørn Hovland. Hovland é também guitarrista da banda carioca Carbona e da já extinta Go! (na virada dos 90 para os 00) – e foi guitarrista da Erika Martins. Atualmente ele vive em Bergen, na Noruega.
Para a mística do Robotron, projeto surf rock que traz robôs, monstros Kaiju ele traz muito reverb, epifanias e estranhices. Se permite viajar para mais longe e já caminha para o segundo disco que está sendo lançado hoje em PREMIERE no Hits Perdidos, Gorgonzolah´s Revenge.
As influências como o próprio músico cita são evidentes: Man or Astro-man?, Los Straightjackets, Dick Dale, The Lively Ones, entre outras. E isso não perde a graça, pois o que importa mesmo é como funciona na hora do apertar do REC.
To cansado de ver bandas que colocam Fugazi e Nirvana num pedestal – e quando você vê é mais do que você já ouviu lá nos anos 90, só que MENOS, né?. Não devemos cobrar originalidade mas sim competência. Acho que o mérito de Gorgonzolah´s Revenge é brincar com todos os clichês para encontrar sua própria identidade.
O álbum que foi gravado em Bergen, Noruega, foi mixado no Melhor do Mundo Studios (Rio de Janeiro / RJ), por Alexandre Griva. Já a masterização foi realizada em Porto Alegre por Davi Pacote no Hill Valley Estúdio. O registro está sendo lançado através do selo independente carioca Morcego Records e é a segunda parte de uma trilogia.
A primeira parte, Robotron Versus the Invincible and Indestructible Reptilicus (2016 – Reverb-Brasil), foi gravada e mixada no Rio de Janeiro conta com uma participação muito especial do baterista Bacalhau (Ex-Autoramas / Monstros do Ula Ula).
“Gorgonzolah’s Revenge” eu não sei nem o que pensar desse nome além de um misto de um cartoon de um queijo junkie ao sugo com um olhar caído, procurando sua revanche, em uma batalha épica contra uma almôndega alienígena. Cenário digno de uma briga que tem como plano de fundo uma cantina italiana (ma ovviamente!)
Para deixar ainda tudo mais animalesco a introdução tem um tom digno de filmes de terror antigo e o sintetizador – que soa como um teremim – fantasmagórico te coloca nesta frequência magnética. A música vai do aquecimento até a batalha em si, esta que é digna de um “Spaghetti western sci-fi”.
A persona robótica ganha figura pela primeira vez no disco em “Headless robot from planet Zahrkoor” que por mais que tenha suas raízes no clássico surf rock dos anos 60, ainda ao meu ver conversa com o universo do rock alternativo dos anos 90, aquele ar como se o Bob Mould resolvesse montar uma banda com as influências e DEVO.
Bom se até o Green Day tem uma banda ultra-secreta mascarada e nada que ver com o punk rock deles, The Network, porque o Bob não poderia também cogitar essa possibilidade, não é mesmo?
Essa música inclusive pelo seu nome pede dancinhas robóticas assim como as da Erika Martins quando se apresenta com os Autoramas. Seja lá onde for esse planeta Zahkroor, ele deve ter seres por lá que viajam pelas mesmas ondas do Surfista Prateado. Os teclados são mais densos e a levada da New Wave consegue mostrar a agonia deste pobre robô sem cabeça que está perdido entre a poeira cósmica espacial e a solidão.
Os monstros Kaiju tem sua homenagem em “Kougai-kaiju Hedoron lives!”. Na hora me remeteu: 1 – Aos Cavaleiros do Zodíaco 2 – Ao Godzilla e todo seu arsenal de destruição 3 – A figura bizarra e disforme do Hedorah 4 – Ao clássico Spectreman.
Qualquer uma das referências é passível de identificação com quem for ouvir – e quiser adentrar ao universo geek e anime desta parte do registro.
O instrumental tem aquela guitarrinha Dick Dale e por horas parece com a pane de uma nave – ou megazord – ao se deparar com o incrível monstro que surge tão imponente e invencível no horizonte. A tensão paira no ar durante toda a canção que acaba com o oponente sendo derrotado.
Foi só falar no Spectreman que a seguinte, “Introspectroman, homenageia a série de TV japonesa. O clássico super herói thash que trava batalhas épicas – e que nelas sempre destrói um pouco da cidade – ganha uma interação certeira no início da canção. Que através de efeitos sonoros abre o combate com o som dos dispositivos sendo acionados.
Poderia até ser uma tentativa de um novo tema para a série setentista e acaba trazendo elementos ainda mais pesados e cheios de peso para deixar tudo (ainda) mais épico.
A frequência da Nasa é atravessada em “Standard tests for dimension 35C”. Com diálogos que me lembram o terror de “Marte Ataca”, esse território tão cheio de mistérios – e vazio – ganha acordes rebuscados e agressivos para mostrar toda a tensão da falta de gravidade. Daí que entra o elemento mágico da influência do Man or Astro-man?, e assim ganha status de tributo a lendária banda do Alabama.
Quem tem a grande missão de fechar o disco é “Terror from Kahalu’u bay” que traz um lado dark e melodramático jamais visto na lindíssima praia havaiana (Sério, procurem fotos deste paraíso).
Mas quem disse que quando a noite cai o que era belo não pode se transformar em um cenário perfeito para acontecimentos estranhos dignos de um filme de terror. Na melancolia, e na beira de um apocalipse, o disco se encerra feito o encher da maré.
O segundo disco do Robotron, Gorgonzolah´s Revenge, projeto do Bjørn Hovland (Carbona, Go!, Erika Martins) não foi feito para – e não deve – ser levado a sério. As brincadeiras vem do título, passando pelo nome das músicas – que divertem por si só – aos elementos sonoros do instrumental.
Tem espaço para tudo que é sci-fi no registro. Tem monstros, espaço sideral, planetas distantes, spaghetti western, programas de TV antigos, Japão, aliens e uma panela recheada de referências e efeitos lunáticos. Não crie expectativas, apenas dê o play e se divirta!
Para combinar com toda essa atmosfera surf rock no começo do ano preparamos uma playlist com 50 bandas brasileiras do estilo. Uma boa pedida para quem acabou de ouvir esse disco. E não deixe de seguir o Hits Perdidos no Spotify!
This post was published on 27 de abril de 2018 11:01 am
Novidade em dose dupla! É o que o Terno Rei entrega para os fãs nesta…
"hear a whisper", parceria com a Winter, é o segundo single do novo álbum a…
Há espaços que transcendem a ideia de apenas paredes e um palco. A Associação Cultural…
Imagina só: numa noite de muita sorte, você tem um date com uma das maiores…
Sting é daqueles artistas que tem uma história com o Brasil. A turnê da América…
Confira os melhores clipes independentes | Janeiro (2025) em seleção especial feita pelo Hits Perdidos!…
This website uses cookies.