Sexta-feira, 13, de um mês de Halloween esta foi a data escolhida para o lançamento do segundo disco da banda de punk rock paulistana Marginal Attack. Por coincidência também é o dia de outro grande lançamento do nicho, o Transplants que acaba de lançar o álbum de covers, Take Cover.

Álbum que tenho certeza que eles estavam aguardando com ansiedade também. O espírito Hellcat está no ar mas o lançamento também é um marco na história do novíssimo selo capitaneado por Matheus Krempel e Rafael Jales, a Craic Dealer Records.


Marginal Attack lança seu segundo álbum via Craic Dealer Records. – Foto Por: Michel Angelo

Em sua formação o Marginal Attack conta com Rafael Jales (Guitarra / Vocal), Paulinho Greg (Guitarra / Backin Vocals), Bruno Burgos (Baixo / Backin Vocals) e K-Karlos (Bateria / Vocal).

Keep the Faith on You é o primeiro trabalho da banda em praticamente 10 anos. Visto que o álbum de estreia da banda é de 2008. O disco foi produzido, mixado e masterizado por Gustavo Trivela nos estúdios da Porto Produções Musicais e Gustavo Ferreiro assina a arte gráfica. O registro ainda conta com a participação especial de Kira e Nado do Skarrapatos-KO, Karen Dió, e Gustavo Trivela do The Bombers.

O amadurecimento da banda nas composições é até exaltado pelo vocalista Rafael Jales que avisa que o tema das vivências e rolês continua sendo um dos motes porém algumas canções lidam com temas mais sérios. Como por exemplo “Keep the Faith on You” que põe a tona as dificuldades de um imigrante.

Marginal AttackKeep the Faith on You (13/10/2017)

A primeira ouvida o álbum consegue mostrar ao que veio em sua parte sonora. Vai agradar fãs de Cock Sparrer, The Interrupters, Stiff Little Fingers, Blind Pigs, Madness, The Upsetters, The Specials, The Mighty Mighty Bosstones, Dropkick Murphys, Slackers, Toasters, Rancid e adjacentes. O disco ao longo dos seus 30 minutos de duração flerta com o Street Punk e tem doses do ska 2-tone e rocksteady, o que traz para linha de frente um tom mais solto e dançante.



O álbum abre com a faixa “On City Streets”, faixa que de cara me lembrou pelo nome a canção dos The Casualties (“On City Streets” do disco Under Attack – 2006). Esta que deve ganhar um videoclipe em breve.

Embora o nome remeta aos Casualties o som me lembrou a levada da clássica banda de street punk inglesa Slaughter & the Dogs, em certo momento a canção tem um riff tão “White Riot” do The Clash que a homenagem é algo a ser exaltado.

A temática dos rolês e de dar uma botinada inicial ao disco é o caminho que a letra te passa. Aquele “Alô” para falar que “We’re Coming Back” e que definitivamente “The Gang’s All Here“. O papo é reto como os versos logo tratam de dizer: “Estamos aqui para tocar rock’n’roll.”

A segunda faixa já chega de pés juntos e te convida para por um par de suspensórios, boina e dançar. Com os teclados energéticos – e que grudam feito chiclete – a atmosfera da canção passeia por ritmos jamaicanos como o rocksteady e o reggae.

A canção que fala sobre irmandade e lealdade tem uma levada pop cativante. Muito por conta dos vocais de Karen Dío. Se você gosta de The Interrupters, Save Ferris e Big D & The Kids Table com certeza vai sair ecoando os versos pelos becos.

O ska chega junto em “Time to Keep Up”, esta que conta com a participação de Kira e Nado do Skarrapatos-KO que dão toda aquela energia cósmica e “good vibes” que o otimismo da canção exalta em seus versos. A levada tem um pouco de The Beat e vai agradar com certeza fãs de grupos como Maleducados e Sapobanjo.

Assim chegamos a “balada” street punk do disco, “I Want You”. Essa que tem espaço para vocais ríspidos, um pouco de bubblegum, mini solo, subidas e descidas. Tudo que consolidou o punk rock ao longo dos anos. Uma canção segura e com sua função muito bem encaixada dentro do andamento do disco.

Se você se amarra em The Aggrolities e Slackers e navega em direção de “la buena onda” vai se identificar com “Tears in the Shower”.

Uma canção para por no vinil, enquanto toma aquele copo de whiskey após um dia longo e frustrante de trabalho. Afinal de contas a vida não é feita apenas de conquistas.

Assim chegamos na faixa título, “Keep the Faith on You”. Que irá agradar fãs de Bouncing Souls e Street Dogs de cara por sua estrutura e sing-a-longs. O tema é sério e urgente como comentamos anteriormente.

Afinal de contas a adaptação e desafios que um imigrante passa durante essa transição de vida não é tarefa fácil. Não precisamos nem olhar muito distante para ver a rotina sofrida e muitas vezes de sub-empregos que imigrantes bolivianos, haitianos e refugiados de países árabes tem passado na cidade de São Paulo.

A xenofobia fere o orgulho de quem veio para tentar a vida melhor carregado de esperança e com muita dignidade. Em alguns casos mais extremos o sofrimento é na pele através xingamentos, olhares raivosos e violência. Um absurdo tão grande que vale a pena se por no lado certo das trincheiras.

As guitarras voltam a ecoar alto em “Scars of Life”. Esta que fala sobre as dificuldades que passamos pela vida e como isso nos cria uma “casca” para aguentar a dureza dos dias mais difíceis. Com muitos sing-a-longs o destaque fica para a linha de baixo alá Matt Freeman.

Com sotaque inglês e diálogo raivoso “Fake Friends” faz a rapa nas falsas amizades que só te sugam e não te valorizam. De bar em bar temos que abrir o olho para não cair nas garras dos famosos “traíras”. Os teclados voltam a ganhar espaço e a canção é um ska “de los dias más difíciles” tudo isso com a energia working class que te leva direto para Brighton.

Chegamos as duas últimas canções do disco. Ambas ao contrário das outras são em português, o que vejo como um fato positivo para a identificação do público com a mensagem nos shows.

Cresci ouvindo Lambrusco Kids, banda também de SP com uma levada street punk – e claro com nome em homenagem aos Toy Dolls – e é bem nesta linha que “Tradicional” bateu ao ouvir pela primeira vez. Fala sobre os rolês, bebedeiras e desavenças.

“Seus Amigos” é uma balada no violão e gaita. De certa forma isso me lembrou um acústico que o Rancid fez para a rádio deles (Fungus 53), Acoustic On Fungus 53 (2006) e que o próprio já citado no texto Street Dogs também já se aventurou.

É o momento do show onde os isqueiros são acendidos para alto e a irmandade é posta em cheque mais uma vez. Se resgatei o Rancid, porque não citar que a música dialoga com a temática de “Fall Back Down”?

A mensagem que a canção passa são os valores de uma verdadeira amizade:

“Quando as coisas estiverem de mal a pior, pode contar comigo.”



O segundo registro do Marginal Attack, Keep The Faith On You, é sincero e atende as expectativas do que se propõe. Conhece seu público – e o que gosta – e tem o mérito de ir atrás de ótimas parcerias para alcançar o resultado que esperam.

Ele passeia pelo punk rock, street punk, rocksteady, ska e reggae e fala sobre amizade, lealdade, frustrações e desavenças. O ponto alto na parte das composições é trazer a discussão sobre dificuldades que um imigrante tem que passar quando opta por recomeçar sua vida do zero. O primeiro lançamento da Craic Dealer Records não poderia ter escolhido uma data melhor: uma sexta-feira 13.

Próximos Shows

Para aquecer para o lançamento oficial do disco amanhã (14/10) ás 19 horas nos estúdios da Porto Produções Musicais o Marginal Attack fará um pocket show acústico.

Para quem ainda não conhece o estúdio ele está localizado na Rua Cardeal Arcoverde, 854 no bairro de Pinheiros. A entrada é gratuita. Para mais informações confira o evento.

O grande lançamento do disco acontece no dia 20/10 no palco de um dos mais tradicionais palcos de São Paulo que neste ano se despede do público, o Hangar 110. O show contará também com as bandas Faca Preta, Fibonattis e Subalternos.

O evento está marcado para às 19 horas e os ingressos variam de R$15 (Estudante) a R$25 (Porta). Para mais informações confira o evento.


This post was published on 13 de outubro de 2017 2:53 pm

Rafael Chioccarello

Editor-Chefe e Fundador do Hits Perdidos.

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