[Premiere] Medrar faz a ponte entre a MPB e o Shoegaze em “Luzia”
Sorocaba é uma das cidades que mesmo a distância podemos ver ótimos festivais acontecendo como o Festival Febre e o Circadélica. No entorno disso dia após dia uma cena musical reverbera e os frutos começam a aparecer para todo o Brasil, como é o caso da talentosíssima Paula Cavalciuk.
Uma parte do segredo para que a cena se mantenha sempre tão efervescente talvez seja mesmo essa troca de conhecimento e ajuda mútua. Seja na hora de gravar, agilizar uma arte ou até mesmo divulgar o trabalho. Uma escola para muitas outras cenas onde o instinto de competição por outro lado destrói tantas ótimas bandas. Estas que outrora poderiam vislumbrar ter um espaço maior no cenário nacional.
É deste berço que vem a Medrar que está na ativa desde 2013. A atual formação conta com Mya Machado (voz/guitarra), Ari Holtz (baixo), Zé Aquiles (bateria) e Rafael Ferraz (guitarra).
A luta diária por um espaço na cena também é algo a se destacar. A gravação do EP que está sendo lançado hoje com o experiente produtor Guilherme Kastrup – que entre outros feitos assina a produção de A Mulher do Fim do Mundo, da Elza Soares – veio por conta do Projeto Demorô, realizado pelo Sesc Sorocaba, que selecionou duas bandas para o processo de produção.
As influências citadas pela banda são bem amplas e contam com nomes consagrados da música brasileira e outros consolidados no cenário alternativo. Dentre eles os citados são nomes como Gal Costa, John Frusciante, passando por Patti Smith, Jair Naves, La Carne e Juçara Marçal.
Este leque tão amplo que faz com que o som consiga transitar por vários públicos. Outro traço marcante da banda são as performances viscerais e a estrutura não linear de suas músicas. Assim fazendo o casamento entre o experimental e o popular, sendo o grande destaque das composições do grupo.
Hoje conheceremos o EP Luzia que está sendo lançado digitalmente neste 12/10. Este que também será lançado em forma física junto ao poster da artista Ella Vieira que assina a capa do disco.
Medrar – Luzia (12/10/2017)
O registro foi gravado no Teatro Sesc Sorocaba e produzido por Guilherme Kastrup, como já citado, e conta com duas faixas: “Alarde” e “Luzia”. Cada uma com sua própria característica e sonoridade.
Quem tem a responsabilidade de ser o lado A do EP é justamente a canção “Alarde”. Esta que tem uma energia plural e avassaladora como os clássicos trabalhos do La Carne e flertam com o som shoegazer reverberante de grupos como o WRY.
O interessante da canção é justamente o já citado tom não linear e as subidas e descidas em momentos estrategicamente pensados. Ela é de certa forma uma faixa que tem a preocupação teatral de criar uma experiência ao ouvinte. Acredito que isso também já foi feito pensando no momento que subirem ao palco para apresentar a faixa.
Para um bom amante do som mais experimental e post-rock: o último minuto é recheado de guitarras, quebras de bateria e baixo no talo… sendo assim a cereja do bolo.
Se você já ouviu o ótimo disco feito em conjunto pela Juçara Marçal e Cadú Tenório, Anganga (2015), talvez capte rapidamente de onde vem a inspiração para a faixa que carrega o título do EP, “Luzia”.
O interessante é justamente isso, saber a hora de deixar Mya cantar, aumentar o tom e abaixar e a vitalidade das esquizofrênicas linhas de baixo alá Fugazi e Shellac. Tudo isso deixando a guitarra em um plano mais secundário em que ela pode flertar com os pedais.
O EP da Medrar deixa aquele gosto de quero mais. De querer saber até que ponto eles podem ir através dessa mistura tão rica e abstrata. Quem sabe em breve não temos um álbum cheio para rechear nossas playlists!
Sorocaba mais uma vez nos surpreendendo com seu poder de revelar bandas que estejam conectadas com o momento plural que o cenário alternativo tem vivido.
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