Television Personalities, Swell Maps, Teenage Fanclub, The Pastels, Low Dream, Fellini, Second Come, Justine Never Knew The Rules, Loomer, Wry, Slowdive, Swervedriver, Pale Saints, Cocteau Twins, A Place to Bury Strangers, My Bloody Valentine, Suede, Ride, Galaxie 500, Lava Divers, Mazzy Star, Cheatahs, Moose, The Jesus And Mary Chain.
Todas estas são bandas que seu som parece que veio de um sonho distante, abstrato, muitas vezes sombrio, pitoresco, sentimental, pessimista, contemplativo e fragmentado. Feito um pesadelo de guitarras rasgadas – e vocais obscuros – o termo que se consolidou para denominar o estilo foi o shoegaze.
Shoegaze
O som vem da mistura do rock de garagem com o rock psicodélico e o post punk. Tanto que é considerado um subgênero do rock alternativo e da neo-psicodelia. As primeiras bandas começaram a surgir no fim da década de 80 no Reino Unido, então imaginem adolescentes que passaram pela ebulição do punk, viram o post punk ganhando popularidade tendo a responsabilidade de fazer algo “novo”.
A origem do termo é algo um tanto parecida com o “Punk”. Ambos estilos foram batizados por tablóides tentando diminuir o valor cultural que estes carregavam em sua essência. Nada novo em Townsville, não é mesmo?
No caso do shoegaze o termo “shoegazing” foi criado para ridicularizar uma onda de bandas que tocava de uma maneira tão introspectiva que literalmente parecia que estava olhando para seus sapatos. Pode parecer até patético mas foi essa a origem do termo. Parabéns a todos os evolvidos, muito criativos viu?
O artefato de abusarem do uso de pedais também faz o mix da origem do termo que na mesma época também foi batizado por outros críticos como Dream Pop. O primeiro selo que “agarrou” o estilo e abriu portas foi o britânico The Scene That Celebrates Itself – criado nos anos 90. Então já entenderam de onde que veio o nome The Blog That Celebrates Itself do Renato Malizia, né?
O mais legal de aprender sobre um gênero já consolidado dentro do mercado indie é continuar observando as novas variantes do estilo. Após a passagem dos anos 00’s já contamos com bandas que se auto denominam Nu Gaze, mesclando elementos de eletrônica e post-rock, e Black Gaze. Este último que mistura com Black Metal e tem como representantes bandas como a Alcest.
Sim, o revival do shoegaze é algo bastante forte no mundo todo, ontem mesmo pude conhecer algumas bandas novas de diversos cantos do mundo como a Fazerdaze (Nova Zelândia) e a Peach Pit (Canadá) que lançaram discos neste mês de Maio.
Talvez esse revival tão forte tenha sido um dos motivos para que a banda santista A Sea of Leaves tenha decidido relançar parte de seu catálogo neste mês. O primeiro álbum da banda, A Sea of Leaves, lançado em 2009 pelo selo paulistano Sinewave está sendo disponibilizado na íntegra nas plataformas digitais pela primeira vez em sua totalidade.
O álbum foi lançado na época em dois formatos: em CD físico caseiro vendido em mãos no I Sinewave Festival (realizado em julho de 2009) e em formato digital com somente quatro faixas. Então para muitos será a primeira vez que poderão ouvir o disco na íntegra.
Para este grande relançamento nas plataformas digitais o grupo aproveitou para disponibilizar também o primeiro EP, Time In Overdrive, este lançado em 2008 com outra formação. Na época a banda contava também com os irmãos Flavio e Tiago Girão.
Então vamos falar um pouco sobre os primeiros dias do trio. A origem do grupo se deu após o retorno de Eduardo Pereira (Guitarra e Voz) de Toronto (Canadá) em meados de 2007. Tendo como membros fundadores Eduardo e os irmãos Flavio e Tiago Girão.
No ano seguinte foi gravado o EP Time In Overdrive (2008) que foi lançado pela Pisces Records e posteriormente pela Sinewave. Alguns meses após com a saída dos irmãos veio a entrada de Gustavo Natale (baixo) e Enrico Bagnato (bateria).
Foi com esta linha de frente que eles começaram a rascunhar o que seria o álbum de estreia. Com influências mais melódicas que os novos membros trouxeram, influência da cultura geek por intermédio de HQ’s, contos de terror e ficção científica. Assim como outras bandas de shoegaze, o som carrega ruídos e guitarras distorcidas com direito a muitas camadas e delay ecoando no horizonte.
Após 8 anos de hiato A Sea Of Leaves retorna através da vontade de tocar e compor novos sons.
Já que estamos falando em relançamentos vou tentar falar em ordem cronológica. Afinal de contas ao menos para mim não faria sentido falar de um disco posterior antes do EP embrionário da banda.
O EP Time In Overdrive já se inicia com a atmosférica e contemplativa “Pale Horses”. Uma canção Dream Pop com aquela áurea do Ride e a tristeza do The Jesus And Mary Chain. Como fã do JAMC eu diria que me remete ao álbum Darklands (1987) este gravado 20 anos antes do trabalho de estreia dos santistas. Principalmente pelo seu tom frio, acordes delicados e ruídos estranhos.
“Permanent Wave” já parece trazer outras influências para o som plural da banda como The Cure, levadas tropicais em sua palhetada e o post punk. Com certeza os caras estavam pirando em Primal Scream na época da composição. O tom elaborado lembra um pouco alguns trabalhos dos contemporâneos do Garage Fuzz. Tanto é que o álbum de estreia da banda foi ter logo a produção de Nando Basseto (Garage Fuzz).
Assim chegamos a faixa título do EP, “Time In Overdrive”, essa que já cadencia o peso e distorções mais fortes. Diria até que lembra o trabalho de bandas seminais do hardcore como Minutemen e também claro Sonic Youth. O tom fúnebre dá todo o compasso da composição que bandas que lançaram material pela Midsummer Madness nos anos 90 e 00 já carregavam em sua essência. Particularmente eu gosto desse lance da progressão e de terminar num caos completo quase Black Flag.
Assim chegamos a última canção que agradará fãs de PELVS e Second Come com certeza. Seu tom shoegaze te faz ser guiado por este sonho impossível de “Until We Met Again”. Você realmente se sente triste e baqueado ouvindo esta canção. Nada mais característico que terminar um disco em meio a várias ondas e camadas sonoras se sobrepondo em um sonho sem fim.
Em 2009 com a nova formação já citada anteriormente foi a vez do disco de estreia ganhar a luz do dia – ou o REM da noite já que estamos falando de Shoegaze/Dream Pop. O álbum A Sea of Leaves foi gravado e produzido pelo Nando Basseto do Garage Fuzz no Play Rec Studios.
O I Sinewave Festival foi o marco do lançamento do álbum e como dito anteriormente teve sua pequena prensagem vendida exclusivamente no evento. Logo para muitos dos leitores do Hits Perdidos será a primeira oportunidade de ouvir a um trabalho do grupo santista.
Musicalmente também foi um período onde o processo criativo ganhou novos ares com influências da cultura pop como o universo fantástico dos HQ’s e da ficção científica. Com novos toques em sua estrutura, agora contendo mais recursos melódicos e harmonias. Algo que foi possível graças a entrada de Gustavo Natale (baixo) e Enrico Bagnato (bateria).
O álbum já se inicia com o single “Over The Edge” que inclusive tocou ontem no programa do Hits Perdidos na Mutante Radio. Este que já mostra logo nos primeiros segundos uma evolução técnica em sua composição, com tons soturnos alá Nick Cave e seu Grinderman e o lado pitoresco do Pixies.
Seu refrão fica ecoando em sua cabeça e você se vê dando voltas em círculos perdido no tempo e espaço. Uma boa trilha para o filme Inception (A Origem – 2010). As guitarras vão para o campo do noise e do experimentalismo com camadas e batidas do post-punk inglês. Claro que os pedais também dão toda aquela atmosfera de grupos que lançaram materiais pela Creation Records.
Aí que somos pegos de surpresa com “Meridian” e seu tom de vanguarda e progressões distorcidas que te levam para este sonho alá Lydia Lunch, Echo & The Bunnymen, The Telescopes e PJ Harvey. É interessante demais ver como este álbum em relação ao EP de estreia carrega elementos que ainda não tinham sido explorados até então. Sem que para isso tenha perdido a identidade. Um grande risco quando a formação se altera em 2/3.
A terceira faixa é “Don’t Kill The Lights” e conta com duas versões ao longo deste relançamento. A versão alternativa (faixa 9) originalmente não pertencia ao álbum e foi lançada com exclusividade para uma coletânea da revista inglesa Amelia’s Magazine em 2008.
“Don’t Kill The Lights” tem um lado mais obscuro alá Mission Of Burma mas ao mesmo tempo uma leveza com sua guitarra solta e viajada. Tanto que os vocais me remetem aos de Morrissey mas seu tom é mais experimental. Fãs de New Model Army e Hüsker Dü provavelmente adorarão a canção.
Já em sua versão alternativa ela é executada de forma acústica e assim se aproximando as sessions que o RIDE costuma fazer. Com direito a intervenções de outros instrumentos que mantém o tom dark e viajante da canção, como o adendo de teclados e um tom ainda mais gótico – e místico – nesta versão.
Depois disso temos uma sequência matadora com “Cosmic Messenger”, “Follow The Leader” e “Strange Noise”. A primeira já chega impressionando com o trabalho de sobreposições de guitarras e tom soturno alá Bauhaus.
Lembram quando disse que o shoegaze tem como pai a neo-psicodelia? Então a levada cósmica da canção faz com que elementos do estilo apareçam mais nesta composição. É uma jornada espacial guiada pelo mensageiro de outras galáxias. Fãs de Galaxie 500 encontrarão seu som proferido no disco após ouví-la, já os de Sonic Youth irão querer ouvir por mais de uma vez.
“Follow The Leader” poderia ter sido composta por caras como Bob Mould e Lou Barlow, e isto é um elogio. Ela é pop e cativante desde sua primeira audição, ela é cheia e consegue te fazer caminhar por outras dimensões.
Seu lado “guitar hero” com certeza ficará se coçando para improvisar utilizando sua guitarra imaginária. Guitarra imaginária e Dream Pop, tudo a ver né? É como se fosse um hino, um hit perdido de outras galáxias. Seu fim se dá feito um cometa se desintegrando.
Desta forma chegamos a sexta canção, “Strange Noise”. Essa com vocais melódicos épicos imersivos. O post punk é escancarado e te puxa pros anos 80, o tom trevoso como de bandas como Alien Sex Fiend e Joy Division se mescla com o universo dos filmes de Béla Lugosi.
Assim chegamos a reta final do disco com a densa e soturna “Madness Is a Walking Dream” e “We Can Do Better”. Esta última que tem a missão de fechar o disco, visto que em 2009 em seu lançamento era a última faixa de fato.
“We Can Do Better” consegue conversar tanto com as bandas de shoegaze como as de grunge dos anos 90, como é o caso do Screaming Trees. Ela fecha o trabalho com um tom desesperado como se o mundo estivesse próximo de se desintegrar.
Ambos relançamentos que marcam a história da Sinewave Label como primeiros da história do selo paulistano e mostram que nunca é tarde para clássicos perdidos sejam revisitados. O EP e o primeiro disco de estúdio do A Sea Of Leaves exibem duas facetas distintas e um resgate de sonoridades dos anos 80 e 90.
Estes que são muito importantes para um garoto que esteja lendo no auge de sua puberdade. Para que conheça sons esquecidos por boa parte das FM’s e que nem todos puderam viver. É algo muito bacana saber que os caras após 8 anos estão de volta a ativa e com vontade de tocar e compor novos sons. Que sirva de combustível para novos clássicos e que estes não fiquem perdidos entre galáxias, tempo e espaço. Que esta áurea cósmica se transforme em novos acordes distorcidos.
This post was published on 31 de maio de 2017 11:38 am
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