Os Anti-Heróis do Red Dons e sua missão ultra secreta
Em 2001, existiam duas bandas o Clorox Girls e The Observers, estas experientes no underground. Daniel “Hajji” Husayn e Douglas Burns eram amigos de longa data e fizeram um pacto de quando Daniel voltasse para Portland, OR fariam um projeto juntos e se chamaria: Red Dons.
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Demorou cerca de cinco anos para o plano inicial sair. Isso devido ao compromisso e turnês com os outros projetos, somados ao fato de que cada um vivia em um lugar diferente: Washington, Alemanha, Jordânia, Thailandia e Seattle.
Mesmo longe do plano inicial de conseguir juntar todo esse povo na mesma cidade, desde 2007 eles tem conseguido fazer turnês e tem gravado praticamente um lançamento por ano. O mais ousado e diferente do Red Dons é que o projeto envolve certa rotatividade no line-up do grupo. Visto que além de membros, a banda possuí colaboradores externos.
Os membros no line-up atual da banda são: Hajji Husayn (Baixo/Vocal), Richard Joachim (Bateria/Vocais), Douglas Burns (Vocalista/ Guitarra), Ruby Sparks (Guitarra) e Zach Brooks (Guitarra).
Na ala dos colaboradores temos alguns mais ilustres que outros como o caso de TV SMITH (The Adverts), que escreveu e canta na faixa “A Vote for the Unknown” junto com os Red Dons. Outro medalhão do underground que já contribuiu para o projeto foi Jesse Michaels, eterno Operation Ivy e Classics Of Love.
A origem do nome do grupo é toda cheia de mistério. Se trata de uma referência aos espiões soviéticos que se infiltraram durante o período turbulento da segunda Guerra Mundial na inteligência britânica – onde eram bastante respeitados – para obter informações privilegiadas.
Os professores Kim Philby, Anthony Blunt, Guy Burgess e Don MacClean trabalhavam na Universidade de Cambridge na década de 20. E naquele momento, os mestres e professores eram chamados de “Dons”. A imprensa local da época em que sempre buscava ganchos interessantes para machetes triviais do dia-a-dia, começou a chamar o quarteto – há um mistério em saber se eram 4 ou 5 porém como as coisas parecem não ter sido muito bem documentadas na época, ele perdurou – de Red Dons devido a seu anel de espião.
Alguns historiadores afirmam que eles eram responsáveis por confundir os Nazis com informações dispersas.Um deles por um momento chegou a ser conselheiro de artes pessoal da rainha da Inglaterra.
Mas a história tramou de armar contra eles: se tornaram anti-heróis pois alguns durante o passar dos anos meio que mudaram de lado e ficaram vistos como patinhos feios na história toda. O que gerou ódio da população por acreditarem que eles escolheram o lado errado da guerra para lutar.
Três no fim de tudo se viram obrigados a desertar de volta para casa deixando ainda mais mistério na história toda. Na guerra fria ganharam maior força, sendo responsáveis por coletar as informações e enviar direto para a mãe Rússia. Para saber mais leia aqui.
Fico imaginando que irônico seria um show deles com o Agent Orange, no momento que este som fosse executado nos palcos:
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Mas voltando um pouco. O grupo lançou nos últimos 8 anos, 5 EPS e 3 discos. E se torna a cada dia mais uma banda global tendo feito turnês na Europa, Estados Unidos e shows inclusive no Brasil. A tournê brasileira realizada em 2009 contou com shows em São Paulo, Barra Mansa/RJ, Santos/SP, Campinas/SP, Rio de Janeiro, Vila Velha/ES, Osasco/SP, Jundiaí/SP, Florianópolis, Curitiba e Bragança/SP.
Durante a passagem, a banda realizou shows no festival Verdurada. E concedeu entrevista para o programa Sem Saída.
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A identificação de nossos Anti-Heróis foi ganhando notoriedade nos últimos anos, sendo comparados a bandas do calibre dos The Night Birds. Em suas letras o grupo tenta passar seu descontentamento com o governo e a falta de assistencialismo com as pessoas que mais precisam. A política em favor de alimentar um estado e pouco interessada em defender os direitos dos cidadãos. E nisso com certeza os conecta com a maioria das nações ao redor do mundo por trás desse sentimento. Um pensamento bem ligado a ideologia anarquista.
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Eis que no último mês de agosto o grupo lançou seu terceiro full-lenght, The Dead Hand Of Tradition (2015) e um amigo tratou de me indicar por saber que eu era fã do Night Birds.
O álbum já se inicia com a espetacular, “The Good Disciple”. Uma das melhores faixas do álbum diga-se de passagem. Aquele ar corrosivo do Dead Kennedys, e baixo com ar post-punk no talo e guitarradas no melhor estilo Punk 77 te remetem a uma viagem sonora distinta.
“Remember” já tem um ar mais post-punker e é altamente dançante, com potencial de agradar até o público mais hipster de Portland – cidade mais hipster do mundo, ok? – a harmonia chama a atenção, neste disco eles parecem ter uma maturidade que bandas como Savages nos mostram facilmente.
“Pyrrhic Pyrrhic” me remete em certos trechos a fusão de Cock Sparrer com a bateria frenética e dançante do New Wave/Post Punk, tudo isso com uma identidade muito parecida a cena inglesa atual do estilo. Novamente o casamento entre baixo e bateria se destacam.
Em “Together Apart”, a guitarra parece dançar no ritmo da melodia, ouvir essa faixa em alguma rádio alternativa como a Brasil 2000 parece ser algo viável e vou dar a dica para a Anna Helena Rainere.
“Amman (Before The Bomb)” trás mais a tona o tom político e de liberdade de escolha da sociedade perante suas ações. O som é rasgado e caótico, te transporta para esta realidade que não vivemos. “Weakness” segue a mesma linha na sonoridade mais contemplativa e post-punker.
Algo muito diferente da faixa seguinte “The Death Of The Tradition”, em que é um hardcore mais acelerado que te remete na bateria as batidas das botas das tropas em direção ao combate. Jello Biafra se orgulharia de ouvir está canção, a letra segue a linha de pensamento que ele acredita.
“Every Single Word” é uma balada do caos com direito até a teclados e muitos questionamentos perante o mundo em que vivemos, o dia-a-dia e a sociedade em geral.
“75 Warham” tem a veia mais roqueira, investe nos riffs de guitarra mas sem perder a atmosfera introspectiva e de auto-aceitação que permeia o disco. O tom inglês do disco é bastante perceptível, não é a toa que tem um membro que mora em Londres. A banda parece ter escutado o brilhante e recente disco dos Eagulls.
“Empires” fecha o álbum em tom de despedida, lenta e cheia de simbologias políticas, ela deixa claro: Impérios vão cair!. E acaba ao som de armas, deixando um questionamento no ar: seria a luta armada uma causa defendida pelo grupo?
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