Dora Morelenbaum explora as curvas sonoras em “Pique”
Após o fim do ciclo ao lado da Bala Desejo, os músicos têm retomado suas carreiras solo e disponibilizado aos poucos novos discos. Nesta sexta (18) é a vez de Dora Morelenbaum, cantora, compositora, instrumentista e produtora carioca, lançar seu álbum de estreia, Pique.
A artista é filha do violoncelista e maestro Jaques Morelenbaum com a cantora Paula Morelenbaum, por esta razão, cresceu em meio a backstages e estúdios.
Neste projeto que ajuda a construir sua identidade, a artista explora e traz consigo influências de MPB, soul, R&B e jazz. Pique está sendo lançado em parceria com os selos Coala Records e Mr Bongo. O material foi coproduzido por Dora com Ana Frango Elétrico.
“São muitas camadas. É um álbum com várias facetas e eu me vejo muito em cada uma delas. Acho que por ser meu primeiro disco solo, existe essa emoção de querer colocar muitas vontades. “Pique é justamente o resultado dessa mistura. Tem na base um quarteto de jazz, com baixo, bateria, teclado e guitarra; e, dentro dessa formação, vai esgarçando um pouco diferentes texturas”, revela Dora
O resultado do disco de estreia vem por processos distintos, primeiramente concentrado no campo das sonoridades e arranjos, a ideia de trazer o amor como tema central curiosamente veio só depois.
“Em algum momento durante a feitura do projeto, eu percebi que, de uma forma ou outra, todas as músicas falavam de amor. Às vezes por uma perspectiva mais clássica, outras por um viés um pouco mais provocativo.
Há um tempo, sinto vontade de brincar com esses parâmetros da canção, que, no Brasil, especialmente, são muito estruturados e quase sagrados. Alguns já praticamente se esgotaram e outros se criaram ao redor”, ela comenta em release a imprensa
Dora Morelenbaum Pique
Antes do dia do lançamento, a carioca já tinha disponibilizado dois singles, “Caco”, que logo nos chamou a atenção, e “Essa Confusão”. A capa do disco conta com a direção de Maria Cau Levy – que já assinou trabalhos de Ana Frango Elétrico e Luiza Lian – Dora Morenlenabum e Ana Frango Elétrico. A arte busca captar a essência do álbum de imagem em movimento, refletindo sobre a jornada contínua e a experiência sonora.
O registro conta com vários musicistas como Sérgio Machado (bateria), Alberto Continentino (baixo), Luiz Otávio (teclados) e Guilherme Lirio (guitarra), que logo na primeira faixa “Não Vou Te Esquecer” (parceria com Tom Veloso) emulam um quarteto de jazz. Diogo Gomes (Trompete), Marlon Sette (Trombone) e Jorge Continentino (Sax) contribuem no sopro em “Venha Comigo” (parceria com Sophia Chablau).
“A Melhor Saída”, “Talvez (As Canções)”, “Petricor”, “Pique” também são resultados da prolífera parceria com Tom Veloso, “Caco”, foi feita em parceria com o parceiro de Bala Desejo, Zé Ibarra. “Sim, Não” é a única que ela assina sozinha.
O álbum de estreia foi entre abril e dezembro de 2023, no Rio de Janeiro, por Angelo Wolf no Wolf Studio com assistência de Arthur Martau. As cordas foram registradas por Leo Alcântara no Estúdio Visom, a mixagem é assinada por Angelo Wolf (Wolf Records) e a masterização por Miguel Pinheiro Marques (Arda Recorders).
A Audição
“Não Vou Te Esquecer” tem a missão de introduzir o disco e faz isso de forma elegante, abrindo alas para que a narrativa imersa nas histórias de amor vá terreno adentro. A balada romântica, que chega de mansinho e ganha arranjos refinados de uma jazz band, desemboca entre sopros, memórias e esperança.
“Venha Comigo”, parceria com Sophia Chablau, carrega consigo uma aura libertina, de quebra de protocolos e te convida a viver um amor sem limites, entre imagens projetadas, jogo de sedução e delírio. Os arranjos deixam tudo ainda mais envolvente, entre grooves, linhas magnéticas de baixo emprestados da soul music e metais.
“Sim, Não” dialoga bastante com a estética da obra de Ana Frango Elétrico, curiosamente também em seu segundo álbum, Little Electric Chicken Heart (2019). A carioca afirma ter tido na parte estética referências de Gilberto Gil, Sly & The Family Stone e Negro Léo. Colaboram também na canção, a baiana Josyara e Zé Ibarra, nos violões.
Um lado mais imersivo aparece na balada lenta de sedução, “Essa Confusão”. Dialogando com a MPB dos anos 70, ela teve a oportunidade de colaborar com o próprio pai, o violoncelista e maestro, Jaques Morelenbaum. Mistério, paixão, tensão, entre confissões e o receio de quebrar a cara, a faixa tem arranjos de blues e de jazz. Fica impossível ouvir e não lembrar da Elis Regina.
Corpo em movimento
“A Melhor Saída”, segundo a própria Dora, acabou encapsulando o conceito do álbum de movimento. Ela chega sorrateira, com arranjos que vão progredindo aos poucos e escancarara o drama de quem procura por respostas. Seus vocais tem os joguetes de voz que Rita Lee adorava fazer em sua carreira solo.
“Caco” olha para o copo meio cheio, mas também para o copo meio vazio. Essa perspectiva um pouco diferente em uma mente que reflete sobre o amor, entre seu lado mais solar e o seu mais obscuro. Suas teclas e sua atmosfera tem todo o traquejo de uma bossa e o molejo de um clube de choro.
“‘Caco’, de alguma forma, apresenta a paisagem sonora que visualizo em todo o álbum. Ainda nos moldes da canção, ela fala de beleza e ruído, de um amor que contém em si o positivo e o negativo. É uma letra de amor não tão usual, uma perspectiva tanto frustrada como otimista.
A produção surgiu a partir de um discurso estético e sonoro. Tem estranheza, mas também tem beleza junto. Representa um pouco disso que a gente criou em termos de textura e subjetividade. Ainda dentro da música orgânica, mas com colagens de universos sonoros diferentes.”, contou Dora durante o lançamento do single
O Lado B
“VW Blue” nasceu como uma faixa instrumental e tem como elemento surpresa o vibrafone, este executado por Arthur Dutra. Com atmosfera de jam, e com duração de uma vinheta, ela nos leva diretamente para trilhas sonoras de novela de época. “Petricor”, foi criada por Tom Veloso e tem na melodia o seu trunfo, entre desejos, coração palpitante e flashbacks.
“Ela tem uma harmonia e melodia cíclicas que se repetem. A música acaba virando um mantra, uma coisa pra ficar horas e horas tocando.”, comenta Dora
“Pique” tem letra escrita por Tom Veloso e fala sobre o processo criativo da artista durante o período de dedicação no projeto. “Talvez (As Canções)” traz loops das demos, segundo a cantora, e é justamente das suas camadas, e joguetes, que ela amarra o ouvinte. Seu lado ritmado se confunde com a caminhada na direção a superação.
“Nem Te Procurar”, é uma versão da mesma canção que inicia o disco, só que mais dançante. Ou seja, se joga na soul music, com direito a sopros, arranjos de cordas, punch na voz, em uma versão mais brilhante e magnética.
“Resolvi abrir e fechar o álbum com elas, amarrar o todo do projeto, as ideias de discurso e as sonoridades que se complementam”, revela a artista
Ficha Técnica
Produção: Ana Frango Elétrico
Coprodução: Dora Morelenbaum
Dora Morelenbaum – voz (1-11), violão (9), synth (11), coros (1, 2, 6, 11), arranjo de sopros (1 e 9), arranjo de cordas (4 e 11)
Sérgio Machado – bateria (1-8, 10-11), bateria eletrônica (2, 11)
Alberto Continentino – baixo (1-8, 10-11), arranjo de vibrafone (8)
Luiz Otávio – rhodes (1, 2, 4, 6, 7, 8, 10, 11), hammond (1, 3, 5, 11)
Guilherme Lirio – guitarra (1, 2, 3, 5 ,8 ,10, 11), piano whistle (6)
Marcelo Costa – percussão (2, 3, 5, 6, 11)
Zé Ibarra – violão (3, 4, 6, 10, 11), coro (2, 6)
Josyara – violão (3, 10)
Ana Frango Elétrico – coro (1 ,11)
Calu Coelho – coro (1, 2, 11)
Paula Morelenbaum – coro (2, 11), assovio (6)
Jaques Morelenbaum – arranjo de cordas (4)
Arthur Dutra – vibrafone (7, 8)
Haroldo Eiras – guitarra (7)
Diogo Gomes – arranjo de sopros (2, 6) trompete (1, 2, 6), flugelhorn (6)
Marlon Sette – trombone (1, 2, 6)
Jorge Continentino – saxofone (1, 2, 6), flauta (2)
Aline Gonçalves – clarinetes (9), flauta (9)
Janaína Perotto – corne inglês (9)
Julia Mestre – coro (2, 6)
Lucas Nunes – coro (2, 6)
Daniel Guedes, Glauco Fernandes, Daniel Albuquerque, Marluce Ferreira, Maressa Carneiro, Rogério Rosa, Leonardo Fantini e William Doyle – violinos (4, 11)
Bernardo Fantini e Pedro Amaral – violas (4, 11)
Iura Ranevsky e Cláudia Grosso – violoncelos (4, 11)
Engenharia de Som, Preparo e Capa
Gravado entre abril e dezembro de 2023, no Rio de Janeiro por Angelo Wolf no Wolf Studio com assistência de Kayan Guter e Arthur Martau
*com exceção de:
cordas por Leo Alcântara no estúdio Visom
madeiras por Bruno Schulz no estúdio 304
bateria eletrônica por Sérgio Machado no Plim Estúdio (SP)
Mixado por: Angelo Wolf (Wolf Records)
Masterizado por: Miguel Pinheiro Marques (Arda Recorders)
Preparação vocal: Paola Pagnosi
Produção executiva: Santiago Perlingeiro
Capa e design: Maria Cau Levy
Direção criativa e fotos: Maria Cau Levy, Dora Morelenbaum e Ana Frango Elétrico
Assistência câmera: Caio Mazzilli
Equipe design: Flora Milanez e Giovana Tak