Carbona revela com exclusividade curiosidades sobre os 20 anos do álbum “Taito Não Engole Fichas”

 Carbona revela com exclusividade curiosidades sobre os 20 anos do álbum “Taito Não Engole Fichas”

Carbona na época do lançamento do “Taito Não Engole Fichas” – Foto: Acervo Henrique Badke

Em 2002 uma das bandas mais icônicas do punk rock bubblegum nacional lançou o álbum que foi o divisor de águas na carreira. O Carbona que em 2018 ganhou uma coletânea com 30 bandas realizando releituras das canções do grupo carioca disponibilizava Taito Não Engole Fichas.

Com 14 músicas e pouco mais de meia hora de duração, o material apresentou para o mundo canções como “Meu Primeiro All-Star”, “43”, “Copo D’água”, “Fliperama”, “1001 Doses”, “Rock n’ Roll Colegial” e “O Mundo Sem Joey” também marcou a transição por ser um disco 100% em português. O que na época como relembra o baixista Melvin Ribeiro foi um dilema mas que logo teve uma resposta positiva e a chegada de novos fãs.

Com o baterista Pedro vivendo no exterior, o power trio tem realizado uma turnê comemorativa pelo país com o auxílio de Fred Castro, amigo de longa data, na bateria. Conversamos com o Melvin para saber curiosidades sobre as gravações, momento vivido pela banda e eternizar em uma entrevista as memórias da época.


Carbona Taito Não Engole Fichas no Circo Voador
Carbona no Circo VoadorFoto: Acervo Henrique Badke

Lista de Curiosidades sobre o álbum Taito Não Engole Fichas (2002)

1) Taito foi o nosso sexto disco (a gente vinha num ritmo de um por ano!) e o primeiro em português.

2) A gente sempre teve músicas em português. Inclusive tem registros da gente tocando algumas até na nossa tour americana, no primeiro ano de banda.

3) Quando o Carbona começou, eu e o Henrique ainda estávamos tentando manter uma banda chamada Vira-Latas (com o Fernando, que hoje é do Rats), então a opção de cantar em inglês foi pra não colidir os repertórios.

4) A gente nunca quis um disco que fosse em duas línguas, sabia que quando chegasse a hora, ia ter que ser todo em português.

5) Consideramos seriamente lançar o disco como uma banda nova, outro nome, achando que o nosso público poderia não curtir. Depois a gente se convenceu que era o disco mais Carbona possível e manteve no nome da banda.

6) Pra preparar as pessoas para essa transição, lançamos dois singles virtuais que eram baixados direto pela página da punknet. Acabou que praticamente todo mundo aprovou a nova fase. Uma galera tem mais saudades da época em inglês, mas não teve rejeição. E muito público surgiu a partir daí.

7) O disco foi gravado inteiro duas vezes. A gente estava numa sessão interminável, quase um ano de gravações muito espaçadas, muitos adiamentos. Aí bateu uma nóia sobre a qualidade da performance, a gente começou a questionar aquela gravação e acabou achando melhor gravar em outro estúdio, do ponto zero, e tudo fluiu muito rápido.

8) Um lance muito foda (na minha opinião) é algo que só aconteceu uma vez no início da banda e de novo na época dos ensaios do Taito. A gente estava tão empolgado com aquele repertório finalmente tomando forma que no auge dessa empolgação marcou um segundo ensaio no mesmo dia pra poder curtir as músicas de novo.

9) A única novidade nessa nova versão foi “O Mundo Sem Joey”. A gente conheceu o Kaly num festival em Goiânia em 2000 e ele me mandou a versão violão e voz pelo ICQ. É a mesma gravação que aparece no final da música.

10) Durante muito tempo o disco ia se chamar “Rock n’Roll Colegial”.

11) “Um Cara Escroto” era dessas sessões e acabou sendo gravada no Apuros em Cingapura, alguns anos depois. “Florine” foi gravada na primeira versão só e acabou aparecendo numa coletânea de sobras de estúdio, em 2017, a “Rock n’Roll High Skull”.

12) A gente chegou a ensaiar “Menstruada”, dos Cascavelletes, mas não tem nenhuma gravação tocando ela até o fim.

13) O Taito gerou nosso primeiro clipe, “Fliperama”, dirigido pelo Samir Abujamra e Fabiano Maciel, que ganhou uma rotação bacana na MTV por alguns meses, e ajudou muito a espalhar o “Taito”. A loja de discos onde a gente aparece tocando é a Navena Muzik, no Rio, tocada pelo Kindim e pelo Vitão (hoje no Estudantes).

14) “Fliperama” originalmente era em inglês e chegou a sair num CD split na Itália assim.

15) O Taito levou o Prêmio Dynamite de Melhor Disco de Punk Rock daquele ano.


Carbona Taito Não Engole Fichas
Carbona na época do lançamento do “Taito Não Engole Fichas” – Foto: Acervo Henrique Badke

Entrevista: Melvin Ribeiro

Conversamos com o Melvin para saber mais sobre as curiosidades por trás do álbum Taito Não Engole Fichas lançado oficialmente em 2002.

Vocês têm feito a turnê tocando Taito na íntegra, como a nostalgia tem sido um combustível interessante para o público e para vocês? Tem músicas que não tocavam a um bom tempo? Pensam em disponibilizar o disco em vinil, K7 ou algo do tipo?

Melvin: “A turnê tem sido incrível. Essa ideia de tocar um álbum na íntegra realmente tem um apelo muito forte com as pessoas, conseguimos voltar a algumas cidades que há muitos anos não visitávamos, e algumas caras clássicas reapareceram.

Metade do disco é presença obrigatória no shows, nunca saiu do set e nem teria como, mas a outra metade ausente também é muito legal, juntando tudo dá um baita orgulho do disco, de ver que todas aquelas músicas são queridas pelas pessoas. Duas são “baladas”, e acho que foram ficando pra trás pra deixar o show mais agitado. Tem uma outra, “Casaco Azul”, que acho que a gente não toca desde a tour original desse disco. Uma coisa que a gente se permitiu e funcionou muito bem foi, já que a banda sempre montou blocos de músicas emendadas, foi sair da ordem do disco e buscar as emendas que funcionavam entre as músicas. Isso deixou o show dinâmico demais. Mas tocamos o disco todo primeiro, nessa ordem nova, e o que vem depois dessas 14 músicas a
gente quase lida como um “bis” estendido. É o maior set que já tocamos na vida.

E nos últimos anos temos o lendário Fred Castro tocando bateria com a gente, então a gente acabou ensaiando bastante essas novidades no repertório, e o Fred traz o jeito dele de tocar, é muito bom ver como funciona. E o Henrique fazendo os solos, porque durante dez anos a gente teve o Bjorn na segunda guitarra mas ele também foi morar fora.

A gente no momento não tem nem o CD à venda, e isso não pareceu preocupar o público. Tem gente ouvindo nos streamings, e ainda um pessoal levando as edições em CD pra autografar. A gente refez a camisa da tour do Taito e tem um pano de fundo novo, também com a logo daquela época, uma criação do Kindim (Ack), com referências a fliperama.

A 13 records vai relançar o disco em vinil em algum momento, mas não tem a data ainda. Enquanto isso, o “Back to Basics”, nosso segundo disco, ainda em inglês, saiu em vinil na Itália e o “Vingue no Ringue”, nosso mais recente, saiu em CD no Japão. Então tá essa coisa muito louca de ter todas essas edições super especiais mas ainda não o “Taito”. Mas tudo certo: quando sair o vinil do “Taito” a gente pode voltar a esse show, nem que seja por uma última vez em São Paulo.”


Henrique Badke em show do Carbona - Taito Não Engole Fichas
Henrique Badke em show do CarbonaFoto: Acervo Badke

O fato de ser o primeiro disco inteiramente foi uma virada de chave para o Carbona? Acredita que isso tenha influenciado até mesmo o Inoxidáveis que viria tanto tempo depois?

Melvin: “Foi uma virada de chave enorme. A gente tinha muitos receios, achava que o público podia não entender. Primeiro pensou em fazer uma banda diferente pra lançar essas músicas, depois pensou em criar um nome pra um projeto paralelo em português mas com os mesmos três.

Daí fomos trabalhando o repertório e decidimos que aquilo era Carbona, com toda a certeza, que era o que a gente queria pra banda e tinha muito orgulho disso. Já eram cinco discos em inglês, e numa época que acho que mais gente cantava em inglês. A nossa única certeza foi que não queríamos lançar um disco bilingue: as músicas em português precisavam preencher um disco. E acho que foi super importante, até por fazer o público entender melhor esse nosso universo. Era compreensivelmente mais confuso pra parte do público quando as letras eram todas em inglês.

Engraçado que isso aconteceu algumas vezes na minha vida. A minha primeira banda era em inglês e quando mudou pro português nunca mais quis voltar. Na mesma época do Taito, o Hill Valleys passou pela mesma coisa. Inclusive as duas bandas ganharam o Prêmio Dynamite naquele ano, com esses dois discos de transição.

No Inoxidáveis eu já comecei cantando em português, mas acho que só consegui começar a escrever letras em português porque passei esses anos todos vendo o Henrique achando todos esses caminhos dele para letras em português.”


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Carbona em show em Guarapuava (PR) – Foto: Acervo Henrique Badke

Vocês consideraram lançar o disco com um novo nome, o que seria uma tamanha insanidade ou algo meio Green Day com seu projeto paralelo, né? Quais foram os nomes cogitados?

Melvin: “Cara, o Taito é tão antigo, mas tão antigo, que talvez não tivesse nem fotolog na época. Ou o fotolog surgiu na mesma época (acho que o nosso chegou a se chamar “_quarenta_e_tres”, por causa da música). Então nossa grande forma de comunicação era uma newsletter por e-mail. Daí eu lembro da gente ter em três ocasiões anunciado esses projetos…tinha uma música chamada “Florine”, que acabou sendo gravada na primeira sessão do Taito (tivemos duas sessões – “Florine” finalmente foi disponibilizada numa coletânea de lados B da gente, “Rock n Roll High Skull”), então achou que chegou a ser Florine o nome do projeto, ou alguma coisa próxima disso, e em algum momento a gente pode ter prometido que ia usar um chapéu imitando um girassol na cabeça de cada um, ou Ribombetas, sem nenhuma explicação aparente, só um nome que
falei de mau humor no carro um dia.

O Sad do Ack/Evil Idols ia tocar com a gente se fosse uma banda nova, mas acho que não fizemos dois ensaios com ele. Foi mais o tempo de ganhar coragem pra assumir como Carbona mesmo.”

Vocês gravaram duas vezes o disco, acabou sendo um estresse ou no fim o balanço foi mais positivo? Para vocês o processo de gravação costuma ser rápido ou acaba trazendo uma certa tensão? Nesse disco em específico rolou até ensaio em dose dupla para curtir as músicas, conte mais sobre a situação e a época de lua de mel com a banda.

Melvin: “A gente gravou o disco inteiro duas vezes. Mas foi zero stress. Começamos gravando com o Stanley, no Superfuzz, que era um amigo próximo e que tinha gravado e produzido o “Go Carbona Go”, o “Back to Basics” e o “Mighty…”. Basicamente ele era nosso produtor. Mas a gente foi se enrolando de agendas, não conseguia finalizar, ele estava gravando o primeiro do Canastra na época também, e quando finalmente começaram a chegar as mixes a gente já não gostava de um monte de escolhas que tinha tomado na gravação.

Pra gente sempre foi tudo muito rápido e dessa vez estava se arrastando demais. Daí a gente ensaiava no BPM, um studio onde todo mundo ensaiava, e eles tinham inaugurado uma sala de gravação, e estava soando muito bem, e resolvemos gravar o disco de novo. Mas daí os arranjos já estavam todos prontos, a gente estava há mais de um ano tocando aquelas músicas, algumas até em show, então fluiu muito rápido. As sessões do Stanley viraram os singles virtuais, que era uma ideia em voga na época, e que serviu de termômetro pra testar essas músicas. E acabou servindo como uma pré-produção de luxo pro disco.

A gente era louco por esse repertório. Sempre teve um espaço nos ensaios, a última meia hora, pra tocar as músicas em português
(algumas delas são anteriores ao Carbona). Daí um dia uma chave virou e a gente viu que tinha um repertório em português e começou a cair dentro mesmo. E o ápice disso foi um Sábado que ensaiamos o disco pela manhã, fomos almoçar e estávamos tão empolgados que marcamos um ensaio pro final do dia, em outro studio (tudo estava lotado), só pra poder tocar e ouvir aquelas músicas de novo. Eu acho que toda essa paixão, toda essa empolgação com as músicas, acabou de alguma maneira refletida no disco.”


carbona_bpm_17 - Taito Não Engole Fichas
Melvin Ribeiro durante ensaio do Carbona no estúdio BPMFoto: Acervo Henrique Badke

Como acredita que a possibilidade de gravar tanta coisa em casa ajudou a melhorar isso para as bandas em geral?

Melvin: “Ah, essa não é uma resposta tão fácil. Agora chegamos num patamar que toda banda consegue soar incrível em casa, e isso é muito tranquilizador. Na época ninguém conseguia soar bem no estúdio, era um sofrimento, um baque na auto estima de todos os envolvidos, parecia que só uma major podia te dar isso. Agora todo mundo já tem meios de soar muito bem, mas às vezes gera esse abismo entre como soa no disco e depois no palco. Até porque o som dos shows pequenos não evoluiu da mesma maneira.

Mas gravar em casa é lindo, a gente hoje em dia vai montando o disco todo por e-mail e whatsapp, é uma comodidade absurda. A única gravação do que estava começando a virar o sexto disco em inglês do Carbona estava numa fita cassete e no meu carro na época e sumiu. Não aconteceria hoje.”

Olhando hoje em dia, o fato de “Menstruada”, dos Cascavelletes, não ter entrado no disco foi um alívio ou algo que lamenta?

Melvin: “Um alívio porque a nossa versão nunca ficou boa de verdade! (risos). A gente é fã do Cascavelletes, e fã de toda a discografia do Frank Jorge, o Henrique inclusive gravou com ele agora. A gente queria gravar pra mostrar essa conexão com o rock gaúcho, que reverenciamos, mas ela não conversa com o resto do repertório. É uma letra um tanto controversa, acho que até a galera do Sul já não toca tanto mais.”


Carbona no Hangar 110 - Taito Não Engole Fichas
Carbona no Hangar 110Foto: Acervo Henrique Badke

O clipe de “Fliperama” chegou a passar na MTV como diria para uma banda hoje em dia, como isso era importante e até mesmo emocionante para um artista ter esta validação?

Melvin: ‘”Emocionante” descreve bem. Passei anos assistindo MTV e um dia vi a minha cara lá. Maior honra que isso só quando jogamos o Rock & Gol! (depois mudou o nome para Rockgol).

Mas era uma validação incrível mesmo, e o clipe tinha essa baita qualidade, a gente nem sonhava se ver tão bem retratado. Estar ali era estar entrando em outra liga.

O clipe passou semanalmente por um tempo, e o que talvez fosse pouco pra artistas consagrados, mas que pra gente abriu muitas portas, fez muito mais gente conhecer nosso som, começaram a aparecer mais convites pra shows e com mais público neles. E passava no meio da programação mesmo, à tarde, então tinha o barato de ver quem passava junto com a gente. Uma vez acho que foi entre Lulu Santos e Queens of the Stone Age, acredita?”



Carbona Taito Não Engole Fichas


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