Monza reflete sobre a vida em animação para “Zero”
Imagine só ter preparado um clipe por quase um ano e no momento planejado para o lançamento: começar uma pandemia com consequências a nível mundial. Foi exatamente o cenário que aconteceu com a banda paulistana Monza que havia lançado seu segundo disco, Bonsai, em Premiere aqui mesmo no Hits Perdidos, em setembro de 2018.
O clipe foi desenvolvido ao longo de 2019, e a previsão inicial era de lançar no fatídico começo de 2020. Um ano e tanto depois de estar finalizado, eles decidiram que era hora de colocar o filho no mundo.
Neste sábado (22/05), o Monza lança o clipe para “Zero”. Uma canção que discorre sobre manter a individualidade (nos mais diversos contextos). Segundo os integrantes, muita coisa mudou desde então mas a faixa continua sendo uma das músicas favoritas deles dentro do disco.
Com o cenário de indefinição de quando o mundo voltaria a ser mundo, eles optaram há cerca de duas semanas, após reverem como o material envelheceu, que não fazia mais sentido esperar mais. E assim hoje apresentamos para vocês o clipe em primeira mão!
Monza “Zero”
“A ideia do vídeo no mercado já existia há um tempo, mas a produção virou uma novela. Queríamos gravar mesmo, correr atrás de tudo, naipe cinema. E apesar da ajuda de um monte de gente legal, era demais e a ideia foi pra gaveta. Até chegar na onda da animação.
A gente pira em animação e já gostava muito do trabalho da Pizzar, mas parecia algo muito difícil e distante até conversar com o Gabriel Rouvier. O cara sacou de primeira o que a gente queria, chegou com várias ideias boas e fez a parada. O processo todo foi muito legal. O clipe de “Zero” se passa em um mercadinho, onde o Monza perde seu valor nas prateleiras e luta pra conseguir escapar daquele lugar o quanto antes.”, conta o Monza
A animação cria uma atmosfera em seus enquadramentos onde apresenta seus elementos aos poucos para que a trama se desenrole junto do espectador. Criando em si o aspecto de tensão para o que está por vir.
A prateleira do supermercado com a banda se desvalorizando deixa claro como muitas vezes nos auto-sabotamos, ou abaixamos a cabeça, nos mais diversos projetos ou relacionamentos que construímos ao longo da vida. Fazendo com que reflitamos sobre nosso papel nesta encarnação, nossa identidade, individualidade e como deveríamos valorizar mais nossos esforços e batalhas pessoais.
O vídeo que foi concebido, dirigido e produzido por Gabriel Rouvier, tem direção de fotografia de Lucas Tarora e produção da Pizzar Studios.
Entrevista: Monza
Conversamos com os integrantes do Monza e o diretor do videoclipe para saber mais sobre os bastidores do clipe para “Zero”. Confira
Qual o significado da canção e como acreditam que ela envelheceu ao longo destes anos?
Porque optaram por fazer o clipe em animação?
A gente ficou um tempão com a ideia de um clipe no supermercado, mas tudo bem fantasioso e acabava virando mega produção. Foi bastante tempo batendo cabeça e a animação veio nessas, de conseguir tirar as ideias do papel. Fora gostar bastante de animação, do trabalho do Gabriel e da Pizzar, e de ele ter topado com entusiasmo entrar no projeto e ajudar a gente.”
Como foi o processo de criação do videoclipe, o que gostariam que ele transmitisse e como foi ver o resultado depois de pronto?
Gabriel Rouvier: “Eu tinha uma ideia gigantesca na minha cabeça, e fazer animação demanda muito tempo, principalmente para alguém como eu que estou começando agora. Quando fui convidado, na nossa primeira reunião os meninos do Monza me contaram que gostariam de ter filmado esse clipe dentro de um mercado à noite, aquela sensação esquisita de liberdade, com os produtos…Mas não foi possível fisicamente. Mas na animação não existe essa barreira, tudo é possível.
A partir dessa raiz da liberdade, o desafio supremo foi saber que a música tem um sentido pessoal pra banda, e como eu não era integrante deveria criar a partir do que eu sabia sobre eles, minhas impressões e também transmitir um pouco do que eu estava vivendo na minha própria vida, já que era uma união de ideias.
A música estava ali, já existia, mas precisava ser relançada, e a partir disso fui tendo a ideia de unir a sensação de liberdade com o relançamento da música “Zero”… mas o que esse “Zero” representava? Às vezes o mercado coincidentemente é injusto, não valoriza o artista, o incentivo é cada vez menor, uma música incrível como essa estava no fundo da estante do mercado, e eu queria trazer ela pra frente, queria transmitir a ideia do valor próprio, de seguir os nossos próprios ideais, sem que ninguém diga o quanto você vale, o quanto vale sua música, arte…
Não só depois de pronta, toda vez que assisto eu me orgulho, vejo o quanto foi difícil fazer, e o quanto ficou linda, e fico mostrando pra minha família pra curtir a música comigo, realmente agora a música tem um significado especial que marca um grande momento da minha vida que não retornará jamais.”
No vídeo a Monza perde o seu valor, o que queriam passar de mensagem com isso? Seria algo relacionado a valorização do trabalho das bandas independentes?
No vídeo em si, é mais um pretexto que funciona como um motivo pra banda lutar pra sair de uma situação trágica que é ficar na prateleira do mercado, meio empoeirado, sem preço e sair fora daquele lugar de alguma maneira.”
Como veem o disco hoje em dia? Lançar esse clipe motivou vocês com que começassem a produzir novos materiais? Quais os planos para o futuro da banda?
Monza: “Vejo com carinho, mas é louco, porque parece muito distante. Parece que lançamos em outra vida, sei lá, um absurdo tudo que aconteceu de lá até hoje. Mas a ideia é produzir, sim. Pra gente, tudo ainda é interrompido por conta da pandemia, mas quando as coisas melhorarem com certeza. O lance agora é manter a cabeça no lugar.
No futuro a gente quer lapidar e juntar as coisas, pedaços, rascunhos que ficaram meio soltos nesse tempo todo e começar a pensar em materiais novos, jornada nova e voltar a tocar, sim.”