Hoje o Hits Perdidos bate um papo descontraído e cheio de alto astral com Jairo Fajersztajn. Ele que atualmente é baixista da Sheila Cretina, do Gabriel Thomaz Trio e do Autoramas. Mas tem participações em diversos projetos musicais e muita história para contar. Inclusive falará sobre suas experiências mais recentes como a entrada no Autoramas, a primeira tour fora do país e a recente ida ao SXSW.
Na entrevista ele toca em temas como o veganismo, suas primeiras bandas, seu amor platônico por Ramones, quais foram os primeiros shows que assistiu, novas descobertas e o futuro de seus projetos musicais.
O Autoramas por exemplo lançou no último mês um SPLIT conjunto com o Mundo Alto porém este é um registro que ainda não teve sua participação oficial. O motivo é a recente entrada na banda no qual seu primeiro show oficial eu pude assistir de perto.
O evento aconteceu na Associação Cultural Cecília, e vi ele sendo elogiado por Gabriel Thomaz durante a apresentação. Porém podem ficar tranquilos, pois em breve o primeiro single de Jairo com eles será lançado.
Já a eletrizante Sheila Cretina, que faz shows de tirar o fôlego dos presentes, gravou a pouquíssimo tempo um novo álbum. Ou seja, 2017 está sendo um ano muito importante na carreira de Jairo. Porém ele alerta: nada nunca foi fácil.
Para mais detalhes confira a entrevista!
[Hits Perdidos] Antes de falar da viagem eu gostaria que contasse um pouco sobre a sua trajetória musical. Além disso quando foi que começou seu interesse por fazer música…teve algum disco ou show que simplesmente “bateu”?
Jairo: Boa tarde (estou escrevendo durante o horário e almoço, rs) tudo bem? Então, minha carreira musical começou muito cedo, desde que nasci curtia ficar batendo cabeça com os rock que meu irmão mais velho ouvia e me influenciava. Mas foi com 11 anos que comecei de fato a tocar um instrumento, que foi a guitarra (aquela guitarra que era do meu irmão mas velho, que já estava fazendo vestibular e desistido da música para virar um renomado advogado). Montei minha primeira banda GENERATOR com 3 dos meus melhores amigos de infância quando tínhamos 13 anos de idade.
Essa banda sobreviveu até os meus 19! (tendo show festivo saindo da cova no Hangar 110 há uns 3…4 anos). O Generator acabou encerrando suas atividades com as responsabilidades que foram surgindo na vida de cada um… Eu segui tentando com bandas. Em 2007…2008, não lembro, formamos a Sheila Cretina e segui nessa de fazer som.
Após inicio da Sheila comecei a receber convites para participar de outros projetos. Toquei baixo na finada Soulstripper, e na (re)finada Underboyz. Em 2015 surgiu convite para tocar no Gabriel Thomaz Trio, o qual aceitei com muita alegria. Já em 2016 surgiu tudo, toquei com uma garota chamada Leticia Souto muito talentosa que agora está com uma banda Letty & The Goos, toquei com Pepe Bueno, O Estranho, um som mais setentista psicodélico, passei pela banda do Thiago Pethit e depois da tour na Europa como substituto no fim do ano surgiu convite para entrar em definitivo no Autoramas.
Discos e shows que bateram foram muitos!
Primeiro show que vi na vida foi: Pin Ups, Autoramas e Mudhoney. Meu primeiro mosh!
Logo depois desse teve um Dead Kennedys na Broadway que foi massa demais.
Mas TUDO, TUDO mesmo, aconteceu por causa dos RAMONES e do Nirvana. Eles me mostraram que era possível, que dava pra se divertir, fazer você mesmo do seu jeito, sua atitude, postura etc e tal. Devo TUDO aos RAMONES e ao Nirvana quase.
[Hits Perdidos] Eu sei que você é fã de Ramones de carteirinha. Infelizmente vivemos em um mundo sem Joey mas caso estivessem todos vivos, quais sons gostaria de ouvir num eventual show? Jairo: Infelizmente vivemos num mundo sem Joey, Johnny, Tommy e Dee Dee =(
Quais sons gostaria de ouvir num show? porra, difícil essa.
Os Ramones faziam shows com 33….34 músicas, dá para colocar muita música no show. E principalmente na fase final (anos 90) os shows eram baseados nas mesmas músicas, então eu iria mais pro lado das músicas que não eram tãaaaao tocadas. “Loudmouth”, “Locket Love”, “Paliasses Park”, “Shes The One”, “Don’t Bust My Chops”, “We Want The Airwaves”…são tantas…dá pra ficar dias escrevendo nomes de musicas aqui…(risos).
[Hits Perdidos] Como foi sua entrada no Autoramas? O próprio Gabriel no show que aconteceu na Cecília disse que você tinha tirado as canções da noite pro dia e elogiou bastante. Foi tranquila a adaptação?Jairo: A entrada no Autoramas foi bem natural e tranquila. Acabou chegando a fome na vontade de comer, sabe? Eles estavam precisando, eu estava querendo.
Eu sou amigo dos Autoramas há algum tempo já, sempre estávamos juntos por aí nos roles. Em 2015 Gabriel Thomaz me chamou para tocar no Gabriel Thomaz Trio. Quando foram planejar a tour na Europa em 2016 o Melvin não poderia viajar, como já me conheciam e o Gabriel já tocava comigo decidiram me convidar para fazer um Sub, aceitei na hora! Fomos para Europa e foi demais!
Pouco depois de chegarmos veio o convite oficial para permanecer, e fiquei porque amo essa banda e são todos meus amigos queridos. Não poderia ter sido melhor a adaptação! (risos)
[Hits Perdidos] Poucos dias depois desse show você foi para a primeira tour fora do país ao lado da banda. Conte como foi essa experiência: Energia da galera, recepção e lugares que pode conhecer. Inclusive chegou a conhecer um estúdio incrível por lá e falar na rádio. Como foi toda essa experiência num geral? Jairo: Porra, essa experiência na Europa foi INCRÍVEL. Sério mesmo. nunca tinha feito uma Tour de mais de um feriado. E a primeira foi logo com os Autoramas na Europa. Muito legal estar em outro continente fazendo música. As pessoas respeitam, se interessam e até questionam certas coisas.
Eu nunca havia ido a Europa até então, então não sei dizer se tem um clima diferente por estar na estrada fazendo música ou como turista normal.
Nossa primeira parada foi nesse estúdio em Portugal, o Atlântico Blue Studios, é simplesmente fora do comum, enorme com todos equipamentos que você quiser, gravamos um programa para RTP TV e para Radio Antena 3 nesse estúdio.
O resultado você pode encontrar no youtube “Autoramas No Ar”. Os shows em Portugal foram demais, eles falam português e entendem tudo o que você fala (risos). Lá o público foi bem receptivo e caloroso.
Tocamos na FNAC de Coimbra, tinha idosos, crianças e jovens, meio tímidos mas todos balançando a cabeça tentando dar uma dançada discreta (risos).
Alemanha – e Austria – é SENSACIONAL, que país incrível, tanto em estrutura como em hospitalidade, me surpreendi MUITO com esse povo. Todas as casas organizadas, prontas pra te receber, cumprindo horários e combinados. O respeito lá me soa muito maior que aqui no Brasil, tanto das casas de shows quanto do público que assiste os shows. Lá tem qualidade de equipamento, casa e público.
Vendemos muitos discos, camisetas e dvds, além de fazer muitos amigos!
Com certeza uma das mais legais e enriquecedoras experiências da minha vida.
[Hits Perdidos] Em março vocês se apresentaram no SXSW. Como é chegar num festival desse porte com tanta banda interessante para ver, palestras e interatividade? Que bandas pode conferir que anotou o nome para ir atrás depois? E claro, como foi o show e a interação do público?
Jairo: Chegar nesse festival é bem complicado, pois não há muito incentivo para que você chegue até ele, depende só do artista e mais ninguém.
O Festival é gigante, tem muita gente do mundo inteiro circulando por Austin, não apenas artistas, mas produtores, empresários, lojistas, vendedores e interessados de toda parte.
Mas difícil mesmo é encontrar tempo e pernas para ver tudo o que você encontrou de bom para ver. Eu perdi muita coisa legal de show para conhecer e fazer contatos importantes. mas vi MUITA coisa boa também.
Maior destaque do festival para mim foi Otoboke Beaver, garotas do Japão que fazem um punk rock a fuder! Muita atitude, pouco ou quase nenhum pudor e muita presença de palco. FODA.
Teve o Repeat Repeat, banda que assisti sem querer enquanto Gabriel fazia o chip europeu do celular, banda FODA meio indie meio garagens meio pop, eles são de Nashville.
Assisti também a Cindy Wilson que não é novidade pra ninguém, Deusa B-52´s com seu primeiro disco solo, sensacional, com uma banda precisa e talentosas mais.
Ninet Tayeb também gostei de ver, uma cantora israelense. E não poderia deixar de citar os grandes Les Deuxluxes – duo do Canadá – FODA demais! Bem “garagens” bem energia, bem foda.
[Hits Perdidos] Nem tudo é um paraíso nessas turnês. Você comentou que viu algumas coisas no Texas que não gostou muito. Fale um pouco sobre isso? Viu algum episódio de racismo ou algum tipo de preconceito?
Jairo: Eu não lembro de comentar coisas que não gostei muito no Texas. Tirando o fato das opções veganas estarem escondidas nas ruas…(risos).
Eu não cheguei a presenciar racismo ou preconceito de ninguém.
Achei a cidade e o povo local bem receptivo e bem simpático aos estrangeiros músicos que vinham de fora. Muitos voluntários, jovens e idosos trabalhando, orientando e incentivando quem vem de outro país a fazer um grande show.
Só não gosto do fato de não poder receber cachê e ter número de apresentações limitadas.
Só teve um americano de uma banda antes da nossa que falou que tinha uma banda de “Buenos Aires”, faltou estudo mesmo na infância.
[Hits Perdidos] Além do show no SXSW vocês aproveitaram para tocar em outras cidades dos EUA e estenderam para o México. Local que soube que foi o que mais curtiu tocar. Como foi a “perna” mexicana da tour e o que mais gostou?
Jairo: A perna Mexicana da Tour foi DEMAIS! Começamos ela perdendo o voo dos EUA pro México, uma aventura, demoramos 3 horas a mais na estrada e demos de cara com o fechamento do check-in….(risos).
Sem maiores problemas porque não tinha show no dia seguinte. Tivemos mais dias livres e além de fazer muita promoção (entrevistas em rádio e tv) conseguimos dar uma turistada.
Fomos a lucha libre na Arena México, foi demais. Conseguimos ir nas pirâmides de Teotihuacan, lugar mais incrível que já conheci.
Lá o público é muito interessado e já conhece um pouco do Autoramas por ter tocado no Vive Latino. Shows com energia e público empolgado. Quero muito voltar por Mexico! Tinham muitos restaurantes veganos também, adorei essa parte (risos).
[Hits Perdidos] Quais dicas daria para bandas que tem o desejo de tocar na gringa? Soube que por exemplo vocês utilizaram de serviços como o Airbnb entre outros.
Jairo: Dicas? Pô, não sou ninguém para dar dicas a ninguém (risos).
Difícil falar algo porque cada banda tem um esquema. Mas se for para dar algum pitaco nesse sentido, diria que tem que colocar a cara no mundo. A música é uma linguagem universal não importa a língua.
[Hits Perdidos] Pergunta um pouco mais polêmica. Na sua opinião o que falta para os shows de bandas independentes ficarem mais cheios?
Jairo:Eu acho que falta trabalho em algumas bandas, vejo muita gente achando que cai do céu, que não divulga, não faz o corre.
Mas principalmente precisamos de um público que ache a música interessante. Acho que com a internet ficou muito fácil consumir música. Virou um material quase descartável, não tem mais tanta atenção como tinha antes.
Mas na real se eu soubesse o que falta, os shows estariam todos cheios de novo (risos).
[Hits Perdidos] Quando teremos novidades da Sheila Cretina? Tem composições novas a caminho? Como é lidar com dia-a-dia de ter duas bandas?
Jairo: Sheila Cretina traz novidades muito em breve, temos um disco saindo do forno. Foi gravado com Billy Comodoro no Estúdio Aurora em pinheiros SP.
Gravamos uma série de músicas e vamos por pra rodar esse material muito em breve. [Hits Perdidos] Com o Autoramas você ainda não tem nenhuma gravação de estúdio, planejam algo em breve?
Jairo: Já fiz a gravação de um single que deve sair em breve também. Junto com isso tem algumas apresentações no Showlivre que estão disponíveis no Spotify.
Mas o Autoramas está preparando um disco de inéditas novo, estamos entrando em estúdio para isso muito em breve.
Playlist do Jairo Fajer no Spotify Oficial do Hits Perdidos
Para fechar pedi para o Jairo preparar uma playlist no Spotify do Hits Perdidos com sons que o influenciaram e descobertas. O resultado é um tanto quanto interessante e ele disse que ainda faltou muita coisa boa. Na lista temos de Emicaeli a Dr. Feelgood, de Titãs a Lenine, de Sonic Youth a Motorhead….e claro que não ia faltar RAMONES!
PS: Reffer por exemplo não tem no Spotify a escolha de Jairo seria “Adrift“. O mesmo ocorre com Thee Butchers Orchestra (“Overtune”) Lee Ranaldo And The Dust (“Off The Wall e “Xtina like i new her“), Ike & Tina Turner (“Tigh Paints”) e Human Trash (“Trashville“) tiveram seus sons alterados também por conta da falta do som na plataforma.