A Place to Bury Strangers no Brasil: Oliver Ackermann detalha processo criativo e novos desafios da banda

A Place to Bury Strangers retorna a São Paulo após shows históricos no CCSP. – Foto Por: Saul Torres
Com curadoria do jornalista Fábio Massari, a edição do Massari Fest 2025 está programada para o dia 14 de setembro, no Fabrique Club, em São Paulo, e celebra os 61 anos do Reverendo. A banda principal desta edição é a banda norte-americana A Place to Bury Strangers.
Já apelidada de ‘a banda mais barulhenta de Nova Iorque’, A Place to Bury Strangers, desde 2002 na ativa e cultuada por todo o globo, é uma mistura intensa de noise rock, shoegaze, post‑punk e space rock.
As nacionais Violeta de Outono, Bufo Borealis e Retrato & Oruã completam o line-up. A realização é da Maraty e o evento também terá uma feira de editoras independentes.
“É uma das minhas bandas prediletas do século XXI, simples assim. Cheguei a tocar bastante os primeiros trabalhos no meu programa de rádio ETC., da Oi FM. É incrível ver que com 20 anos de estrada, parecem estar no melhor das formas – Synthesizer, o disco do ano passado, é um dos melhores da discografia; e as apresentações ao vivo estão cada vez mais espetaculares”, destaca Massari sobre a atração principal do festival deste ano.
A respeito da vinda dos norte-americanos para São Paulo, o ex-VJ da MTV comenta sobre suas expectativas.
“É garagem, é psicodélico, é pós-punk e é shoegaze. Em sintonia com os headliners do Massari Fest do ano passado (Acid Mothers Temple), costumam trabalhar no modo “destruição total” dos sentidos. E pra mim será de fato um presente, já que sempre bati na trave e nunca consegui vê-los ao vivo”, ele acrescenta sobre a banda nova-iorquina, aguardada há anos no Brasil.

Entrevista: Oliver Ackermann (A Place To Bury Strangers)
A última passagem do A Place to Bury Strangers pelo Brasil foi em 2019. O que você espera desse próximo show?
Oliver Ackermann: “Estou curioso para ver como o Brasil está e como ele mudou em relação à minha memória. Muito animado para ir novamente, John e Sandra (Fedowitz — respectivamente baixista e baterista da formação atual do APTBS) estão indo pela primeira vez, essa formação da banda tem sido incrível. Estou muito ansioso para levar esse novo show para o Brasil, para rever alguns amigos antigos e ver o que há de bom por aí.”
Da última vez vocês fizeram duas sessões esgotadas em São Paulo, na Sala Adoniran Barbosa do Centro Cultural São Paulo, onde a banda fica posicionada no meio do público. O que você lembra daqueles shows?
Oliver Ackermann: “Foi selvagem, acho que nunca tínhamos feito um show nesse formato antes. É também um lugar histórico de São Paulo. Os ingressos esgotaram e tinham pessoas tentando assistir ao show de fora, pelos vidros. Na primeira sessão nós tocamos um dos nossos discos antigos, Worship, na íntegra. A outra sessão foi o setlist normal daquela turnê. Foi uma experiência incrível.”
A quantidade de guitarras que você quebrou naquele palco me surpreendeu. Eu não esperava aquilo.
Oliver Ackermann: “Pois é, um show selvagem!” (Risos)
A Place to Bury Strangers é conhecida como uma das bandas mais barulhentas da cena de Nova York. Isso faz sentido dado que você tem a sua própria marca de pedais, a Death by Audio Effects. O que você procura quando monta o pedal board para uma turnê?
Oliver Ackermann: “Nós sempre estamos experimentando coisas novas, mas de fato é um luxo o fato de vários de nós trabalharmos com efeitos, tentando criar sons diferentes. Gosto muito de tentar novas ideias e inventar coisas especificamente para A Place to Bury Strangers.
Nós sempre estamos mudando os nossos equipamentos. Eu sempre quero que cada um dos pedais que levo no meu board signifique algo. Em geral, é tudo bem extremo, quando você liga, cria um som fantástico, para fazer o máximo dos nossos shows. Eu quero entregar sempre performances dinâmicas, para que sejam sempre interessantes do começo ao fim.”
O último disco da banda saiu ano passado e chama-se Synthesizer. Ele é muito calcado nos sintetizadores, algo que a banda sempre fez. Lembro que nesse show de 2019 você fez um interlúdio instrumental no sintetizador que foi uma das coisas mais barulhentas que ouvi na minha vida. Qual foi o processo desse disco e por que a ênfase ainda maior nos sintetizadores?
Oliver Ackermann: “Nós vínhamos construindo vários sintetizadores nos últimos tempos que levávamos conosco para as apresentações. Vários multi osciladores analógicos com tipos diferentes de efeitos e de manipulações. Já tínhamos essa ideia de fazer da capa de um disco uma placa de circuito, mas somente pela beleza de uma placa dessas, não havia pretensões maiores.
Com o tempo fomos melhorando cada vez mais na construção desses sintetizadores, que estavam cada vez mais aprimorados para esses sons experimentais que gostamos tanto. Daí achamos que essa era, na verdade, a hora perfeita para quebrar esses limites e fazer esse disco que você consegue de fato transformar em um sintetizador real.
Nós construímos um protótipo e decidimos usá-lo em todas as faixas do disco. Eu acho que essa foi uma maneira interessante de fechar esse pacote de maneira completa. Foi usado como uma restrição no processo criativo, mas eu acredito que quando você cria esses pequenos obstáculos, você também encontra maneiras criativas de superá-los.”
Esse é um disco muito interessante. Como você disse, tem várias linhas pesadas e assombrosas de sintetizadores, como em “Fear of Transformation”. Mas, ao mesmo tempo, vocês lançam uma das faixas mais acessíveis e pop da carreira da banda com “You Got Me”, para mim uma das melhores músicas desse passado recente. Como foi a composição de um disco tão diverso?
Oliver Ackermann: “É sempre um pouco do mesmo, nós estamos buscando algo das nossas vidas, dentro dessas coisas que estamos trabalhando com nossos amigos, para compor essas músicas que capturam algum aspecto de emoções extremas. Seja paixão, prazer, dor, amizade, arrependimento, o que quer que seja.
É quase como se você estivesse escrevendo uma biografia da sua vida, de certa forma. Ou como se você estivesse envolvido em uma versão estranha e fantasiosa da sua vida. São esses lugares onde você se encontra reduzido a emoções cruas e para mim essas músicas encapsulam essas ideias. É algo universal na vida de muitas pessoas, mas não sabemos exatamente como tocar e interagir com essas coisas. Eu gosto dessas músicas que me tocam nesses lugares.”
Eu vi um vídeo que você colocou no Spotify falando que em “You Got Me” tem um som de avião e isso está relacionado com o tema da música e isso me fez prestar ainda mais atenção no design de som do disco, nesses sons mais ambientes que vocês colocaram lá em vários momentos. Como essas ideias aparecem?
Oliver Ackermann: “Eu acho que essas coisas são muito importantes. Tem uma banda canadense chamada Mean Red Spiders e tem um momento em uma música deles em que tudo está calmo e você consegue ouvir uma conversa entre os membros da banda, como se fosse em uma sala ao lado.
Toda hora que eu ouvia isso no apartamento que eu morava antigamente, eu tomava um susto achando que era realmente a voz dos meus vizinhos conversando ao lado. Eu gosto muito dessa ideia de criar sons que você pode associar a coisas reais. Essa ideia de que o som pode ser familiar para uma pessoa, que vai transportá-la para algum outro lugar. É uma assinatura sonora que funciona quase como uma máquina de teletransporte.”
Partindo do nome da banda, A Place to Bury Strangers, vocês também têm músicas com títulos bem evocativos, como “I Lived My Life to Stand in the Shadow of Your Heart” ou “To Fix the Gash in Your Head”. Qual a importância desses títulos para você?
Oliver Ackermann: “Às vezes você precisa descrever coisas de uma forma bem particular para criar imagens na cabeça do público. Os títulos das músicas e até o nome da banda criam essas imagens. Existem vários exemplos aí que eu talvez não concordasse muito com o nome de uma banda, ou que achasse que era exagerado, mas é nesse ponto que você, como público, tem que ser a outra peça do quebra-cabeça.
Olhando para um nome como A Place to Bury Strangers, você pode achar inicialmente que é uma banda de heavy metal inspirada em piratas, ou algo do tipo. Então quando você une essa percepção com o som de fato da banda, é aí que a sua imaginação começa a funcionar e você começa a ligar os pontos internamente. Quase como aquelas pinturas que você vê uma floresta como o elemento principal, mas o título é “Garota #07”. Dessa forma você tem a sua interpretação e começa a entender a visão do artista, isso, para mim, é uma das partes mais divertidas da arte.”
A banda teve várias mudanças na formação ao longo do tempo e é interessante ver como as músicas mudam a cada nova formação. E com sete álbuns lançados, vocês têm uma quantidade imensa de músicas para escolher quando montam um pacote para ensaiar com os membros atuais. Como essas músicas têm evoluído ao longo dos anos para você?
Oliver Ackermann: “Nós sempre tentamos fazer as coisas funcionarem em progressão, sempre tentando evoluir. Tendo novas pessoas na banda, você sempre tem essas ideias novas aparecendo, adaptando o passado para a percepção deles. Os membros atuais da banda já eram grandes fãs de A Place to Bury Strangers, e mais ainda, eram amigos bem próximos, que conseguiram participar de uma forma ou de outra de várias formações anteriores.
Eu também não tenho interesse em pessoas que só queiram reciclar ideias antigas com poucas mudanças. Todos têm que estar animados para seguir em frente com novos desafios criativos. É muito interessante pegar a ideia que outras pessoas têm a respeito do que a banda é, que com certeza é diferente da minha, e então empurrar essas fronteiras adiante para criar algo novo. Então tem sido muito divertido e me empurra em direções diferentes.”
Você tem alguma mensagem para o público brasileiro?
Oliver Ackermann: “Nós estamos muito empolgados de poder voltar para o país de vocês. É uma situação que passamos o ano inteiro esperando esses shows em específico. Estamos muito honrados e animados de vê-los em breve e podem ter certeza que faremos um show pesado como vocês merecem.”
Massari Fest 2025 com A Place to Bury Strangers
Data: 14 de setembro de 2025
Horário: 18h (abertura da casa)
Local: Fabrique Club (Rua Barra Funda, 1071 – Barra Funda, São Paulo/SP).
Ingressos online aqui: https://fastix.com.br/events/massarifest-2025-com-a-place-to-bury-strangers
Valores: R$110,00 (Meia Entrada, 1º lote); R$ 130,00 (Meia Solidária, 1º lote); R$ 220,00 (Inteira, 1º lote)