Jadsa mergulha em novos territórios sonoros no potente “Big Buraco”
Jadsa lança seu segundo álbum de estúdio “Big Buraco”. – Foto Por: Liz Dórea
Natural de Salvador (BA), Jadsa lança nesta quinta (29) seu segundo álbum de estúdio, Big Buraco. Após disponibilizar Olho de Vidro (2021, Natura Musical/Balaclava Records), a artista se envolveu em outros projetos. Entre eles o EP Zelena (2023), em parceria com YMA, e os trabalhos ao lado de João Milet Meirelles sob a alcunha de TAXIDERMIA – o EP OUTRO VOLUME (2021) e o álbum Vera Cruz Island (2024).
Seu talento como produtora e compositora também aparece em colaborações com outros artistas. Jadsa participa da composição da faixa “Um Choro”, do EPDEB, lançado em 2022 por Juçara Marçal; e a produção musical de “Empírica”, quarta faixa de Sal, disco de Anelis Assumpção.
O resultado da obra tem elementos que mostram como essa maturação ao compor tem levado a baiana para novos horizontes, longe de rótulos ou de caixinhas mercadologicamente pré-estabelecidas pelo mercado brasileiro. Este que muitas vezes é careta. Em muitos casos, artistas acabam jogando no seguro ou miram em virais para tentar ter algum tipo de retorno dentro desse “sistema” – o que geralmente causa frustração justamente por não os levar ao (tão relativo) sucesso.
No release escrito pelo jornalista conterrâneo Pedro Antunes de Paula, podemos compreender um pouco mais sobre os processos artísticos e questionamentos que Jadsa imprime no disco. Desde o sentimento em não poder errar, a também como a experiência com outros músicos contribuiu para que ela pudesse estabelecer novos métodos de produção.
O processo de gravação de Big Buraco
Big Buraco traz consigo um processo acelerado, mas que aproveita o frescor e imersão de quem trabalhou ao seu lado. O processo ao todo durou sete dias, no Estúdio Wolf, na capital carioca, por lá ela ao lado do produtor Antonio Neves apresentou as canções para um time de músicos nas vésperas, e quase de improviso apertou o REC.
Esse processo orgânico, como ela mesmo reflete, foi uma escolha. Assim como se aproximar ainda mais do popular, desde intérpretes da MPB, como Elis Regina, a ícones atemporais da composição, como Itamar Assumpção e Dorival Caymmi, ao pop dos anos 90 e 2000. Este desapego do abstrato, experimental e alternativo, por sua vez, é um desafio à parte. Quem acompanha música sabe muito bem como produzir hits ou ao menos canções que entrem no imaginário popular é um desafio a parte que deveria ser mais valorizado.
Tanto é que o novo disco da Jadsa faz um passeio pela MPB, neo-soul, samba, reggae, hip-hop e até blues em seu escopo. O que ressalta como ela está antenada à forma de consumo da música na atualidade e como a conexão hoje em dia se dá por outros laços além das antigas prateleiras das lojas de discos.

Jadsa Big Buraco
Cair num buraco sem saber o que vai encontrar pela frente. Definitivamente algo de que não se sai ilesa. É essa forma que após algumas audições do disco você vai digerindo toda digressão e camadas que Jadsa rege a sua pequena orquestra. Dos sons da boca aos sopros, seu som se amplifica nesse disco indo do popular ao sofisticado sem fronteiras ou medo de errar.
“Eu tenho várias vozes dentro de mim. Como vou falar de Itamar Assumpção sem prestar atenção nas sílabas? No big buraco, se estou falando de vida, de amor, eu precisava cantar. Senti a necessidade de ser inteira na canção”, comenta a artista que completa 10 anos de carreira
Ironia, amores, brincadeiras com a musicalidade e as sílabas enriquecem a narrativa de um disco que expande a interpretação para que o ouvinte navegue por suas entranhas. Sua trajetória íngreme por natureza, ganha 12 capítulos divididos em faixas que aproximam ainda mais suas vivências e intimidade com quem se dispõe a ouvir – em um mundo onde todo mundo quer falar e poucos se permitem a atenção da escuta.
Talvez o big do disco seja justamente como a cada audição ele vai crescendo. De poder reparar em todas as texturas e arranjos que os músicos caprichosamente escolheram. “big bang”, por exemplo, tem um nível de polimento, desenrolar e aconchego poético que salta os olhos. “tremedêra” com muita esperteza usa a sonoridade das palavras, assim como Djavan, para criar imagens no inconsciente de quem dá o play em um (quase) reggae com arranjos tão sofisticados quanto o de um jazz.
“sol na pele” ecoa amor do começo ao fim de forma carinhosa, repleta de desejo e lembrando as subidas e descidas de Salvador, como se fossem as curvas de um corpo. Entre batidas do Olodum, a poesia de Caetano Veloso como trilha e o balançar desenfreado de uma paixão.
“mel na boca”, por sua vez, cria imagens no horizonte mesmo sendo curta, com direito a percussão marcante e o convite para se aventurar. Serve como uma espécie de introdução para entrar de cabeça no “big luv” que vai do groove passando pelo jazz, soul, experimental, MPB e o pop. Esta dialoga com “tremedêra” e mescla versos em inglês e português.
O lado B de Brasil
“no pain” é das mais dramáticas do álbum, onde o amor antes idealizado dá lugar a desilusão. A mistura rítmica também é marca da faixa que faz uma conexão, e diminui ainda mais, as fronteiras entre a música latina. Seu trompete lembra até mesmo o choro de um mariachi desiludido.
Lembra que falamos que os projetos que Jadsa se envolveu acabaram contribuindo para que sua habilidade enquanto compositora ganhasse ainda mais horizontes? É exatamente esse caminho que “1000 sensations” nos leva através das ambiências e de sua composição provocadora. Talvez uma das coisas mais interessantes do disco seja justamente como ele te convida a dialogar, refletir, chorar e dançar.
“big mama” usa a cacofonia como recurso mais uma vez e tem seu norte em um groove espacial quase tridimensional. Sob as ondas ancestrais do reggae, “your sunshine” segura as pontas para realinhar a órbita. A conexão com as raízes, e identidade, transparece na faixa através das batidas tribais e sua oratória que ressoa como um grande mantra.
O samba dá às caras já no apagar das luzes do álbum em “samba pra Juçara”. O que mostra a versatilidade de brasis que compõe as referências da artista baiana. Samba, bossa nova, jazz, groove e o vocal como um instrumento à parte servem como combustível para o remelexo.
Quem fecha os trabalhos, é “big buraco”, faixa que exalta a brasilidade e o navegar para dentro. O que sintetiza, de certa forma, com maestria a experimentação proposta pelo segundo disco de estúdio da soteropolitana.
Ficha Técnica
produção Musical: Jadsa @jadsaaa e Antonio Neves (@antoniodemoraesneves)
co-produção Musical (mel na boca, tremedêra, no pain, your sunshine): João Meirelles (@joaommeirelles)
produção executiva e empresariamento: Maíra Morena (@mairammorena)
engenheiro de gravação: Ângelo Wolf @wolfrj (Funai Costa (@funai_costa) gravou as vozes de Samuel de Saboia)
assistente de gravação: Arthur Martau (@arthurmartau)
edição e pós-produção: João Meirelles (@joaommeirelles)
mixagem: Rodrigo “Funai” Costa (@funai_costa)
masterização: Felipe Tichauer (@redtraxxmastering)
selo: RISCO (@selorisco)
distribuição: Altafonte (@altafontebrasil)
assessoria de imprensa: Francine Ramos (@franfranramos)
cobertura foto/vídeo das gravações: Clarice Lissovsky (@claricelissovsky) e Ayumi Ranzini (@ayumikranzini)