RAIO: novo álbum do Tagua Tagua transita entre idiomas, estilos e sensações
Tagua Tagua lança seu terceiro álbum, RAIO. – Foto Por: Thiago Dias
Nos últimos anos, Felipe Puperi, também conhecido pelo projeto Wannabe Jalva, tem se dedicado integralmente ao Tagua Tagua. Em 2024, durante o lançamento do EP acústico Todo Tempo, tivemos a oportunidade de conversar com o músico gaúcho (leia a entrevista aqui). Agora, no dia 16 de maio, ele apresenta RAIO, seu terceiro álbum de estúdio, lançado pelo selo norte-americano Wonderwheel Recordings. O disco conta com nove faixas e 26 minutos de duração, sucedendo os álbuns Inteiro Metade (2020) e Tanto (2023).
Gravado, escrito e produzido em seu apartamento no centro de São Paulo, RAIO mantém as influências sonoras que marcam o trabalho de Tagua Tagua: neo-soul, psicodelia e tropicália. Entre as referências citadas por Felipe estão nomes como Tim Maia, Cassiano, Bill Withers, Daft Punk e a banda indie francesa L’Impératrice, que se apresenta em breve no Brasil.
Uma das novidades do novo trabalho é a fluidez entre músicas em português e inglês. O destaque fica para a colaboração internacional com a banda americana White Denim na faixa “Lado a Lado”.
“´Lado a Lado´ é uma ode às melhores sensações da vida, um respiro no meio do caos, o prazer em sentir, como um vento ameno escorregando no rosto. Amo a música do White Denim. Conheci a banda há muito tempo, por volta de 2011.
Recentemente, comecei a segui-los no IG e eles me seguiram de volta, foi então que eu disse a James que gostava muito de suas músicas. Pra minha surpresa ele respondeu dizendo que gostava bastante das minhas também. Daí em diante começamos a conversar e mostrei uma ideia inédita pra ver o que ele achava. James curtiu e quis colaborar, gravando um monte de coisas que eu adorei. Fizemos tudo remotamente, eu em São Paulo e ele em Los Angeles.”, relembrou Felipe durante o lançamento do single que chegou acompanhado de um videoclipe

RAIO: Um disco entre luz e sombra
As transições do álbum acompanham o ciclo de um dia, do amanhecer ao anoitecer. A estética quente e solar é evidente tanto na capa multicolorida quanto na sonoridade groovada, características marcantes do universo de Tagua Tagua. O músico mantém sua identidade ao criar pontes sutis com seus trabalhos anteriores, refletindo sobre sensações, relações humanas e a busca por sentido.
A faixa “Dia de Sol” funciona como um portal de entrada para essa nova fase, conectando-se diretamente com Tanto. Já “Let It Go” mistura português e inglês em uma atmosfera dançante de disco music, com teclados pulsantes e arranjos modernos que fluem como o nascer de uma onda.
A faixa-título, “RAIO”, revela o lado mais espontâneo e errante do projeto. É um convite ao desconhecido, um chamado para buscar respostas sem medo de errar — entre o doce da descoberta e o amargo das falhas.
“Lado a Lado”, com White Denim, se destaca pela sofisticação pop, swing e camadas rítmicas cheias de texturas. A participação James com o adendo da flauta adiciona um toque tropical irresistível, contribuindo para a identidade do Tagua Tagua.
Reflexões, grooves e vulnerabilidade
A crítica à artificialidade das relações modernas aparece em “Artificial”, carregada de ironia e sintetizadores. A faixa mostra que nem todo groove precisa ser “good vibes” para ser impactante, usando autotune como ferramenta expressiva dentro de uma pegada disco retrô.
“Química” trata com leveza e bom humor das incompatibilidades afetivas. A música soa como uma confissão embalada por ritmos envolventes e letras com tom agridoce.
“Come a Little Closer” retoma elementos do álbum de estreia Inteiro Metade, com um clima nostálgico que dialoga com o passado. Aqui, o funk, os baixos marcados e os efeitos sonoros assumem o protagonismo.
Em “Talvez”, a melancolia se transforma em doçura. A faixa tem arranjos pouco óbvios, imersivos e percussões marcantes, com um riff cativante que gruda na mente.
Encerrando o álbum, “Rito de Passagem” é, segundo Felipe, uma conexão emocional com os discos anteriores. Trata-se de uma faixa delicada, quase espiritual, que encoraja o ouvinte a continuar mesmo diante das incertezas da vida. É o encerramento perfeito para um álbum que transita entre o íntimo e o universal, entre o claro e o escuro, com a esperança como ponto final.
Faixa a faixa por Felipe Puperi
DIA DE SOL
“Essa música é praticamente uma faixa de introdução, faz a transição entre o meu álbum anterior, Tanto, e o novo, ‘RAIO’. Na letra, já anuncia que o que está por vir é algo ensolarado, cheio de cores e luz.”
LET IT GO
“Segundo single do álbum e a música mais animada desse novo trabalho, ‘Let it Go’ traz influências da disco music dos anos 70, mas com uma roupagem atual que conversa com os trabalhos anteriores. Fala sobre deixar pra trás as coisas que não funcionam mais, olhar pra frente, abrir espaço pro novo.”
RAIO
“Essa música, assim como grande parte do álbum, brinca com e português e inglês, misturando as duas línguas. Tem um suingue e balanço que me interessa bastante, trazendo um frescor e uma sensação de calor e verão. Na letra, fala sobre chegar perto, sem medo de experimentar e tentar.”
LADO A LADO
“O primeiro single do ‘Raio’ foi uma parceria minha com a banda americana White Denim. É uma música um pouco mais urgente que as demais, com uma levada contagiante da bateria que funciona como um trilho. Gravei algumas ideias e fiz a melodia e letra, então James continuou com guitarras, flauta, vozes e percussões. Fala sobre as melhores sensações da vida.”
ARTIFICIAL
“Essa canção também vem numa pegada mais disco music. Embalada e divertida, ela é repleta de sintetizadores e tem linhas de baixo com bastante groove. A letra fala de forma irônica sobre o quão artificial as coisas e pessoas podem ser hoje em dia.”
QUÍMICA
“Extremamente dançante, essa música segue o clima do álbum e joga a energia lá em cima, brincando com a história de um relacionamento impossível, que apesar de ter química, é inviável.”
COME A LITTLE CLOSER
“Essa canção traz uma ideia diferente em termos de ritmo, principalmente da bateria. É animada também, porém com outro tipo de intensidade. As guitarras e baixo são de funk e a letra um pouco mais nostálgica.”
TALVEZ
“Aqui o álbum passa a ser mais lado b mesmo, com uma música um pouco mais nostálgica e melancólica. Apesar disso, é embalada e também tem uma mensagem positiva, sobre um final de ciclo, de relacionamento.”
RITO DE PASSAGEM
“A música que fecha o álbum é também talvez a que mais se aproxima de outras coisas que eu já tenha feito. Com letra introspectiva e profunda, ela fala sobre o mistério que é sentir, evoluir nesses sentimentos e se transformar na caminhada da vida.”