Curso sobre Bob Dylan chega ao MIS de São Paulo — veja como se inscrever
Curso “Um completo desconhecido: Bob Dylan, o folk e o rock dos anos 1960” chega ao MIS em maio. – Foto Por: Brett Jordan / Unsplash
O Museu da Imagem e do Som (MIS) de São Paulo recebe, nos dias 20, 22, 27 e 29 de maio (terças e quintas, das 19h às 21h), o curso “Um completo desconhecido: Bob Dylan, o folk e o rock dos anos 1960”.
Idealizado e ministrado pelo jornalista e músico Pedro Couto — criador do blog e podcast Dylanesco — o curso tem como objetivo explorar a vida, a obra e o impacto de Bob Dylan nos anos 1960. As aulas analisarão suas músicas, letras e o contexto sociopolítico da época, com destaque para a transição do folk ao rock.
🎧 Você pode ouvir todos os episódios do podcast Dylanesco no Spotify
O ponto de partida do curso é o recém-lançado filme “Um completo desconhecido”, dirigido por James Mangold e indicado a oito categorias no Oscar 2025. Pedro Couto analisará o enredo do longa e traçará paralelos com personagens e fatos reais da trajetória de Dylan.
“A ideia é trazer muito mais contexto para que quem viu o filme possa entender melhor a construção e evolução do Bob Dylan como artista e como ele mudou e moldou muita coisa do folk e do rock. Vou falar do início da carreira, antes mesmo da chegada dele à Nova York, falar das figuras importantes para o folk e para o folk revival e das principais influências do Bob Dylan ao longo desses primeiros anos.
O curso é ótimo mesmo para quem não assistiu ao filme e quer conhecer mais sobre Bob Dylan.”, comenta o idealizador, Pedro Couto, em entrevista exclusiva para o Hits Perdidos
📚 Como serão divididas as aulas?
- Aula 1 | Introdução a Bob Dylan e o folk revival dos anos 1960
- Aula 2 | A contribuição de Bob Dylan ao folk
- Aula 3 | Traidor do movimento? Do folk ao rock.
- Aula 4 | “A Complete Unknown”, “I’m not Rhere” e o legado de Bob Dylan.
🎟️ Como se inscrever?
As aulas serão presenciais no MIS, e o valor do investimento é de R$ 180. As inscrições estão abertas no site oficial.
🎤 Entrevista exclusiva
Com exclusividade para o Hits Perdidos, Pedro Couto comentou mais detalhes sobre o curso “Um completo desconhecido: Bob Dylan, o folk e o rock dos anos 1960”.
Antes de mais nada, conte para nós quando e como começou seu interesse pela vida e obra do Bob Dylan?
Pedro Couto: “Desde adolescente eu gostava de ler sobre os artistas que ouvia e tentava ir atrás das referências deles. Isso criou uma espécie de corrente contínua curiosa, unindo Titãs, Ramones, Beatles, Clash, Cash, Sepultura, Ratos de Porão e por aí vai. E em diversos momentos o nome do Dylan pipocava aqui e ali. Ouvi e achei interessante e quanto mais eu ia atrás, um universo se abria. Ele possui fases distintas e um olhar para arte que me prendeu.”
São, inclusive, 15 anos de Dylanesco, como você enxerga o desenvolvimento, e transformações, do projeto ao longo do tempo e o que deu abertura para o amadurecimento da ideia do curso?
Pedro Couto: “O Dylanesco surgiu lá em 2010 como um blog com o intuito de organizar meus próprios devaneios conforme ia me aprofundando nas diversas fases e faces da arte dele – que fez e ainda faz muita coisa. Acho que o site Dylanesco sempre teve um viés mais para quem já é fã.
Então em 2024 eu resolvi ampliar para o Podcast Dylanesco e mudei a abordagem: episódios curtos e didáticos para que qualquer pessoa, não só os convertidos, entenda ou “decodifique” esse artista tão curioso. Por isso são episódios curtos sobre temas específicos.
Já a ideia do curso foi de alguma forma complementar o filme “Um Completo Desconhecido”, trazendo mais informações, contexto e análise. O foco é uma imersão nesses primeiros anos e mostrar como Bob Dylan surgiu, se formou como artista e trouxe inovações e revoluções tanto para o folk quanto o rock dos anos 60.”
Dylan muitas vezes é comparado com um malvado favorito, desde o temperamento a ser exaltado como um dos mais influentes músicos da história, tendo ganho até o Nobel, e não ido buscar. Como vê que isso ajuda ou atrapalha das pessoas conhecerem e/ou simpatizarem com ele? E qual acredita que seja o legado das suas composições?
Pedro Couto: “hahahaha! Malvado Favorito é sacanagem, né? Mas faz sentido, admito!
Muita gente torça o nariz achando que essas atitudes vêm de um lugar de arrogância ou desdém. Eu discordo. Na minha interpretação, esses episódios são de alguém tímido fora dos palcos, que não sabe lidar tanto com essa bajulação. No fundo, talvez ele se identifique apenas como um artesão e não como um ícone lendário.
Em relação às composições, acho que existem diversos legados. Bob Dylan trouxe uma linguagem poética para o folk, agregando vertentes diversas: literatura beat, simbolismo francês, as obras de Brecht… e tudo isso apenas nos primeiros discos. E sua arte foi expandindo cada vez mais. Até hoje. Principalmente no palco.
O grande legado, a meu ver, é a ideia de um artista vivo. Um artista que está sempre em movimento, sempre buscando novos desafios e novos ângulos a se olhar – até mesmo para sua própria trajetória.”
A respeito do filme, ele é baseado no livro, e fala de um período de apogeu da mudança sonora e de vida do Dylan, mas com aquele tom Disney de contar histórias cheio de fantasia e romantização. Como historiador, quais foram as suas impressões?
Pedro Couto: “Belo resumo! O livro em que o filme é baseado traz muito mais contexto histórico, mas o filme preferiu uma abordagem bem mais hollywoodiana, se afastando bastante de aspectos importantes para entender essas mudanças e as influências.
Eu achei o filme bom, interessante. Ver um artista que eu acompanho há tanto tempo ser retratado no cinema é esquisito. Não acho que uma cinebiografia tenha a obrigação de ser um documento histórico, mas acho que faltou tangibilizar minimamente as inovações do Dylan.
Não deixa claro as influências que ele teve, como a poesia que comentei; a figura da namorada dele, que no filme é nomeada como Sylvie, não faz jus à importância que ela teve no período, para além da paixão. Rimbaud, Brecht e os movimentos sociais foram coisas trazidas por ela para o Dylan e isso teve uma importância gigante.
Fiz dois episódios no podcast sobre o filme que eu me aprofundo mais nos pontos.
Ainda assim é um ótimo filme como diversão, mas no fim traz mais dúvidas sobre quem foi esse Bob Dylan dos anos 60.”
No livro/filme mostra como os festivais foram importantes para a criação de uma comunidade ao redor Dylan. Em termos de Brasil, seria possível estabelecer um paralelo entre este contexto e os Festivais da Canção, ou até mesmo com o icônico Festival de Águas Claras?
Pedro Couto: “É um paralelo possível, mas parcial. O Newport Folk Festival tinha um foco nessa imersão de entender qual é a “real” cultura americana, vinda dos inúmeros perfis de pessoas ao redor do país. Havia um ideal de congregar as pessoas de histórias diversas e que, juntas, pudessem construir um mundo. Obviamente que havia também um viés comercial, já que o folk estava tendo algum sucesso, mas tinha um olhar muito forte para essa comunhão de pessoas.
De qualquer forma, acho que podemos dizer que ele, e principalmente o fatídico show em que Dylan levou uma banda de rock para o festival folk, abriu o caminho para que surgisse Woodstock e tantos outros festivais, inclusive o de Águas Claras.”
Como vê que artistas independentes podem se inspirar tantos nos movimentos do músico em busca de maior visibilidade, como também em sua vida e obra?
Pedro Couto: “No documentário “No Direction Home”, dirigido pelo Martin Scorsese, Bob Dylan fala algo interessante, mais ou menos assim: Um artista precisa ter cuidado para nunca chegar a um ponto em que ele acha que chegou no seu lugar. Você precisa sempre perceber que está constantemente em um estado de transformação. E, enquanto conseguir permanecer nesse estado, você ficará bem.
Ou seja, para Bob Dylan não podemos cair na armadilha de sermos sempre o mesmo – de ser um personagem estático de um momento da nossa vida. Nós mudamos, amadurecemos e a arte pode nos acompanhar nesses novos caminhos.
Logo após o filme apareceram vários posts contando mais do que era fato e o que era fantasia dentro da trama… quais outros documentários/livros acredita que sejam mais adequados, complementares ou tão bons para quem quer conhecer ainda mais detalhes sobre ele?
Pedro Couto: “O documentário “No Direction Home” é muito bom para trazer mais contexto. Em relação aos livros, existem boas opções no Brasil, inclusive a que o filme foi ligeiramente baseado: “Dylan Elétrico”.
Quem quiser saber sobre Bob Dylan para além desse período, tem o livro “A Balada de Bob Dylan” que eu gosto bastante, além de outros. Tem até um episódio do podcast sobre livros lançados no Brasil sobre Dylan.
Dito isso, como será o desenvolvimento do curso e seus módulos? Como acredita que ele impactará quem participar?
Pedro Couto: “A ideia é trazer muito mais contexto para que quem viu o filme possa entender melhor a construção e evolução do Bob Dylan como artista e como ele mudou e moldou muita coisa do folk e do rock. Vou falar do início da carreira, antes mesmo da chegada dele à Nova York, falar das figuras importantes para o folk e para o folk revival e das principais influências do Bob Dylan ao longo desses primeiros anos.
O curso é ótimo mesmo para quem não assistiu ao filme e quer conhecer mais sobre Bob Dylan.”
Muitos não sabem, mas você é jornalista e também músico. Qual é o impacto tanto do Dylan como de outros artistas em seus projetos?
Pedro Couto: “Acho que Bob Dylan traz uma proposta de se desafiar criativamente, de se permitir fazer coisas que talvez fujam do previsto. Meus covers gravados, por exemplo, foram releituras bem diferentes da versão original. Bob Dylan está sempre querendo olhar para uma mesma obra de ângulos diferentes e é algo que eu tento fazer quando estou tocando. Nada é imutável.”