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Terno Rei amadurece e mira em canções no 5° álbum “Nenhuma Estrela”

O Terno Rei tem uma das trajetórias mais heroicas do independente brasileiro. Formado em 2010, o grupo — composto por Ale Sater, Bruno Paschoal, Greg Maya e Luis Cardoso — estava prestes a jogar a toalha quando veio Violeta (2019). O disco mudou a vida deles e os levou às massas, com apresentações com ingressos esgotados por todo o país e passagens pelos principais festivais do circuito.

Com isso, o sarrafo de cobrança pelos fãs novos que eles angariaram com o disco, aumentou. Algo bem diferente por parte de quem acompanha os paulistas desde o Vigília (2014)… mas como todos sabem “todo sucesso tem seus prós e contras”.

Nesse meio-tempo ainda disponibilizaram o projeto Conexão Balaclava: Samuel Rosa e Terno Rei (2021), o líder do Skank que pode conhecer o trabalho deles por conta desse movimento.

Após isso veio o lançamento de Gêmeos (conversamos com eles à época; leia aqui). Um disco mais pop e indo na direção das bandas que eles cresceram ouvindo do rock alternativo dos anos 80, 90 e 2000. Nele, canções como “Solidão de Volta”, “Brutal” e “Difícil” deram o norte para o caminho que eles estavam dispostos a percorrer a partir daquele momento em que claramente eles não tinham o desejo de fazer um novo Violeta.

No meio tempo eles ainda lançaram os B-Sides de Gêmeos (2023) e Ale Sater em paralelo lançou seu primeiro álbum solo, Tudo Tão Certo (2024). Desde o ano passado, através da sua conta do Twitter administrada pelo baterista, eles anunciaram que o disco estava pronto e que sairia neste ano.


Terno Rei lança quinto álbum de estúdio, “Nenhuma Estrela” pela Balaclava Records. – Foto Por: Fernando Mendes

Terno Rei Nenhuma Estrela

Um pouco antes deles se apresentarem no Lollapalooza Brasil, os primeiros singles “Nada Igual / Viver de Amor“, “Próxima Parada” foram disponibilizados. A poucos dias do lançamento que acontece nesta terça (15), eles lançaram o último single que dá nome ao quinto álbum de estúdio “Nenhuma Estrela” que chega pela Balaclava Records.

Com 13 faixas inéditas, o material foi produzido pelo curitibano Gustavo Schirmer, que os acompanha desde o Violeta (2019), com mixagem pelo francês Nicolas Vernhes, que já trabalhou com nomes como Wild Nothing, The War on Drugs e Deerhunter.

Talvez um dos grandes trunfos de Nenhuma Estrela seja justamente o caminho iniciado lá atrás, com Gêmeos: o de se tornar uma banda focada em canções. Isso se evidencia na atemporalidade das novas composições, que vão na contramão da lógica industrial imposta aos artistas que alcançam certa relevância no mercado.

Se no mundo da moda temos o termo slow fashion, o Terno Rei foca num consumo consciente e responsável, dentro da insanidade da era dos algoritmos. Suas músicas se renovam a cada novo público alcançado, independente do tempo necessário para isso.

Essa postura foi compreendida desde os tempos de Violeta, conquistando tanto um público mais velho — acolhido pelas composições e o ar vintage dos arranjos — quanto os mais jovens, encantados por uma banda que soa como “se fosse de outra época”. Seja ouvindo um LP com os pais ou uma música tocando na rádio, a redescoberta dos anos 2000 por uma nova geração — quando eles eram apenas adolescentes — cria uma ponte instantânea entre gerações.

O caminho de Nenhuma Estrela

Escolhida para abrir o disco, “Peito”, é um recado para o andamento do disco, um caminho para algo mais pop, leve e com os vocais em primeiro plano. A bateria oitentista de grupos citados por eles como referência para a faixa, como The Blue Nile e Prefab Sprout, dão esse ar jazzy, despojado e soturno. De peito aberto, a canção deixa doer, mas enquanto traja um terno cintilante no melhor estilo oitentista.

Aliás, durante a audição que aconteceu há algumas semanas na BMG, Ale Sater ressaltou como as linhas de bateria de Luis Cardoso, foram uma das partes que mais empolgaram o vocalista e guitarrista ao ouvir o seu resultado. O tom reflexivo e melancólico também é outro cartão de visitas para as temáticas exploradas ao longo do novo registro de estúdio.

“Nada Igual” foi escolhido como primeiro single justamente por sua força e DNA característico das composições do grupo. Ao ouvir, é impossível não pensar em clássicos radiofônicos de grupos como The Smiths e a faixa chega logo num momento onde uma nova geração está redescobrindo o trabalho dos ingleses liderados pelo ranzinza Morrissey. Ter uma canção nova no baralho neste momento… pode facilitar as engrenagens do algoritmo do TikTok e fazer com que ganhe mais lastro em quem ainda não descobriu a banda após o boom de Violeta.

 “A energia pulsante e o ritmo em Nada Igual representam muito bem nosso momento atual, além de trazer elementos marcantes presentes no disco.”, apontou Ale Sater durante o seu lançamento

Referências do post-punk de grupos como The Cure, Echo & The Bunnymen e até mesmo dos indies do Blur acabam aparecendo em “Nenhuma Estrela”. A indecisão, o nervosismo, a melancolia e o ato de repensar os próximos capítulos da vida depois de um abalo sísmico aparecem feito uma navalha cortante em uma canção pop repleta de sintetizadores e um emaranhado de cordas de nylon. O looping da letra e os versos adicionados em sua segunda parte, aliado aos sopros, dão ainda mais intensidade – e profundidade – para a música.

A mistura de “Próxima Parada” destoa um pouco das anteriores justamente pelas linhas de baixo terem como inspiração o trip hop aliadas a guitarras noventistas, o que faz dela uma das canções pops mais improváveis do registro.

Um dos riffs de guitarra parece até fazer uma homenagem a “Smells Like Teen Spirit”, do Nirvana, e quando Ale Sater cantarola “Não sei se vou” parece brincar com o trecho de “Hello, hello, hello, how low”, da mesma música. Essa dinâmica de trip-hop com rock alternativo também aparece no projeto Paira, também lançado pela Balaclava. A necessidade de sair da estagnação é o sentimento que se preenche ao longo dos versos da canção que ganhou um videoclipe dirigido por Miguel Thomé.

Próxima Parada ou a Próxima Estação…



Com instrumental mais solar, a letra de “Casa Vazia” tem o distanciamento como tema, como o próprio nome sugere, nos levando para as baladas energéticas, ao mesmo tempo, que tristes dos anos 90. O lado lúdico aparece tanto nos coros como na alegoria de usar o super-homem como elemento presente em sua construção.

Quem acompanha o Terno Rei sabe que eles até já lançaram singles e projetos com outros artistas, mas não de canções presentes em um álbum. Pela primeira vez eles quebram essa “regra” e em grande estilo com participação de Lô Borges, ícone do Clube da Esquina.

As referências, e homenagens, ao grupo mineiro aparecem inclusive no instrumental de “Relógio”, basta prestar um pouco de atenção, e verá as melodias lisérgicas presentes nos acordes. Eles mesmo consideram como “a faixa mais elegante do álbum”. Daquelas que você ouve e fica imaginando um encontro no palco do Terno Rei com o Boogarins.

“Pega” tem um joguete de baixo que te intriga e se entrelaça com os sintetizadores criando um clima de mistério. As programações, a levada lenta e circular da música deixam tudo ainda mais reflexivo e soando como uma espécie de sonho acordado.

“Programação Normal” tem nos arranjos de teclado uma espécie de conexão com Gêmeos. De certa forma ela me lembra um pouco blink-182 no álbum autointitulado justamente por apostar em canções menos óbvias, e com arranjos melódicos fora das fórmulas costumeiras, como, por exemplo, em “Down”. O assombrar dos demônios do passado deixam ela ainda mais obscura, entre a solidão e a ânsia por experimentar novos ares, após um fim de ciclo.

Se tem algo que o Terno Rei aprendeu ao longo do tempo foi se especializar em fazer baladas e “32” de certa forma é bastante literal e de fácil identificação para quem é jovem, mas não tão jovem assim (talvez um Pós-Jovem). Uma espécie de acerto de contas com o passado embalado pelos dias da juventude, entre perigos, quedas e o vivenciar inevitável do processo de amadurecimento. Uma canção que tem toda a cara de virar tema de curta-metragem devido as boas analogias que faz.

“Agora sou eu que tenho os meus 32 dentes, o mundo na frente, não posso ficar pra trás. Aguenta muitos socos, eu sinto nos ossos, eu sinto ao acordar, que agora sou eu”, confessiona Ale Sater.

Mais espaço para experimentações

“Coração Partido” expõe as feridas sem dó e as incontáveis noites sem dormir. Tudo isso imerso entre sintetizadores, guitarras que dançam e arranjos delicados. Em colaboração com Clara Borges, da Paira, eles navegam para um território ainda não explorado na carreira, um mergulho nas pistas de dança oitentistas, de trabalhos de artistas como New Order e Depeche Mode, até por isso a verve frenética se instaura. Aquela música que você ouve e fala “eu sei o que vocês fizeram aqui”. Essa versatilidade, por sua vez, é também uma das marcas do quinto álbum dos paulistas.

“Viver de Amor” poderia muito bem se encaixar na carreira solo do Ale Sater, mas com isso talvez perderia um pouco da combustão dos arranjos feitos em conjunto. Ela é mais serena, folk, meio americana escola Wilco, mas que também permite ter sopros mirando o improviso do jazz feito Kenny G.

De natureza contemplativa, e confessional, à primeira orelhada pode até causar certo estranhamento nos fãs que esperam um novo Violeta, mas vai crescendo a cada nova audição justamente por sua carga sentimental.

“Essa é uma das nossas favoritas da carreira. É unânime entre nós que ela se destaca e soma a essa nova fase que vivemos. Traz uma proposta diferente do outro single e ao que já fizemos no passado, então julgamos que seria interessante mostrar esse outro aspecto do disco.”, revela Bruno Paschoal, guitarrista e tecladista

“Acordo” tem a difícil tarefa de encerrar o disco. Ela narra a rotina repleta de desconfianças e incertezas em um mundo que te coloca em xeque todos os dias. Um desabafo que fica evidente em versos como “E se é tão fácil assim /
Por que você não faz?” e em “Agora eu sou como eu queria / Mas querem me acusar”.

Ouça o álbum em sua plataforma de streaming favorita

Turnê Nenhuma Estrela

A banda já anunciou as primeiras datas da turnê Nenhuma Estrela, que começou no Lollapalooza Brasil em março e segue com mais 20 apresentações passando por Curitiba, Goiânia, Brasília, Piracicaba, Belo Horizonte, Porto Alegre, Rio de Janeiro, Manaus, Aracaju, Maceió, Portugal, Campinas, Florianópolis, Balneário Camboriú, Blumenau, Londrina e Belém.

Os ingressos já estão à venda, mais informações no site da banda.


This post was published on 15 de abril de 2025 12:01 am

Rafael Chioccarello

Editor-Chefe e Fundador do Hits Perdidos.

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