Applegate convida o ouvinte a viajar por 8 cenários distintos em “Mesmo Lugar”
Não parece, mas Movimentos Regulares, álbum de estreia da Applegate, completará daqui a duas semanas 5 anos. Neste meio tempo muita coisa aconteceu, desde uma pandemia a até mesmo mudanças, entre elas a entrada de Luca Acquaviva na bateria e percussões. Completam o quarteto, Gil Mosolino (voz e guitarra), Rafael Penna (baixo e trompete) e Vinicius Gouveia (guitarra).
Se em sua estreia a psicodelia era o norte, em seu segundo material eles continuam tendo referências do lado mais progressivo do rock, mas também vão beber do grunge e do indie pop… tudo isso com um jeitinho bem brasileiro que quando damos o play já sabemos.
A banda da capital paulista afirma que as 8 composições que compõe o registro tem como plano de fundo as mudanças internas e externas. Destas, 5 já eram de conhecimento do público e foram lançadas aos poucos nas plataformas digitais ao longo dos últimos 4 anos, sendo “Entre Ondas” a mais antiga e “Acalmei” lançada no fim de agosto.
Em relação à remuneração DSPs eles já em entrevista para Fernanda Decaris aqui no Hits Perdidos se posicionaram de maneira firme, tendo lançado campanhas de financiamento coletivo para os fãs ouvirem as músicas fora deste universo bem antes do seu lançamento nas plataformas.
Applegate Mesmo Lugar
Através das 8 canções eles dizem querer levar em Mesmo Lugar o ouvinte a conhecer oito cenários distintos através das diferentes estéticas exploradas. Que vão desde as referências a forma de produção. Eles contam que elas foram gravadas, produzidas por diferentes profissionais, em um processo heterogêneos onde todos os caminhos convergem em um mesmo lugar. Daí o nome.
O contato com bandas do cenário independente como Boogarins, Glue Trip e Bike, possibilitou parcerias neste álbum e com isso Thiago Leal, Pedro Lacerda e Raphael Vaz nas gravações de seu novo disco. As cantoras Bel Aurora e Carol Cavesso (Abacaxepa) e a saxofonista Ana Goes (Funmilayo Afrobeat Orquestra) também contribuíram em faixas do trabalho.
Entre as canções inéditas até o lançamento estão “Applegate”, “Killer Dance” e “Mesmo Lugar”. Esta última que dá nome ao disco é a responsável por sua abertura. Uma faixa que começa mais soturna por si só, mas sem perder a característica atmosférica que o primeiro sido ecoava. Aliás, os ecos e paredes sonoras fazem parte da sua concepção, entre memórias, resquícios de fragmentos, experimentações, diferentes dinâmicas de progressão, ira e a participação de Ana Goes no sax.
“Technicolor” foi lançada em maio de 2023 e os ares da noite e dos pensamentos mais ruidosos aparecem, entre suas curvas lentas, o flutuar e suas digressões sonoras. Tudo isso imerso em um clima de romance, delírio e luxúria.
“Acalmei”, última a ser revelada antes do material, traz consigo o peso, chegando a flertar com shoegaze. A neo-psicodelia dialoga com a temática de romance da anterior, estabelecendo um diálogo feito uma continuação, entre guitarras noventistas e corações em fúria.
Que coragem o ato de lançar uma música com o nome da própria banda. Imagino que isso faça para eles definitivamente ser ela especial. E não é para pouco, a faixa possui um pouco mais de 6 minutos.
Feito uma laranja que você vai descascando até chegar no núcleo, ao longo da sua odisseia, “Applegate” passa por várias camadas. Uma espécie de space rock cáustico repleto de soluções sonoras e caminhos feito uma jam que guia o ouvinte em direção de um transe. Como fã de Arquivo X consigo até imaginar ela sendo trilha da série.
O Lado B
“Entre Ondas” foi o primeiro single a ser revelado ainda em 2021 e também tem o apelo sensorial. A viagem conta com medley com direito a vocais femininos, efeitos sonoros, entre delays, sopros e convites para quebrar a quarta parede. Sua mixagem, inclusive, proporciona uma experiência que parece ter sido feita para criar sensações para quem a escuta.
“Posso Te Ligar?” é daquelas que conseguimos notar o diálogo com a cena brasileira. Com uma percussão interessante, pedais vorazes, vozes que parecem entrar na sua cabeça e até um flerte com o pós-punk, ela utiliza da cacofonia como recurso. Algo que gostamos de ver em discos como Desintegration (1989), do The Cure.
“Killer Dance” vai progredindo feito uma espiral, entre delírios, uma dose de veneno, progressões e muita abstração. Quem fecha é “Nena”, uma das mais açucaradas de Mesmo Lugar.
Em “Nena” progressão de acordes repletos de efeitos de pedais criam um universo onírico e nostálgico, abaixando a frequência e elevando a temperatura. A combinação cria um cenário digno de um verão ensolarado carregando aquele mood cheio de esperança.
Conforme a faixa progride, ela vai ficando mais derretida com direito a delays e distorções, onde a sinestesia e o movimento ficam ainda mais intensos. Os coros próximos ao seu final deixam a sensação de nostalgia, e desprendimento da realidade, ainda mais latentes.
Entre as influências do single, a banda paulista revela que traz referências de artistas como Pedro Martins, Arctic Monkeys, Chico Bernardes, The Killers e King Gizzard and The Lizard Wizard. Para criar uma atmosfera, eles apostam em dividir “Nena” em dois movimentos de atmosferas, segundo eles, complementares. Utilizando elementos como a presença de um coro e violões de aço.
“Nena discorre sobre apego e nostalgia frente ao inalcançável – o desejo de retornar a sentimentos, momentos ou relações já consumidas pelo tempo, a persistência de anseios e a busca pelo reencontro. “Nena” transita pela temática provocando no ouvinte a investigação de suas memórias, em busca daquilo pelo que vale a pena viver e pode ser resgatado.”, reflete a Applegate