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Matheus Who revela com exclusividade as histórias por trás de “Iconoclasta”

Na sexta-feira (27/09) o músico carioca Matheus Who (Carmen) lançou seu segundo álbum de estúdio, Iconoclasta. O material que sucede A Dobra no Espaço-tempo expande o universo indie e abraça referências distintas da música brasileira, passando pela bossa nova e o jazz, flertando com a psicodelia, o bedroom pop e o shoegaze para falar sobre os acasos da vida adulta. Entre a arte dos encontros e desencontros e imerso no caos das vivências dos 20 e poucos anos.

O músico traz para o disco um pouco do seu universo particular. Em Curitiba, ele se divide na rotina de fazer novos amigos, conhecer lugares, sentir saudades de casa, reestruturar sua produção musical, ser um artista com acúmulo de funções, influenciador e apresentador de podcast (Glub Glub Clube).

“A versão que viverá pra sempre é sobre uma mistura de tristeza, beleza e o caos. O caos de ter 20 e poucos anos e sua vida virar de cabeça pra baixo em pouco tempo”, sintetiza Matheus sobre os bastidores do disco.

A capa do material é assinada pela artista curitibana Magu Bistafa, ela apresenta um retrato de Matheus com o olhar perdido, dramático e sensível, em uma aquarela com texturas de tinta e carimbos sobre tecido de renda.

Who além de assinar todas as composições e arranjos também foi o responsável pela produção que foi captada em seu home estúdio com mixagem e masterização realizada por Rodolfo Ribeiro (Ambivalente) no Minimundo Estúdio. Alguns instrumentos foram gravados nos estúdios PSP Estúdio e Estúdio do Vini.


Matheus Who lança “Iconoclasta”, seu segundo álbum. – Foto Por: Helena Bohn

Faixa a Faixa de Iconoclasta por Matheus Who

Com muita gentileza, Matheus Who preparou um faixa a faixa com histórias por trás de “Iconoclasta”. Sendo assim, quem assume o comando a partir de aqui é o músico carioca.

1) ÁGUA VERDE

Aqui o álbum começa a história que eu quero contar, acho muito legal o contraste com meus outros trabalhos com a produção maximalista de “Água Verde”. Provavelmente a música mais densa emocionalmente, e em arranjos, que eu já fiz em todo o projeto Matheus Who. “Água Verde” é sobre começar a perceber que a vida que construí pra mim nos últimos 2 anos, não era exatamente o que eu queria.

Eu saí do Rio de Janeiro pra Curitiba em busca de uma vida mais leve, tranquila… Depois comecei a sentir falta do caos e da correria que o Rio tinha a oferecer.

Não estava contente com a minha rotina, com o caminho que o meu relacionamento da época estava tomando… “E você se perdeu depois que foi para o Paraná, não é?” Uma das minhas frases favoritas do disco, gritada num coro com mais de 10 camadas de voz pra reforçar na minha cabeça e de quem estiver ouvindo.

É muito especial aqui que tem um sample da minha mãe quando eu contei para ela o quão infeliz eu estava com minha vida e logo em seguida entra um dos solos mais experimentais que eu já fiz, com uma guitarra e um sintetizador brigando por espaço na mix da música.

Acho que prepara o terreno pro que está por vir pela frente. Esse não é um disco feliz.

2) Não Deixe O Nosso Amor Acabar

 

Continuando a história de infelicidade com o momento da minha vida, essa é uma reflexão do momento que aceitei que o meu antigo relacionamento que eu tinha aqui em Curitiba ia acabar e não tinha mais nada que fazer para recuperar. Quase implorando pra que isso não estivesse acontecendo comigo.

Na letra, também sou eu tentando encontrar uma justificativa de um problema que não tive culpa e que já vinha me consumido por meses.

É aqui que eu começo a experimentar com sopros: instrumentos que eu nunca havia usado em produções (mas que aparecem em mais outras duas faixas no disco), comprei um trompete para executar esse arranjo que eu tinha na cabeça e até hoje é só isso que eu sei tocar no trompete (risos).

Vinicius Pitanga (que tocou baterias no meu primeiro disco e integrante da banda Drápula, de Niterói (RJ) assina as baquetas nessa música e ele tem uma pegada tão leve, mas com umas viradas animais e bem encaixadas, assim que escrevi a bateria final para a música, eu sabia que ele seria a pessoa certa para executá-la.

3) COPA

Eu estava percebendo meu antigo relacionamento desandar nos últimos meses e não havia nada que eu pudesse fazer para solucionar, havia tentado de tudo já, menos escrever uma música. Eu tentei refletir tudo que eu estava passando na época. A primeira vez que fomos pro Rio de Janeiro, minha cidade natal, nosso primeiro encontro foi em Copacabana e foi muito marcante pra mim.

A música sou eu refletindo a vulnerabilidade desse primeiro encontro na minha cidade até o ponto do dia de hoje, me perguntando onde que as coisas começaram a desandar na cidade nova. 

4) Histórias Sobre Ele

Essa foi a faixa favorita da maioria dos meus amigos que ouviram o álbum com antecedência. Uma pegada totalmente Phoebe Bridgers, Elliott Smith…. Mas ainda com a cara das minhas músicas. Definitivamente a música mais “singer/songwriter” do álbum. 

Eu escrevi essa música uns anos atrás sobre a história da traição de um amigo com sua namorada… Porém, o segundo verso era diferente, sobre esse amigo, então re-escrevi pra minha situação atual enquanto estava no processo final de “Iconoclasta”.

Um amigo descreveu a música assim: “Parece que você está sussurrando o maior segredo da sua vida e, a cada segundo, entra algum elemento que parece a história vai ficando mais densa, mais emocionalmente desgastante...”, eu achei essa a analogia perfeita pra essa faixa.

5) Caras Bonitas

É definitivamente a música mais agressiva que eu já fiz, que separa o lado “sentimental” do “divertido” do disco. Ela se destaca das outras porque é um instrumental shoegaze, mas com os vocais de pop, que me remetem a música brasileira.

É uma música sobre perder a amizade de uma pessoa que você se importava por anos na sua vida e você agora não consegue nem conversar, nem com ela ou com os amigos dela, que possuem as caras bonitas e parecem tão mais legais que você.

6) Anna

Anna foi a última música a entrar no disco, ela tem a produção mais minimalista e eu queria que servisse quase de um interlúdio que separasse o Lado A e Lado B do disco.

Geralmente eu não costumo ter ideias em cima da hora tão perto do lançamento de algum projeto, mas eu passei por uma situação tão marcante para mim que eu nunca iria me perdoar se não colocasse essa faixa no disco. Representa muito bem o que passei e complementa a narrativa das músicas.

Anna foi uma pessoa muito importante para mim que apareceu no fim do processo de escrever as músicas para o disco. É sobre uma pessoa que existe na vida real, mas nossos caminhos não foram feitos para ficar juntos.

7) Ei, Menino

Começou o lado extrovertido e experimental do disco. Um jazz, num álbum indie, com um break quase industrial e experimental?

Se falasse que estaria num álbum do Matheus Who uns anos atrás eu não acreditaria, por isso que eu amo tanto essa faixa. Meio desengonçada, algumas coisas fora do tempo propositalmente, a música foi gravada sem clique, apenas com o loop do brush de jazz rodando no fone.

A letra fala sobre eu me questionar sobre o lugar que eu estou, especificamente essa cidade. Por que eu continuo em Curitiba se sinto tanta saudade da minha cidade? Pelos amigos? Pelo meu emprego? Pelo conforto? 

E no meio desses questionamentos, acontece um “break” no instrumental que tentei refletir o que minha cabeça estava passando tentando resolver essas questões intrapessoais.

A música acaba com um arranjo no violão que dá o gancho pra próxima música, mais pop do álbum.

8) No Estação

No Estação sou eu refletindo que eu já passei por situações ruins antes, inclusive de velhos amores, com encontros num cinema de rua de filmes cult do Rio de Janeiro, o Estação Net Rio.

Quando eu comecei a fazer essa música, foi o mesmo tempo que comecei a fumar, um hábito que ajudou o meu antigo relacionamento acabar “Cê me desculpa eu não ter limpado aquelas folhas de tabaco da nossa casa que desmoronou, nem sabiá só o violão restou” parafraseando “Pra Machucar Meu Coração” do disco Getz/Gilberto.

Uma das mais poderosas também emocionalmente. Bedroom pop total, acho que dos antigos ouvintes essa vai ser a favorita além do refrão super chiclete.

9) Iconoclasta

Eu tinha uma visão muito grandiosa para essa música com cordas de orquestra, sopros… 

Mas a versão final e a qual eu me apaixonei, foi fazendo ela mais um Indie Rock que seria fácil de ouvir até para quem não está acostumado a ouvir o estilo de bandas independentes.

Eu canto de um jeito muito único e que não se repete no álbum, quase gritando de felicidade por estar começando a aceitar que daqui pra frente minha vida é essa e eu posso escrever uma história boa para mim, mesmo com tudo que aconteceu e com tudo que o ouvinte do disco precisou passar até aqui.

Tudo vai ficar bem de alguma forma, só ainda nessa faixa, não sei como.

10) Mais Nada

“Mais Nada” é o primeiro single desse álbum, o primeiro contato que os ouvintes tiveram com essa história e, novamente, sobre a minha descontentação com a minha vida no geral nesse momento. Mas dessa vez, tentando enxergar as possibilidades de melhoria.

Me perguntando o que eu posso fazer de diferente para que eu consiga sair dessa rotina de trabalhar, sofrer, trabalhar, sofrer… E a minha carreira na música quase não restando tempo para estar na minha rotina.

O final também derrete na faixa que fecha o álbum.

11) Segredo Meu

Aqui é minha carta aberta pro João Gilberto e um agradecimento por ele ter mudado minha vida nos últimos anos. Minhas percepções do que é um arranjo, uma projeção vocal que estamos tão acostumados hoje em dia com a música pop/alternativa, foram completamente alterados por causa desse homem.

E depois de toda essa história, de todas as decisões, queria concluir a história do disco com o sentimento mais universal que é, apesar do término, desconforto com uma vida incerta e esgotada… Eu ainda tenho capacidade de amar alguém, algo, a mim mesmo, minha música… E não posso ficar vivendo nesse sentimento de angústia pra sempre. 

O disco acaba com um noise de guitarra e um caos que é ter 25 anos, morando numa cidade sem sua família e um relacionamento de 4 anos que não deu certo.

É assim que eu me encontro hoje. Entre a beleza e o caos dessas mudanças que me afetaram como pessoa e artista, mas aberto, com a cabeça erguida, para o que possa vir futuramente.

Ficha Técnica: Matheus Who “Iconoclasta”

Todas as músicas escritas, produzidas e arranjadas por Matheus Who
Baterias por Vinicius Pitanga na faixa 2 & 3, gravadas no Estúdio do Vini (Niterói / RJ)
Baterias por Ane Oliveira na faixa 10, gravadas no PSP Estúdio (Guarulhos / SP)
Guitarras & Backing Vocals por Gibaaa na faixa 11
Direção vocal por Mara Marques na faixa 10
Eng. de gravação por feh na faixa 10
Mix e Master por Rodolfo Ribeiro (Ambivalente) no Minimundo Estúdio (Petrópolis / RJ)
Pintura da capa por Magu Bistafa
Ilustrações por Júlia Lacerda


This post was published on 30 de setembro de 2024 9:00 am

Rafael Chioccarello

Editor-Chefe e Fundador do Hits Perdidos.

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