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Txai Band, reúne Luiz Gabriel Lopes e Paulo Novaes com jovens artistas da comunidade indígena Huni Kuin, assista ao documentário

Txai Band une Luiz Gabriel Lopes (Graveola, Rosa Neon), Paulo Novaes e jovens de comunidade indígena do Acre

A vontade de pesquisar uniu dois artistas da MPB contemporânea, Luiz Gabriel Lopez, ou Luizga, artista mineiro conhecido pelos trabalhos ao lado das bandas Graveola e Rosa Neon, e o paulista Paulo Novaes (leia entrevista) que no Grammy Latino de 2021 foi o vencedor na categoria “Melhor Canção em Língua Portuguesa”, com a música “Lisboa” (ouça).

Tudo começou quando Luizga começou a desenvolver um trabalho com os Huni Kuin, povo indígena que ocupa uma região entre o Acre e o sul do Amazonas, na fronteira entre o Brasil e o Peru, desde que foi fazer uma residência artística em 2019 na aldeia Chico Curumim, no Acre. A história continuou e Luiz Gabriel visitou o local várias outras vezes.

Foi um convite de Luiz para Paulo conhecer o projeto, que se materializou em uma viagem em janeiro de 2023, que o encontro entre os artistas serviu como semente para o surgimento do projeto Txai Band. A troca se intensificou em meio a gravações, trocas, encontros e composições.


Luizga em still do documentário.

O Movimentar Coletivo da Txai Band

Os jovens artistas do povo Huni Kuin, representados por Tuyn Kaya, Mística Samany e Maspã Huni Kuin, da aldeia Chico Curumim, no estado do Acre, coração da Amazônia, participam do projeto que teve seu primeiro single, “TAMANI”, lançado na quinta (12).

As tradições ancestrais permeiam o projeto, unindo a cultura dos povos originários e com o enfoque em amplificar estas raízes. Somam ao projeto ainda os músicos Mestrinho, Kabé Pinheiro, Breno Ruiz e Nyron Higor.

O álbum de estreia está programado ainda para este ano com a premissa de conectar ainda mais os sentimentos envolvidos da experiência.

Como lembrado, nada se constrói sozinho, e dialoga com projetos como Katu Mirim, Brisa Flow, Owerá, o movimentar de Sônia Guajajara e Célia Xakriabá no campo do ativismo social e da política. Kaê Guajajara, por exemplo, lançou seu terceiro álbum de estúdio nas últimas semanas, Forest Club. Além do álbum “O Futuro É Ancestral”, de Alok, e com a Década das Línguas Originárias, promovida pela Unesco, somam em um movimento por maior visibilidade da causa, e da preservação da memória dos povos originários.


Tamani em still do documentário.

A força da liderança da mulher indígena

Tamani é a grande homenageada do primeiro single lançado. Ela é a filha mais velha do cacique da aldeia Chico Curumim, com nome em português (ou de registro) Maria do Socorro, foi a pessoa que recebeu Paulo Novaes e Luiz Gabriel e deu-lhes todo o suporte, tanto nas coisas práticas quanto no afeto, como eles mesmo comentam.

Ela acabou assumindo a liderança na aldeia devido as diversas viagens do cacique e assim se tornou referência dentro da comunidade. Com missões fundamentais como estabelecer com que o povo esteja unido, com responsabilidades espirituais, afetivas e políticas.

“Tamani [a canção] é uma homenagem a essa mulher incrível, mas que acaba também representando a força de todas as mulheres indígenas, lideranças indígenas, que estão fazendo um trabalho importantíssimo para a manutenção dessa cultura”, comenta Paulo Novaes.

O surgimento da música parte das observações de Paulo acerca das interações familiares dentro da comunidade e toda linha sucessória dentro do seu escopo. A canção retrata uma mulher forte, sensível, guardiã e que detém beleza e poesia especiais na forma de ser e fazer no mundo.

“Tem várias imagens que gosto muito na canção. Família grande, confusão, porque é o que experimenta vendo essa dinâmica”, relata Luiz Gabriel Lopes.

Letra de “Tamani”

filha de Ibã / mãe de Buni /é Tamani / mãe de Maru / irmã de Yaka / irmã de Ninawá // Maria do Socorro / mulher do norte / mulher tão forte, guardiã / reluz a força / da lua cheia / todas as manhãs // família grande / confusão / amor gigante / que multiplica e colhe as frutas do quintal / uma floresta ancestral // e muito antes / da estação / naquele instante / onde o futuro se mostrou / e o verdadeiro amor brotou

Ouça

O Documentário

Nesta segunda (16), em Premiere no Hits Perdidos, o grupo lança um documentário independente. Com duração de 15 minutos, é retratado todo o processo de imersão dos artistas na aldeia Chico Curumim.

O material, no melhor estilo “faça você mesmo”, além dos bastidores, mostra a origem do projeto, a arte da sincronicidade dos encontros e as vivências a partir do contato com a comunidade. Com depoimentos deles e dos jovens músicos participantes do projeto que vai além da música e contribui para a formação musical das crianças.

A montagem foi realizada por Guilherme Becker que assina a realização ao lado de Paulo Novaes e Luiz Gabriel Lopes. Gravado em Jordão, no Acre, aparecem no registro Tuyn Kaya Huni Kuin, Mística Samany, Maspã Huni Kuin, Dua Ninawa  e grande elenco de artistas da Aldeia Chico Curumin.

“Acho que a importância desse documentário é trazer uma visualidade e essa história é mostrada de uma maneira muito bem amarrada pelo Guilherme Becker.

Estamos felizes em ver o resultado. Acreditamos que o documentário possa aproximar as pessoas um pouco mais desse contexto, trazendo engajamento para essa luta que é tão importante”, comenta Paulo Novaes

Sobre a natureza “faça você mesmo” do material, Luiz Gabriel Lopes completa.

“A gente não sabia nem mexer na câmera direito. Teve alguns aspectos da filmagem, como a questão do foco automático que fazia fazendo barulho. E isso deu até um charme interessante de espontaneidade, naturalidade para a coisa, que eu assistindo hoje gosto muito e gosto de pensar que, como não foi planejado, tem algo de poético, como que a poesia também se manifesta justamente aí, a partir desse não planejamento, dessa manifestação espontânea da situação, da situação como ela é, com todas as suas limitações e dificuldades.”


This post was published on 16 de setembro de 2024 9:00 am

Rafael Chioccarello

Editor-Chefe e Fundador do Hits Perdidos.

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