Maquinas celebra 10 anos com novo single, “Te Estranho”, e participação especial de Jair Naves

 Maquinas celebra 10 anos com novo single, “Te Estranho”, e participação especial de Jair Naves

Maquinas – Foto Por: Tais Monteiro

Já veteranos, a banda cearense Maquinas retorna com novo single “Te Estranho”. Esse é o primeiro material inédito desde O Cão de Toda Noite de 2019, celebrando uma década de existência, expandindo e intensificando sua sonoridade, experimentando e atravessando barreiras, enquanto mantem sua identidade sonora.

O novo single, para concretizar com força sua profundidade e reflexão, possui participação do cantor e compositor Jair Naves do Ludovic, imprimindo toda a intensidade e urgência necessária na faixa. Além de incorporar novas interpretações a um estranho familiar.

Marcando essa nova fase, o Maquinas ainda conta com uma nova formação: Ayla Lemos (Leves Passos) – Baterista e vocalista, que já mostrou para o que veio no primeiro single. Quando a faixa atinge seu clímax, sugerindo que não haveria outro caminho se não o final, Ayla assume os vocais quebrando quaisquer expectativas do ouvinte. Uma grata surpresa e uma grandiosa soma as possibilidades artísticas da banda.

A faixa também fortalece a parceria do produtor e companheiro Felipe Couto (Astronauta Marinho), que além de assumir a mixagem do single também gravou parte das guitarras registradas.

“Te Estranho” é uma obra que chegou na hora certa, carregando todas as camadas de sentimentos que assombram nossa geração em diversos aspectos e que também assombrará as próximas. Principalmente neste mundo de ansiedade, algoritmos e inteligências artificiais. O que é real e o que é imaginário?

O lançamento vem acompanhado de um novo clipe, com direção e fotografia por Taís Monteiro, roteiro por Allan Dias e Taís, que você poderá conferir em primeira mão no Hits Perdidos.



Esse novo trabalho pavimenta o caminho para o terceiro álbum de um Maquinas que agora tem muito mais para dizer e experimentar.

Você pode conferir abaixo o papo que batemos sobre a nova fase.


Maquinas Te Estranho Foto Por Tais Monteiro
Maquinas – Foto Por: Tais Monteiro

Entrevista: Maquinas sobre “Te Estranho”

Vocês acabaram de lançar o novo single “Te Estranho”, provando mais uma vez a capacidade do Maquinas de não se limitar a rótulos, sempre experimentando. A faixa ainda traz a participação de Jair Naves da Ludovic.

Como aconteceu esse convite? Agora a banda está em uma nova fase, você também buscou novas sonoridades? Dentre diversos gêneros, consigo compreender até free jazz.

Roberto: Esse convite veio pois, quando a gente tava compondo a música, fizemos essa sessão bem mais pesada, meio free jazz e punk etc. Mas apesar de todo o caos que já acontece, ainda sentimos falta de um elemento central. E como também já esgotamos nossa criatividade poética escrevendo letra (risos), pensamos assim que seria interessante ter a voz e letra de alguém que pudesse somar nessa música.

De primeira pensamos no Jair. Tanto pela vontade de que esse encontro Maquinas e Jair Naves já fazia todo o sentido na nossa cabeça, tanto pelo sentimento artístico que a música pedia quanto pela vontade mesmo de colaborar com ele em algo. Então com essa música, fazia muito sentido pra gente. Chamei ele no Instagram, trocamos Whatsapp, e-mail etc e felizmente deu certo demais!”

Allan: “‘Te Estranho’ é uma das primeiras composições do Maquinas nessa nova fase da banda, e acho também que é uma das primeiras a ficar pronta pois foi quando entendemos todo o processo que estávamos buscando realizar em nossas novas composições. Antes pensávamos muito em referências musicais, em gêneros, ou determinada música que nos guiavam a nossa criação.

Agora estamos buscando representar ambientações, contextos, como visualizar um quadro e tentarmos a partir daí reinterpreta-lo musicalmente. Foi um desafio para fazer “Te Estranho” porque, mesmo que não tenha mudado nosso processo de comportamento entre a banda em estúdio, esse método mudou a forma como chegamos pensamos juntos e nos coordenamos. Continua sendo um desafio pois boa parte das músicas do novo álbum estão seguindo esse método, então está sendo desafiador e gratificante ver o que estamos criando juntos.

“Te Estranho” é uma boa forma de apresentar o que vem por aí nessa nova fase da banda pois soa como um convite ao público para entrar nesse mundo que estamos criando em cada canção. As sonoridades do single remetem ao jazz mais soturno, com uma inspiração leve do Round Midnight, do Herbie Hancock, mas prefiro pensar que é o Maquinas imaginando um jazz e não necessariamente uma música do estilo em si, sabe? (risos)”

Ainda falando sobre o processo da faixa “Te Estranho”, agora vocês têm uma nova integrante, a baterista e vocalista Ayla Lemos – que também canta nessa faixa no último ato. É uma nova perspectiva artística para o Maquinas.

Allan: “Sim! Ayla nessa música não tinha como aparecer melhor: no clímax da música, quando parece que não havia mais aonde chegar, de repente toma a frente, do jeito que ela é, sempre ousada e intuitiva.

Quando ela entrou ao maquinas, no primeiro ensaio para trabalharmos juntos “Te Estranho” com ela, simplesmente Ayla chega no estúdio com umas anotações e diz: “ei tenho uma ideia de letra para o final!” e simplesmente é isto que você está ouvindo no final! Chegou com os dois pés juntos, uma energia que levantou a gente também junto!

A Ayla já era uma grande amiga de todos nós da banda, participou na canção “Corpo Frágil”, do Cão de Toda Noite, também. Ficamos felizes demais de ter alguém que nos admira mas mais ainda alguém que temos uma amizade forte para estarmos juntos e pensando em ideias para o que vem pela frente. Além de ser uma baterista que nos dá segurança pela tamanha criatividade que ela tem para mostrar caminhos para nós. Simplesmente deixamos ela ditar os rumos na bateria e sabemos que vai sair algo bom!”

A letra da música propõe uma narrativa intensa sobre o real e o imaginário – “Um sonho elaborado, um rito de passagem”. Também destaco o trecho “mais lembranças sem vivenciar”.

É interessante pensar nas diversas possibilidades dessa linha tênue entre o que é real e o que não é, como nossa mente pode traduzir isso. Um dos exemplos para esse sentimento é a ansiedade. Acredito que em tempos modernos é um dos sentimentos que mais nos aflige. Compartilha com a gente suas visões e suas perspectivas.

Roberto: “Exatamente. Nessa música a gente tava querendo elaborar sobre esse sentimento que o Freud chama de “Estranho Familiar”, que é basicamente aquela estranheza que nos conforta em algum lugar e é muito difícil de elaborar porquê nos conforta.

Tem um livro que ele elabora extensamente sobre isso, falando de espaços vazios e silenciosos, que nos retiram de qualquer papel social. Parece que a gente vira tipo um NPC na nossa própria vida. É meio angustiante, mas também é libertador em algum lugar, esse processo de “se retirar” da vida social. E também percebo que é algo que parece assombrar nossa geração dos Millennials.”

Allan: “É uma narrativa que vai permear boa parte do álbum, como uma série de contos sobre o imaginário, o não-real e sobre como estamos cada vez mais em conflito sobre esse não-real com relação ao mundo real em que vivemos.

Eu percebi ultimamente o quão comum está sendo esse ideal de junção dos dois mundos como temática em redes sociais mais audiovisuais como o Instagram e o TikTok. Temas como “Espaços Liminais”, supostos rituais para acessar o universo onírico estando lúcido, em que mundo imaginário você quer viver, como seria você se fosse um personagem de jogo de Playstation (risos).

Quando eu lia comentários nesses tipos de vídeos, me chamavam atenção um certo peso de melancolia com as próprias vidas das pessoas, como se fosse uma vida monótona, um desejo de mudar. Mais fácil imaginar um mundo novo para depositar os desejos que o mundo real não lhe dá margem ou oportunidade e não ser protagonista de si mesmo, de representar algo. Dá para fazer uma relação bem próxima da ideia do realismo capitalista, mas também uma reflexão mais profunda ao indivíduos e os anseios nesse mundo mais virtual, mais algoritmizado, mais IA. Isso tudo me faz pensar bastante. É uma gama de inspirações que estão sendo bem utilizadas para esse álbum.

Para “Te Estranho”, é uma música que quer lhe iludir, quer fazer você pensar em uma coisa nesse “Estranho Familiar”, mas pode ser muito mais?

É uma canção sobre relacionamentos? Sobre sonhar com alguém? Ou algum lugar? Que inquietude é está que a canção quer tanto comunicar? O que é esse jogo de palavras que é tão estranho longe, mas é estranho quando perto também?

De repente entra o Jair com uma narrativa mais evocativa, por alguns momentos mais intensa na letra, como um personagem confuso, talvez nesse limiar entre os real e o não-real, em que não consegue se achar. E finaliza com a Ayla que pode lhe induzir para um outro caminho.

É uma música que irá lhe convidar a pensar no que ela quer falar, como sobre aquele sonho que queremos descrever numa sessão de terapia, mas os detalhes estão turvos, dentro de nós, onde as descrições podem não ser tão exatas e a partir daí quando procedemos em descrever da nossa forma, estamos falando mais sobre nós mesmos no final.”


Maquinas Te Estranho (cred. Tais Monteiro)
Maquinas planeja realizar turnê pelo país para promover seu novo disco. – Foto Por: Tais Monteiro

Esse é o primeiro material inédito desde “O Cão de Toda Noite” de 2019, e já prometeram novo disco. Pode nos adiantar algo sobre esse novo lançamento? Teremos turnê pelo Brasil?

Allan: “Bem, estamos em produção do novo álbum, pretendemos estar com ele pronto até o fim do ano, mas ainda não temos uma data definida. Não queríamos atrelar o single apenas como um teaser para o álbum pois achamos que ele também tem uma vida por si só. Fazer com que as pessoas ouçam e se encantem por si só sem pensar “ah, então próximo mês vem álbum novo, não é?”. Não, não vem (risos) vivenciem “Te Estranho” bem. O clipe do single também está estreando, com direção da Taís Monteiro que também é nossa fotógrafa oficial. (risos) Então tem muitas camadas aí para vocês curtirem.

Mas sobre o álbum em si, acho que ele está vindo com muita expectativa nossa. Esse desejo de mostrar o que essa formação nova tem a jogar pra esse mundo. O fato de que estamos todos muito comprometidos e instigados em fazer.

O fato de que em 2023 fizemos 10 anos, no quanto que vivenciamos e seguimos em frente. Esse álbum vai vir com muitos significados especiais, mas o melhor de todos é que é um álbum cheio de amizade, dedicação e maturidade de amigos que seguem juntos para ver até onde o Maquinas pode chegar, em passos concretos, apesar de falar tanto no abstrato! (risos)

Além disso: sim! Faremos turnê em 2025 e estamos já muito empolgados pois nossa última turnê foi em 2018. Ainda estamos fechando os detalhes mas vai ser ótimo fazer shows em algumas cidades que adoramos e temos ótimos públicos e boas lembranças, além de passar por cidades que ainda não visitamos mas estávamos devendo desde anos maquinas (risos)! Vai ser uma experiência maravilhosa fazer tudo isso novamente depois de tanto tempo.”

Qual o futuro do Maquinas? Vocês planejam mais projetos? Deixe um recado para quem ainda não conhece a banda.

Allan: “Pensar um futuro a longo prazo para uma banda de Fortaleza como o Maquinas, é sempre complicado porque envolve muitos dilemas que temos como uma banda experimental no cenário atual, mas certamente, o fato de todos nós da banda estarmos juntos e com o sentimento de que faz sentido o que estamos fazendo e continuar, nos faz simplesmente dar de ombros para as perspectivas baixas e nos permitirmos seguir nosso caminho fazendo planos e pouco a pouco realizando-os.

Quando fizemos uma série de shows em Fortaleza, em dezembro de 2023 e janeiro de 2024, no Porto Dragao contando com participação de diversos artistas que temos amizades e inspirações como Clau Aniz, Fernando Catatau, Chinfrapala, Aterra Flecha e Leves Passos, foi um momento especial, realizar diversos shows junto com grupos de diferentes formatos e musicalidades, mas estando ali, no mesmo palco, tocando juntos, sendo um só.

Ali percebemos que sempre construímos nosso próprio caminho independentemente. E assim vamos seguindo. Temos esse álbum e essa turnê agora próximo ano, mas estamos já pensando em novas ideias para celebrar essa primeira década de vida do Maquinas tanto do que vem por ai como também celebrar e dar o devido valor ao que fizemos antes. Se é que vocês me entendem…(risos). E rumo a segunda década do maquinas! (risos).”

Roberto: “Acho que a gente já tá no futuro do Maquinas (risos). A gente quer que a banda sempre esteja conseguindo chegar em mais gente, pois a gente sabe que tem muita gente que gosta e que poderia gostar da música que a gente faz.

Queria que não precisasse depender tanto de algoritmos ou sei lá que nossa música só chegasse muito tempo depois que a banda acabar ou coisa do tipo, porque a gente sabe que acontece demais né?

Enquanto isso, a gente tenta estar trabalhando em vários projetos possíveis (risos). Eu, por exemplo, componho música pra cinema e também tô em pré-produção de um disco solo. Também toco com outras bandas e artistas quando me chamam pra colaborar.”


error: O conteúdo está protegido!!