Indigo Mood revela faixa a faixa exclusivo para o álbum de estreia “Fim do Autoengano”

 Indigo Mood revela faixa a faixa exclusivo para o álbum de estreia “Fim do Autoengano”

Indigo Mood lança “Fim do Autoengano” – Foto Por: Motafelli e Rennó

Após muitos anos de espera finalmente Leonardo Mendes lança o álbum de estreia do projeto Indigo Mood. O artista cearense disponibiliza nesta terça-feira (08/08) através do selo Trópico Música, Fim do Autoengano. O material que teve singles lançados ao longo dos últimos anos finalmente ganha a luz do dia. Produzido e mixado por Felipe Couto no Estúdio Lisa e masterizado por Rodrigo Deltoro em DaHouse Audio, as canções tem um contexto bastante pessoal e introspectivo.

Entre as texturas, o debut vai do indie rock ao neo soul passando pela mpb, o jazz e a neo psicodelia.


Indigo Mood revela faixa a faixa exclusiva para Fim do Autoengano - Créditos de Motafelli e Rennó
Indigo Mood lança “Fim do Autoengano” – Foto Por: Motafelli e Rennó

Indigo Mood Fim do Autoengano

Especialmente para o lançamento do álbum com exclusividade Leonardo Mendes revela todos os detalhes de cada composição presente em Fim do Autoengano para o Hits Perdidos. Quem assume o comando a partir daqui é o artista. Boa leitura!

1) Cadeira de Praia

Cadeira de praia é ‘Time Bomb’ explodindo. Poucos dias depois de terminar aquele relacionamento que eu sabia que tinha prazo de validade, tomei um Zolpidem e não dormi. Ainda acordado, se é que se pode chamar assim, fui invadido por imagens recorrentes daquele relacionamento. Puxei o bloco de notas e vomitei mais linhas que eu teria paciência pra ler hoje. Meses depois, desengavetei essa bíblia, fiz um crivo, sintetizei um refrão e musiquei.

A música é sobre isso, sobre ver a outra pessoa também tentando, mas a coisa se dissolvendo, e o vento levando, e a cerveja esquentando, e a gente esfriando.

Aqui as influências passam por Erykah Badu e D’Angelo, com um suco de música brasileira setentista, especialmente Tim Maia e Mutantes. No solo, Diego Silvestre se inspirou em Pepeu Gomes no Montreux Jazz Festival.

Balanço tristinho com letra não só em português, mas em cearense. Inclusive, minha única feita toda no idioma de berço.

2) Tem Calma

‘Tem Calma’ é sobre mergulhar de bico. Aqui em Fortaleza, “pular da ponte” não é sinônimo de suicídio, é de viver a cidade, de mergulhar fundo no mar quentinho que chama a gente de domingo a domingo, mas principalmente domingo. Da Ponte Velha, a gente se joga no que a gente acha bonito, e é incrível.

Com influências de Papooz e Devendra Banhart, a música narra aqueles primeiros diazinhos (ou, se você tiver sorte, primeiros meses) de frio na barriga em que a síndrome de impostor, de achar que não merece aquele amor novo, se digladia com a obsessão por, dessa vez, fazer dar certo. Não sem a mediação do superego, mandando ter calma. Rigidamente impondo tranquilidade.

3) Time Bomb (Remaster)

Tristeza tropical. Time Bomb é um desabafo num cenário cheio de maresia, narrando um caminhar bonito até as coisas ficarem feias. Ela disse que era problema, eu sabia que não era coisa boa mas apertei “Estou ciente e quero continuar”. Tic tac, tic tac.

A faixa tem influências fortíssimas de artistas do R&B, do Indie e do Retro Pop, como Erykah Badu, Homeshake, Marina Lima, Brad Stank e Biig Piig. Misturando essas influências a uma dita Tristeza Tropical, a gente procurou elementos simples, reduzidos mas procurando trazer profundidade à melodia da guitarra loopada que faz o caminho todo da música.

Neste link, tem um mini doc comigo e com os músicos que faziam parte da banda naquele momento.

4) Never Was Enough (Remaster)

‘Never Was Enough’ é um lamento, um desabafo de um mau perdedor atado a uma romantização idealizada do que se viveu no passado. E preso nesse passado, eu me afundo nas próprias paranóias em relação ao ex-par romântico, que a essa altura já se permitiu envolver-se em outros relacionamentos. Me vitimizo declaradamente a terceiros e presumo nunca ter sido suficiente para ela. É a história de alguém que, incapaz de seguir em frente, tem pena de si mesmo e busca desesperadamente a empatia daqueles que ouvem seus lamentos e da própria pessoa para quem declama versos desesperados.

É a música mais antiga do disco, em termos de composição. Escrevi ela em 2015, quando descobri que meu então melhor amigo tinha bloqueado minha então ex no meu Instagram. Quando pesquisei, acabei vendo toda aquela felicidade de uma vez. Deu no que deu.

Até sua gravação, em 2019, foram muitas referências se somando ao arranjo. São elas: Connan Mockasin, Cidadão Instigado, Lenny Kravitz, Billie Eilish, Clube da Esquina e o final não deixa eu negar a referência direta a ‘Echoes’, do Pink Floyd.

5) Fim do Autoengano

Em momentos de inflexão em relacionamentos longos que não se medem pelo tempo, a corriqueira saturação corrói toda a presencialidade do que deveria ser uma troca mútua, um contrato de duas pessoas que decidem, juntas, dividir sua breve experiência de vida. Nessa saturação, a gente fala idiomas diferentes e finge entender, finge que ainda dá pra tentar.

A presencialidade se dissolve e o passado vencido segura e é segurado pelo braço de futuros idealizados pelo sentimento do que um dia foi esperança efervescente. Somos destinados a ser um do outro, a seguir um com o outro, até cansar de acreditar nisso.

‘Fim do Autoengano’ discorre sobre o rompimento do último fio de uma corda que prendia feito tourniquet, sem deixar mais nada pulsar direito. Até convencer corações partidos a partir, a tal da primeira fase do luto vem como o mais confortável estado ao qual se recorre quando a barragem começa a craquelar. Negamos. Nada muda e já estamos anos-luz daquela pessoa ao redor da qual orbitávamos com tanto empenho. O sol se apaga e demora horrores até percebermos. Aceitamos.

A referência a Black Keys é clara na linha de baixo em boa parte da música, da qual os tempos compostos e transições entre português e inglês vêm com uma confusão semiótica.

O nome do disco não é esse por causa da música, mas esse nome traduzia bem ela e traduz o disco. É uma desilusão. E que bom. É tudo daqui pra frente.

6) White Wine

Aqui é a Indigo Mood na sua essência: melancólica, sensual e timidamente dançante.. Composta durante os tempos incertos e solitários da Pandemia, ‘White Wine’ fala sobre estar disposto a realizar mudanças comportamentais em um relacionamento no qual se está inseguro quanto à reciprocidade de sentimentos.

Para além de transformações de comportamentos que envolvem uma relação amorosa, a faixa, que tem referências de bandas e artistas como Kali Uchis, Marina Lima, Connan Mockasin, Biig Piig e Isley Brothers, narra situações e hábitos novos, que chegam a partir de novas experiências, que a gente aprende e acaba levando para a vida. Odiava vinho branco, mas amava quem oferecia e o brinde era gostoso, me fazia bem. Que pena.

7) I Couldn’t Help Giving a Try (Remaster)

Li em algum canto que você não precisa se curar de um relacionamento pra entrar em outro, e acho que até concordo. Mas no caso que inspirou essa daí não foi bem assim. Ela vem mais ou menos no mesmo pacote fértil de ‘Never Was Enough’, quase contemporâneas.

‘I Couldn’t Help Giving a Try’ fala de não conseguir sair daquela fossa. Você tenta, conhece novas pessoas, viaja, vive coisas, enche o rabo de cachaça, para até de beber e começa uma obsessão nova, mas a ressaca só piora. Você entra em um relacionamento novo, mas não consegue se conectar, por causa de um daqueles fantasmas que você achava que iria conseguir esquecer.

Eu tava ouvindo bastante John Frusciante na época (coitado). Um dia, tocando ‘I Could Have Lied’, fui adormecendo fazendo o riff e errei, virando o comecinho de ‘I Couldn’t Help Giving a Try’. Além do guitarrista, também bebi bastante de uma galera da Motown, que tava mergulhando nessa época, e de um perito do soul chamado George Jackson, além do Astronauta Marinho, banda inclusive dos produtores que assinam a faixa comigo: Felipe Couto e Guilherme Mendonça.

8) Once Again (Remaster)

Produzido em parceria com o instrumental post-rock de Astronauta Marinho, a música tem um tom introspectivo, notável tanto na letra quanto no arranjo, com um flerte com a psicodelia. Também tem fortes influências de Connan Mockasin, Mac DeMarco, The Neighborhood e do próprio Astronauta Marinho, além de fazer uma referência direta a “I’m Not In Love”, do 10cc.

‘Once Again’ reflete sobre microrrelacionamentos, em que você se apega a relações em que aquela pessoa não tem as mesmas intenções, mas, ao mesmo tempo, não tem a responsabilidade emocional de se afastar. Vem em ciclos, vem em ondas. Vai e vem, e leva a gente.

Mac DeMarco, Connan Mockasin e Soft Hair são referências quase diretas da faixa.

9) Loser

Sem pose, sem performance, sem negar expectativas. Me exponho mais uma vez em ‘Loser’, bebendo da vulnerabilidade visceral de Aretha Franklin, Cassiano, Amy Winehouse, Chet Baker e Sade.

Com influências que permeiam o R&B, o soul e o indie, a letra crua desse “perdedor” que vos fala conta sobre abandonar fachadas de indiferença e abraçar emoções genuínas, custe o que custar. Se apresenta ali, onde quer estar, deixando escapar declarações na hora errada.

“Loser” é um testemunho da exploração das próprias emoções diluindo exposição e introspecção, paixão e honestidade, acabando de repente, não mais que de repente. E eu que lute.

10) Wedding Dress (Extended)

Bem filme romântico mais ou menos, um belo dia, ainda em fossa interminável, num desses reencontros ébrios e perigosos, ela me contou de um um taxista que tinha conhecido (ainda quando pegávamos taxis). Ele contou pra ela que teve um grande amor que perdeu e que ia se casar com um cara bem rico e ainda o convidou para o casamento. No convite dele, dizia que se ele aparecesse na igreja no dia do casamento, casava com ele e não com o ricasso.

Acreditando que o noivo daria uma vida melhor à moça, o taxista disse que não foi, mas eu iria. Que se lasque a “vida melhor”, eu iria. De vestido de noiva e tudo.

Além de histórias de taxistas ou de pescador, ‘Wedding Dress’ conta desse encontro e responde a essa história com influências de Melody’s Echo Chamber, Tame Impala, Infinite Bisous e The Arcs.

11) 1402

As inseguranças que os 20 e médios trazem. Você corre tanto, se acha tão maduro. Anda com gente mais velha, namora com gente mais velha. E aí? Caem-se as cortinas e as janelas nos atacam mais que os espelhos, ou feito eles. Afinal, de fato, o inferno realmente são os outros, mas o que queima mesmo é nosso reflexo neles.

Ao sinal das minhas primeiras linhas de expressão e ao aterrorizante vidrinho de Minoxidil na pia do meu banheiro, subo os olhos, encaro o espelho e ecoa na minha cabeça a crítica da minha mãe de que eu não sorrio mais em fotos. Fiquei pra trás, junto dos meus sorrisos frouxos e da minha espontaneidade.

Transicionando de um lofi em 808, com referência descarada de João Gilberto e Biig Piig, cresço na Motown e no neo soul, me perguntando quando vou ver aquele Leo de novo.

Fim do Autoengano já está disponível em todas as plataformas digitais.


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