Segundo disco de Lauiz, Perigo Imediato, é recheado de participações especiais
Na maioria das vezes a música surge da inquietação de produzir. Ela, diferentemente de outras atividades, não precisa ter regras ou preceitos. Ela precisa pulsar e chegar em algum lugar onde gere conexão. Mesmo que seja por explorar universos paralelos, gerar entretenimento, nos tirar daquela letargia que a rotina de compromissos e reuniões coloca, por sua vez, os reles mortais em situação de estafa. Ela pode também ser divertida e nos teletransportar para cenários e lugares que achávamos que nunca íamos conhecer e desfrutar.
Esse é o cenário perfeito para introduzir o universo nonsense, quase dantesco, e repleto de referências do Spaghetti Western, presente no segundo disco de Lauiz, Perigo Imediato. O músico, que integra a banda paulistana Pelados, onde também assume as teclas e os beats, disponibiliza o sucessor do Disco Rosa do Lulinha (2022), e com uma dose debochada de ironias, e esporas, mas sem colocar aquela bota horrorosa da Havan da Joelma, navega pelos cenários áridos do country estadunidense.
Lauiz também já trabalhou em discos e faixas de bandas como Últimos dias disso, Celacanto, Sophia Chablau, Besouro Mulher, João Barisbe, Cambaia e Marina Melo, tanto como engenheiro de mixagem quanto na produção.
Após lançar o single “Só Palavras”, em que falamos por aqui. Através da Matraca Records, o disco chega ao respeitável público nesta sexta-feira (31) reunindo 8 faixas. O material reúne participações de seus colegas de Pelados, Theo Ceccato, Helena Cruz e Vicente Tassara, e o baile de secreto rodeo town fica completo com feats de YMA, Farme e João Barisbe. Seu segundo álbum de estúdio, na base do faça você mesmo, foi produzido e mixado por ele mesmo no Estúdio Orgânico e masterizado por Pedro Vinci na Matraca Records.
Ao longo das suas 8 músicas, o roteiro do disco conta com Fred Calamidade, personagem que Lauiz criou com o artista Irmão Victor, aliás ouçam o ótimo Micro-Usina (lançado recentemente pela Seloki Records). O narrador declama textos debochados feito uma espécie de interlúdios entre as faixas.
Deixando sua espingarda de lado, o músico revela um pouco mais sobre como a violência e o cinema inspiraram seu novo disco.
“O tema do ‘Perigo imediato’ é a violência. Não a violência real, mas a violência cinematográfica, aquela explosão desnecessária, ridícula e, ao mesmo tempo, irada. Eu falo isso, porque sinto que, mais do que nunca, os timbres e letras escolhidos nas minhas músicas estão trazendo imagens.
Tem um lado experimental nessa parte do trabalho, que para mim sempre foi uma situação mais ‘caçadores de mitos’ do que Marie Curie. Sinto que eu estou sempre futricando com as alavancas pela diversão de futricar. Tudo seria insuportável se eu tentasse fazer música de uma forma pretensiosa. Invenção, diversão e expressão. E botar um barulho engraçado aqui e ali.”, revela Lauiz sobre seu bang bang western musicado
Ele ainda completa: “A respeito do disco é quase uma graduação na forma de canção que venho aprimorando nos últimos anos. A grande ironia é que por mais que atravesse de Aphex Twin a Mutantes, acredito que haja uma coesão na diversidade, uma ordem no caos. (risos).”
Pautado na esquizofrenia, o álbum abre seu enredo em meio a ondas eletrificadas que fazem um paralelo entre o cinematográfico e o universo escandaloso das sátiras. De forma lisa, com munição no coldre e cenários de trocação que vão se espelhando na mente do ouvinte. O “Perigo Imediato” se materializando, entre jeans apertados e olhos que se cruzam no campo de batalha.
O surrealismo dá as caras na improvável faixa que tem a participação de YMA, “Baby Me Bota Dentro do Microondas”. Podendo fazer parte de alguma trilha de algum programa matutino da TV Cultura, o lúdico e o absurdismo fazem uma ponte no horizonte dando ares a um cenário de realismo fantástico. As colagens sonoras dão toda a levada distópica para adentrarmos entrar na mente sonhadora, de nosso mestre de cerimônias, Fred Calamidade.
Confesso que me diverti durante a audição pela natureza anárquica, sem medo de soar estranho, com direito a samples e várias brincadeiras com a cultura pop, dos memes ao cinema, de “Só Palavras”. Os cenários descritos criam todo um enredo, entre porres, americanos pobres e o ar árido de quem está prestes a perder a cabeça. O ser ou não ser, de um cowboy que não se sente nem mesmo um deles. Uma crise existencial em meio a crise de identidade do nosso pobre Fred.
Em “Nuclear” já temos um experimento com as teclas e efeitos dissonantes, algo como se DEVO brincasse com o The Cars, mas fazendo synthpop caricato de outro planeta. Uma das mais melódicas do disco, ela até parece ter uma estética que ia agradar caras como John Ulhoa – e quem conhece a obra do Pato Fu vai entender.
A melancolia transparece na saga em “O Gatinho Mais Rápido do Oeste”, uma faixa mais minimalista com toda aquela energia de música de videogames em 8-Bits… com direito a bateria robótica, tiros de pistolas, em meio a clichês dos filmes de bang bang. O momento de glória do nosso falso herói, um ser rápido, manhoso e inerte.
A “Velocidade é Sexy II”, que tem participação de Felipe Kouznetz, é uma irônica disco music que parece cruzar as fronteiras com o universo dos desenhos animados e programas infantis. Uma linha tênue, entre o tragicômico e o abstrato. O que representa muito o disco por si só.
Como todo filme de western, o momento de “comer chumbo” ia chegar e “Sexo Drogas e Rock And Roll” faz tudo que seu título não indica. É uma balada em ode a cervejas, muitas delas de qualidade, vamos dizer assim, questionável. A melancolia soa justamente como uma ressaca após ter empilhado cascos durante a noite toda – tudo isso imerso em guitarras lo-fi.
Com a mesma energia caótica dos beats de “Baby’s Got Back (I Like Big Butts)”, do Sir Mix-a-Lot, “O Lauiz Não Tem Um Puto” faz uma espécie de ode ao Serasa. Com direito a um baixo em primeiro plano, elementos percussivos que vão se somando e criando camadas, de forma que ela vai se tornando algo ironicamente épico… feito uma bizarra homenagem ao Kraftwerk. É, eu sei, para você ouvir esse disco você precisa abraçar o distópico e sorrir para o nonsense.
Nesta sexta-feira Lauiz faz o show de estreia de Perigo Imediato, no Picles, em São Paulo, em noite que dividirá o palco com o pernambucano Tagore e DJ sets de Alexandre Matias, do Trabalho Sujo e Francesca. Garanta seu ingresso clicando aqui.
Músicos:
Lauiz (synths, samples, programações)
Theo Cecato (baixo, percussão)
Fred Calamidade, interpretado por Irmão Victor (narrador)
YMA (voz)
Farme (voz, guitarra)
Manu Julian (backing vocals)
João Barisbe (voz, teclados)
Helena Cruz (baixo)
Vicente Tassara (guitarra, voz)
Produzido e mixado por Lauiz no Estúdio Orgânico
Masterizado por Pedro Vinci na Matraca Records
Créditos Capa
Produção: Zebra Tropical
Direção criativa: João Corbett
Figurino: Olavo Toledo
Assistência de figurino: Fernanda Coentro e Beatriz Caldeira
Produção de figurino: Nina Maria
1. Perigo Imediato feat. Irmão Victor
2. Baby Me Bota Dentro do Microondas feat. YMA
3. Só Palavras feat. Theo Ceccato
4. Nuclear
5. O Gatinho Mais Rápido do Oeste feat. João Barisbe
6. Velocidade É Sexy II feat. Felipe Kouznetz
7. Sexo Drogas e Rock And Roll feat. Vicente Tassara
8. O Lauiz Não Tem Um Puto feat. Helena Cruz
This post was published on 31 de maio de 2024 12:39 am
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