“Névoas” é o primeiro single do quinto álbum de Jair Naves programado para o segundo semestre
No dia 19/05, na Tenda MetLife, mesmo palco que abraçará os shows do Squid, Noah Cyrus, Cat Power e Pavement, o brasiliense Jair Naves apresentará suas canções no C6 Fest. Ele integrou o Okotô, ainda muito novo, e se consolidou com o Ludovic, tem uma carreira solo bastante consolidada, indo de temas mais politizados aos mais introspectivos.
Tendo lançado os EPs Araguari (2010) e Atirado ao Mar (2015), os discos E Você Se Sente numa Cela Escura, Planejando a Sua Fuga, Cavando o Chão Com as Próprias Unhas (2012), Trovões a Me Atingir (2015), Rente (2019) e, mais recentemente, em 2022, seu quarto disco, Ofuscante a Beleza que Eu Vejo. Em paralelo, também teve nesse meio tempo o lançamento de A Flash of Feeling (2018), álbum feito junto à cantora estadunidense Britt Harris.
O quinto disco sairá no segundo semestre em parceria com o selo paulistano Balaclava Records, o músico comenta a entrada no casting e o momento da decisão.
“É uma grande alegria passar a fazer parte do time da Balaclava. Sinto que nossas histórias correram de forma paralela, me lembro de que o começo da minha carreira solo ocorreu praticamente de forma simultânea ao início do selo e da produtora. Se não estou enganado, coincidiu até do meu primeiro disco solo sair na mesma época, senão no mesmo mês, do álbum de estreia do Single Parents, que creio ser um marco na história do selo, de alguma forma.
Tentamos estreitar os laços na ocasião do meu segundo disco, em 2014, mas por alguns detalhes a parceria acabou sendo adiada. Veio um pouco mais tarde nos relançamentos do Ludovic, minha antiga banda. Dez anos depois, finalmente deu certo alinhar meu trabalho solo ao deles. Um motivo de orgulho, finalmente ter ao meu lado amigos cuja trajetória eu tanto admiro”, comenta Jair
Com carreira pautada pela sensibilidade e densidade nas composições, a música nova de Jair, “Névoas”, desde sua introdução traz consigo seu lado mais sensível e intenso. A forma como descreve o abalo sísmico das suas barreiras emocionais, já desarmam, por si só, o ouvinte logo nos primeiros segundos.
As reflexões vão sendo destiladas ao longo da letra – que acompanhada por um piano – discorre sobre atitudes mundanas, e nem sempre bem vistas aos olhos alheios, como os julgamentos e seus inerentes rebotes.
Assim como a angústia de segurar sentimentos mais coléricos e como muitas vezes chegamos mais próximos do nosso lado “animal” do que racional, perdendo completamente a coerência (já que a razão já se foi pelos ares). Tudo isso se opondo ao doce instrumental, como artistas tanto amam fazer.
O lado errático do ser humano nesta faixa fica (muito) além da superfície. A autocrítica ganha forma e é expurgada.
Em sua segunda parte, se podemos dizer assim, os arranjos se encorpam e o olho para a vivência mais ardente na intimidade ardente de um casal – e seus descontroles – vão para a derme. A arte imitando, os rolos e desenrolos, do roteiro errático, e sinuoso, do que chamamos a vida.
Mais uma vez Jair consegue nos emocionar nos teletransportando para histórias que nem dele são, mas como de qualquer outro ser humano, poderiam ser. Assim como Bob Dylans, Leonard Cohens e Sufjan Stevens, costumam ressoar para os meros mortais.
“O processo de composição de “Névoas” foi um pouco mais longo do que de costume. Gravamos o instrumental dessa e de outra música em julho do ano passado. Resolvi trabalhar na letra com calma e só retornar ao estúdio quando tivesse algo que apontasse para um rumo diferente do último álbum e de que eu realmente me orgulhasse.
Outras coisas foram acontecendo nesse meio tempo e eu acabei deixando essas composições de lado até fevereiro deste ano, quando decidi que era a hora de finalizar esse material. Levou um bom tempo, mas estou certo de que valeu a pena.
Gosto muito do que está sendo dito nessa letra, de forma que até me surpreendo quando me deparo com algumas das imagens e sentimentos expressos ali. Creio ser uma boa transição para o que imagino que será o próximo disco”, pontua Naves.
“Névoas”
Os muros frágeis que eu ergui,
escudos de papel com que eu me protegi
O rigor com que eu julgo os outros
implacavelmente faz um alvo sobre mim
Se volta contra mim
Não é que eu tenha a intenção de te punir,
mas dentro de mim
se acumulam coisas que você precisa ouvir
Protagonista e testemunha,
uma reviravolta de que eu não supunha ser capaz
Para o que você despertou não há tradução,
tripudia de uma racionalização
O significado se desfaz no som
Não há algo a que eu queira te reduzir,
mas dentro de mim
se amontoa tudo que você me faz sentir
Rendido pelo seu toque,
um rito de iniciação, um choque
A voz se fortalece, de mim se aproxima
surpreendida por
um choro de alegria
Um choro de alegria
Não é bem que eu queira te confundir,
mas dentro de mim
se empilharam coisas que eu também não compreendi
E não há algo a que eu queira te reduzir,
mas dentro de mim
se amontoa tudo que você me faz sentir
Toda manhã quando eu acordo
antes até de eu abrir os olhos
tudo em mim clama por ti
Mulher que eu venero,
envolta em névoas de mistério,
quão longe eu posso ir?
O tanto que eu te quero
eu ressuscito, eu me revelo
como eu mesmo nunca me vi
No refúgio do seu corpo
eu me jogo absorto e feliz
Nenhuma hesitação,
Nenhuma explicação
Os muros frágeis que eu ergui,
escudos de papel com que eu me protegi
O rigor com que eu julgo os outros
implacavelmente faz um alvo sobre mim
Se volta contra mim
Não é que eu tenha a intenção de te punir,
mas dentro de mim se acumulam coisas que você precisa ouvir
E caem os muros que eu ergui
This post was published on 9 de maio de 2024 12:01 am
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