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Måneskin aposta em clichês do rock em show desenhado para estádios em sua volta a São Paulo

Em uma sexta-feira completamente caótica em São Paulo, tanto pela quantidade de eventos realizados simultaneamente, como também marcada pela queda de luz generalizada de boa parte da cidade, os italianos do Måneskin tinham marcada a sua segunda passagem pelo país. De fenômeno de TikTok a apresentação no Palco Mundo do Rock In Rio. A internet realmente tem cada vez mais poder em colocar no holofote um artista fora do circuito em questão de uma trend. Alguns sabem aproveitar os 15 minutos de fama, e eles tem conseguido já mesmo tendo um sucesso, digamos assim, meteórico. A banda para terem uma ideia está em atividade desde 2016.

Uma das razões de irmos a este show vai além da música mas de entender quem é o público e como se comporta. Outro ingrediente foi Mick Jagger ter se empolgado após o grupo italiano um show deles em Las Vegas, ainda em 2021.

“Hoje me surpreende que a maior banda de Rock do mundo seja italiana. É estranho, não? A Itália tem uma tradição musical fantástica, mas certamente não é conhecida pelas bandas de Rock. Eles são a banda dos jovens de 20 anos de hoje e todos nós esperaríamos que em algum lugar houvesse um grupo inglês ou americano.”, disse Jagger ao jornal italiano Corriere Della Serra

Com tantos elementos a curiosidade por assistir em assistí-los aumentou. Afinal, é tão bom assim a ponto de tanta euforia? A verdade é que assim como o Greta Van Fleet, vemos uma energia revival muito forte desde o momento em que pisam no palco. Só que ao invés de nos depararmos com uma banda que rende comparações com Led Zeppelin e a onda de bandas sessentistas, eles puxam para o outro lado do hard rock (apesar de ser também uma referência direta). Um lado mais energético e teatral de grupos como Black Sabbath, Aerosmith, se aliando com os figurinos de Kiss e David Bowie. Tudo está ali.

Isso transparece até mesmo na construção do show e performance. Aliás quando se trata de performance não há o que reclamar. Os integrantes sabem usar a extensão do palco e tem provavelmente uma das direções de luzes que mais me impressionou no ano. O show no Espaço Unimed (antigo Espaço das Américas) estava lotado e muitas camisetas pretas, calças de couro, eram vistas na região, até mesmo um manobrista comenta com um colega, “hoje é dia de show de rock pelo visto, né?”.


Måneskin em São Paulo – Foto Por: Rafael Chioccarello

Måneskin em São Paulo

Com toda aquela energia da Christiane Torloni, o show tem início por volta das 22 horas sem muitos atrasos. E é perceptível como o que chamamos de “hard rock farofa” acaba sendo um norte para o show. Desde a sexualização dos integrantes, cartazes do público a chamada dos fãs para cantar em cima do público, no melhor estilo “Girls, Girls, Girls, do Mötley Crüe. Tem espaço para diversos clichês. Muitos sutiãs – e calcinhas – são jogados em direção de Damiano David e ele tem um pedestal só para pendurá-los e interagir com eles, sim, no melhor estilo Detroit Rock City.

O que mais impressiona na apresentação em si é a técnica e comando do Thomas Raggi que segura o punch das linhas de guitarras com um repertório infindável de solos. O que embora no começo do show chegue a impressionar, ao longo da pouco mais de uma hora e 40 de show começa a cansar um pouco. Fica aquele questionamentos: solos de guitarra irão mesmo te impressionar?

É até impossível não fazer comparações com algumas fórmulas de sucesso de Kiss e Aerosmith ao longo da apresentação. Da quebra teatral do set com algumas saídas, passando pelo momento balada acústica no meio do público a levantar seus instrumentos no melhor estilo Guitar Hero. Está tudo ali. Damiano em certo momento pede para desligar as luzes do palco e aponta um canhão de luz para o público e para os integrantes.

Na sonoridade é evidente ver o misto entre hard rock, heavy metal e o stoner do Sabbath. O que acaba contribuindo com um show onde vemos muitos pais com seus filhos. Aliás, isso é um dos fatores mais positivos de todo esse circo. Outro elemento utilizado muito do estilo nos anos 80 é o bumbo e a caixa ritmada para marcar a entrada das músicas. Não bastasse isso ainda temos pedidos para pular, para erguer as mãos, entre outras coisas, o que dá um tempero e mostra um bom controle do público. No repertório temos o misto no set de canções em inglês e italiano. Victoria de Angelis ri bastante de Damiano falando “eu quero ver sua bunda” e de cada “caralho” dito. Eles falam por diversas vezes amar o Brasil.

As interações vão de levantar os instrumentos, e fazer contorcionismo, entre os integrantes, a ir para galera solar e realizar alguns stage divings ao longo do set. Um dos momentos mais legais do show acontece por volta dos 50 minutos de apresentação, quando o guitarrista e o vocalista saem do palco e aparecem no meio da pista comum em uma espécie de palco improvisado. Além de ser uma crítica a estrutura de Pista Vip, algo que nem deveria existir (vamos combinar), se aproxima ainda mais do calor dos fãs para gerar uma experiência memorável.

Por lá cantam “VENT’ANNI” e “Exagerado”, sim, a mesma versão que tocaram dois dias antes no Rio de Janeiro. O vocalista fala que não sabe quase nada de português e que foi um desafio aprender a vocalizar as palavras mas que amava muito o Brasil e por isso nem pensou duas vezes em aprender a música. Vale lembrar que na Argentina eles tocaram “De Música Ligera”, clássico do Soda Stereo, em espanhol, idioma em que parecem ter se sentido ficar mais a vontade.



Como dito anteriormente, o lance da sexualização dos integrantes é algo que fica até um pouco cansativo. Depois de ouvir o público chamar a baixista Victoria de gostosa, Damiano pede para ele o “biscoito” e o público atende. No momento em que ele tira a camisa também existe uma comoção das fãs que jogam mais peças de baixo no palco. Ele pega e fala algo como “Oh, mais uma calcinha, pelo visto.”

Com 4 entradas no palco e quase 2 horas de show, o ritmo acaba cansando até mesmo os fãs mais entusiasmados que cantam menos e esperam os hits que ainda faltavam. E, “Kool Kids”, muitos fãs sobem no palco, algumas fãs sem sutiãs, inclusive, entre interações com os fãs.

Eles tem pontos altos divididos por parte do set, se livram de “Beggin”, logo no começo, até desabafando de “estar de saco cheio de tocar” a versão do The Four Sessions. Talvez a cruz que vão ter que levar por um bom tempo…e que se acostumem. Se até o R.E.M. uma hora cansou de tocar algumas das músicas mais famosas (e foi um fardo no fim da banda), isso acaba sendo algo que é necessário conviver. “The Driver” no primeiro bloco emendada com uma versão encurtada de “Baby Said”; no segundo com a dobradinha com “I Wanna Be Your Salve” e MAMMAMIA”; e no terceiro e último (se desconsiderarmos o mini bloco acústico no meio da galera), com “I Wanna Be Your Slave”.

A verdade é que o show que é muito bem ensaiado, com uma produção para estádios, tem muitas fórmulas e quando isso existe, a naturalidade fica para poucos momentos. O que tira um pouco do brilho do andamento. Soa como um fast food do que sabemos o que esperar. Algo que o The Killers faz e funciona mas que para quem assiste mais de uma vez querendo se surpreender novamente, acaba com aquela sensação de “eu já vi esse filme antes”. Agora é esperar por uma volta, quem sabe com um novo disco, e ver quais serão os próximos passos do Måneskin.

Setlist 03/11/2023 – Espaço Unimed

DON’T WANNA SLEEP
GOSSIP
ZITTI E BUONI
HONEY (ARE U COMING?)
SUPERMODEL
CORALINE
Beggin’ (The Four Seasons)
THE DRIVER
BABY SAID (encurtada)
FOR YOUR LOVE
GASOLINE (Com solo extendido na Iintrodução — Thomas Solo)

Set Acústico
VENT’ANNI
Exagerado (Cazuza cover)

Bass and Drum solo
I WANNA BE YOUR SLAVE
MAMMAMIA
LIVIDI SUI GOMITI
IN NOME DEL PADRE
BLA BLA BLA
KOOL KIDS (Fãs no palco)

Encore:
Thomas Guitar solo
THE LONELIEST
I WANNA BE YOUR SLAVE (Versão extendida)

This post was published on 5 de novembro de 2023 2:56 pm

Rafael Chioccarello

Editor-Chefe e Fundador do Hits Perdidos.

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