Luiza Mendes Pereira (ex-INKY) ressurge no indie rock nacional como MADRE

 Luiza Mendes Pereira (ex-INKY) ressurge no indie rock nacional como MADRE

MADRE é o novo projeto da Luiza Pereira, ex-Inky. – Foto Por: Estúdio MU

MADRE apresenta uma nova identidade e a continuidade de sua pesquisa estética musical e de sua carreira.

Luiza Mendes Pereira assina agora como MADRE, com composições criadas e cantadas em português com ajuda de sua nova amiga: sua guitarra adquirida durante a pandemia. A compositora, instrumentista e  cantora assina também a produção musical de seu primeiro álbum solo e apresenta um universo instigante e poético nas duas primeiras faixas que apontam o novo álbum e seu universo musical de agora.


MADRE, Projeto de Luiza Mendes Pereira ex-INKY - crédito: Estúdio MU
MADRE é o novo projeto da Luiza Pereira, ex-INKY. – Foto Por: Estúdio MU

A Nova Fase Musical de Luiza

Com trajetória musical marcada por ter estado à frente da banda INKY como vocalista, compositora e tecladista o projeto que ganhou notoriedade no circuito de música independente desde 2012 e, passou por festivais como o CMJ, Coquetel Molotov, Primavera Sound (Barcelona), Primavera Fauna (Chile) e abriu shows de LCD Soundsystem, The Vaccines e Wild Nothing, entre outros nomes do rock internacional. 

MADRE apresenta um novo estado de música e presença para Luiza, depois de um hiato de 4 anos,  volta à frente de si mesma, agora como guitarrista, compositora integral e produtora musical de suas canções.

A nova persona MADRE nasceu em 2021, um período pandêmico, de isolamento social e muitos sentimentos, quando Luiza comprou uma guitarra e passou a tocar e compor no instrumento pela primeira vez. O resultado é uma amálgama de angústia, desejo, ruído, devaneios e catarse sonora; “um buraco pra fugir do vazio”.

O projeto dialoga musicalmente com Elza Soares, PJ Harvey, Ney Matogrosso, Portishead e utiliza o rock alternativo como linguagem pra passear por referências que remetem ao grunge, à música experimental brasileira dos anos 70 e o pós-rock.

Essa semana que passou MADRE lançou seu primeiro single autoral composto de duas faixas: “Transe” e “Caos”, faixas que trazem guitarras ruidosas e riffs bem marcados unidos às letras introspectivas que exalam força, sensualidade e muito rock. Tendo sua voz marcante e muito afinada temperando todo peso das letras e sonoridades trazendo uma mistura agridoce musical que impressiona por sua produção musical assertiva e excelente, primando pela valorização de todos os instrumentos (inclusive sua voz).

À quem acompanhava a extinta INKY, além de toda instrumentação como novidade, Luiza traz letras compostas em português sem perder a marca registrada que é o timbre de seu canto, e o ganho maior é que se faz possível sentir ela se apropriando de sua poesia e composição com muita maturidade, irreverência e honestidade.

ENTREVISTA: Luiza Pereira (MADRE)

Tive a oportunidade de fazer uma entrevista com MADRE por e-mail e, ela dividiu um pouco desses processos do novo disco.

Como é pra você retomar sua música?

Luiza: “Um resgate! Poder voltar pra música me sentindo livre e me divertindo tem sido uma experiência maravilhosa e terapêutica até. Tinha perdido essa relação com a música que eu tinha quando era criança.” 

Quem é a Luiza de 2019 e hoje a Luiza de 2023?

Luiza: “Foi logo na Luiza de 2019?! (risos) esse período foi trevas.

Acho que hoje em dia eu sou muito mais livre. Em todos os sentidos. E não deixo ninguém mais atrapalhar minha vida ou me podar. Larguei a mão do preciosismo também. Nem quero ser boa mais, só quero ser eu. Eu busquei muito essa liberdade e autonomia nos últimos anos. Estou ficando melhor nessa coisa de ser eu mesma. ”

O que podemos esperar desse novo álbum?

Luiza: “Um álbum honesto, denso, que é um retrato do meu universo interior no período que fiz ele. Eu mesma descrevi esse álbum como uma amálgama de angústia, ruído, desejo e experimentação no meu release e acho que essa é uma boa descrição.

Eu queria que as pessoas pudessem enxergar tudo que estava passando na minha cabeça e no meu entorno quando escrevi. A angústia existencial, os desejos reprimidos, os devaneios, os lamentos…

Esse disco só aconteceu porque tirei ao máximo meu ego do caminho na hora de criar. Não tentei maquiar meus sentimentos, as palavras, a minha forma de tocar. Aquilo ali é o mais fiel possível a quem eu era na época.”

Após tantos anos, o que fez você parar de tocar? 

Luiza: “Exaustão. Mesmo. O ambiente que eu circulava na música era hostil em vários sentidos, precarizado. Minhas relações também. Em algum momento cheguei no limite do que conseguia suportar ali e percebi que já não estava mais fazendo sentido. E que eu não estava feliz.

Inclusive, grande parte da minha retomada na música foi por voltar a me divertir e criar com liberdade.”

Como foi esse encontro com a guitarra? 

Luiza: “Era Abril de 2021, pandemia, isolamento social no auge e eu ainda me machuquei andando de bicicleta e tive que ficar pelo menos 1 mês de molho, sem poder fazer quase nada. Tava perto do meu aniversário e resolvi me dar de presente uma guitarra, que eu sempre quis tocar. Pelo menos ia ter uma distração, algo novo pra fazer, que mantivesse minha cabeça ocupada, porque tava foda.

Passei a compor, porque era a forma que eu tinha de tocar o instrumento e de colocar pra fora o que eu estava sentindo. Aí me apaixonei, ficava ali compondo e tocando horas e horas, nem tinha a pretensão de gravar nada. Fui acumulando algumas músicas e um dia encontrei o Luccas Villela (ex-baterista da INKY e integrante das bandas E a terra não pareceu tão distante e Dozaj) e voilà! Surgiu a ideia de produzirmos juntos e de gravar um disco antes dele se mudar para Berlim. Dois dias depois desse encontro ele tava na minha casa com o baixo e um gravador e começamos a fazer as “prés” do que seria o disco. O Luccas foi um grande parceiro nesse processo. Não só musicalmente, mas como amigo também. Valeu Lukito!!!”

E a espiritualidade? Como chegou a atravessar sua poética?

Luiza: “A espiritualidade está presente na minha vida o tempo inteiro. E como tudo que faz parte do meu universo, aparece na minha poética em vários momentos. Mesmo que não seja esse o foco do meu trabalho. 

Na faixa “Lá Longe No Espaço”(do disco que vem por aí) eu falo sobre reencarnação, sobre o cosmos, sobre magia. Em “Azul Imenso” também falo sobre espiritualidade e sobre ancestralidade feminina, do meu jeito. É só ouvir com atenção o disco quando lançar que tem vários “easter eggs” sobre isso.”

Comente um pouco sobre o processo de criação e gravação das faixas que lançou:

“Transe”

Eu escrevi “TRANSE” um dia que tava trancada em casa no isolamento social e tava chovendo muito. Olhei o vento espalhar as cinzas do incenso em casa, a chuva caindo e comecei a descrever isso e a sensação de ter meus desejos reprimidos, da vida acontecendo lá fora, da sede de viver que eu estava. Tinha a música (letra/estrutura)  pronta, daí me juntei com o Luccas ele colocou o baixo e a bateria, ensaiamos juntos em duo por uns meses antes de gravar. Gravamos em 4 dias no sítio do Lucas Theodoro (Engenheiro de som e músico integrante da banda E a terra não me pareceu tão distante)  todas as linhas de guitarra, baixo e bateria. 

Logo depois da gravação o Luccas foi embora e eu continuei trabalhando as músicas. Fui no Coelho (amigo e produtor do primeiro álbum da extinta INKY) e disse que queria Bass VI no disco inteiro. O bass VI em “TRANSE” é quase um baixo de doom metal. Era isso que eu queria. Tem também uma linha que parece uma guitarra ou um synth e é tudo Bass VI. Era a cor que eu queria pro disco.” 

“Caos”

“CAOS” foi a primeira música que eu escrevi desse disco e também uma das primeiras coisas que compus na guitarra. Fiz o riff do começo e pra mim sempre pareceu quase uma marcha fúnebre. É um riff sombrio e melancólico. Ali em março de 2021 a morte era um assunto diário. Nos jornais, nas conversas, nas angústias. Juntei as duas coisas e resolvi escrever sobre isso. A estrutura dela é angustiante também, você espera ter uma explosão, tem um gostinho e nada acontece. 

Quando a Alejandra (leia entrevista) foi mixar eu dei umas músicas de trip hop de referencia pra esse começo. Ela acertou demais nas mixagens. Eu sabia que ela ia ser a melhor pessoa pra isso. Pra fazer uma mix criativa, “suja”, que não fosse hi-fi com tudo super afinado e comprimido, como a gente tende a ouvir hoje em dia. Inclusive, no dia que levei o single pra mixar ela tava com a camiseta do The Breeders e quando eu citei algumas referencias pra mix eu citei Breeders e ela me mostrou (risos) alinhadíssimas!”

Quais mulheres da música são sua referência?

Luiza: “PJ Harvey, Rita Lee, Chelsea Wolfe, Elza Soares, Juçara Marçal, Kim Gordon, Bjork, Patti Smith, Angel Olsen, Feist.

Quem você anda escutando?

Luiza: “Adrianne Lenker, Luiza Lian, Jadsa, Nick Hakim, Chelsea Wolfe.

Podemos esperar shows em São Paulo? Quando voltar aos palcos?

Luiza: “Podem muito!!! Já já eu anuncio pelo menos a data do show de lançamento do single.”

Como foi sua saída da Inky? Vocês ainda tem alguma relação de amizade ou música? 

Luiza: “Foi conturbado, mas hoje em dia está tudo tranquilo. Minha relação mais próxima é com o Luccas, que foi minha dupla em tudo nesse disco. Pra quem gosta da INKY é ótimo, tem a banda do Gui e o Ste, tem meu projeto com o Luccas, tem as 12 bandas que o Luccas faz parte…tem o projeto do Vitão (baterista da era Primal Swag). Música não falta, pra quem gosta da gente.”

Qual conselho você daria para a Luiza que começou a estudar música e compor, no começo da banda INKY? Qual recado importante ela gostaria de ter ouvido?

Luiza: “Não se compare, se cerque de pessoas que te incentivam a ser você mesma e que querem te ver crescer e não tente se adequar. Ah! E não se leve a sério, música não é coisa séria.”

Ouça: MADRE “CAOS/TRANSE”


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