Amanda Magalhães vai ao encontro com as suas raízes em “Maré de Cheiro”
Feito maré cheia, a cantora, compositora, produtora musical e atriz Amanda Magalhães lança, nesta quarta-feira (10/05) seu envolvente segundo álbum de estúdio, Maré de Cheiro. Espiritualidade, correntes, misturas, batidas eletrônicas, latinidades, tradição, modernidade e um ecoar de brasis se refletem ao longo das oito canções.
“É um trabalho sobre amor e fé. Uma celebração. Sinto que ficou a minha cara e que nasce de um momento onde estou mais madura musicalmente, mais certa daquilo que me traduz. Quero que as pessoas escutem esse trabalho e se sintam convidadas a dançar”, conta Amanda.
O material teve arranjos das faixas e produção musical realizada em parceria entre a musicista e o engenheiro de som e instrumentista Tuto Ferraz. O que se reflete no resultado final bastante versátil que se faz em uma MPB moderna que coloca no liquidificador fusões de estilos como a ciranda, o pagodão baiano, o funk carioca, o samba, a cúmbia e a música eletrônica.
“Tuto é um grande músico. Dinâmico, versátil e generoso. Nossa parceria funciona porque falamos a mesma língua. Ele e Vico, outro grande parceiro com quem componho já há algum tempo, foram fundamentais nesse processo”, revela a artista sobre o processo
Tuto que também é líder do projeto Grooveria, ressalta sobre o disco: “Trabalhar com Amanda é uma delícia! A tranquilidade com que ela dirige o processo todo, aproveitando e elaborando as sugestões dos parceiros, torna tudo leve e divertido. Não é à toa que o resultado tem esse astral que a gente sente em Oxum e todas as músicas do álbum”.
A nova fase artística de Amanda Magalhães
A respeito da fase da carreira a carioca radicada em São Paulo reflete: “Estou numa fase onde me sinto mais à vontade musicalmente, com mais propriedade pra escolher o que quero e gosto de cantar, por isso quero muito dividir logo esse trabalho com quem vem me acompanhando. O que posso dizer é que a MPB e a música eletrônica aparecem de mãos dadas e, cada pedacinho desse trampo, tá carregando muito de mim. Espero que gostem”
Sua carreira musical se iniciou em 2018 com o single “Fazer Valer”, que contou com a participação especial de Rincon Sapiência. Desde então, realizou 12 lançamentos e até mesmo cantou em francês em “Laisse Les Parler“, parceria com PIHPOH.
Além da carreira musical, ela atua como atriz e teve papel de destaque em “3%”, série da Netflix. Em 2022, Amanda foi convidada para participar do MaMA Music & Convention, na França, onde se apresentou ao vivo na famosa casa de espetáculos Moulin Rouge.
Amanda Magalhães Maré de Cheiro
Se em sua estreia, Fragma (2020), o material contou com participações especiais do calibre de Seu Jorge e Liniker, o segundo disco também conta com uma curadoria afiada com grandes destaques da efervescente nova música brasileira.
Entre as participações especiais o material reúne nomes como o da baiana Assucena, o das pernambucanas Dulce e Severina Barracho, a carioca Banda Black Rio e a rapper paulistana Lurdez da Luz. O material que tem o papel de apresentar a nova fase artística está sendo lançado pelo selo Boia Fria Produções e foi contemplado pela 5ª Edição do Programa Municipal de Fomento à Música para a cidade de São Paulo, da Secretaria Municipal de Cultura.
“Tive a sorte de estar muito bem acompanhada na construção desse universo. Criar e trocar com artistas tão talentosos e diversos foi uma experiência muito rica e me permitiu mergulhar mais fundo na cultura musical do estado brasileiro que cada um dos convidados representou.
Também foi muito simbólica a colaboração feita com a Banda Black Rio, fundada por meu avô Oberdan e atualmente liderada por meu pai, William Magalhães. Foi especialmente marcante por ser a primeira vez que fazemos algo juntos pro meu trabalho, por se tratar de algo com uma conexão tão direta com minha história e a da minha família. Meu pai sempre foi uma grande influência pra mim”, relembra a artista sobre as trocas
A primeira canção a ser revelada foi “Doce Encanto” que ganhou um videoclipe que entrou na nossa lista de Melhores Clipes Independentes de Abril e é uma grande homenagem a Oxum. Sua letra narra o encontro simbólico das águas salgadas com as águas doces, estas últimas sendo reinadas por Oxum, onde acontece a simbiose entre amantes que, tal qual os rios remexidos pelas marés, são invadidos por um amor avassalador.
A faixa teve a participação de Vico, “É um privilégio ter a colaboração do Vico nas minhas criações. Coisas bonitas já saíram dessa parceria e acredito que esta seja apenas mais uma de muitas”, diz Amanda.
A artista revela que a faixa disserta sobre coragem de um amor que desbrava territórios desconhecidos ao se jogar de cabeça na experiência de apaixonar-se por seu oposto, o que mostra como a correnteza da maré pode sim trazer bons frutos.
* Oxum é, na mitologia yorubá, a divindade africana que domina as artes do amor e valoriza aquilo que é belo e fluido. É considerada também a mãe das águas que vive nos rios e cachoeiras. É vaidosa e traz prosperidade e abundância àqueles que a cultuam.
O vídeo protagonizado por Amanda Magalhães ao lado de Júlio Silvério, que também atua em “Sintonia” (Netflix) e “Mato Dentro”, de Elton de Almeida, tem a direção de Gabriel Manso e como locação o Rancho Vista Alegre, em Atibaia (SP). Nele, a a figura da entidade é evocada por meio de elementos como o Abebé, espelho usado por Oxum para se admirar, e o dourado/ouro, para representar sua riqueza.
“Pra Quem Chama o Meu Nome” parece até um mantra para tocar nas rádios. Brincadeiras à parte, a riqueza percussiva mostra o caminho estético agregador da obra que nos leva junto com o fluxo sonoro e experimentação que se propõe. Uma mistura do passado com o presente, da riqueza da nossa música indo de encontra com o moderno do eletrônico em ritmo de Olodum.
“Queria Te Ter” cria toda uma ambiência em um clima iminente de romance e cumplicidade. O calor de uma noite de versão se materializando nos versos apaixonados que flertam com a estética dos anos 80, indo dos teclados, e guitarras, de Guilherme Arantes, as baladas românticas da nossa MPB em uma frequência mais baixa feita para ouvir com seu benzinho.
“Mareia” (feat. com Assucena) olha para a riqueza dos ritmos da nossa América Latina, passando pela cúmbia, reggaeton e os cantos da ciranda. Do caribe ao sul do continente a canção convida o ouvinte para bailar coladinho.
“O Canto da Gente” (feat. com Lurdez da Luz) se entrega a sua cidade natal, o Rio de Janeiro, fundido a viola, o rap, o funk carioca e a batida eletrizada para criar um universo próprio. A tradição e a espiritualidade entrando indo na direção da modernidade em alta frequência transformando ela em uma canção…pronta para as pistas de dança.
“Papai Vai” (feat. com as Filhas de Baracho) já em sua introdução traz o canto dos terreiros para o centro da roda em um samba rock envolvente com guitarra solta e groove em alta rotação. Os sopros, teclas, palmas e backin vocals dão todo um corpo para que a canção se desenvolva numa crescente, entre melodias e batidas na mesma vibração.
Em “Pro Tempo que Acabou” ela se rende ao samba para falar sobre a tristeza e o fim de ciclos. O choro que vira música, de uma história que teve um desfecho. O ato de enxergar o lado bom da vida e das pequenas vitórias do dia também se traduzem em um dos seus versos. Tudo, claro, com direito a choro nas cordas. No segundo refrão você já sente a vontade de cantar junto a canção de distanciamento. Afinal, quem não gosta de uma “sofrência”, não é mesmo?
Quem encerra a viagem astral de Amanda Magalhães em Maré de Cheiro é uma parceria com a Banda Black Rio em alta rotação, como não poderia deixar de ser. O passado abrindo alas para o futuro em um samba rock com groove, ancestralidade, ondas eletrônicas e astral lá em cima. Celebrando a vida com direito a metais, coração na ponta dos pé e elegância.
Fechando Maré de Cheiro em alta frequência feito um emaranhado de boas energias.