Exclusivo: Bike revela os bastidores da turnê pelos EUA e lança o 5º álbum de estúdio, “Arte Bruta”
Bike lança seu quinto álbum, Arte Bruta, e revela com exclusividade Diário de Bordo de turnê pelos EUA – Bike Arte Bruta – Foto Por: Charles Holt
Arte Bruta, novo disco do Bike, revela novas facetas e possibilidades para a sonoridade dos paulistas
Nesta sexta-feira (05/05) o Bike, banda natural de São José dos Campos (SP), lança seu quinto álbum de estúdio com direito a produção do Guilherme Held (Criolo, Jards Macalé, Gal Costa), Arte Bruta (Quadrado Mágico e Before Sunrise Records). Mas antes disso eles aproveitaram para realizar uma turnês pelos EUA passando pelos festivais SXSW (Austin, Texas) e Treefort Music Fest (Boise, Idaho). A turnê ainda incluiu gravações de live sessions, confraternizações com outras bandas, entre outras histórias que o vocalista e guitarrista, Julito Cavalcante, conta para o Hits Perdidos com exclusividade.
Além dos EUA, no exterior o grupo já se apresentou na França, Alemanha, Itália, Bélgica, Escócia, País de Gales, Espanha (Primavera Sound), Suíça (Nox Orae), Portugal (MIL Lisboa) e Inglaterra (The Great Escape), além de somar mais de 300 shows no Brasil, entre palcos underground e festivais de renome como Bananada (GO), DoSol (RN), Psicodália (SC), MorroStock (RS), Picnik (DF) e Virada Cultural (SP).
Antes da turnê eles previamente haviam lançado o single “O Torto Santo” em que eles destacam:
“O que nos inspirou nessa faixa, e se estende por Arte Bruta, foi dar um passo à frente em relação ao som que tínhamos nos outros discos, misturando o que a banda se tornou nesses anos a referências que ainda não tinham aparecido no nosso trabalho. Adicionamos elementos e instrumentos artesanais nas músicas e isso já está presente em “O Torto Santo”, soando artística e bruta ao mesmo tempo”, revela a banda.
Arte Bruta
Além de Julito o grupo conta na linha de frente com Diego Xavier (voz, guitarra), João Felipe Gouvea (baixo) e Daniel Fumega (bateria). Arte Bruta, nomenclatura em francês, “art brut”, designa criadores que não têm a consciência de que sua criação pode ser encarada como arte. Um dilema comum no independente brasileiro e todos os questionamentos que isso envolve, desde o arriscar ao lidar muitas vezes com o desprestígio. Esse lado abstrato, torto e bastante conceitual, abre o leque de possibilidades. Nesse novo registro tendo uma maior proximidade com a música brasileira, uma grande contribuição do trabalho de direção criativa realizado em conjunto com Held.
O disco é o resultado de um processo longo que vem desde a primeira quarentena pandêmica, período que acabou afetando tanto a forma de produzir arte como a de consumí-la. Só pensar em quanto acelerados e famintos por informação, ao mesmo tempo que desconectados e procurando motivos para viver, o momento induz. O equalizar da psicodelia, com a música brasileira, experimentação – mas sem perder o espírito de grande jam que o Bike imprime nos palcos – catalisa a nova obra dos paulistas que busca por caminhos seguros para poder dar novos saltos.
BIKE nos EUA
“A viagem começou oficialmente no sábado dia 11 de março, enquanto Diego, Daniel e João seguiam de São José dos Campos para o aeroporto de Viracopos, Montalvão e eu nos encontrávamos no aeroporto de Congonhas para seguir de ônibus ao encontro dos caras em Viracopos.
O voo para Fort Lauderdale saiu pontualmente às 23h55 e no domingo dia 12 já estávamos nos EUA para nossa primeira turnê por lá, um pouco apreensivos para passar pela imigração pois já conhecíamos histórias de outros músicos que não conseguiram entrar no país por diversos motivos, mas foi tudo muito rápido, em 5 minutos todos já estavam prontos para seguir viagem até Austin.
Chegamos em Austin às 19h de domingo e tínhamos o primeiro dos 13 shows oficiais e não oficiais que faríamos durante a semana do SXSW. Fomos recebidos na casa da nossa nova amiga Squid, uma artista visual que trabalha com material analógico. Minutos depois seguimos para o The 13th Floor, bar do Jake Garcia (guitarrista do The Black Angels) e fizemos nosso primeiro show com guitarras e baixo emprestados, pois viajámos apenas com os pedais e o Daniel com a caixa, pratos e baquetas. A festa era do Club X, uma junção de duas produtoras/selos de Austin e apesar de versões cansadas das músicas deu tudo certo e uma coletânea desse dia será lançada em breve.
Na segunda dia 13, nos credenciamos no Centro de Convenções do SXSW e seguimos na busca dos instrumentos pois teríamos um show às 18h, era uma festa da Resound, produtora que retomou os trabalhos com o Austin Psych Fest que teve sua nova edição no último final de semana de abril. Era uma grande cervejaria com espaço aberto, usamos o backline da banda Gus Baldwin & The Sketchs, o som deles era bem legal, um dos caras toca no The Black Angels e o baixista é brasileiro, se chama Lucas e ficamos amigos.
Na terça-feira já com nosso equipamentos seguimos para o primeiro dia com 2 shows, começamos às 13h30 tocando no Far Out Lounge para a galera do bar, técnico de som e a banda seguinte, foi a primeira lição sobre não tocar antes das 15h no SXSW, de lá seguimos novamente para o The 13TH Floor para tocar na festa do Play with the Plants, galera que organiza vários eventos em Austin e enchem o palco e o local das suas festas com plantas, eles realmente gostam de plantas e flores. O show foi incrível, talvez um dos melhores que fizemos na turnê, casa cheia e muito merch sendo vendido.
Já nos sentindo à vontade pela cidade começamos a quarta-feira em show na rua, em cima de uma pequena van, a Tiny Van Concert é a ideia de um casal que viaja todo ano até Austin e fica a semana toda recebendo bandas que estão no SXSW para tocar em alguma rua onde eles estacionam, outra vez show cedo e pouca gente assistindo o show no sol do meio dia.
De lá seguimos para o primeiro show oficial na programação, foi no palco montado dentro do Centro de Convenções, a curadoria apenas com artistas latinos foi feita pelo programa El Sonido da Rádio KEXP, fizemos o encerramento do palco Radio Stage às 18h. Tocamos 2 músicas do Arte Bruta e 4 do Quarto Templo, foi estranho, todo mundo sentado em mesas com seus tablets e blocos de anotações, uma coisa meio fria, meio show de calouros, mas no final fizemos bons contatos e vendemos muito merch para a equipe do festival que estava gravando e filmando tudo, não foi permitido armar a banquinha durante a apresentação.
De lá seguimos para o Low Down Lounge, segundo e último showcase oficial, era um pub e tava bem cheio, não lembro das bandas que tocaram antes e nem depois, mas apesar dos problemas técnicos com o amplificador antes do começo do show que fez com que perdêssemos 10 minutos no total da apresentação conseguimos fazer um show quente e mais uma vez o merch salvou o rolê, foi o único show dentre os 13 que precisamos alugar backline.
Quinta-feira, 16 de março, um dia tranquilo, nosso show era só 00h, então pudemos descansar e assistir alguns shows da programação, passamos a tarde no Hotel Vegas, lugar conhecido da cidade, vimos o Protomartyr, o quarteto japonês Otoboke Beaver, Peel Dream Magazine e Algiers. De noite seguimos para The Electric Church, um inferninho do outro lado da cidade onde tocamos com os italianos do Big Mountain Candy, noite boa, lembrando os velhos tempos da Funhouse em São Paulo.
Enfim chegou a sexta-feira, o dia onde teríamos 3 shows que acabaram virando 4 com um after party. Começamos com um show no Tweedys Bar, era um showcase com bandas da américa latina, mais uma vez tocamos cedo mas o pessoal foi chegando durante o show e conseguimos vender merch no final, não pudemos ficar muito tempo e assistir as outras bandas pois em 40 minutos já tínhamos outro show no Hi Hat Bar, um club de jazz bem legal, teve show da DD Dager, foi foda. De lá seguimos para o terceiro show do dia, numa fábrica de café chamada Spokesman Coffee, tocaram várias bandas emo e o café era realmente bom, voltamos para casa e íamos descansar um pouco para assistir ao show dos Mutantes no Hotel Vegas, mas no caminho fomos convidados para tocar numa after party da turma da Resound e do The Sketchs e para lá seguimos.
Sábado, último dia de SXSW e nosso décimo terceiro e último show em Austin, o local era o Sahara Lounge, um clássico bar de blues que funcionava desde os anos 60, local onde os bluesman como BB King, Freddie King e muitos outros iam fazer jams até o amanhecer depois que tocavam nos bares de hotéis para a elite da cidade, o bar teve como donos até os anos 2000 o mesmo casal, quando eles estavam idosos venderam o bar para um grupo de músicos que mantém o local como sempre foi e seguem organizando shows e abrindo espaço para todos, foi uma tarde só com bandas latinas, show do brasileiro Rogê, dos colombianos do Balthvs e alguns outros, teve até feijoada no almoço, uma grande celebração para finalizar a semana em Austin.
No domingo viajamos para San Antonio, cerca de 110km de Austin para tocar no Tony Siesta, dividimos a noite com Vanita Leo, um som pop com um pé no México, foi interessante e depois teve a Karen y Los Remedios, uma banda bem boa que se divide entre o México e Hong Kong.
Do Texas para Utah, foi assim que começamos nossa segunda semana, passamos dois dias na casa de um amigo em Herriman, tomamos fôlego e seguimos na quarta-feira para Boise – Idaho, para o Treefort Festival, chegamos cedo, fizemos o check in no hotel do Festival e de lá seguimos para o credenciamento, tudo perto e apesar do frio dava pra caminhar tranquilamente. Logo no primeiro dia fomos a uma loja de discos para assistir o Oruã, de lá seguimos para o parque onde estavam os 3 maiores palcos do festival e começamos bem com uma apresentação do Dinosaur Jr, show foda como sempre e de lá seguimos vendo alguns pedaços de shows de outros artistas.
Na quinta-feira depois de dar mais umas pernadas em lojas de disco pela cidade e gravarmos um programa de rádio, nós seguimos para o palco principal pra ver o Built to Spill e depois Unknown Mortal Orchestra antes de irmos para o maior e melhor show do Treefort, God Speedyou! Black Emperor num teatro da cidade com decoração egípcia, isso foi surreal, uma experiência única e valeu a pena voltar 1h da manhã no frio de -3 com neve até o hotel.
Chegou a sexta-feira e nosso primeiro show no festival, quando chegamos no Neurolux para nossa primeira apresentação, a casa estava totalmente cheia e o show foi incrível, você sabe que o show é bom quando passa o resto da noite na banquinha de merch e agradecendo as pessoas pelo feedback e pelas cervejas.
Sábado nós gravamos uma sessão com entrevista na Radio Boise durante a tarde, alguns seguiram para o hotel e outros foram assistir shows pela tarde/noite. Acabamos nos encontrando no início da noite no show dos Canadenses/Japoneses do Teke Teke, banda muito interessante que vale a pena ser ouvida, depois dispersamos de novo, tava frio demais e às 21h no show do Rose City Band num palco aberto achei que fosse congelar, desisti dos shows que viriam depois e mais uma vez nos dividimos entre hotel e shows.
Domingo fizemos nosso segundo e último show no Treefort, em um espaço onde era uma garagem de ônibus foi montado 2 palcos, um interno e outro externo, por sorte tocamos no interno, nevava no meio da tarde e mais uma vez tocamos pra muita gente, alguns voltando depois do show show de sexta e outros vindo por que ficaram sabendo do show de sexta, mais uma vez um show foda e impulsionado pelo público, depois dessa semana Boise se tornou a terceira cidade que mais nos ouve nas plataformas digitais e assim permaneceu por algumas semanas.
Segunda-feira, dia 27, depois de 16 shows e uma session seguimos de Boise para Seattle, aquele sonho de criança, estar na mesma cidade onde muita coisa aconteceu na história da música underground, chegamos na segunda-feira no final da tarde, não teríamos show e a gravação na KEXP era apenas na quinta-feira. Aproveitamos para fazer o que a gente mais gosta quando tem tempo nas viagens, ir a lojas de discos e caçar pedais e instrumentos em lojas de música ou pawn shop e lá se vai a terça e a quarta.
Quinta-feira era o grande dia, talvez o mais importante da turnê, uma das coisas que mais almejamos como banda era gravar na KEXP e melhor ainda, ter a Cheryl Waters como host, chegamos às 10h para passagem de som, tudo correu perfeitamente e rápido, toda a equipe foi muito incrível com a gente, um agradecimento especial para a Nancy Wilson que nos recebeu e a Albina Cabrera que fez a ponte para que isso fosse possível. Pouco antes do 12h a Cheryl chegou e foi um amor com a gente, 12h em ponto começamos com duas músicas do novo álbum (Arte Bruta) “Filha do Vento” e “O Torto Santo”, seguimos com o medley de “Olho D’água Grande + Boca do Sol” e vimos que tudo deu certo quando no final de Boca do Sol a Cheryl soltou um sonoro “UOW”, depois rolou a entrevista e no final duas sessões de fotos para a rádio, uma nas ruas ao redor do prédio e outra dentro da rádio num estúdio. Foi um dia pra guardar na memória e coroar nossa primeira ida aos EUA.
Mas não acabou por aí, logo depois do programa passar ao vivo, o Montalvão recebeu um contato do pessoal da Freakout Records para tocamos na sexta no Good Times Bad Bar numa festa deles e lá seguimos para encerrar a turnê, mais uma vez casa cheia, muitos que vieram pela session na KEXP, já não tínhamos mais vinis, apenas algumas camisetas, bottons e imãs para a galera de Seattle. Foi um bom primeiro capítulo da nossa história por lá, esperamos que venham mais festivais, sessions e turnês.”, relata com exclusividade para o Hits Perdidos Julito Cavalcante sobre a turnê para divulgar Arte Bruta no exterior