Luna França disserta sobre amores e seus dissabores em “UM”
Conhecida por integrar diversos projetos artísticos do cenário musical de São Paulo como Papisa, Tiê, André Whoong, Rafael Castro, Bruno Bruni, Paulo Miklos, entre outros, a cantora, compositora e produtora musical Luna França apresentou na última semana seu debut solo, UM (ouça no Spotify).
A estreia, inclusive, vem acompanhava de um time composto de peso. Tiê, faz parceria em “Terapia”, canção que encerra o disco. A produção é assinada por Luna e André Whoong, a mixagem por Tó Brandileone e a masterização por Carlinhos Freitas.
O lançamento que está sendo capitaneado pela Boia Fria Produções, conta ao todo com 9 faixas, sendo dois interlúdios, o que cria toda a conexão de narrativa de disco feito para ser apreciado na sequência proposta pela artista. O disco foi gravado no Estúdio Rosa Flamingo por Whoong e no home studio de Luna França.
A Sonoridade e as Temáticas de “UM”
No campo da sonoridade ela revela transitar entre o Pop, R&B e Blues sem deixar de lado o lado experimental, flutuando entre o analógico e o digital. Para isso ela traz arranjos de vocais, sintetizadores, samples, beats, piano e até mesmo um quarteto de cordas.
Para a temática Luna França revela que UM revela um lado bastante autobiográfico e é baseado tanto situações cotidianas como em apenas fantasias. Tudo isso, sem deixar de lado a ironia, a sinceridade e o bom humor.
“UM fala sobre término, sobre fim, mas também sobre as dores e as delícias do recomeço. UM é sempre em primeira pessoa, sou eu como a protagonista da minha vida. Sentindo e vivendo minhas escolhas e desejos de forma livre, aberta e espontânea e lidando com as crises de forma sincera e de peito aberto”, conta ela sobre a intensidade do disco
Sobre o processo ela ainda revela: “A produção do disco foi um processo artesanal muito enriquecedor, realizado com calma, tempo para pensar e assimilar e muitos encontros e trocas com o André”.
Luna França UM
Quem abre o álbum é “Mente” de maneira bastante descritiva, a canção alia a tensão que se equaliza nos sintetizadores feito um alerta entre o delírio e a desilusão. A dramaticidade mostra os mais diversos aspectos, da luxúria ao ressentimento, do querer ao abstrair, de forma poética e com direito a experimentação tanto nos vocais como em seus arranjos refinados.
Feito uma faixa de transição, “UM” é instrumental e parece trazer em seus arranjos de cordas pitadas de nostalgia e das vibrações baixas dos dias nublados entre beats eletrônicos e frequências como se estivéssemos adentrando um universo ainda mais denso. Algo que faz todo sentido dentro da narrativa com a sensível “Pra Você”, que emula os pequenos ritos dos casais, entre lembranças doces e outras um tanto quanto amargas, feito uma caixa de bombons sortidos. Metáforas estas utilizadas para falar sobre o fim e o início de novos ciclos. O lado eletrônico frenético quase disco music, com timbres de R&B, da segunda parte da canção dá um tom mais sereno e jovial para a track.
Quebrando um pouco a sequência mais soturna, “Como” aparece no repertório feito uma canção chiclete repleta de duplo sentido, ironia, carregando batidas e baixo frenético da funk music, vocais solares e libertinagem. A canção, inclusive, ganhou um videoclipe que vale a pena dar o play para ter uma experiência ainda mais imersiva.
O R&B aparece ainda com mais força em “Não Te Conheço Mais”, até mesmo com adendo de suaves beats de lo-fi, teclas do reggae e backin vocals que deixam a atmosfera, as feridas e a energia equalizada ainda mais imersiva. Carregando mistério, desilusão e representando o fim de ciclos que antes davam segurança, conforto e paz.
“Minha Cabeça” ressoa como um pedido por ajuda entre delírios e conflitos internos. Materializando um looping de emoções que se traduz na linha de bateria…trazendo consigo a sensação da protagonista estar andando em círculos. Entre a insanidade e os momentos de lucidez.
“Gira” se permite desde a introdução a ser uma das mais experimentais e tortas do disco. O que deixa ela naturalmente entre os beats, samples, guitarras, batuques, vocais, frequências e frenesi. Entre prazeres, dores, recomeços e paranóias, a canção tem sua própria órbita e traz até mesmo o cavaquinho para o centro roda no momento em que se aproxima do seu minuto final – como uma espécie de elemento surpresa.
Antes de apresentar sua última faixa existe um “Interlúdio” jazzístico e contemplativo com direito a vocais como parte da instrumentação e um final em fade out. Quem fecha mesmo é “Terapia”, parceria de Luna França com Tiê e reflete justamente sobre a melancolia de olhar para o lado e ver o outro que estava tão perto antes seguir em frente, seja lá vivendo boas histórias, como passando por percalços. Confessional, a faixa ganha arranjos delicados de violinos em uma faixa com perfil para tocar em rádio. O desabafo marcante fica para o verso “Como é bom fazer canção….e terapia”.
No fim colocar um disco para o mundo acaba servindo (involuntariamente) para expurgar sentimentos guardados a sete chaves e por isso o desabafo acaba trazendo à tona uma verdade intrínseca ao ofício de produzir arte.