Após a ótima repercussão do disco Repertório Infindável de Dolorosas Piadas (2015), recheado de referências do emo, lo-fi e de grupos icônicos como o Ludovic, os cariocas lançaram Paroxismos pelo selo Balaclava Records ,em 2017. Agora é a vez de zera ganhar lastro e ressignificar a relação do duo com a música.
O disco, inclusive, lançado nesta quarta-feira (15/06) em Premiere no Hits Perdidos tem seu nome marcado pelo duplo sentido.
No futebol, quando um jogador chuta a bola para longe, tirando, assim, o perigo imediato de seu campo defensivo, ele “zera” a bola. O termo também é usado no mundo dos games quando alguém joga um jogo até o fim, vencendo o “chefão”, diz-se que a pessoa “zerou o jogo”.
“O universo do disco “zera” orbita camadas conceituais sincréticas – desde cada elemento que compõe a capa, até a arte visual completa como unidade; bem como as músicas e os impulsos que movem o fazer artístico. É a redescoberta da relação da banda com a arte.”, conta o gorduratrans em seu release oficial
A pré-produção do terceiro disco de estúdio dos fluminenses foi realizada no Estúdio Sítio Romã, em Araçoiaba da Serra (SP), por Lucas Theodoro (E A Terra Nunca Me Pareceu Tão Distante).
O novo álbum foi gravado em setembro de 2021 no Estúdio El Rocha (SP) por Fernando Sanches que também assina a masterização. A faixa começou a ser composta em janeiro de 2020, assim como o restante do álbum que tem co-produção de Roberto Kramer e Fernando Dotta, com mixagem de Kramer. O disco sairá ainda neste mês via Balaclava Records.
Eles tem shows de lançamento do novo disco programados para o dia 24 de junho em São Paulo, na Comedoria do Sesc Belenzinho, no dia 2 de julho no Rio de Janeiro, na Audio Rebel e no dia 9 de julho em Duque de Caxias, na Lira de Ouro.
Conversamos com o Felipe e o Luiz para saber mais detalhes sobre zera, futebol, a oportunidade de gravar com outras pessoas e fazer uma pré-produção com calma e mais nuances do novo disco do gorduratrans.
Felipe: “Foi um período de muitos movimentos pra gente. Eu me mudei duas vezes, troquei de emprego, migrei de carreira… Mas a principal mudança foi como nós passamos a olhar de uma forma diferente pro nosso trabalho no gordura. Nossa relação com a nossa música mudou, e esse disco é sobre isso.
Nesse disco nós passamos a ter um olhar mais amplo sobre as coisas que nos atravessam, desde saudade e nostalgia até esperança de dias melhores. Agora exploramos outros sentimentos além da tristeza, que ainda está ali, presente, mas por outros motivos, não só através das letras mas também usando harmonia e ritmo, elementos que nos ajudaram a contar essa história. Zera é o recomeço da nossa relação com a nossa própria música.”
Luiz: “Esse período de imersão no sítio Romã foi muito importante para o processo de lapidação do zera. A gente não tem estúdio em casa, até pra ensaiar precisamos investir uma grana que pesa, então antes de ir pro sítio, a gente não estava exatamente imerso no processo. Ficar uma semana inteira no sítio nos ajudou a entrar de corpo e alma, sem limite de tempo em estúdio, restrição de horários, nem nada disso.
Se mesmo depois de “finalizar” os trabalhos do dia, às 3 da manhã surgisse uma ideia, era só a gente entrar no estúdio e registrar. A gente ia dormir pensando nas músicas, acordava pensando nas músicas… Tudo muito fresco na cabeça e isso contribuiu demais pra que pudéssemos fechar as pontas da melhor forma possível para nós, respeitando nossos processos artísticos e com a ajuda de um baita profissional que é o Lucas Theodoro, o qual acompanhamos desde que ouvimos o EATNMPTD pela primeira vez, anos atrás.
Ter outras pessoas envolvidas no processo de produção foi algo inédito, é outra dinâmica. A gente estava acostumado a fazer tudo sozinho, sem abrir pra ninguém dar nenhum tipo de opinião – se tava bom pra gente naquele momento, tava valendo. Ter pessoas familiarizadas com as mesmas referências que nós nos ajudando, trampando junto, foi muito importante. Essa nova dinâmica de se abrir pra outras visões e sugestões foi um pouco difícil, mas entramos nessa justamente pra isso, então desde o início estávamos dispostos a abraçar essas ideias. Sempre de forma muito franca e honesta. Muitas coisas trazidas por outros olhares seguiram, outras a gente testou e não achamos legal e acabamos fazendo da maneira que pensamos e foi rolando. Entre amigos, mas de forma extremamente profissional.”
Felipe: “A pré-produção no Estúdio Sítio Romã foi essencial pra construção sonora do disco. Nós já tínhamos o esqueleto de cada música pré-estruturado, mas a experiência de imersão nos levou pra outro grau de relação com as músicas. Foi de fato uma experiência muito única, pois nos permitiu dar foco no processo. Não só porque a estrutura nos permitiu isso, mas principalmente pelo isolamento. Pudemos exercitar cada música da melhor forma.”
Ter outras pessoas contribuindo foi uma experiência nova pra gente, mas que deu muito certo graças ao comprometimento de quem trabalhou nesse disco. Foi muito bonito ver as pessoas felizes em contribuir, acreditando no projeto junto com a gente. Aprendemos muito no processo.”
Felipe: “A gente sempre procurou trabalhar na borda das nossas limitações. Sempre tentamos explorar os recursos que tínhamos em mão ao máximo, mas nunca deixamos que essas limitações nos impedissem de fazer música. Os dois primeiros discos foram gravados muito na raça, mas sempre procurando fazer o nosso melhor. Para o zera nós tivemos o privilégio de utilizar excelentes estúdios, tanto pra pré quanto pra gravação. Também tivemos a disposição equipamentos incríveis, nos preocupamos em regular e alinhar quantas vezes fosse necessário. E da mesma maneira de sempre procuramos explorar estes recursos da melhor forma. Deixamos para nos preocupar com o ao vivo depois.”
Luiz: “Para o zera nós tivemos o Roberto Kramer (ROKR) na produção e ele trouxe elementos eletrônicos que casaram demais com a proposta das faixas e do disco como um todo; esses elementos chegaram pra somar e enriquecer o trabalho. Faixas como “crista”, “nem sempre foi assim” e “cortisol” contam com elementos trazidos pelo Rob que fizeram toda a diferença nas faixas, que ficaram mais completas e preenchidas.
O Fernando Dotta (Single Parents e Balaclava) co-produziu o disco ao lado do Rob e foi ele que trouxe algumas das sugestões de shakers e pandeirolas em pontos-chave de algumas faixas. Então assim a gente vê a importância de uma construção coletiva feita de forma franca. Essa resposta também complementa a anterior. É muito nítido pra mim que tivemos ganhos importantes nessa nova dinâmica de trabalhar.”
Luiz: “Nossos amigos e novos integrantes Gabriel Otero (baixo) e Pedro Simião (guitarra) chegaram depois de todo processo de produção e gravação do disco, eles não chegaram a contribuir no zera. A gente se entregou ao processo do zera de tal forma que decidimos que só iríamos pensar no ao vivo depois de pronto, a prioridade ali era o disco, como se o zera tivesse vida e vontades próprias. A gente deu ao disco o que ele precisava, sem pensar em como iríamos reproduzir aquilo ao vivo, coisa que não fazíamos nos discos anteriores, porque a gente precisava trabalhar com o que a gente tinha, então a gente acabava se “podando” um pouco no processo criativo porque a gente precisava conseguir tocar em duo, guitarra e bateria, sem mais equipamentos.
Bem, a gente continua fudido, mas agora podemos contar com nossos amigos, com mais uma guitarra e com um baixo fazendo o nosso chão. Dessa forma a gente consegue tocar o disco novo da melhor maneira possível – e a ideia é melhorar com o tempo, conquistar mais equipamentos e tudo mais. O processo de repassar as músicas dos dois primeiros discos também tem sido uma troca muito gostosa, reacendeu a chama mesmo. Havia faixas que a gente achava que nunca mais ia fazer ao vivo que se tornaram legais pra nós novamente. E é sobre isso, curtir o que estamos fazendo e se estiver bacana pra nós já está bom demais.”
Felipe: “Na verdade, Arão é uma homenagem! Arão é um dos jogadores que mais vestiu a camisa do Flamengo. Além dos 10 títulos conquistados, está na lista dos 100 maiores artilheiros do clube mesmo sendo um volante. Ele incorpora o espírito rubro-negro, que é a superação pela raça. Não abaixa a cabeça quando erra, e esteve em todos os times titulares do Flamengo desde 2016. Ele não é o melhor do time, nem o que mais se destaca. Mas ele não precisa disso.”
Nós dois somos muito flamenguistas!”
Luiz: “A música “arão” é uma ode ao Flamengo. Ao espírito, à raça, à magia. Não é atoa que a nossa maior torcida se chama Raça Rubro-Negra. O Arão sintetiza esse espírito e consigo até me identificar. Você pode não ser o melhor, ou a grande estrela, mas no fim das contas o que vale é a raça, a entrega, e o amor àquilo que você se propõe a fazer.”
Luiz: “Sem sombra de dúvidas a atual gestão do Flamengo. BAP, Rodolfo Landim e Marcos Braz.”
Luiz “Mantemos as nossas referências de sempre, como MBV, Slowdive, Ride, Dinosaur Jr., Elliott Smith, mas nesses últimos anos nos abrigamos nas produções brasileiras, nos grandes clássicos, como Jorge Ben Jor – o disco “A Tábua de Esmeralda” é uma das principais referências -, Gilberto Gil, Clube da Esquina, Milton Nascimento, Djavan.
No zera nós temos momentos com violões ditando o ritmo, algo bem característico da música brasileira. Tentamos casar essas referências nacionais e internacionais com a nossa essência e vivência no Rio de Janeiro off-praia e me sinto muito satisfeito com o resultado.”
Luiz “Eu não tenho videogame em casa, mas quando estou na casa do Felipe a gente sempre joga um Fifinha. Estamos há um tempo na reta final do modo história do Red Dead Redemption II, mas nunca mais jogamos por falta de tempo. Mas o que eu gosto mesmo é de gastar uma ondinha no GTA Online.”
This post was published on 15 de junho de 2022 10:30 am
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