LAVOLTA cria baladas para corações partidos no sensível “Sinto Muito”
Após 5 anos do lançamento do álbum de estreia, Subliminar, a LAVOLTA, de São Bernardo do Campo (SP) apresenta seu sucessor. Sinto Muito que está sendo lançado de forma independente conta produções de Lucas Silveira (Fresno), Vivian Kuczynski (Scalene, CHAMELEO, Alice Caymmi) e Fábio Pinczwoski (Vanguart, Roberta Campos). Além de participações especiais de 1LUM3 e GEO.
Anteriormente o quinteto formado por Enzo Pellegrino, João César, Lorenzo Capelli, Marco Angelottie e Neira Galvez, havia disponibilizado em 2017 o EP acústico, Karma. Após maturar o disco, respeitando seu tempo, e divulgar singles de maneira organizada ao longo do singular ano 2020, eles finalmente apresentam neste fim de ano seu novo disco de inéditas.
LAVOLTA Sinto Muito
Conflitos provenientes dos relacionamentos, rupturas, arrependimentos, medos, traumas, questionamentos, reflexões sobre a fé e a força para se reerguer permeiam as temáticas do novo trabalho. O caminho de volta para casa, marcado pela via Anchieta – que liga o litoral a São Paulo – entra como elemento poético para a narrativa que através de metáforas cria possíveis cenários imaginários para as mais distintas interpretações.
O campo de referências, inclusive, é bastante vasto, e vai de Bring me the Horizon, Alt-J, Linkin Park a Thrice. Mas eles mesmos dizem que outros ritmos e estéticas acabam aparecendo em elementos da gravação como você conferirá em entrevista exclusiva para o Hits Perdidos. Tem hora para a balada, hora para o peso do metal, hora onde os beats eletrônicos ganham forma, sing-a-longs e muitos sentimentos destilados ao longo de pouco mais de 40 minutos de audição. O tempo no caso deles foi um aliado para entender a proposta musical e novas possibilidades, tanto por trabalhar com diferentes produtores, como também pelo entrosamento e convergência de ideias.
Assim como a Fresno (leia resenha) tem feito em seus últimos discos, o quinteto paulista dá um salto no nível das possibilidades de produção e no amadurecimento das composições. As participações, inclusive, trazem um contrapeso e leveza para canções que muitas vezes permeiam campos sensíveis da alma – e em outras conflitam dogmas e estilos de vida.
O resultado é moderno, versátil, pop e dialoga de várias formas com o ouvinte neste período marcado por diversas incertezas. Entre os fins e os recomeços que a vida nos apresenta todos os dias. Certas feridas precisam ser estancadas antes que outros capítulos sejam escritos. E se depender deles: em breve teremos um novo disco.
Entrevista: LAVOLTA
Conversamos com a LAVOLTA para saber mais detalhes da produção de Sinto Muito.
Vocês estão lançando o segundo álbum, 5 anos após “Subliminar”, como enxergam esse novo momento, amadurecimento como músicos e imersão no processo em tempos onde existe uma pressão da indústria por estar lançando materiais novos (singles, videoclipes, EP’s, discos), o tempo todo para se manter “na boca do povo”?
LAVOLTA: “Essa nossa demora foi necessária para reformulamos a banda, nos tornarmos mais organizados e alcançar um patamar mais profissional. Mas sentimos na pele essa pressão de estar sempre lançando algo. Como lançamos muitos singles ao longo de 2020 percebemos como isso é “recompensado” pelo algoritmo de um modo geral. Nossas músicas chegaram pra mais pessoas e entramos em playlists editoriais. Isso é sem dúvida importante, e até traz um sentimento de premiação pelo esforço, um reconhecimento do trabalho. Mas logo percebemos que existe muita ilusão pro artista nesse mecanismo.
Quando você tem mais de um som numa playlist seus números disparam, mas esses números não representam a realidade. O que importa é quem “fica” com a banda após a playlist editorial. São os ouvintes que ficam que são importantes. Aprendemos isso depois de muita ansiedade, euforia e frustração com algoritmos e playlists no último ano. A real é que nós que somos independentes podemos cair em uma paranóia de ser muito produtivo, como se fossemos “criadores de conteúdo”. Isso pode ser muito tóxico pro trabalho em si.”
Aliás vocês tiveram a oportunidade de trabalhar com diversos produtores, como foram feitas as escolhas e quais os maiores aprendizados desse processo? Tiveram que fazer muitas concessões? Acreditam que chegaram na sonoridade e estética que buscavam? Tem alguma história de alguma faixa que mudou bastante depois de algum toque deles?
Depois trabalhamos com o Caio Andreatta, produtor conterrâneo nosso. Ele é provavelmente a maior referência da região, e tem uma abordagem mais artesanal de produção. Enquanto o Lucas trabalhou muito com samples e timbres contemporâneos, o Caio trouxe pra gente os naipes de metais, o piano, a percussão… Pelo trabalho que ele tinha feito com o projeto Capella e Universo Relativo, sabíamos que ficaria muito bom o resultado.
Depois trabalhamos com a Vivian. Ficamos fãs do trabalho autoral dela, e principalmente do disco que ela fez com o cantor Francisco, de Curitiba.a Vivian é muito talentosa. Por último decidimos trabalhar nos auto produzindo junto com o Nobru Bueno, como fizemos no primeiro Disco, Sublimar. O Nobru é um produtor que a gente fica muito confortável, e ele sabe exatamente o que nós queremos sempre.
O álbum é bastante imersivo no universo dos relacionamentos, principalmente nas suas rupturas, consequências, arrependimentos, medos, conflitos, traumas e na força para se reerguer. Tendo um aspecto bastante pessoal, tendo até citação a Anchieta, que liga o SP ao litoral, sendo que vocês são justamente de São Bernardo do Campo, que ganha contornos dramáticos em “Sinto Muito”. Como foi para vocês conseguir colocar tanta coisa em apenas 40 minutos? E como vêem hoje com o disco finalizado que isso ressoa em vocês?
LAVOLTA: “Foi natural. Nas primeiras três composições não tínhamos um caminho a seguir. A ideia era ser um pouco menos “hermético” e “cabeça” como achamos que é o nosso primeiro Disco. Queríamos falar mais com as pessoas, só que com menos palavras. Falar de sentimentos acabou sendo uma saída natural. E uma vez que fechamos o nome do Disco ficou mais fácil para escrevermos sobre esses assuntos. Organizamos a ordem das músicas como um filme mesmo. Contando uma história. Chegamos até a escrever um Roteiro de fato.
A faixa título acaba compilando todo o conceito na letra. Ela não é tão clara, e pode ter mais de uma interpretação. Mas acaba falando de perdas, relacionamentos, medos, e falar da Estrada e da nossa cidade acabou sendo uma forma de deixar ela a nossa cara. A nossa cidade é muito melancólica na maior parte do ano, muita neblina, garoa, frio, trânsito, fábricas… E sempre achei legal como as bandas falam das suas cidades nas letras lá fora. A Anchieta acaba sendo a nossa Ocean Avenue triste.”
“Sinto Muito”, inclusive é a faixa que vocês dizem mais se identificar e simbolizar esse ciclo, por isso sendo o single principal, como é o processo de composição para vocês?
Falar sobre religiosidade e ateísmo também é um conflito que ressoa ao longo da audição do álbum. Como isso acabou entrando na narrativa?
LAVOLTA: “Na “Abismo” é para quem tem asas falamos disso do ponto de vista de sentir uma certa revolta de viver em um lugar que se fala tanto em Deus, e que ao mesmo tempo julga tanto as diferenças, os modos diferentes de se viver. Na Deixa falamos mais do ponto de vista do medo de morte, e de como quem não acredita em Deus lida com isso, com a falta de sentido nas coisas.
Mas também tem uma abordagem agnóstica na “Euforia”. Nessa música tem umas imagens de espiritualidades, que podem ir além ou aquém de ter ou não uma fé ou religião. E a “Sou” traz de volta essa incerteza com a morte, com o que deve ter depois daqui. É difícil falar disso de forma clara. Somos uma banda bem diversa, aqui tem Ateu, Agnóstico, Confuso, e tem quem tenha Fé também.”
O disco ainda conta com participação de 1LUM3 e GEO, artistas em que vocês já puderam colaborar em feats anteriormente. Como enxergam a importância da coletividade no independente e como funcionou esse processo?
Por mais que vocês carreguem influências do emo, o disco não se limita a isso e vai buscar um respiro em outros estilos como Pop, Hip Hop, Jazz, MPB, eletrônica e no Rock para amplificar. Uma tendência cada vez mais natural em tempos onde as pessoas têm cada vez mais ouvido mais estilos, dizem até que as plataformas digitais apenas evidenciaram um processo que já estava ali mas ninguém queria ver. Como é isso para vocês e o que não imaginariam que vocês curtam, que vocês ouvem direto, e acaba, mesmo que indiretamente, virando influência por menos perceptível que isso seja?
Aliás, como é a pesquisa de vocês por timbres, texturas e quais discos referência usaram para o material? Para fechar, quais os próximos planos da LAVOLTA?
LAVOLTA: “Algumas referências foram sempre presentes nas nossas buscas por timbres e texturas. Bring me the Horizon, Alt-J, Linkin Park, Thrice… Mas como eu disse. É bem difícil acharmos pontos em comum entre os cinco. Acabamos vendo muito o que é melhor para aquela música em específico, e confiamos muito nos produtores, sempre.
O plano da LAVOLTA é seguir trabalhando. Já andamos gravando algumas músicas novas com a Vivian Kuczynski, que podem virar um disco no ano que vem, e gostaríamos de voltar a tocar juntos, montar um show. Pela primeira vez sentimos que temos admiradores da banda, que nos acompanham, e já andaram nos cobrando shows. Nós também conversamos sobre fazer um trabalho com a 1LUM3, sendo a banda de apoio de um trabalho mais voltado para o Rock que poderíamos compor juntos.”