Quando conversamos com fãs mais antigos do Blink-182 eles irão certamente lembrar com carinho de discos como Dude Ranch (1997), Enema Of The State (1999) ou até mesmo do Take Off Your Pants and Jacket (2001). Um pouco antes de encerrar as suas atividades com sua formação original, o trio de pop-punk formado por Tom Delonge (Guitarra, Vocais), Mark Hoppus (Baixo) e Travis Barker (Bateria) lançou em 2003 o álbum Blink 182 (2003).
Foi no dia 18/11 ainda, com contrato com a major Geffen Records, que os californianos se aventuraram a “virar a chavinha” em seu som, trazendo elementos da New Wave, do experimental, do jangle rock, da música eletrônica e do rock alternativo para somar ao punk rock acessível que eles produziam até então. Na época em programas de TV até mesmo eles se aventuravam em emendar “I Miss You” com uma versão de “A Letter To Elise” do The Cure ou de “Another Girl, Another Planet” do The Only Ones.
Fato é que eles já não estavam muito a vontade naquele momento de continuar reproduzindo letras sobre relacionamentos adolescentes, humor barato e azaração. Até por isso demorou um pouco para os fãs entenderem a proposta de um dos melhores discos do Blink-182.
“Queríamos ser diferentes. Alguns de nossos fãs provavelmente disseram, ‘Foda-se, talvez eles devessem parar de brincar para que as pessoas pudessem ouvir porque eu gosto dessa banda.’ E acho que esse disco vai ajudar essas crianças. ”, comentou DeLonge para a revista Blender em 2004
18 anos depois se pararmos para observar as letras podemos ver algumas coisas que assustam por refletir um pouco sobre o momento de incerteza que o mundo todo está passando. O amadurecimento como compositores veio justamente de uma batalha interna entre querer deixar para o mundo canções significativas e menos sentimentos e passagens dos tempos do colegial. Até por isso a pessoalidade quase autobiográfica da maior parte das canções presentes no disco.
Também conhecido como o álbum da capa Rosa ou do novo logo da banda, hoje em dia já tatuado por centenas de fãs, o disco começa com “Feeling This”, faixa que ganhou um videoclipe que teve alta rotatividade na MTV Brasil.
Uma canção com a nostalgia de um amor de verão – que não subiu a serra – mas que já adianta logo na primeira track do disco que eles irão tratar de temas do hoje e não da adolescência. Arrependimento e até niilismo acabam entrando na composição digamos assim, hopeless romantic, com direito ao verso “Fate fell short this time/Your smile fades in the summer”.
Com uma energia mais carregada e séria, “Obvious”, carrega consigo a amargura do fim de um relacionamento, ciúmes e suas complicações. O interessante é justamente o uso de canais de guitarra e a percussão criativa de Travis Barker que divide a canção em diversas linhas.
Com uma atmosfera digna dos Violent Femmes, com direito a violoncelo, “I Miss You” foi a primeira do disco realmente a chocar os fãs, tanto pela estética, como pelo clipe que a acompanha. A percussão também traz elementos de hip-hop que depois desse disco apareceria com mais frequência em projetos de Barker como o Transplants. Para quem conhece a obra de Tim Burton, é fácil pegar na letra referências a clássica animação The Nightmare Before Christmas (1993).
“Violence”, talvez seja uma das mais radiantes e punks do disco, com direito a sussurros no melhor estilo jazzy e uma letra que compara a dor de um coração partido com a violência inserida das mais diversas formas em nosso dia-a-dia. Mais uma que se destaca pela suas transições, alternâncias de narrativas e compassos. Uma faixa que poderia ter entrado certamente no álbum do Box Car Racer, projeto paralelo dos membros do Blink-182, lançado no ano anterior.
Com direito a introdução com narrativa poética, frequências de rádio e imersão, “Stockholm Syndrome” é uma das faixas mais experimentais da história do trio. Eles tiveram até mesmo o cuidado de utilizar microfones da década de 50 com direito a reverbs para deixar a experiência ainda mais sentimental. Até porque a temática da canção é muito séria e madura. Na introdução, Joanne Whalley lê cartas que o avô de Mark Hoppus escreveu para a avó de Mark durante a dura segunda guerra mundial.
O medo, o caos, o cenário de conflito e o pânico por não voltar para casa se traduzem nos vocais melancólicos de Mark. Inclusive as referências ao post-punk/new wave surgem mais fortes nas linhas melódicas da canção.O conflito de ver todos os dias vidas partindo, e a fragilidade da vida, em um cenário hostil de guerra ganham versos intensos sobre “Qual seria o verdadeiro significado da vida”.
O lado sombrio aparece novamente em “Down”, outro single carro-chefe do registro, que discorre sobre a solidão e a saudade, sentimentos que com o passar da idade vão ganhando novas conotações e narrativas. Para a linha de bateria, Barker traz o Drum & Bass para frente. “The Fallen Interlude” é de certa forma uma continuação instrumental “Down” e traz uma linha de bateria funkeada com direito a versos de Sick Jacken do grupo de hip-hop Psycho Realm.
“Go” é uma canção tão pessoal que Mark em uma entrevista disse que não se sente a vontade para comentar sobre. Mas de fato a música expressa um pouco sobre a raiva pelas injustiças do mundo a sua volta.
“Ashthenia” adianta um pouco do que viria após o disco a se tornar o Angels & Airwaves, com direito a transmissões captadas pela NASA durante a viagem do Apollo 9, o lado sentimental de se sentir deslocado, paranóico com o futuro e como as consequências da guerra e devastação afetam o mundo. O lado punk humanista se manisfestando novamente no álbum.
Um disco com generosas 16 faixas contou com diversos vídeos e com “Always” não foi diferente. Lembram que falei sobre “Another Girl, Another Planet” do The Only Ones? Foi desta música que eles roubaram o riff que somado a um teclado no melhor estilo New Romantic, lá dos anos 70, dão essa aura vintage para uma canção com percussão alto astral e digna de ter sido feita nos anos 8o. Fico até imaginando como os integrantes do Motion City Soundtrack reagiram ao ouvir essa canção, Mark Hoppus, inclusive, eventualmente chegou a produzir a banda. “Easy Target” é a menos pessoal do material justamente por ser uma história do produtor Jerry Finn, fica a curiosidade. De qualquer forma é uma das que tem a linha de baixo mais marcante.
Acredito que uma das maiores realizações pessoais do projeto para Hoppus foi justamente gravar ao lado de seu maior ídolo, Robert Smith, vocalista do The Cure. “All Of This” é justamente a canção não poderia ser mais Smith. Com violinos, melancolia e melodias do rock gótico.
“Here’s Your Letter” poderia se chamar Brasil pós-2018 justamente por sua temática que Mark resumiu uma vez durante uma entrevista: “fala sobre incapacidade das pessoas de se comunicarem umas com as outras e como palavras e explicações apenas confundem as questões”. Todos os questionamentos acabam eclodindo na canção que narra o desespero de se ver preso em uma situação sem desfecho.
O experimental volta na intimista e delicada “I’m Lost Without You” que carrega uma bela linha de piano e experimentação industrial. Uma curiosidade fica pelo fato deles confessarem ter ficado meses para gravá-la do jeito que gostariam. Segundo Travis Barker a dificuldade em gravar as últimas linhas de bateria se dá justamente por ser uma experimentação que ele sempre quis fazer, o mesmo diz que a canção lembra “Failure” do Pink Floyd. O que acham?
Lançada originalmente apenas na versão UK do álbum, mas gravada durante a mesma sessão, tem um orgão de igreja e linhas de guitarra inspiradas no Descendents, fala sobre problemas de comunicação e o amor se esvaindo. Com clipe lançado posteriormente com um vídeo cheio de takes das turnês, em 2005 acabou se tornando o símbolo do fim da banda (até então).
O Blink-182 iria voltar em 2009 e encerrar suas atividades em 2014 com a formação original. No ano seguinte Matt Skiba, do Alkaline Trio viria a substituir Tom Delonge e até o presente momento é o vocalista oficial do grupo. Os rumores é que a reunião com a formação original estaria mais próxima do que nunca mas essa história fica para um futuro post.
Reouvir esse álbum ao longo do tempo fez que que notássemos que mesmo eles tendo se agarrado em uma grande gravadora com uma proposta jovem e comercial, ali tinham bons músicos com referências que iam de Fugazi, passando por hip-hop, jazz, Drum & Bass, New Wave entre outros gêneros que fizeram com que aquele punk rock simples pudesse dar maiores remadas e transformasse a banda em um dos símbolos do rock alternativo dos anos 00.
Esse álbum inspirou muitas bandas de pop-punk a experimentarem mais e ousarem, o que deu origem a uma importante cena de indie rock que foi buscar referências nos teclados dos anos 80, no rock industrial e até mesmo na música eletrônica. Com o retorno do Pop-Punk ao mainstream, jovens empolgados com as carreiras de grupos como Machine Gun Kelly, Avril Lavigne, Willow e as dezenas de bandas apadrinhas por Mark Hoppus podem ter uma boa surpresa ao ouví-lo hoje em dia.
Não com aquele olhar viciado de quem tinha 10/15 anos quando esse disco saiu mas com uma sensação de frescor que muitos da minha geração gostariam de ter. Deu até saudade do escadão da Galeria do Rock – e de toda aquela bagunça da porta do Hangar 110….mesmo tendo que lidar com a frustração de ver o show deles cancelado no Brasil…e o melancólico fim em 2005.
This post was published on 19 de novembro de 2021 12:41 am
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